A Isca

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Qualquer pessoa que já tenha feito uma armadilha para animais sabe que precisa de uma ou duas coisas para obter sucesso: ela deve estar bem escondida, na esperança de que o animal tropeçará nela, e deve haver uma isca para atrair o animal para dentro dessa armadilha mortal.
O inimigo de nossa alma, incorpora essas duas estratégias para montar suas mais mortais e enganadoras armadilhas. Elas estão sempre bem escondidas e com iscas.
Satanás, juntamente com seus comparsas, não é tão espalhafatoso como cremos. É sutil e seu maior deleite está no engano. É astuto e ardiloso quando opera. Nunca se esqueça de que ele pode disfarçar-se como mensageiro de luz. Se não formos treinados pela Palavra de Deus para separar corretamente o que é bom do que é mau, não reconheceremos suas armadilhas como realmente são.
Uma de suas iscas mais enganosas e traiçoeiras é algo com que todo crente se depara: a ofensa. Na realidade, a ofensa não é mortal: ela ficar na armadilha. Mas, se a pegarmos, a consumirmos e alimentamos nossos corações com ela, ficaremos escandalizados. Pessoas escandalizadas produzem frutos como dor, raiva, ciúme, ressentimento, amargura, ódio e inveja. Algumas das conseqüências de permitirmos ser escandalizados são insultos, ataques, divisão, separação, relacionamentos quebrados, traição e tropeço.
Muito freqüentemente, aqueles que são escandalizados não percebem que caíram na armadilha. Não estão cientes de sua condição, por se concentrarem no mal que lhes fizeram. Estão negando sua situação. O modo mais eficaz que o inimigo usa para nos cegar é fazendo com que nos concentremos em nós mesmos.
Este livro expõe esta armadilha mortal e revela como escapar dessa
garra e livrar-se dela. Estar livre da ofensa e do escândalo é essencial para cada crente, porque Jesus disse que "É inevitável que venham escândalos”.
Em muitas igrejas nos Estados Unidos e em outros países onde preguei esta mensagem, mais de 50 por cento das pessoas responderam ao apelo. Embora seja um índice alto, ainda assim não foram todos. O orgulho impede alguns de responder. Já vi pessoas cheias do Espírito sendo curados e obtendo respostas de oração quando são libertas dessa armadilha. Elas relatam que o que esperaram por muitos anos recebem em poucos minutos quando são libertas.
No fim do século 20, o conhecimento aumentou assustadoramente, em nossas igrejas. Mas, mesmo com esse aumento, passamos por mais divisões entre crentes, lideres e congregações. A razão: a ofensa é violenta quando vem da falta de amor genuíno. "O saber ensoberbece, mas o amor edifica" (1 Co 8:1). Muitos são pegos na armadilha do engano e passamos até a acreditar que esse é um modo de vida normal.
Antes da volta de Cristo, os verdadeiros crentes serão unidos como nunca no passado. Creio que hoje muitos homens e mulheres serão libertos da armadilha da ofensa. Isto será o maior impulso ao avivamento, que irá inundar a nação. Os não crentes, que estão cegos, verão Jesus através do nosso amor um pelo outro.
Não acredito em escrever livros apenas por escrever. Deus me deu esta mensagem, a qual tem ardido meu coração, e vejo seu fruto persistir. Um pastor me disse após um culto onde preguei esta mensagem: “Nunca vi tanta gente sendo liberta de uma só vez".
Deus falou ao meu coração que isso é somente o começo. Muitos serão libertos, curados e restaurados enquanto estiverem lendo este livro se obedecerem ao mover do Espírito. Creio que quando você ler estas palavras, o Mestre e Conselheiro vai aplicá-las pessoalmente a você. Quando o fizer, essa palavra de revelação vai trazer grande liberdade para a sua vida e seu ministério.
Vamos orar juntos antes de iniciarmos:

“Pai, em nome de Jesus, peço que o Senhor nos seja revelado pelo Espírito Santo e por sua palavra para mim, enquanto leio este livro. Mostre-me cada área escondida do meu coração que tem me impedido de conhecê-lo e servir deforma mais eficaz. Dou boas-vindas ao, seu Espírito que me convence e peço que sua graça faça cumprir o que o Senhor tem preparado para mim. Que eu possa conhecê-lo mais intima­mente através do que o Senhor falar comigo durante a leitura deste livro. Amém."


Nossa reação a uma ofensa determina nosso futuro.

1. Eu, Escandalizado?


É inevitável que venham escândalos (Lc 17:1).

  Quando viajo pelos Estados Unidos ministrando percebo umas armadilhas mais enganosas e mortais. Elas aprisionam inúmeros crentes, rompem relacionamentos e nos separam ainda mais: é a armadilha da ofensa, do escândalo. Muitos não conseguem responder ao chamado por causa das feridas e da mágoa que as ofensas causaram à vida deles. Eles estão incapacitados e impedidos de usar todo o seu potencial. Muito freqüentemente, foi um outro crente que causou a ferida. Isso faz com que a ofensa pareça uma traição. No Salmo 55:12-14 Davi lamenta-se:
Com efeito, não é inimigo que me afronta; se o fosse, eu o suportaria; nem é o que me odeia quem se exalta contra mim, pois dele eu me esconderia; mas és tu, homem meu igual, meu companheiro e meu íntimo amigo. Juntos andávamos, juntos nos entretínhamos e íamos com a multidão à Casa de Deus.

São aqueles que se sentam ao nosso lado e cantam conosco, ou talvez aquele que prega. Passamos férias juntos, participamos de reuniões sociais e dividimos o escritório com eles. Talvez sejam até mais próximos. Crescemos juntos, confiamos neles e dormimos com eles. Quanto mais estreita a relação, maior a ofensa! Os maiores sentimentos de ódio estão entre aqueles que um dia foram próximos.
Os advogados podem atestar que os casos mais horríveis estão na audiência de divorcio. A mídia americana constantemente relata casos de homicídios cometidos por membros desesperados de uma família. O lar, constituído para ser um abrigo de proteção, provisão e crescimento, onde aprendemos a dar e a receber amor é, freqüentemente, a raiz de toda a dor. A história nos mostra que as guerras mais sangrentas são as civis. Irmão contra irmão. Filho contra pai. Pai contra filho.
A lista de ofensa é tão interminável como a de relacionamento, não importa quão simples ou complexa. Verdade seja dita: apenas aqueles com quem você se importa são capazes de feri-lo. Você tem uma expectativa maior em relação a eles - afinal, você deu mais de você a eles. Quanto maior a expectativa, maior a queda.
O egoísmo impera em nossa sociedade. Os homens e as mulheres estão preparando-se para a rejeição e a dor que os outros lhes podem causar. Isso não deveria ser uma surpresa para nós. A Bíblia é bem clara que nos últimos dias os homens serão "egoístas" (2 Tm 3:2). Podemos esperar isto de não crentes, mas Paulo não se está referindo àqueles fora da igreja. Ele está falando dos que estão dentro da igreja. Muitos estão feridos, amargurados e machucados. Estão ofendidos, mas não conseguem perceber que caíram na armadilha de Satanás.
É nossa culpa? Jesus deixou claro que é inevitável que sejamos escandalizados. Mesmo assim, muitos crentes ficam chocados, confusos e, até mesmo, surpresos quando isso acontece. Acreditamos que somos os únicos a sofrer uma ofensa. Isso nos deixa vulneráveis à raiz de amargura. Assim, devemos estar preparados e armados contra a ofensa e contra o escândalo, porque nossa reação determina nosso futuro.

A Armadilha Enganosa

A palavra "escandalizar", de Lucas 17:1, vem do grego skandalon, que originalmente se referia à parte da armadilha onde se colocava a isca. Dessa forma, a palavra significa montar um armadilha no caminho de alguém!
No Novo Testamento, ela geralmente descreve um engodo do inimigo. O escândalo e a ofensa são ferramentas do diabo para levar as pessoas cativas. Paulo instruiu o jovem Timóteo:

Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade (2 Tm 2:24-26 - Destaque acrescido)

Aqueles que vivem a contender, e que se opõem, caem na armadilha e são feitos prisioneiros para fazer a vontade do diabo. E o que é mais alarmante é que não sabem que foram cativos! Como o filho pródigo, precisam acordar para sua verdadeira condição. Precisam perceber que estão vomitando água amarga em vez de água pura. Quando a pessoa é enganada, acredita que está certa, mesmo quando não está.
Independentemente da situação, podemos dividir os ofendidos em duas, grandes categorias: a) aqueles que foram injustiçados ou b) aqueles que acreditam que foram injustiçados. As pessoas da segunda categoria acreditam de todo o coração que foram traídas. Geralmente, a conclusão a que chegam provém de informações incorretas; ou a informação está correta, mas a conclusão está distorcida. De qualquer forma, elas estão feridas e seu entendimento obscurecido. Julgam por dedução, aparência e rumor.

A verdadeira condição do coração

Uma forma de o inimigo usar a pessoa escandalizada é mantendo a ofensa escondida, num manto de orgulho. O orgulho nos impedirá de admitir nossa verdadeira condição.
Certa vez fui severamente magoado por alguns ministros. As pessoas diziam “Não acredito que eles fizeram isso com você. Você está magoado?”
Eu respondia rapidamente: "Não, estou bem. Não estou magoado”. Sabia que estava errado em sentir-me escandalizado e ofendido, mas o que fiz, então, foi negar e reprimir esse sentimento. Convenci-me de que não estava ressentido, mas na realidade estava, e muito. O orgulho mascarou a verdadeira condição do meu coração.
O orgulho nos impede de lidar com a verdade. Ele distorce nossa visão. Nunca mudaremos se acreditarmos que estamos bem. O orgulho endurece o coração e obscurece os olhos do entendimento. Impede a mudança - o arrependimento - que nos vai libertar (veja 2 Tm 2:24-26).
O orgulho faz com que nos vejamos como vítimas. A nossa atitude, então, é: "Fui maltratado e mal-entendido; então, tenho justificativa para meu comportamento". Porque achamos que somos inocentes e que fomos falsamente acusados, retemos o perdão. Embora a verdadeira condição do coração esteja escondida aos nossos olhos, não está escondida de Deus. Só porque fomos maltratados não podemos nos agarrar à ofensa.

A Cura

No livro de Apocalipse, Jesus se dirige à igreja de Laodicéia dizendo, inicialmente, como eles se vêem como pessoas ricas, abastadas, sem precisar de coisa alguma e depois expõe a verdadeira condição - eles eram infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus (Ap 3:14-20). Eles confundiram sua força financeira com a espiritual. O orgulho escondeu sua verdadeira condição.
Muitos são assim em nossos dias. Não enxergam a verdadeira condição de seu coração da mesma forma como fui incapaz de enxergar meu ressentimento contra aqueles ministros. Havia-me convencido de que não estava magoado. Jesus diz ao povo de Laodicéia como sair do engano: comprando o ouro de Deus e vendo sua verdadeira condição.

Comprar o Ouro De DEUS

A primeira instrução de Jesus para nos livrar do engano é comprando ouro refinado pelo fogo (Ap 3:18). O ouro refinado é maleável e não pode ser corroído. Só quando é misturado a outros metais (cobre, ferro, níquel e assim por diante) é que se torna duro, menos maleável e mais corrosivo. A mistura é chamada liga. Quanto mais alta a porcentagem de metais estranhos, mais duro ouro fica. Inversamente, quanto mais baixa a porcentagem de liga, mais maleável e flexível.
Imediatamente vemos o paralelo: o coração puro é como o ouro - maleável e flexível. Hebreus 3:13 nos diz que o coração pode ser endurecido através do engano do pecado! Se não conseguimos lidar com uma ofensa, ela vai produzir mais fruto de pecado, como amargura, ódio e ressentimento. Essas substâncias misturadas endurecem o coração, assim como as ligas fazem com o ouro. Elas reduzem ou tiram a ternura, causando uma grande insensibilidade. Somos, dessa forma, impedidos de ouvir a voz de Deus. Nossa capacidade visual é obscurecida. Cria-se um ambiente perfeito para o engano.
O primeiro passo no refino do ouro é pulverizá-lo e misturá-lo a uma substância chamada solvente. Essa mistura é levada ao forno em alta temperatura, as ligas e impurezas são atraídas ao solvente e levadas a superfície. O ouro (que é mais pesado) permanece no fundo. As Impurezas ou escória (como cobre, ferro e zinco, combinados com o solvente, são removidas, rendendo um metal mais puro.
Note o que Deus nos diz: "Eis que te acrisolei, mas disso não resultou prata; provei-te na fornalha da aflição" (Is 48:10). E também:

Nisto exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, unta vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo (1 Pe 1:6, 7).

Deus refina com aflição, tribulação e provação e separa as impurezas com falta de perdão, amargura, ódio e inveja e imprime o seu caráter em nós.
O pecado facilmente se esconde onde não há o calor das provações e aflições. Em épocas de prosperidade e sucesso, até mesmo o ímpio parece generoso e gentil. Sob o calor das provações, as impurezas vêem a tona.
Houve uma fase em minha vida que passei por uma provação que nunca havia experimentado. Tornei-me grosseiro e áspero para com os que me eram mais queridos. Minha família e meus amigos começaram a me evitar. Eu clamei ao Senhor: "De onde vem todo este ódio? Ele não estava aqui antes!" O Senhor me respondeu: "Filho, quando o ouro é liquefeito, as impurezas aparecem". Então, Ele me fez uma pergunta que mudou minha vida: "Você consegue ver as impurezas do ouro antes de que seja levado ao fogo? "Não", respondi. "Mas não significa que não estejam lá. Quando o fogo das provações o atinge, essas impurezas vêm à tona. Embora lhe pareçam escondidas, elas são sempre visíveis para mim. Agora você tem uma escolha que poderá mudar seu futuro: pode permane­cer com raiva, culpando sua esposa, seus amigos, o pastor e até mesmo as pessoas com quem trabalha ou você pode ver a escória como ela verdadeiramente é e se arrepender, receber perdão, e Eu pegarei minha pá e removerei as impurezas de sua vida."

Veja sua condição

Jesus disse que nossa habilidade de enxergar corretamente é outra chave para nos livrarmos do engano. Geralmente, quando somos ofendidos nos vemos como vítimas e culpamos aqueles que nos magoaram. Justificamos a amargura, a falta de perdão, a raiva, a inveja e ressentimento quando eles vêm à tona. Algumas vezes, até mesmo nos ressentimos com aqueles que nos fazem lembrar dos que nos magoaram. Por essa razão, Jesus nos aconselha a ungir nossos olhos com colírio, para que vejamos (Ap.3.18) Vejamos o quê? Nossa verdadeira condição! Este é o único modo de conseguirmos "ser zelosos e nos arrependermos" conforme Jesus nos manda fazer. Só nos arrependemos quando paramos de culpar os outros.
Quando culpamos outras pessoas e defendemos nossa posição, estamos cegos. Lutamos para remover o argueiro do olho de nosso irmão enquanto temos uma trave em nosso próprio olho. É a revelação da verdade que nos traz liberdade. Quando o Espírito de Deus nos revela o pecado sempre o faz de tal forma que é separado de nós. Somos, então, convencidos, e não condenados.
Minha oração é que, à medida que você for lendo este livro, a Palavra de Deus ilumine seus olhos do entendimento para que veja sua verdadeira condição e livre-se da ofensa que guarda. Não permita que o orgulho o impeça de enxergar e arrepender-se.


Construímos muros, quando somos feridos,
para salvaguardar nosso coração e prevenir     
futuras feridas. °

2. Um grande escândalo

Neste tempo, muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns aos outros; levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo (Mt 24:1a13).
Neste capítulo de Mateus, Jesus dá sinais do final dos tempos. Seus discípulos lhe perguntaram: "Qual será o sinal de tua vinda?".
Muitos concordam que estamos nos aproximando do tempo da Inda de Jesus. É inútil tentar saber o dia exato de sua volta. Apenas o Pai sabe. Mas Jesus diz que saberíamos o tempo, e é exatamente agora. Nunca antes vimos tantas profecias sendo cumpridas na Igreja, em Israel e na natureza. Dessa forma, podemos dizer, com segurança, que estamos vivendo o tempo a que Jesus se refere em Mateus 24.
Note um dos sinais de sua volta: "Muitos serão escandalizados" ao poucos, mas muitos. Primeiro, devemos perguntar: "Quem são estes muitos?” São os crentes ou a sociedade em geral? Encontramos a resposta conforme continuamos a leitura: "E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos". A palavra grega para amor neste versículo é ágape. Há várias palavras gregas pana amor no Novo Testamento, mas as duas mais comuns são ágape e phileo.
Phileo define o amor que existe entre amigos. É um amor afetuoso que é condicional. Phileo diz: "Você coça minhas costas e eu as suas" ou: "Você me trata bem e eu a você".
Por outro lado, ágape é o amor que Deus derrama no coração de seus filhos. É o amor que Jesus nos dá livremente. Ele é incondicional. Não é baseado em desempenho e não é dado em troca de algo. É um amor dadivoso, mesmo quando rejeitado.
Sem Deus só podemos amar com amor egoísta - o que não pode ser dado se não for recebido ou retribuído. O amor ágape, porém, independe de resposta. Esse ágape é o amor que Jesus derramou quando perdoou na cruz. Dessa forma, os "muitos" a quem Jesus se refere são os crentes cujo ágape esfriou.
Houve um tempo em que eu fazia de tudo para demonstrar amor por uma certa pessoa. Mas me parecia que, a cada vez que tentava demonstrar, ela retribuía com críticas e aspereza. Por meses essa situação se prolongou. Um dia fiquei saturado.
Reclamei com Deus: "Já basta. Agora o Senhor precisa conversar comigo sobre isso. Toda vez que demonstro seu amor por esta pessoa ela me devolve ódio!"
O Senhor começou a falar comigo. "John, você precisa desenvolver a fé no amor de Deus!" "Que o Senhor quer dizer?" - perguntei. "O que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção". Ele explicou: "Mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna. E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos" (veja Gl 6:8, 9).
Você precisa perceber que quando semeia o amor de Deus colherá o amor de Deus. Você tem de desenvolver a fé nesta lei espiritual - mesmo que não colha do solo onde semeou, ou isso não acontece tão rápido quanto gostaria. 
O Senhor continuou: "Quando mais precisei, meu melhor amigo me abandonou. Judas me traiu, Pedro me negou e os outros tentaram salvar a própria pele. Somente João me seguiu a distância. Eu cuidei deles por três anos, alimentando-os e ensinando-os. Mesmo assim, quando morri pelos pecados do mundo lhes perdoei. Eu libero todos eles – desde o meu amigo que me abandonou até o soldado romano que me crucificou. Eles não pediram perdão, mas perdoei livremente. Eu tinha fé no amor do Pai. Eu sei disso porque havia semeado amor e então colheria amor de muitos filhos e filhas do Reino. Por causa do meu sacrifício de amor eles me amariam. Eu disse amai os vossos inimigos, orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos do vosso Pai celestial. Ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos.
Porque, se amardes os que vos amam, que recompensas tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?"' (Mt 5:44-47)

Grandes expectativas

Eu percebi que o amor que eu estava dando era semeado do espírito, e eventualmente colheria as suas sementes. Eu não sabia de onde, mas sabia que a colheita viria. Não via mais como fracasso o fato de não ser retribuído com amor. Fui liberto para amar aquela pessoa ainda mais!
Se mais crentes reconhecessem isso, desistiriam de se sentirem ofendidos. Não andamos com muita freqüência nesse tipo de amor. Andamos num amor egoísta que facilmente nos desaponta quando nossas expectativas não são preenchidas.
Se tenho expectativas em relação a certas pessoas, elas podem desapontar-me. O desapontamento será proporcional à expectativa que deposito nelas. Mas, se não tenho expectativas em relação às pessoas, qualquer coisa que eu der será uma bênção e não algo que deva ser retribuído em troca.
Preparamo-nos para ser ofendidos quando esperamos certos comportamentos daqueles com quem temos nos relacionado. Quanto mais esperamos, maior o potencial para a ofensa.

Muros de proteção?

O irmão ofendido resiste mais que uma fortaleza; suas contendas são ferrolhos de um castelo (Pv 18:19).

Um irmão ou irmã ofendidos(as) resistem mais que uma fortaleza. As cidades fortificadas possuíam muros ao seu redor. Esses muros eram a segurança de que a cidade estaria protegida. Eles mantinham algumas pessoas e invasores fora. Todos os que entravam eram revistados. Aqueles que deviam impostos não podiam entrar até que pagassem o que deviam. Os que eram considerados uma ameaça à segurança ou saúde da cidade eram mantidos fora.
Construímos muros, quando somos feridos, para salvaguardar nosso coração e prevenir futuras feridas. Tornamo-nos seletivos, barrando a entrada de todos os que nos feriram. Selecionamos todos os que nos devem algo. Negamos-lhes o acesso até que nos paguem tudo o que devem. Abrimos nossa vida só àqueles que acreditamos estarem do nosso lado.
Freqüentemente, essas pessoas que estão "do nosso lado" estão ofendidas também. Dessa forma, em vez de ajudar, colocamos pedras adicionais em nossos muros. Sem sabermos exatamente como aconteceu, esses muros se tornam prisões. A essa altura, não apenas tomamos precaução em relação àqueles que entram, mas também, aterrorizados, não nos aventuramos a sair da fortaleza.
O crente ofendido se concentra no seu próprio interior e se torna introspectivo. Guardamos nossos direitos e relacionamentos pessoais cuidadosamente. Nossa energia é consumida enquanto cuidamos de que nenhuma outra ferida futura ocorra. Se não nos arriscamos ser machucados, não podemos também dar amor incondicional. O amor incondicional dá aos outros o direito de nos machucar.
O amor não procura seu próprio interesse, mas as pessoas machucadas se tornam mais e mais introspectivas e retraídas. Nesse ambiente, o amor de Deus se torna frio. Um exemplo natural é os dois mares na Terra Santa. O mar da Galiléia, liberalmente dá e recebe água. Ele tem abundância de vida, alimentando diferentes espécies de peixes e plantas. A água do mar da Galiléia é levada pelas de um Rio Jordão até o Mar Morto. O Mar Morto apenas recebe água e não a doa. Não há vida vegetal ou animal nele. As águas vivas do mar da Galiléia se tornam mortas quando misturadas às do Mar Morto.
A vida não consegue ser sustentada se for retida: ela deve ser dada livremente. Dessa forma o crente ofendido, escandalizado é aquele que recebe vida e por causa do medo, não consegue liberá-la. Conseqüentemente, sua vida fica estagnada entre muros ou prisões da ofensa. O Novo Testamento descreve esses muros como fortalezas:

Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo (2 Co 10:4,5).

Essas fortalezas criam padrões de raciocínio por meio dos quais toda informação recebida é processada. Embora elas sejam originalmente levantadas por motivo de proteção, tornam-se fonte de tormenta e distorção, porque entram em guerra contra o conhecimento ou a sabedoria de Deus.
Quando filtramos tudo através de feridas passadas, rejeições e experiências ruins, achamos muito difícil acreditar em Deus. Não consegue, acreditar que Ele realmente tenha a intenção de fazer o que disse. Duvidamos de sua bondade e fidelidade, uma vez que o julgamos pelos padrões dos homens em nossa vida. Mas Deus não é um homem! Ele não mente (Nm 23:19). Seus caminhos não são os nossos caminhos, e s pensamentos não são nossos pensamentos (Is 55:8, 9).
Pessoas ofendidas serão capazes de achar trechos bíblicos que apóiem sua posição, mas sem usarem corretamente a Palavra de Deus. O conhecimento da Palavra sem amor é uma força destrutiva porque nos incha de orgulho e legalismo (1 Co 8:193). Isso faz com que nos justifiquemos em vez de nos arrependermos, porque não somos capazes de perdoar.
Cria-se, dessa forma, uma atmosfera na qual podemos ser enganados, porque o conhecimento de Deus sem o amor dele, leva ao engano.
Jesus nos alerta sobre os falsos profetas imediatamente após a declaração de que muitos serão escandalizados: "Levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos" (Mt 24:10). Quem serão os muitos enganados? Resposta: os escandalizados, ofendidos, que esfriaram seu amor (Mt 24:12).

Os falsos profetas

Jesus chama de falsos profetas os lobos disfarçados de ovelhas (Mt 7.15) São homens interesseiros que têm a aparência de crente (disfarce de ovelha), mas a natureza interior de lobo. Os lobos gostam de estar perto das ovelhas. Podem ser achados tanto na congregação como no púlpito. São enviados pelo inimigo para se infiltrarem e enganar. Devem ser identificados pelos seus frutos, não pelos ensinamentos e profecias Geralmente, seus ensinamentos parecem bem sólidos, ao contrário dos frutos de sua vida e seu ministério, que não são consistentes. Um ministro ou um crente é o que ele vive, não o que ele prega.
  Os lobos geralmente vão para cima das ovelhas novas ou das feridas, não das saudáveis e fortes. Esses lobos dirão às pessoas o que elas querem ouvir, não o que precisam ouvir. Elas não querem doutrina sólida; querem alguém que lhes agrade os ouvidos. Vejamos o que Paulo diz sobre os últimos dias:

Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão [.. ] implacáveis [...] tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes. [... ] Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos (2 Tm 3:1-5 e 4:3, Destaques acrescidos).

Note que terão forma de piedade ou de "crentes", mas negarão o poder. Como farão isso? Negarão que o cristianismo pode transformar alguém implacável em alguém perdoador. Eles vão alardear que são seguidores de Jesus e proclamar suas experiências de "novo nascimento”; mas o que falam não penetra em seu coração para imprimir-lhes o caráter de Cristo.

Geração da informação

Paulo pôde de enxergar profeticamente que esses homens e mulheres enganados possuíam um zelo pelo conhecimento, mas permaneciam imutáveis, uma vez que nunca o aplicavam. Ele os descreveu como pessoas “que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade" (2 Tm 3:7).
Se Paulo estivesse vivo hoje, ficaria extremamente triste ao ver acontecendo o o que havia dito que aconteceria. Ele veria muitos homens e mulheres participando de retiros, seminários e cultos, acumulando conhecimentos bíblicos. Saindo à caça por "novas revelações", para que pudessem viver mais egoisticamente e ter uma vida mais bem-sucedida. Ele veria ministros levando outros ao tribunal por "causas justas".
Veria publicações cristãs e programas de rádio atacando nominalmente homens e mulheres de Deus. Carismáticos correndo de igreja em igreja, tentando escapar das ofensas, todos professando o senhorio Jesus e, ao mesmo tempo, não conseguindo perdoar. Paulo clamaria: arrependam-se e libertem-se do engano, geração egoísta e hipócrita!"
Não importa o quanto você tem se atualizado em novas revelações, seminários e escolas bíblicas, não importa quantos livros tem lido ou quantas horas passa orando e estudando. Se você foi ofendido e recusa-se a perdoar e arrepender-se do pecado, ainda não alcançou o conhecimento verdade. Está em engano, e ainda confunde outros com sua vida hipócrita. Não importa qual a revelação: seu fruto terá uma história diferente para contar. Você se tornará uma fonte de águas amargas que levarão ao engano, e não à verdade.

Traição

Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns aos outros
(Mt 24:10 - Destaques acrescidos).

Analisemos essa sentença. Se observarmos atentamente, veremos uma progressão. A ofensa leva à traição, e a traição leva ao ódio.
Como discutido anteriormente, pessoas ofendidas constroem muros de proteção. O foco se toma a autopreservação. Devemos proteger-nos a qualquer preço. Isso nos toma capazes de traição. Quando traímos, procuramos nossa própria proteção e interesse à custa de outra pessoa – geralmente alguém com quem temos um relacionamento.
Desse modo, uma traição no Reino de Deus acontece quando um crente procura seu próprio interesse e proteção à custa de outro crente. Quanto mais próxima a relação, maior a traição. Trair alguém é o maior exemplo de abandono da aliança. Quando a traição ocorre, o relacionamento não pode ser restaurado se não for seguido de arrependimento genuíno.
A traição leva ao ódio com sérias conseqüências. A Bíblia nos fala claramente que aquele que odeia seu irmão é um assassino e todo assassino não tem vida eterna permanente em si (1 Jo 3:15).
Que tristeza encontrarmos exemplos de ofensa, traição e ódio entre os crentes atualmente! Isso está tão freqüente em nossa casa e nas igrejas que se tomou um comportamento normal. Estamos anestesiados demais para nos entristecermos quando um ministro do Evangelho leva outro ao tribunal. Não nos surpreendemos mais quando casais crentes se divorciam. As divisões na igreja são tão comuns e previsíveis! A política na igreja é exercida constantemente. Ela vem disfarçada, como se fosse de interesse para o Reino ou para a igreja.
Os "crentes" estão protegendo seus direitos, para que não sejam maltratados ou passados para trás por outros crentes. Será que nos esquecemos da exortação da nova aliança?

Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?
(1 Co 6:7)

Será que nos esquecemos das palavras de Jesus?

Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem
(Mt 5:44).

Da ordem de Deus?

Não façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a   si mesmo
(Fp 2:3).
 
Por que não vivemos sob essas leis de amor? Por que somos rápidos em trair em vez de sacrificar nossa vida em favor dos outros, mesmo correndo o risco de sermos traídos? A razão: nosso amor esfriou, o que resulta na autoproteção. Não somos mais capazes de entregar nossos cuidados a Deus quando tentamos cuidar de nós mesmos.
Quando Jesus foi ofendido, Ele não revidou, mas entregou sua alma a Deus, que julgaria retamente. Somos admoestados a seguir os seguintes passos:

Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente (1 Pe 2:21-23).

O capacitador

Devemos confiar em Deus e não na carne. Muitos prestam culto a Deus, como sua fonte, mas vivem como órfãos. Vivem a vida como bem entendem e confessam com a boca: "Ele é meu Senhor e Deus”.
A essa altura você já percebeu como o pecado ofensa é sério. Se não for tratada, a ofensa, eventualmente, levará a morte. Mas, quando você resiste à tentação de ser ofendido, Deus lhe dá grande vitória


 Se o diabo pudesse destruir-nos quando quisesse,   
ele já nos teria aniquilado há muito tempo.

3. Como isto pôde acontecer comigo?


Respondeu-lhes José: Não temais; acaso, estou eu em lugar de Deus?
(Gn 50:19, 20)

No primeiro capítulo agrupamos todas as pessoas ofendidas em duas categorias principais: a) aquelas que, genuinamente foram maltratadas e b) aquelas que pensam que foram maltratadas mas, na realidade não foram Neste capítulo gostaria de me dirigir à primeira categoria.
  Comecemos com a seguinte pergunta: Se você foi maltratado, você tem o direito de se sentir ofendido? Em resposta, vamos considerar vida do filho preferido de Jacó, José (veja Gn 37:48).

O sonho se torna um pesadelo

José era o décimo primeiro filho de Jacó. Ele era desprezado por seus irmãos mais velhos por causa do favoritismo de seu pai que o separou, dando-lhe uma túnica talar colorida. Deus deu a José, dois sonhos. No primeiro, ele viu feixes num campo. O feixe de José ficava de pé, enquanto os dos irmãos se inclinavam perante o dele. No segundo sonho, o Sol, a Lua e onze estrelas (representando seu pai, sua mãe e irmãos) inclinando-se perante ele. Quando José lhes contou os sonhos, os irmãos obviamente não ficaram muito entusiasmados. Eles o odiaram mais ainda.
Pouco depois, seus dez irmãos foram levar o rebanho de seu pai para o pasto. Jacó enviou José para ver o trabalho deles. Quando viram José se aproximando, conspiraram contra ele, dizendo: "Lá vem o sonhador, Vamos matá-lo! Veremos o que será feito de seu sonho! Ele diz que será o líder. Deixemo-lo tentar nos liderar quando estiver mortos" Então, jogaram-no numa cisterna para que morresse. Tiraram-lhe a túnica, rasgaram-na e mancharam-na com sangue de animal para convencer o pai de que José tinha sido devorado por um animal selvagem.
Após jogarem José na cisterna, viram uma caravana de ismaelitas a caminho para o Egito. Então, Judá disse: "Esperem um momento. Se deixarmos que apodreça na cisterna, não teremos proveito algum. Vamos ganhar algum dinheiro vendendo-o como escravo. Será como se estivesse morto; não nos importunará mais e ainda dividiremos o lucro!" Dessa forma, venderam-no por vinte ciclos de prata. José os ofendera, por isso o traíram, privando-o de sua herança e de sua família. Prestem atenção. Foram os irmãos que fizeram isso: o mesmo pai, a mesma carne e o sangue.
É difícil compreender a severidade com que esses homens praticaram esse ato. Matá-lo já teria sido horrível o suficiente. Naquele tempo, era muito importante ter filhos. Os filhos de um homem carregavam seu nome e herdavam tudo o que possuía. Quando alguém era vendido como escravo a outro país, permanecia escravo até à morte. A mulher com quem se casasse seria escrava, e todos os seus filhos também!
Deveria ser terrível nascer como escravo, mas era indescritivelmente pior nascer herdeiro de uma grande fortuna, com um grande futuro e ter tudo roubado. Teria sido mais fácil se José nunca soubesse como seria sua vida. Era como se fosse um morto-vivo. Tenho certeza de que preferia ter sido morto por seus irmãos. O que seus irmãos fizeram era mau e cruel.

Compreendendo perfeitamente o que acontecera

Você, que leu essa paráfrase da história de José, provavelmente já compreendeu o resultado. É uma história que nos serve de inspiração quando conhecemos o final. Mas não foi assim que José a viveu. Parecia que ele nunca mais veria seu pai e a realização do sonho dado por Deus. Ele era escravo num país estrangeiro. Não poderia sair do Egito. Era propriedade de um outro homem.
José foi vendido a um homem chamado Potifar, um oficial de Faraó e capitão da guarda. Ele serviu àquele homem por dez anos. Nunca mais teve notícias de sua família e também sabia que seu pai o considerava morto. Não tinha mais esperanças de que seu pai o resgatasse.
O tempo passava e José encontrou o favor de seu dono e era muito bem tratado. Potifar lhe confiou toda sua casa e tudo o que possuía.
Todas as condições eram favoráveis a José, mas algo muito errado estava sendo gerado no coração da esposa de Potifar. Ela lançava olhares a José e queria cometer adultério com ele. Diariamente, tentava seduzi-lo e ele a recusava. Um dia, estando os dois sós na casa, ela o encurralou e insistiu em deitar-se com ele. José recusou e correu, deixando sua túnica talar para trás, nas mãos da mulher. Quando isso aconteceu, ela gritou: "Estupro!" Potifar, então, jogou José na prisão de Faraó. A prisão do Faraó não era exatamente como as nossas prisões atuais da América. Já ministrei em várias delas e, por mais desagradáveis que sejam, seriam consideradas clubes de campo em comparação aos calabouços do Faraó. Sem sol ou área de ginástica, era um lugar subterrâneo, desprovido de qualquer luz ou calor. As condições variavam de cruéis a desumanas. Os prisioneiros eram deixados lá até apodrecerem, enquanto ainda sobreviviam com "escassez” de pão e água(1Rs.22:27). Recebiam comida suficiente para sobreviver, a fim de que sofressem mais. Segundo o Salmo 105:18, os pés de José doíam por causa dos grilhões que o prendiam. Ele foi largado no calabouço para morrer.
Se ele fosse egípcio, talvez tivesse alguma chance de ser libertado, mas como escravo estrangeiro, acusado de estupro, tinha pouca ou nenhuma esperança. As coisas não poderiam estar piores. José foi rebaixado ao máximo possível, sem que estivesse morto.
Você consegue imaginar seus pensamentos na escuridão úmida do calabouço? “Eu sirvo a meu senhor com honestidade e integridade por dez anos. Sou mais fiel que sua esposa. Fui leal a Deus e a meu senhor diariamente fugindo da imoralidade sexual. Qual foi minha recompensa? O calabouço! Quanto mais tento fazer o que é correto, a situação piora! Como Deus pôde permitir isso?! Será que meus irmãos poderiam roubar também minha promessa de Deus? Por que este Deus poderoso, o Deus da aliança, não intervém em meu favor? É assim que um Deus amoroso e fiel cuida de seus servos? Por que eu? Que fiz para merecer isto? Apenas cri que ouvia a voz de Deus".
Tenho certeza de que ele lutou contra esses pensamentos ou pensamentos parecidos. José tinha uma liberdade muito limitada mas, ainda assim, tinha o direito de escolher a reação a tudo o que estava acontecendo com ele. Será que sentia-se ofendido e amargurado com seus irmãos e até com Deus? Desistiu de ter esperança no cumprimento da promessa, privando-se da última coisa que ainda lhe dava motivação para viver?

Deus está no controle?

Imagino que nunca passou pela mente de José, até que tudo terminou, que esse era o processo de Deus para prepará-lo para ser líder. Como usaria sua autoridade futura sobre seus irmãos que o traíram? Ele estava aprendendo com tudo que sofrera a ser obediente. Seus irmãos eram instrumentos habilidosamente manipulados por Deus. José se agarrou à promessa, buscando o propósito de Deus?
Talvez quando José teve seus sonhos os tenha visto como uma confirmação do favor em sua vida. Ele ainda não havia aprendido que a autoridade é dada para servir, e não para separar. Geralmente, nos processos de treinamento enfocamos a impossibilidade de nossas circunstâncias em vez da grandeza de Deus. Como resultado, sentimo-nos desencorajados e necessitamos de alguém que sirva de culpado. Então, buscamos aquele que nos causou todo o nosso desespero. Quando enfrentamos o fato de que Deus poderia ter evitado toda nossa confusão - e não o fez - freqüentemente o culpamos.
Isso ficou atormentando a mente de José: "Vivi de acordo com o que sei de Deus. Não transgredi seus estatutos ou sua natureza. Apenas repeti o sonho que o próprio Deus me deu. E qual foi o resultado? Meus irmãos me traíram e fui vendido como escravo! Meu pai acha que estou morto, e nunca virá ao Egito para me encontrar".
Para José, tudo se resumia em seus irmãos. Eles eram a força que o jogara no calabouço. Provavelmente, José pensava como as coisas seriam diferentes quando estivesse no poder, quando Deus lhe desse a posição de autoridade que viu em seu sonho. Como tudo teria sido diferente se seus irmãos não tivessem abortado seu futuro!
Quantas vezes vemos nossos irmãos e irmãs caindo na mesma armadilha de culpar os outros? Por exemplo:
"Se não fosse minha esposa, poderia estar no ministério. Ela tem impedido e destruído muito aquilo com que sonhei".
"Se não fossem meus pais, eu teria tido uma vida normal. Eles são culpados pela situação na qual me encontro hoje. Como é que os outros têm pais normais e eu não? Se meus pais não tivessem divorciado, eu teria sido mais bem-sucedido no meu próprio casamento."
"Se não fosse o meu pastor haver reprimido os dons que tenho, eu teria tido liberdade. Ele não permitiu que eu seguisse meu destino no ministério. Ele fez com que as outras pessoas se virassem contra mim."
"Senão fosse meu ex-marido, meus filhos e eu não teríamos tido este problema financeiro."
"Se não fosse aquela mulher da igreja, eu ainda teria o respeito dos líderes. Por causa de suas fofocas, ela destruiu-me e a qualquer esperança que tinha de ser respeitada."
A lista é interminável. É muito fácil culpar os outros pelos nossos problemas e imaginar como estaríamos bem melhor se não fosse pelos outros ao nosso redor. Sabemos que nossa decepção e nossa mágoa são culpa deles.
Gostaria de enfatizar o seguinte ponto: Absolutamente, nenhum homem, mulher criança ou demônio poderá tirá-lo da vontade de Deus! Ninguém a não ser Deus, detém seu destino.” Os irmãos de José tentaram de todos os modos, destruir a visão que Deus lhe deu. Eles pensaram ter acabado com José. Disseram com suas próprias palavras: "Vinde, pois, agora matemo-lo e lancemo-lo numa destas cisternas [...] vejamos em que lhe darão os sonhos" (Gn 37:20 - Grifo acrescido). Estavam a fim de destruí-lo. Não foi um acidente. Foi deliberado! Não queriam que existisse oportunidade para o sucesso dele.
Agora, você acha que quando os irmãos de José o venderam como escravo Deus lá do céu olhou para o Filho e para o Espírito Santo e disse: "Que faremos agora? Vejam o que os irmãos de José fizeram eles destruíram nossos planos para José. Temos de pensar em algo, rápido! Temos outro plano alternativo?"
Muitos crentes reagem às situações de crise como se fosse exatamente assim que acontecesse no céu. Você consegue ver o Pai dizendo a Jesus: "Jesus, Jim acabou de ser demitido por causa de uma mentira de um colega de trabalho. Que faremos agora? Você tem alguma outra vaga aberta para ele lá embaixo?" Ou "Jesus, Sally está com trinta e quatro anos e ainda não se casou. Você tem algum rapaz disponível para ela lá embaixo? O rapaz com quem queria que ela se casasse casou-se com sua melhor amiga, que fez uma fofoca sobre ela e roubou o coração do rapaz". Parece uma coisa absurda, e mesmo assim a forma como reagimos insinua que esse é o modo como vemos a Deus.
Vejamos o que aconteceria com José em nossas igrejas atualmente. Se ele fosse como a maioria de nós, você sabe o que estaria fazendo? Planejando uma vingança. Ele se confortaria com pensamentos como: "Quando eu colocar as mãos naquela pessoa, eu a matarei! Eu a matarei pelo que fez comigo. Ela me paga".
Mas, se José houvesse, realmente, tido essa atitude, Deus o deixaria apodrecer no calabouço! Isso porque, se tivesse saído da prisão com este impulso, teria matado, cortado a cabeça de dez líderes das tribos de Israel, até mesmo Judá, linhagem da qual descende Jesus.
Exatamente os que mais maltrataram José foram os patriarcas de Israel E Deus prometeu a Abraão que eles começariam uma nação. Através deles Jesus viria! José se livrou da ofensa, e o plano de Deus foi cumprido na sua vida e na de seus irmãos.

Será que isso poderia ficar pior?

A prisão foi um teste para José, mas foi também uma época de oportunidade. Havia dois outros prisioneiros com José, e ambos tiveram sonhos muito vívidos e atormentadores. José interpretou ambos os sonhos com grande exatidão. Um dos homens seria restaurado, enquanto o outro seria executado. José pediu àquele que seria restaurado que se lembrasse dele quando tivesse readquirido o favor de Faraó. O homem voltou a servir ao Faraó, mas dois anos se passaram e ele não deu notícias. Foi outra decepção para José e outra oportunidade para ficar ofendido.

Deus sempre tem um plano

Chegou a vez de o Faraó ter um sonho perturbador. Nenhum de seus magos ou sábios puderam dar-lhe explicação. Foi então que o servo restaurado se lembrou de José. Ele compartilhou como José tinha interpretado o seu próprio sonho e o sonho de seu companheiro na prisão, José foi trazido ao Faraó, disse-lhe o significado de seu sonho - a fome i ria assolar o país - e, sabiamente instruiu-o sobre como se preparar para a crise. O Faraó, imediatamente, o promoveu. Ele seria o segundo homem mais importante no comando do Egito. José, com a sabedoria que Deus lhe dera, preparou tudo para a fome que estava por vir.
Mais tarde, quando a fome chegou a todas as nações conhecidas, os irmãos de José foram ao Egito buscar ajuda. Se José guardava alguma coisa em seu coração contra seus irmãos, esta seria a hora da desforra. Ele poderia tê-los jogado na prisão, torturado e até mesmo matado. Não seria culpado, porque era o segundo homem mais importante do Egito. Seus irmãos não tinham nenhuma importância para Faraó.
Mas José decidiu dar-lhes os grãos sem pagamento. Depois, receberam a melhor terra do Egito para suas famílias e do melhor que ela oferecia. Em resumo: tudo o que havia melhor no Egito lhes foi dado. José terminou abençoando aqueles que o amaldiçoaram e fazendo o bem àqueles que o odiavam (veja Mt 5:44).
Deus sabia o que os irmãos de José iriam fazer antes mesmo que o fizessem. De fato, o Senhor sabia o que eles iriam fazer antes de dar o sonho a José e antes mesmo do nascimento deles.
Vejamos o que José disse a seus irmãos quando se reuniram:

Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós. Porque já houve dois anos de fome ti, r terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem colheita. Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra e para vos preservar a vida por um grande livramento. Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus... (Gn 45:5-8 Destaques acrescidos)

Quem enviou José? Seus irmãos ou Deus? Deus o enviou, por intermédio de duas testemunhas. José disse a seus irmãos: "Não fostes vós que me enviastes". Ouça o que o Espírito tem a dizer!
Como já foi discutido, nenhum homem mortal ou demônio pode antecipar-se aos planos de Deus para sua vida. Se você conhecer a verdade, ela o libertará. Mas há somente uma pessoa que pode tirá-lo da vontade de Deus, e essa pessoa é você!
  Considere os filhos de Israel. Deus enviou um libertador, Moisés, para tirá-los da escravidão do Egito e levá-los à Terra Prometida. Após um ano no deserto, os líderes foram enviados para espionar a terra. Eles voltaram reclamando. Tinham medo das outras nações que ocupavam a terra e tinham um contingente militar maior e mais forte.
Todos os israelitas, com exceção de Josué e Calebe, concordaram com os líderes. Eles sentiam como se Deus os houvesse trazido para morrer. Ficaram ofendidos com Moisés e com Deus. Essa situação continuou por mais de um ano. Porque se sentiam ofendidos, aquela geração nunca viu a terra que Deus prometera.
Muitos servem a Deus de todo o coração e passam por situações muito difíceis por terem sido maltratados por ímpios ou crentes carnais. A verdade é que foram tratados injustamente. Mas ficar ofendido apenas cumpre o propósito do inimigo de tirá-lo da vontade de Deus.
Se você ficar livre da ofensa, permanecerá na vontade de Deus. Se você continuar ofendido, será levado ao cativeiro pelo inimigo a fim de cumprir seu próprio propósito e sua vontade. Faça sua escolha. É muito mais proveitoso ficar livre da ofensa.
Devemos lembrar-nos de que nada pode vir contra nós sem o conhecimento prévio de Deus. Se o diabo pudesse destruir-nos a qualquer momento, já nos teria aniquilado há muito tempo, porque ele, com toda a sua força, odeia o homem. Lembre-se sempre desta exortação:

Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar (1 C'o 10:13 - Grifo acrescido).

Note que o versículo diz que Deus "proverá livramento", e não “proverá um livramento qualquer". Deus conhece todo tipo de circunstância adversa que encontraremos - não importa se grande ou pequena - e planejou o livramento para escaparmos. E, o que é mais interessante: quando parece que um plano de Deus foi abortado, na realidade esse vem a ser o caminho para se cumprir aquele plano, se estivermos em obediência e livre da ofensa.
Lembre-se, então: submeta-se a Deus, não aceitando ofensa; resista ao diabo, e ele fugirá de você (Tg 4:7). Resistimos ao diabo quando não nos ofendemos. O sonho ou a visão, provavelmente acontecerá diferentemente do que você imaginou, mas a Palavra e as promessas de Deus nunca falharão. Só nos arriscamos a abortá-los quando estamos em desobediência.

Outro tipo de traição

Muitas pessoas nunca tiveram o tratamento que José recebeu de seus irmãos. Não teria sido tão dolorido se seus inimigos houvessem feito isso. Mas foram seus irmãos, sua carne e seu sangue. Eles é que deveriam ter encorajado, apoiado, defendido José e cuidado dele. Poderia haver uma situação pior do que essa que José viveu?



Uma coisa é ser prejudicado e rejeitado por um
irmão ou irmão; outra, completamente diferente, é ser prejudicado ou rejeitado pelo pai.

4. Meu Pai, Meu Pai!


Pai (...] vê que não há em mim nem mal nem rebeldia, e não pequei contra ti, ainda que andas à caça da minha vida para ma tirares  (1 Sm 24:11).

No capítulo anterior, vimos como os irmãos de José tentaram destruí-lo. Vimos a dor que experimentou por causa dessa traição. Talvez esteja familiarizado com essa situação. Você foi traído por aqueles eram próximos a você, aqueles de quem esperava amor e encorajamento.
Neste capítulo, quero lidar com uma situação ainda mais dolorosa do que a traição de um irmão. Uma coisa é ser rejeitado e prejudicado por um irmão, outra, bem diferente, é ser rejeitado e prejudicado pelo pai. Quando falo de pais, não estou me referindo a apenas pais biológicos, mas a qualquer líder que Deus nos deu. As pessoas que achamos que iam amar-nos, treinar-nos, alimentar-nos e cuidar de nós.

Uma relação de amor e ódio

Vamos examinar este exemplo de traição através do relacionamento entre o rei Saul e Davi (veja 1 Sm 16 - 31). Suas vidas se encontraram mesmo antes de se Conhecerem, uma vez que Samuel, o profeta de Deus, tingiu Davi para ser o próximo rei de Israel. Davi deve ter ficado maravilhado pensando: "Este é o mesmo homem que ungiu Saul. Vou mesmo ser rei"
De volta ao palácio, Saul estava sendo atormentado por espíritos imundos, porque havia desobedecido a Deus. Seu único alívio era quando alguém tocava harpa. Os servos de Saul procuraram por um jovem que pudesse sentar-se na presença de Saul e ministrar-lhe. Um dos servo sugeriu Davi, o filho de Jessé. O rei Saul mandou buscar Davi e pediu-lhe para vir ao palácio ministrar a ele.
Davi deve ter pensado: "Deus já está cumprindo sua promessa que veio através do profeta. Certamente ganharei o favor do rei. Esta deve ser a posição de entrada".
O tempo foi passando, e o pai de Davi lhe pediu que levasse alimento aos seus irmãos mais velhos que estavam em guerra com os filisteus. Quando chegou ao campo de batalha, Davi viu o campeão dos filisteus, Golias, zombando do exército de Deus e soube que isso estava acontecendo há quarenta dias. Ele soube, também, que o rei havia oferecido a mão de sua filha em casamento àquele que derrotasse o gigante.
Davi foi até ao rei e pediu permissão para lutar. Ele matou Golias e ganhou a filha de Saul. Dessa forma, ganhou o favor de Saul e foi levado ao palácio para viver com o rei. Jônatas, o filho mais velho de Saul, fez um pacto de amizade eterna com Davi. Em tudo o que Saul dava a Davi para fazer, a mão de Deus podia ser vista, e, assim, ele prosperava. O rei pediu que ele se sentasse à mesa para comer com os seus próprios filhos.
Davi estava animado. Ele morava no palácio, comia à mesa com o rei, casou-se com a filha dele, ficou amigo de Jônatas; enfim, era bem-sucedido nas campanhas. Estava até ganhando o favor do povo. Ele podia ver a profecia se desenrolar diante dos seus olhos.
Saul preferia Davi a todos os outros servos. Ele se tornou um pai para ele. Davi tinha certeza de que Saul ia orientá-lo, treiná-lo e um dia, com grande honra, colocá-lo no trono. Davi regozijava-se na fidelidade de Deus.
Mas um dia, tudo mudou. Quando Saul e Davi voltavam de uma batalha, lado a lado, as mulheres de todas as cidades de Israel vieram dançando e cantando: "Saul matou seus milhares e Davi seus dez milhares". Isso deixou Saul enfurecido, e daquele dia em diante ele começou a desprezar Davi. Por duas vezes, enquanto Davi tocava harpa, Saul tentou matá-lo.
A Bíblia diz que Saul odiava Davi porque sabia que Deus estava com Davi e não com ele. Davi foi forçado a fugir para salvar sua vida. Sem ter para onde ir, correu para o deserto.
Que está acontecendo?" Davi se perguntava. "A promessa estava se cumprindo, e agora tudo desmoronava. O homem que é meu mentor está tramando matar-me. Que farei? Saul é o servo ungido de Deus. Com ele contra mim, que chance tenho? Ele é o rei, o homem de Deus sobre a nação de Deus. Por que o Senhor está permitindo que isso aconteça?”
Saul perseguiu Davi de deserto em deserto, de caverna em caverna, acompanhado de três mil dos maiores guerreiros de Israel. Eles tinham um propósito: destruir Davi.
A essa altura, a promessa era apenas uma sombra. Davi não mais vivia no palácio ou comia à mesa do rei. Ele habitava cavernas úmidas e comia restos de animais selvagens. Não andava mais ao lado do rei, mas era caçado pelos homens com quem um dia lutou lado a lado. Não havia cama macia ou servos para servir-lhe. Sua noiva foi dada a outro. Ele conheceu a solidão de um homem sem nação.
Note que Deus - não o diabo - colocou Davi sob os cuidados de Saul. Por que Deus não só permitiu, mas planejou tudo? Por que Davi teve o favor do rei e abruptamente o perdeu? Esta era a oportunidade para Davi ficar ofendido - não só com Saul, mas com Deus também. Todas as perguntas que ficavam sem respostas aumentavam a tentação de questionar a sabedoria e o plano de Deus.
Saul estava determinado a matar o jovem Davi a qualquer custo, tanto que sua loucura aumentava. Ele se tornou um homem desesperado. Os sacerdotes da cidade de Nobe providenciaram um abrigo, comida e a espada de Golias para Davi. Não sabiam que Davi estava fugindo de Saul e achavam que ele estava numa missão para o rei. Eles perguntaram a Davi sobre o Senhor que estava em favor dele, e o mandaram seguir seu caminho.
Quando Saul descobriu, ficou furioso. Matou oitenta e cinco inocentes sacerdotes do Senhor e correu o fio da espada em toda a cidade de Nobe: homem, mulher, criança, bebê que amamentava, gado, burros e ovelhas. Ele cumpriu julgamento contra eles - os inocentes - que deveria ter caído sobre os amalequitas. Era um assassino. Como Deus poderia ter posto seu Espírito sobre um homem assim?
A essa altura, Saul soube que Davi estava no deserto de Em Gedi e saiu a sua procura com três mil guerreiros. Durante a viagem, para descansar do lado de fora de uma caverna, sem saber que Davi estava lá dentro. Saul tirou seu manto e o deixou de lado. Vagarosamente Davi saiu de seu esconderijo, cortou um pedaço do manto e se retirou Sem ser notado.
Depois que Saul saiu de perto da caverna, Davi se prostrou e chorou:

Olha, pois, meu pai, vê aqui a orla do teu manto na minha mão [...] vê que não há em mim nem mal nem rebeldia, e não pequei contra ti, ainda que andas à caça da minha vida para ma tirares (1 Sm 24:11-Destaque acrescido).

O clamor de Davi para Saul era: "Meu pai, meu pai!" Na verdade, ele clamava: "Veja meu coração! Seja um pai para mim. Eu preciso de um líder que me treine, não que me destrua!" Mesmo quando Saul planejava matá-lo, o coração de Davi queimava de esperança.

Onde estão os pais?

Já vi esse choro em inúmeros homens e mulheres no corpo de Cristo. Muitos deles são jovens e têm um forte chamado de Deus. Eles clamam por um pai, um homem que os discipline, ame, apóie e encoraje. Esta é a razão pela qual Deus disse que "converterá o coração dos pais [líderes] aos filhos [pessoas] e o coração dos filhos a seus pais, para que eu (Deus) não venha e fira a terra com maldição" (M14:6).
Nossa nação perdeu seus pais (biológicos, líderes ou ministros) nos anos 40 e 50, e agora nossa condição está cada vez pior. Assim como Saul, muitos líderes de nosso lar, empresa e igreja estão mais preocupados com seus alvos do que com seus filhos.
Por causa dessa atitude, esses lideres vêem o povo de Deus recursos para servira sua visão, em vez de ver a visão como meio de servir às pessoas. O sucesso da visão justifica o custo de vidas machucadas e pessoas destruídas. Justiça, misericórdia, integridade e amor são deixados de lado por causa do sucesso. As decisões se baseiam em dinheiro, números e resultados.
Isso abre as portas para o tratamento que Davi recebeu: afinal, Saul tinha um reino para proteger. Esse tipo de tratamento é aceitável na mente dos lideres porque estão trabalhando na pregação do Evangelho.
Quantos líderes dispensaram homens que trabalhavam sob sua autoridade por causa de alguma suspeita? Por que esses líderes suspeitam? Porque não estão servindo a Deus. Estão servindo a uma visão. Assim como Saul, estão inseguros sobre o seu chamado e fomentam inveja e orgulho. Eles reconhecem qualidades de Deus em algumas pessoas e, então, usam-nas enquanto lhes forem úteis. Saul aproveitou o sucesso de Davi até que ele se tornou uma ameaça. Dispensou Davi e esperou uma razão para destruí-lo.
Tive a oportunidade de conversar com inúmeros homens e mulheres, que clamavam por alguém a quem prestar contas. Eles desejavam submeter-se a um líder que os discipulasse. Sentiam-se isolados e solitários. Procuravam alguém que lhes servisse de pai. Mas Deus permitiu que sofressem rejeição, pois queria fazer neles o que fez em Davi. Ouça o que o Espírito tem a dizer!
Davi estava preocupado que Saul acreditasse em sua rebeldia e maldade. Deve ter sondado seu coração, dizendo: "Onde foi que eu errei? Como foi que o coração de Saul se voltou contra mim?" Por isso ele clamou:: "No fato de haver eu cortado a orla do teu manto sem te matar, reconhece e vê que não há em mim nem mal nem rebeldia” (veja 1ªSm 21.11 - Grifo acrescentado). Davi pensou que, se pudesse provar seu amor por Saul, este restauraria o seu favor por ele e a profecia seria cumprida.
As pessoas que foram rejeitadas por seu pai ou líder tendem a tomar toda a culpa para si. São prisioneiras de pensamentos que as tentam, como: "Que foi que fiz?" e "Meu coração era impuro?" Algumas vezes questionam: "Quem virou o coração do meu líder contra mim?'" Dessa forma, tentam constantemente provar sua inocência. Acham que, se demonstrarem lealdade e valor, serão aceitos. Infelizmente, quanto mais tentam, mais rejeitados se sentem.

Quem irá vingar-me?

Saul reconheceu a bondade de Davi quando percebeu que ele poderia tê-lo matado e não o fez. Ele e seus homens se retiraram. Davi deve ter pensado: "Agora, o rei vai restaurar-me. Agora, a profecia será cumprida. Obviamente, ele vê meu coração e vai tratar-me melhor”.
Devagar, Davi! Pouco tempo depois, os homens relataram a Saul que Davi estava nas montanhas de Haquilá. Saul foi a sua procura com os mesmos três mil soldados. Tenho certeza de que isso deixou Davi arrasado. Ele percebeu que não era um mal-entendido e que Saul, intencionalmente, queria tirar-lhe a vida. Como deve ter se sentido rejeitado! Saul conhecia seu coração e, mesmo assim, marchou ao seu encontro.
Davi desceu com Abisai para o acampamento de Saul. Nenhum guarda os viu, porque Deus os fez dormir profundamente. Os dois homens se esgueiraram até onde Saul estava dormindo, passando por todo o exército sem serem notados.
Abisai argumentou com Davi: "Deus te entregou, hoje, nas mãos o teu inimigo; deixa-me, pois, agora, encravá-lo com a lança, ao chão, de um só golpe; não será preciso segundo" (1 Sm 26:8).
Abisai tinha boas razões para achar que Davi o deixaria matar Saul: primeiro, Saul já havia assassinado, a sangue frio, oitenta e cinco sacerdotes inocentes e suas famílias; segundo, estava com um exército de três mil para matar Davi e seus seguidores. Se você não mata o inimigo primeiro, Abisai pensou, ele certamente o matará. É legítima defesa. Qualquer tribunal concordaria com isso; terceiro, Deus, através de Samuel, ungiu Davi como o próximo rei de Israel. Davi deveria querer sua herança se não queria ser um homem morto sem que a profecia se cumprisse; quarto, Deus fez um exército inteiro cair em sono profundo para que Davi e Abisai pudessem chegar até Saul. Por que Deus faria tudo isso? Parecia a Abisai que Davi nunca mais teria uma chance como esta novamente.
Todas essas razões pareciam boas. Elas faziam sentido, e Davi estava sendo encorajado por um irmão. Então, se Davi estava um pouquinho só, ofendido, teria uma justificativa para permitir que Abisai encravasse a lança a em Saul.
Veja resposta de Davi:

Não o mates, pois quem haverá que estenda a mão contra o ungido do Senhor e fique inocente? [.. ] Tão certo como vive o Senhor, este o ferirá, ou o seu dia chegará em que morra, ou em que, descendo à batalha, seja morto. O Senhor me guarde de quê eu estenda a mão contra o seu ungido (1 Sm 26:9-11-Destaque acrescido).

Davi não mataria Saul, apesar dele ter assassinado inocentes e desejado o mesmo de Davi também. Davi não se vingaria; deixou a vingança nas mãos de Deus.
Certamente, teria sido mais fácil colocar um ponto final em tudo naquele momento - mais fácil para Davi e para o povo de Israel. Ele sabia que a nação era como um rebanho de ovelhas sem pastor. Sabia que um lobo os estava roubando por causa de desejos egoístas. Foi difícil para ele não se defender, mas era provavelmente mais difícil não libertar o povo, a quem amava, de um rei louco. Tomou essa decisão, mesmo sabendo que o único conforto de Saul seria sua morte.
Davi provou a pureza de seu coração quando poupou Saul a primeira vez. Até mesmo quando Davi teve uma segunda oportunidade de matar Saul, ele nem o tocou. Saul era ungido de Deus e Davi o deixou nas mãos de Deus para que Ele o julgasse,
Quantos possuem o coração como o de Davi? Não usamos mais espadas reais para assassinar, mas outro tipo de espada para arruinar os outros: a língua. "A morte e a vida estão no poder da língua” (Pv 18:21).
Igrejas se dividem, famílias se separam, casamentos se quebram e o amor morre, esmagado pelo constante massacre de palavras usadas para machucar e frustrar. Ofendidos pelos amigos, pela família e pelos líderes, atingimos com palavras afiadas cheias de amargura e ódio. Mesmo que a informação seja verdadeira, os motivos são impuros.
Em Provérbios 6:16-19 está escrito que semear discórdia e contenda entre irmãos é abominação para o Senhor. Quando repetimos algo com intenção de separação ou danos a relacionamentos e reputação - mesmo que seja verdade - estamos afrontando Deus.

Será que Deus me está usando para expor os pecados de meu líder?

Durante sete anos trabalhei no ministério de assistência social e pastoreei os jovens antes de Deus liberar-me e a minha esposa para este ministério atual. Quando era pastor de jovens, havia um homem que não gostava de mim ou de minhas pregações. Geralmente, isso não me afetava, mas esse homem era autoridade sobre mim. Acreditava que Deus me havia dito para pregar sobre pureza e ousadia aos jovens, e seu filho fazia parte do grupo. O coração desse jovem estava começando a borbulhar. Um dia, ele veio a nós chorando. Ele estava extremamente chateado porque sentia que o estilo de vida que experimentava em sua casa contradizia com o que eu o desafiava a seguir.
Esse incidente e outros conflitos pessoais fizeram com que seu pai se decidisse livrar de mim. Ele ia ao pastor titular por causa do ódio que sentia por mim e me acusava injustamente. Depois, vinha até mim dizendo como o pastor titular estava contra mim, mas que ele próprio me defendia. Houve uma série de memorandos que, apesar de não terem meu nome escrito, indicavam que se tratava de minha pessoa. Ele sorria para mim, mas sua intenção era me destruir.
Vários membros do grupo de jovens disseram ter ouvido que eu ia ser despedido. O filho desse homem estava espalhando a notícia não de forma maliciosa, mas apenas repetindo o que ouvira em casa. Eu estava com muita raiva e confuso. Fui até esse homem e ele admitiu ter dito isso, mas estava apenas repetindo os pensamentos do pastor titular.
Muitos meses se passaram e parecia que nada aliviava a situação. Ele impedia qualquer contato entre eu e o pastor titular. Isso não só acontecia comigo, mas com todos os outros pastores que não estavam a seu favor.
Minha família estava sob constante pressão, sem saber se continuaríamos na igreja ou se nos mandariam embora. Havíamos comprado uma casa, minha esposa estava grávida e não tínhamos para onde ir. Não queria enviar currículos procurando outra posição. Acreditava que Deus havia mandado para aquela igreja, e não queria recorrer a nenhum plano B.
Minha esposa estava com os nervos à flor da pele. "Querido, sei que irão despedir você. Todos dizem isso."
"Eles não me contrataram e não podem despedir-me sem a aprovação de Deus", disse-lhe. Ela achava que eu estava negando as circunstâncias e me implorou que saísse de lá logo.
Finalmente, recebi a notícia de que a decisão final sobre minha saída sido tomada. O pastor titular anunciou que a igreja estava passando por um momento de mudanças em relação aos jovens. Eu ainda não havia conversado com ele sobre o conflito com o líder que ele tinha escolhido para mim. Tinha um encontro com o pastor num dia, e o outro líder ia conversar com ele no dia seguinte. Deus me impediu de me defender.
Quando o pastor e eu nos encontramos, me surpreendi ao encontrá-lo sentado, só, em seu gabinete. Ele olhou para mim e disse: "John, Deus o enviou para esta igreja. Eu não deixarei que se vá". Eu estava aliviado. Deus me protegeu no último instante.
"Por que este homem o persegue?" - o pastor me perguntou. “Por favor, acerte as coisas entre vocês dois."
Um pouco depois da reunião, recebi evidências escritas da decisão do líder em relação às minhas áreas de responsabilidade. Seus verdadeiros motivos estavam expostos. Estava pronto para levar o papel ao pastor titular.
Naquele dia, andei pela sala e orei por quarenta e cinco minutos, tentando superar o mal-estar que sentia. Eu dizia, "Deus, esse homem tem sido muito desonesto e perverso. Ele deve ser desmascarado. É uma pessoa destrutiva no ministério. Tenho de dizer ao pastor quem ele realmente é".
Mais tarde, quis justificar minhas intenções de desmascará-lo: "Tudo que vou relatar é fato e está documentado, não é nada levado pela emoção. Se ele não for detido, sua maldade vai infiltrar-se na igreja".    Finalmente, muito frustrado, bradei: "Deus, o Senhor não quer que eu o exponha, quer?"
Quando pronunciei essas palavras, a paz de Deus inundou meu coração. Sacudi minha cabeça maravilhado. Sabia que Deus não queria, que tomasse providências, e então joguei fora todas as evidências. Mais tarde, quando pude analisar a situação com mais objetividade, percebi que queria vingar-me mais do que proteger pessoas no ministério. Havia me convencido de que meus motivos não eram egoístas. Minhas informações eram precisas, mas meus motivos eram impuros.
O tempo passou e um dia, quando estava orando do lado de fora da igreja antes do expediente, aquele homem caminhava em direção ao prédio. Deus me impeliu a ir até ele e me humilhar. Imediatamente fiquei na defensiva. "Não, Senhor, ele é que tem que vir até mim. Ele é o responsável por todo este problema".
Continuei orando mas, novamente, o Senhor insistiu em que eu de veria ir imediatamente até ele e me humilhar. Sabia que era Deus. Liguei para seu gabinete e fui até lá. O que disse e como disse foi muito diferente do que teria sido se Deus não tivesse tratado comigo antes.
Com toda sinceridade, pedi perdão. "Tenho criticado e julgado você", confessei.
Ele, imediatamente, relaxou, e então caminhamos juntos durante uma hora. Daquele dia em diante, seus ataques contra mim cessaram, apesar de ainda haver alguns problemas entre ele e outros pastores.
Seis meses mais tarde, quando estava ministrando fora do país, tudo o que aquele homem havia feito de errado foi exposto ao pastor titular. Nada tinha a ver comigo, mas com outras áreas do ministério. O que ele estava fazendo era bem pior do que eu sabia. Ele foi, imediatamente, demitido.
O juízo veio, mas não por intermédio de minhas mãos. O mesmo que ele quis fazer comigo acabou acontecendo com ele. Quando tudo isso porém aconteceu, não fiquei contente. Fiquei triste por ele e sua família. Compreendi sua dor porque eu mesmo já havia passado por ela quando estava nas mãos daquele homem.
Eu o amava, já que o havia perdoado seis meses antes. Não queria que isso estivesse acontecendo com ele. Se ele houvesse sido despedido quando eu ainda estava com raiva, teria ficado contente. Eu sabia que estava livre da ofensa que guardava. Humildade e o fato de não aceitar vingança, me livraram da prisão da ofensa.
Um ano mais tarde, encontrei com ele no aeroporto. Eu estava atordoado com o amor de Deus. Corri até ele e o abracei. Se não me houvesse humilhado naquele dia no gabinete, não teria sido capaz de olhá-lo nos olhos aquele dia no aeroporto. Já se passaram sete anos desde que o vi, mas sinto muito amor por ele, e é meu desejo que a vontade de Deus se cumpra em sua vida.
Davi foi muito sábio quando decidiu deixar Deus ser o juiz. Você pode perguntar: "Quem Deus usou para julgar Saul, seu servo?" Os filisteus. Saul, juntamente com seus filhos, morreu combatendo os filisteus. Quando a notícia chegou até Davi, ele não comemorou. Ficou de luto.
Um homem cheio de si disse a Davi que havia matado Saul. Ele esperava que a notícia o favorecesse, mas ela teve o efeito oposto. "Como, então, não teve medo de matar o ungido de Deus?", Davi perguntou. Ordenou então, que o homem fosse executado (veja 2 Sm 1.14, 15).
Davi, então, compôs uma canção para o povo de Judá cantar em honra de Saul e seus filhos. Davi pediu ao povo que não noticiasse nas cidades dos filisteus, para que eles não se alegrassem. Ordenou que não chovesse, nem nada crescesse no lugar onde Saul foi morto. Conclamou o povo de Israel para chorar a morte de Saul. Este não é um coração ofendido de um homem. Um homem ofendido teria dito “Teve o que merecia!”
Davi foi, ainda, mais longe. Não matou os que ficaram da casa de Saul, em vez disso, providenciou comida e terra e concedeu a um descendente um lugar à mesa do rei. Alguma semelhança com um homem ofendido?
Embora Davi tivesse sido rejeitado por aquele que deveria ter sido como um pai para ele, permaneceu fiel até apôs a morte de Saul. É fácil ser fiel a um líder ou pai que nos ama, mas que dizer daqueles que nos destroem? Você quer ser um homem ou mulher que age segundo o coração de Deus, ou pretende vingar-se?



É correto Deus vingar seus servos,
mas é incorreto os servos de Deus se vingarem.

5. Como nascem os errantes espirituais


O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor." Com estas palavras, Davi conteve os seus homens e não lhes permitiu que se levantassem contra Saul (1 Sm 24:6, 7).

No capítulo anterior, vimos como Davi foi maltratado por aquele ele desejava que fosse seu pai. Davi ainda tentava imaginar qual o erro: o que tinha feito para virar o coração de Saul contra ele, e como Davi o teria de volta? Davi provou sua lealdade poupando a vida de Saul, mesmo que este o estivesse perseguindo.
Davi gritou, inclinando-se e colocando o rosto na terra: "Vê e reconhece que em mim não há nem mal, nem rebeldia, que não pequei contra ti".
Davi sabia que havia demonstrado sua fidelidade a seu líder, então ficou tranqüilo. Depois, soube de uma notícia que o deixou arrasado: Saul ainda pretendia matá-lo. Mas Davi se recusou a levantar suas mãos contra aquele que tramava tirar-lhe a vida, embora Deus houvesse colocado o exército inteiro para dormir e lhe dado um companheiro que implorava para matar Saul. Davi percebeu que o sono do exército tinha outro propósito: testar seu coração.
Deus queria ver se Davi mataria para estabelecer seu reino ou permitira que Ele estabelecesse seu trono na justiça, para sempre.

Não vingueis a vós mesmos, amados, nem dai lugar a ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que a retribuirei, diz o Senhor (Rm 12:19).

É correto Deus vingar seus servos. É incorreto os servos de Deus se vingarem. Saul era um homem que queria vingança. Perseguiu Davi, um homem honrado, por quatorze anos e assassinou os sacerdotes e suas famílias.
Quando Davi estava ao lado de Saul, que dormia, enfrentou uma difícil prova. Ela diria se Davi ainda possuía um coração nobre de pastor ou se era inseguro como Saul. Será que permaneceria segundo o coração de Deus? Em princípio, é muito mais fácil resolver os problemas com nossas próprias mãos, em vez de descansarmos no Deus justo.
Deus testa a obediência de seus servos. Deliberadamente, colocando-nos em situações em que os padrões religiosos e sociais aparentemente justificariam nossos atos. Permite que outros, principalmente os que estão mais próximos de nós, incentivem-nos a reagir. Podemos, até, achar que estamos sendo nobres e protetores se nos vingarmos. Mas Deus não é assim. A sabedoria do mundo é carnal.
Quando penso na oportunidade que tive de expor meu líder, lembro-me de que lutei contra o pensamento de que ele poderia magoar alguém se não fosse desmascarado. Eu pensava: "Estarei apenas relatando a verdade. Se não fizer isso, nunca terá fim". Fui incentivado por outras pessoas a desmascará-lo.
Hoje, porém, sei que Deus me deu essas informações por uma razão: para me testar. Tornaria-me como o homem que tentava destruir-me? Ou permitiria que o juízo e a misericórdia de Deus alcançassem este homem caso se arrependesse?

Como Deus pode usar lideres corruptos?

Muitos perguntam: "Por que Deus coloca pessoas sob a liderança de outros que cometem erros graves e que, até mesmo, são insensatas?"
Veja a infância de Samuel (1 Sm 2 - 5). Deus, não o diabo, foi quem colocou esse homem sob a autoridade de um sacerdote corrupto chamado Eli e de seus dois indignos filhos, Hofni e Finéias, que também eram sacerdotes. Esses homens eram terríveis. Tomavam as ofertas através de manipulação e força, e fornicavam com as mulheres que ficavam na porta do tabernáculo.
Imagine servir a um ministro que leva esse tipo de vida! Um ministro que era tão insensível ao Espírito, que acusava mulheres que estavam em oração de estarem bêbadas! Tão conivente com os erros dos filhos, que chegou até a chamá-los para serem líderes, e eles fornicavam dentro da igreja.
Muitos crentes dos nossos dias ficariam ofendidos e buscariam outras igrejas contando a todos como se livraram do modo de vida corrupto de seus ex-pastores e líderes. No meio de tanta corrupção, acho fantástico o que o jovem Samuel fez: "O jovem Samuel servia ao Senhor, perante Eli" (1 Sm 3:1). Deus parecia muito distante de toda a comunidade hebraica. A lâmpada de Deus estava prestes a se apagar no templo do Senhor. Será que Samuel foi a outro lugar de adoração? Foi aos lideres desmascarar Eli e seus filhos? Formou um comitê para destituí-los do pastorado? Não, ele servia ao Senhor! Deus colocou Samuel ali, e ele não era o responsável pelo comportamento de deles. Foi posto sob a autoridade daqueles homens não para julgá-los, mas para servir-lhes. Sabia que Eli era servo de Deus, e não seu. Estava ciente que Deus era capaz de lidar com seu próprio servo.
Filhos não corrigem pais. Mas é obrigação dos pais treinar e corrigir seus filhos. Devemos confrontar e lidar com aqueles a quem Deus nos deu para treinar. Esta é a nossa responsabilidade. Os que estão no mesmo nível que nós devem ser encorajados e exortados como irmãos. Mas neste capítulo, assim como no último, discutirei como devemos reagir à autoridade.
Samuel serviu ao ministro escolhido de Deus da melhor maneira possível, sem ser pressionado a corrigi-lo ou a julgá-lo. A única vez que Samuel proferiu palavras de correção foi quando Eli veio a Samuel e perguntou-lhe que profecia Deus havia lhe dado na noite anterior. Mesmo assim, a palavra de correção não veio de Samuel, mas de Deus. Se mais pessoas entendessem essa verdade, nossas igrejas seriam bem diferentes.

Igrejas não são lanchonetes

Atualmente, homens e mulheres deixam suas igrejas assim que acham algo de errado na liderança. Talvez seja a forma que o pastor usa para recolher as ofertas. Talvez seja como o dinheiro é empregado. Se não gostam da pregação do pastor, vão embora da igreja. Ou ele não é muito acessível ou é muito íntimo de todos. A lista de reclamações não termina. Em vez de enfrentarem as dificuldade e ter esperança, essas pessoas correm para onde parece não haver conflito.
Vamos encarar a realidade: Jesus é o único pastor perfeito. Então, por que nós não enfrentamos as dificuldades em vez de correr delas? Quando não enfrentamos esses conflitos diretamente, há uma grande oportunidade de sairmos de lá ofendidos. Algumas vezes dizemos que nosso ministério profético não foi bem recebido. Então, vamos de igreja em igreja, procurando uma liderança impecável.
Enquanto escrevo este livro, posso dizer que só fiz parte de duas igrejas em dois diferentes Estados nos últimos quatorze anos. Já tive inúmeras oportunidades de me sentir ofendido com minha liderança (a maior parte delas, devo acrescentar, por minha própria imaturidade). Tinha chance de me tornar crítico em relação à liderança; mas sair da igreja não era a saída. Em meio a uma circunstância bem difícil, o Senhor falou comigo através de um versículo: "Esta é a forma que se deve sair da igreja":

Saireis com alegria e em paz sereis guiados (Is 55:12 - Destaque acrescido).

Muitos não saem dessa maneira. Acham que igrejas são como lanchonetes: podem escolher e pegar o que mais gostarem! Sentem-se livres para ficar enquanto não houver problemas. Mas isso está em total desacordo com o que a Bíblia ensina. Não é você que escolhe a qual ir. Deus é quem escolhe! A Bíblia não diz: "Deus dispôs os membros colocando cada um deles no corpo, como aprouve a cada um". Ao contrário, a Bíblia diz: "Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo como lhe aprouve" (1 Co 12:18 - Grifos acrescidos).
Lembre-se de que se você está onde Deus quer que esteja o diabo vai tentar escandalizá-lo para que saia de lá. Ele quer tirar as raízes de onde Deus nos plantou. Se puder tirá-lo de lá, isso será uma vitória para você resistir, mesmo em meio a um grande conflito, acabará com os planos do diabo.

O perigoso engano

Freqüentei uma igreja vários anos. O pastor era um dos maiores pregadores dos Estados Unidos. Quando fui àquela igreja pela primeira fiquei de boca aberta, maravilhado com os ensinamentos bíblicos vindos daquele homem.
O tempo foi passando e, porque eu servia diretamente àquele pastor, pude ver bem de perto suas falhas. Questionei algumas de suas decisões pastorais. Comecei a criticá-lo e a julgá-lo, e dei lugar à ofensa. Quando ele pregava, não sentia inspiração ou unção. Seus ensinamentos não eram mais uma bênção para mim.
Um casal de amigos que também trabalhava na igreja parecia estar sentindo o mesmo. Deus os tirou do ministério naquela igreja e começaram seu próprio ministério em outro lugar. Nos pediram para os acompanhássemos. Sabiam das nossas lutas e nos incentivaram a seguir o nosso próprio chamado. O casal nos contava tudo o que o pastor, sua esposa e a liderança faziam de errado. Sofríamos juntos; sentíamos que não tínhamos mais esperança, que estávamos encurralados.
Eles pareciam sinceramente preocupados com nosso bem-estar. Mas nossas conversas serviam somente de mais combustível para o fogo do descontentamento e ofensa. Como está muito claro em Provérbios 26:20 "... sem lenha, o fogo se apaga; e, não havendo maldizente, cessa a contenda". Pode ser que o que nos disseram era um erro aos olhos de Deus, porque a situação adicionava lenha na fogueira da ofensa que havia neles e em nós.
"Sabemos que você é um homem de Deus”, disseram-me. Por isso é que está tendo esses problemas naquele lugar”. Parecia um bom argumento.
Minha esposa e eu concordamos: "É isso aí. Estamos numa situação complicada. Precisamos sair da igreja. Este pastor e sua esposa nos amam e vão nos pastorear. Os membros da igreja deles nos receberão e permitirão que continuemos o ministério que Deus nos deu".
Saímos de nossa igreja e começamos a freqüentar a desse casal, por pouco tempo. Embora tivéssemos fugido de nossos problemas, percebemos que ainda estávamos em luta. Nosso espírito não tinha alegria. Estávamos presos ao medo de nos tornarmos exatamente aquilo de que fugimos. Parecia que tudo o que fazíamos era forçado e artificial. Não conseguíamos sentir o Espírito fluir. Até mesmo nosso relacionamento com o novo pastor e sua esposa estava abalado.
Finalmente, decidimos que deveríamos voltara nossa igreja. Quando o fizemos, soubemos, no mesmo instante, que estávamos cumprindo a vontade de Deus, mesmo que parecesse que seríamos mais amados e aceitos em outro lugar.
Então, Deus me sacudiu: "John, nunca lhe disse que era para sair desta igreja. Você saiu porque se sentiu ofendido!"
Não era culpa do pastor e da sua esposa, mas nossa própria. Eles compreenderam nossa frustração e tentavam resolver os mesmos problemas no coração deles. Quando estamos fora da vontade de Deus, nunca seremos bênção ou ajuda em outra igreja. Quando estamos fora da vontade de Deus, até mesmo os bons relacionamentos são abalados. Eu e minha esposa estávamos fora da vontade dele.
As pessoas ofendidas reagem a uma situação e fazem coisas que parecem ser corretas, mesmo que não sejam inspiradas por Deus. Não somos chamados para reagir, mas, sim, para agir.
Se somos obedientes a Deus e Ele não fala conosco, é porque a resposta provavelmente é: "Fique exatamente onde está. Não faça nenhuma mudança".
Geralmente, quando nos sentimos pressionados, buscamos uma resposta de Deus. Mas se Deus nos coloca numa situação difícil é para nos refinar e fortalecer, e não para nos destruir!
Passado um mês, tive a oportunidade de encontrar-me com o pastor da minha igreja. Pedi perdão por ter sido rebelde e crítico. Ele graciosamente me perdoou. Nossa relação foi fortalecida, e a alegria voltou ao meu coração. Comecei a receber a ministração do pastor quando pregava e permaneci naquela igreja por muitos anos.

Os plantados florescerão

A Bíblia diz no Salmo 92:13: "Plantados na Casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus" (Grifos acrescidos).
Note bem que aqueles que florescem são "plantados" na casa do Senhor. Que acontece com uma planta se a transplantarmos a cada três semanas? Muitos de vocês sabem que as raízes atrofiarão e a planta não crescerá ou prosperará. Se continuarmos transplantando-a, ela morrerá.
Miolos vão de igreja em igreja, de ministério em ministério, na tentativa de se aperfeiçoarem. Se Deus os coloca em um lugar onde não recebem reconhecimento ou encorajamento, sentem-se facilmente ofendidos. Se não concordam com o modo como as coisas são feitas, sentem-se ofendidos e vão embora. Quando saem, culpam a liderança. Não enxergam suas próprias falhas de caráter e não percebem que Deus os quer refinar e fazê-los amadurecer diante das pressões que enfrentam.
Vamos fazer uma comparação com o exemplo que Deus nos dá plantas e árvores. Quando um árvore frutífera é plantada, ela enfrentará o sol quente, as tempestades e o vento. Se uma jovem árvore pudesse falar, provavelmente diria: "Por favor, tire-me daqui! Ponha-me num lugar onde não haja calor insuportável ou tempestades!"
Se o jardineiro acatasse o pedido da árvore, ele a prejudicaria. As árvores resistem às tempestades e ao sol forte, espalhando suas raízes mais profundamente. A adversidade que sofrem são a fonte de sua grande estabilidade. A severidade dos elementos da natureza faz com que elas procurem por outra fonte de vida. Chegará o dia em que a árvore poderá enfrentar as maiores tormentas sem que sua habilidade de produzir frutos seja afetada.
Moro na Flórida, a capital cítrica. A maioria dos moradores da Flórida sabe que, quanto mais frio o inverno mais doces as laranjas se tornam. Se não fugíssemos tão prontamente das barreiras espirituais, nossas raízes teriam a chance de ficar mais profundas e fortes, e nossos frutos seriam muitos e dulcíssimos aos olhos de Deus e ao paladar de seu povo! Seríamos árvores maduras que alegrariam ao Senhor, em vez de árvores arrancadas por falta de frutos (Lc 13:6-9) Não devemos evitar aquilo que Deus envia para que amadureçamos.
O salmista Davi, inspirado pelo Espírito Santo, faz uma tremenda relação entre a ofensa, a lei de Deus e nosso crescimento espiritual. Ele escreveu no Salmo 1:1,2:

Bem-aventurado o homem... [cujo] prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.

No Salmo 119:165, ele fala mais sobre as pessoas que amam leis de Deus:

Grande paz têm os que amam [ou têm prazer] a tua lei; para eles não há tropeço (Destaque acrescido).

O versículo 3 do Salmo 1, finalmente, descreve o destino de tal pessoa:

Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido (Destaque acrescido).

Em outras palavras, o crente que decide ter prazer na Palavra de Deus em meio à adversidade evitará se sentir ofendido. Ele será como uma árvore cujas raízes ficam mais profundas, às quais o Espírito providencia força e alimento. O seu espírito será profundamente irrigado diretamente do poço de Deus. Isso fará com que ela amadureça, a ponto de a adversidade se tornar um catalisador de frutos. Aleluia!
Agora, podemos compreender melhor a interpretação de Jesus sobre a parábola do semeador.

Semelhantemente, são estes os semeados em solo rochoso, os quais, ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria. Mas eles não têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam (Mc 4:16,17 -Destaques acrescidos).

Quando você sai do lugar escolhido por Deus, suas raízes atrofiam. Na próxima vez, será mais fácil fugir da adversidade porque você impediu que as raízes se aprofundassem. Chegará o momento em que você não terá forças para enfrentar a adversidade ou a perseguição.
Você se torna, então, um errante espiritual, perambulando de um lugar para outro, desconfiado e temeroso de que outros irão maltratá-lo. Impedido de produzir verdadeiros frutos espirituais, você vive uma vida egocêntrica, comendo os restos dos frutos dos outros.
Veja Caim e Abel, os primeiros filhos de Adão. Caim trouxe uma oferta ao Senhor do trabalho de suas mãos, o fruto de sua videira. Esse fruto foi conseguido com seu suor. Ele teve de limpar os pedregulhos, arar e cultivar o solo. Teve de plantar, irrigar, fertilizar e proteger sua plantação. Empenhou-se bastante no seu trabalho para Deus. Foi, porém, seu próprio sacrifício, em vez da obediência aos caminhos de Deus. Isso simbolizava adoração a Deus por intermédio de sua própria habilidade e força, e não através da graça de Deus.
Por outro lado, Abel trouxe uma oferta de obediência, a primícia de seu rebanho. Não trabalhou como Caim para realizar isso, mas seu trabalho era prazeroso. Os dois irmãos devem ter ouvido como seus pais tentaram esconder sua nudez com folhas de figueira, que representavam o esforço para encobrir o pecado. Mas Deus demonstrou que o sacrifício era aceitável, cobrindo Adão e Eva com a pele de um animal inocente. Adão e Eva ignoravam que aquela era uma forma inaceitável de encobrir o seu pecado. Mas, quando Deus lhes mostrou a maneira correta, eles já não eram mais ignorantes e nem seus filhos.
Caim tentou conquistar a aprovação de Deus sem seguir seus conselhos. Deus reagiu mostrando que aceitaria todos os que vivessem sob o parâmetro da graça (o sacrifício de Abel) e rejeitaria o que estivesse sob o "conhecimento do bem e do mal" (a religiosidade de Caim). Ele instruiu a Caim que, se procedesse bem, seria aceito; mas, se não optasse pela vida, então o pecado o dominaria.
Caim se sentiu ofendido pelo Senhor. Em vez de se arrepender e fazer o que era correto, permitindo que a situação fortalecesse seu caráter, irou-se contra Abel por causa da ofensa de Deus. Ele assassinou Abel.
Deus disse a Caim:

És agora, pois, maldito sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão. Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força; será fugitivo e errante sobre a terra (Gn 4:11, 12 - Destaques acrescidos).

O que Caim mais temia, ser rejeitado por Deus, caiu como julgamento sobre ele. O meio pelo qual ele tentou ganhar aprovação de Deus foi amaldiçoado pela sua própria mão. Derramamento de sangue trouxe maldição. O solo não lhe daria a sua força. O fruto só nasceria com grande esforço.
Os crentes que se sentem ofendidos também interrompem a habilidade de produzir frutos. Jesus compara o coração deles com o solo, na parábola do semeador. Assim como os campos de Caim eram infrutíferos, o solo do coração ofendido também é infrutífero, porque foi envenenado pela amargura. Os ofendidos ainda podem experimentar milagres, pregações sólidas e cura na vida deles. Mas esses são dons do Espírito, e não frutos. Seremos julgados pelos nossos frutos, e não pelo dons. O dom é dado, mas o fruto é cultivado.
Perceba que Deus disse que Caim seria um fugitivo e errante como resultado de suas ações. Há inúmeros fugitivos e errantes espirituais em nossas igrejas. Quando seus dons de música, pregação, profecia, e assim por diante não são bem recebidos pela liderança, eles se mudam para outras igrejas. Eles andam errantes, carregando a ofensa, procurando uma igreja perfeita que receba seus dons e cure suas feridas.
Eles se sentem perseguidos e massacrados. Sentem-se como se fossem os Jeremias atuais. Só eles e Deus; e todos lá fora tentando pegá-los. Tornam-se não ensináveis. Sofrem do que eu chamo de complexo de perseguição: "Todos querem pegar-me". Tentam confortar-se dizendo que são santos ou profetas de Deus perseguidos. Desconfiam de todos. Isso é exatamente o que aconteceu com Caim. Veja o que ele diz:

Serei fugitivo e errante pela terra; quem comigo se encontrar, me matará (Gn 4:14 - Destaques acrescidos).

Note que Caim sofria de complexo de perseguição: todos queriam pegá-lo! O mesmo acontece hoje em dia. As pessoas ofendidas acreditam que todos querem pegá-las. Com essa atitude, é muito difícil que enxerguem as áreas na vida deles que precisam mudar. Ela se isola e leva sua vida de forma a convidar o abuso.
O solitário busca seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria (Pv 18:1).
Deus não nos criou para vivermos de forma isolada e independente. Ele gosta quando seus filhos cuidam e nutrem uns aos outros. Sentem-se frustrado quando sentimos pena de nós mesmos, achando que a nossa alegria é responsabilidade dos outros. Quer que sejamos membros ativos da família e que busquemos nele a vida. Uma pessoa isolada busca seus próprios desejos, e não os de Deus. Não aceita conselhos, e está pronta para ser enganada.
Não estou falando de períodos em que Deus capacita e treina pessoas individualmente. Estou descrevendo aqueles que se aprisionaram. Perambulam de igreja em igreja, de relacionamento em relacionamento, e se isolam em seu próprio mundo. Pensam que todos que não concordam com eles estão errados e contra eles. Protegem-se em seu isolamento e sentem-se seguros no ambiente controlado que prepararam para si. Não precisam mais confrontar suas falhas de caráter. Em vez de enfrentar as dificuldades, tentam escapar da provação. O desenvolvimento de caráter vem só através de conflitos com outros é perdido, ao mesmo tempo recomeça o ciclo da ofensa.


Quando guardamos uma ofensa, ficamos
impedidos de ver as falhas em nosso próprio
caráter, porque a culpa é transferida à outra
pessoa.

6. Escondendo-se da realidade


[Eles] que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade (2 Tm 3:7).


Freqüentemente me perguntam: "Quando devo sair de uma igreja ou equipe de ministério? Até quanto devo agüentar?" Respondo: "Quem o enviou a igreja que você freqüenta atualmente?" Em algumas das vezes eles respondem: "Foi Deus".
“Se Deus o enviou”, replico "não saia até que Ele libere você. Se o Senhor está em silêncio, geralmente Ele está dizendo: `Não mude nada. Não saia. Fique onde o coloquei!`”.
Quando Deus instrui você a sair, você sairá em paz, independentemente da condição do ministério. "Saireis com alegria e em paz sereis guiados” (Is.55:12).
Dessa forma, a sua saída não será baseada nas ações ou comportamentos de outros, mas, sim, na liderança do Espírito. Assim, não se sai por causa de situações difíceis.
Sair com o espírito crítico ou ofendido não é o plano de Deus. Isso seria reação ao contrário de uma ação sob a liderança do Senhor. Em Romanos 8:14 está escrito: "Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus". Note que não se diz: "Todos aqueles que reagem a situações difíceis são filhos de Deus".
Na maioria das vezes, a palavra filho usada no Novo Testamento vem de duas palavras gregas: teknon e huios. Uma boa definição para a palavra teknon é "aquele que é filho meramente por nascimento".
Quando meu primeiro filho, Addison, nasceu, ele era filho de John Bevere simplesmente pelo fato de ter vindo de mim e de minha esposa. Quando ele estava no berçário junto com todos os outros recém-nascidos, não poderíamos reconhecê-lo como meu filho por traços de personalidade. Quando meus amigos e família vinham visitá-lo, não podiam identificá-lo, exceto por causa do nome escrito na placa do bercinho. Ele não possuía nada que o diferenciasse dos outros. Addison seria considerado um teknon de John e Lisa Bevere.
Encontramos teknon em Romanos 8:15, 16. A passagem diz que, por causa do espírito de adoção que recebemos, "o próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos [teknon] de Deus". Quando a pessoa recebe Jesus Cristo como Senhor, ela é filha de Deus por intermédio da experiência do novo nascimento (veja Jo 1:12).
A outra palavra para tradução de filhos no Novo Testamento huios. Muitas vezes, ela é usada no Novo Testamento para descrever "aquele que pode ser identificado como filho porque apresenta caráter ou características de seus pais".
Quando meu filho Addsion crescia, ele começou a se parecer comigo. Quando tinha seis anos, Lisa e eu viajamos e o deixamos com os meus pais. Minha mãe disse a minha esposa que Addsion era quase uma cópia carbono de seu papai. Sua personalidade era como a minha quando eu tinha a idade dele. Agora, mais crescido, tornou-se mais parecido. Ele pode ser reconhecido como filho de John Bevere não apenas pelo nascimento, mas pelas características que lembram as de seu pai.
Dessa forma, a palavra grega teknon significa, de forma simplificada, "bebês ou filhos imaturos", e a palavra grega huios é freqüentemente usada para descrever "filhos maduros".
Se olharmos Romanos 8:14 novamente, leremos: "Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos [huios] de Deus”. Podemos ver, claramente, que os filhos maduros são aqueles guiados pelo Espírito de Deus. Os crentes imaturos têm menos probabilidade de seguir a liderança do Espírito de Deus. Muito freqüentei reagem emocional ou intelectualmente às circunstâncias com que se deparam. Ainda não aprenderam a agir apenas sob a liderança do Espírito de Deus.
À medida que Addison crescer, desenvolverá o seu caráter. Quanto mais maduro ficar, mais responsabilidade lhe confiarei. É errado se ele permanecer imaturo. Não é a vontade de Deus que permaneçamos bebês.
Uma maneira de provocar o desenvolvimento do caráter de meu filho é através das situações difíceis. Quando ele começou a freqüentar a escola deparou com alguns "valentões". Ouvi alguma das coisas que esses garotos difíceis faziam e diziam ao meu filho, e ficava com vontade de ir lá e resolver o problema. Mas sabia que isso seria errado. A minha intervenção impediria o crescimento de Addison.
Dessa forma, minha esposa e eu continuamos a aconselhá-lo em casa, preparando-o para enfrentar as perseguições na escola. Seu caráter se desenvolveu através da obediência aos nossos conselhos no meio de seu sofrimento.
Deus faz algo semelhante conosco. A Bíblia diz: "Embora sendo Filho [Huios] aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu" (Hb 5:8, grifos acrescidos).
O crescimento físico é uma função do tempo. Nenhuma criança de dois anos já teve um metro e oitenta. O crescimento intelectual é
uma função do aprendizado. O crescimento espiritual não é uma função do tempo nem do aprendizado, mas é da obediência. Agora, vejamos o que Pedro diz:

Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado
( I Pe 4:1- Destaque acrescido).

Aquele que deixou o pecado é um filho de Deus perfeitamente obediente. Ele é maduro e decide seguir os caminhos de Deus e não os seus. Assim como Jesus aprendeu obediência por intermédio do seu sofrimento, aprendemos obediência por meio das dificuldades pelas quais, passamos. Quando obedecemos à Palavra de Deus, que é falada pelo crescemos e adquirimos maturidade nos momentos de conflito e sofrimento. Nosso conhecimento das Escrituras não é a chave para isso. A obediência, sim.
Agora, compreendemos por que algumas pessoas da igreja, crentes há vinte anos, sabem de cor versículos e capítulos da Bíblia, ouviram milhares de sermões e leram muitos livros, mas ainda estão usando fraldas espirituais. Toda vez que se defrontam com situações difíceis, em vez de reagirem através do Espírito de Deus, procuram proteger-se do seu próprio modo. Estão sempre aprendendo e "jamais chegam ao conhecimento da verdade" (2 Tm 3:7). Nunca chegam ao conhecimento verdade porque nunca a aplicam.
Precisamos permitir que a verdade penetre em nossa vida se quisermos crescer e amadurecer. Não é suficiente aceitá-la mentalmente sem obedecer-lhe. Embora continuemos a aprender, nunca amadurecemos por causa da desobediência.

Autopreservação

Uma desculpa comum para a autopreservação por meio da desobediência é a ofensa. Há uma sensação de falsa autoproteção quando guardamos uma ofensa. Ela o impede de ver suas próprias falhas caráter porque a culpa é transferida a outra pessoa. Nunca precisamos enfrentar o nosso papel, nossa imaturidade ou nossos pecados porque enxergamos só as falhas do ofensor. Desse modo, a tentativa de Deus para desenvolver o nosso caráter por meio desse problema é então, abandonada. A pessoa ofendida evitará o ofensor e, eventualmente, fugirá, tornando-se um errante espiritual.
Recentemente, uma senhora me contou sobre uma amiga que abandonou a igreja e começou a freqüentar outra. Ela convidou o no pastor para jantar em sua casa. Durante a conversa, o pastor perguntou-lhe por que tinha saído da outra igreja. A senhora contou-lhe sobre todos os problemas da liderança daquela igreja.
O pastor ouviu e tentou confortá-la. Acho que seria mais sábio se encorajasse a senhora, por meio da Palavra de Deus, a lidar com sua dor e atitude crítica. Se necessário, deveria ter sugerido que ela voltasse a sua antiga igreja até que Deus lhe liberasse paz.
Quando Deus nos libera paz, não nos sentimos pressionados a justificar nossa saída aos outros. Não seremos pressionados a julgar ou expor criticamente os problemas que a igreja anterior tinha. Sabia que era apenas uma questão de tempo antes que ela reagisse ao novo pastor do mesmo modo que fez com os anteriores. Quando retemos uma ofensa no nosso coração, filtramos tudo através dela.
Há uma antiga parábola que se encaixa nessa situação. No passado, colonizadores estavam indo para o Oeste, um homem sábio subiu numa colina próxima a uma nova cidade do Oeste. Quando os o colonizadores vinham do Leste, o homem sábio era a primeira pessoa a quem eles encontravam antes de dar início à colonização. Eles perguntavam ansiosamente como eram as pessoas daquela cidade. Ele respondia com uma pergunta: "Como eram as pessoas na cidade de onde vêm?" Alguns diziam: "A cidade de onde viemos é má. As pessoas são fofoqueiras, grossas e tiram vantagem de todas as pessoas inocentes. Ela está cheia de ladrões e mentirosos". O homem sábio respondia: “Esta cidade é igual à outra que deixaram". Eles agradeciam ao homem por salvá-los de tantos problemas que estavam prestes a enfrentar. E, continuavam sua viagem mais a Oeste.
Então, um outro grupo de colonizadores chegava e fazia a mesma pergunta: "Como é esta cidade?". O homem sábio respondia novamente: "Como era a cidade de de onde vocês vêm?”. Eles respondiam: "Era maravilhosa! Tínhamos grandes amigos. Todos se importavam com os interesses dos outros. Nunca havia carência de nada, porque todos cuidavam uns dos outros. Se alguém tinha um grande projeto, toda a comunidade se juntava para ajudar. Foi uma muito difícil sair de lá, mas sentimos que era hora de abrirmos novos caminhos para as gerações futuras. Estamos indo para o oeste como pioneiros".
O homem sábio dizia exatamente a mesma coisa que ao grupo anterior. "Esta cidade é igual à que vocês deixaram". As pessoas, então, respondiam com alegria: "Vamos ficar aqui!" A forma como viam suas relações passadas era o parâmetro para futuras relações.
O modo como você sai de uma igreja ou de um relacionamento é o mesmo como entrará na próxima igreja ou relacionamento. Jesus disse em João 20:23: "Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos".
Nós preservamos os pecados de outros quando guardamos ofensa ou ressentimento. Se saímos de uma igreja ou relacionamento com ressentimento e amargura, entraremos na próxima igreja ou no próximo relacionamento com a mesma atitude. Será mais fácil, então, sair do próximo relacionamento assim que os problemas aparecerem. Não só teremos de lidar com as mágoas que acontecem no novo relacionamento, mas também com as do relacionamento anterior.
Estatísticas dizem que 60 a 65 por cento das pessoas divorciadas acabam separando-se novamente após o novo casamento. A maneira pela qual a pessoa deixa seu primeiro casamento determina o caminho para o segundo. A falta de perdão em relação ao primeiro parceiro atrapalha o futuro do novo relacionamento. Quando culpam o outro, ficam cegos ao seu próprio papel e características. Para piorar a situação depois, eles adicionaram o medo de serem magoados.
Esse princípio não se limita ao casamento e ao divórcio. Pode ser, aplicado a todos os relacionamentos. Um homem que já havia trabalhado com outro pastor veio para trabalhar na nossa equipe de ministério. Ele tinha sido magoado por seu líder anterior, mas o tempo passou e eu senti que o Senhor me estava direcionando a convidá-lo a trabalhar conosco. Eu acreditava que ele estava no processo de vencer essa mágoa.
Telefonei para seu ex-empregador e compartilhei meus planos de trazê-lo para minha equipe. Ele me encorajou e achou que seria uma boa mudança, porque sabia que eu me importava com ambos. Ele acreditava que a cura poderia ser completa enquanto ele trabalhasse conosco. Disse a ambos que minha oração era para restauração e cura no relacionamento entre eles.
Quando esse homem entrou para nossa equipe de ministério, os problemas apareceram quase que imediatamente. Eu conversava sobre o problema, mas só via alívio temporário. Parecia que ele não conseguia ir além do seu relacionamento anterior. O problema continuava a assombrá-lo. Ele até mesmo me acusou de estar fazendo as mesmas coisas que seu líder anterior havia feito.
Foi uma situação problemática, porque o bem-estar desse homem era mais importante para mim do que o que ele podia fazer por mim como empregado. Fiz-lhe algumas concessões que jamais faria a outros empregados, porque eu desejava vê-lo curado.
Depois de apenas dois meses, ele se demitiu. Ele se viu preso na mesma situação que a anterior. Saiu dizendo: "John, nunca mais trabalharei em outro ministério novamente".
Eu o abençoei e o vi partir. Nós o amamos e a sua esposa. O fato triste é que ele tem um forte chamado em sua vida para exatamente aquilo que abandonou, embora não signifique que não terá sucesso em outras áreas.
Fiquei perturbado após sua saída e, então, busquei o Senhor: "Por que ele foi embora tão depressa quando ambos achávamos que poderia dar certo?” Poucas semanas depois, o Senhor usou um sábio pastor amigo para responder a essa pergunta: "Muitas vezes, Deus permitirá que as pessoas fujam das situações que Ele deseja que elas enfrentem se elas já se propuseram no coração delas a fugir".
O pastor, então, colocou a história de Elias, que fugiu de Jezabel (1ªRs.18.19). Elias tinha acabado de executar os profetas de Baal e Aserá. Eles eram os homens que lideravam a nação à idolatria e assentavam-se à mesa de Jezabel. Quando Jezabel soube disso, ameaçou matar Elias em vinte e quatro horas.
Deus queria que Elias a confrontasse, mas, ao contrário, ele fugiu. Ele estava tão desencorajado que orou pedindo para morrer. Ele não tinha a mínima condição de cumprir a tarefa. Deus enviou um anjo para alimentá-lo com dois pães e permitiu que ele fugisse por quarenta dias e quarenta noites para o monte Horebe.
Quando Elias chegou, a primeira coisa que Deus lhe perguntou foi: “Que fazes aqui, Elias?" Parecia uma pergunta estranha. O Senhor o alimentou para a longa viagem, permitindo-lhe que fosse apenas para lhe fazer esta pergunta quando chegasse: "Que fazes aqui Elias?" Deus sabia que Elias havia decidido fugir da situação difícil. Então permitiu, embora seja óbvio, pela sua pergunta, que esse não era seu plano original.
Deus, então, disse a Elias: "Vai, volta ao teu caminho para o deserto de Damasco e, em chegando lá, unge [...] a Jeú, filho de Ninsi, ungirás rei sobre Israel e também Eliseu, filho de Safate, de Abel-Meolá ungirás profeta em teu lugar" (1 Rs 19:15, 16). Sob os ministérios de Eliseu e Jeú, essa terrível rainha e seu sistema perverso serão destruídos (2 Reis 9 - 10). Esta tarefa não foi completada por Elias, mas pelos sucessores que Deus lhe ordenou que ungisse em seu lugar.
O pastor me disse: "Se tomamos uma decisão irrevogável em nosso coração em não enfrentar, situações difíceis, Deus vai de fato nos liberar, muito embora não seja sua perfeita vontade".
Posteriormente, lembrei-me de um incidente em Números 22, que ilustra essa mesma questão. Balaão queria amaldiçoar Israel pois havia grandes recompensas nisso para ele. Inicialmente, ele perguntou ao Senhor se podia ir, e Deus lhe mostrou que sua vontade era a de que Balaão ficasse. Quando os príncipes de Moabe retornaram com mais dinheiro e honra, Balaão foi outra vez a Deus. É ridículo imaginar que Deus mudaria de idéia agora que havia mais dinheiro e honra em jogo para Balaão. Mas dessa vez Deus disse para ir com eles.
Então, por que Deus mudou de idéia? A resposta é que Deus não mudou de idéia. Balaão estava tão decidido a ir que Deus deixou fosse. Por isso, acendeu-se a ira de Deus contra Balaão quando ele se foi.
Podemos aborrecer o Senhor quanto a algo que Ele já nos mostrou ser sua vontade. Ele, então, nos permitirá fazer o que queremos mesmo que contra seu plano original - mesmo não sendo, a nosso ver, o mais conveniente.
Geralmente, os planos de Deus fazem com de tenhamos que enfrentar mágoas e atitudes que não gostaríamos de enfrentar. Mesmo assim, fugimos justamente daquilo que trará força a nossa vida. A recusa em lidar com uma ofensa não nos livrará do problema. Apenas nos trará alívio temporário. A raiz do problema permanece intocada.
Minha experiência com esse jovem que contratei também me ensinou uma lição em relação às ofensas e relacionamentos. É impossível estabelecer um relacionamento saudável com uma pessoa que abandonou outro relacionamento de forma amargurada e ofendida. A cura precisava acontecer. Mesmo quando continuava dizendo que havia perdoado seu líder anterior, o problema não havia sido esquecido.
O amor esquece os erros para que haja esperança no futuro. Se verdadeiramente superamos uma ofensa, buscamos fervorosamente a paz. Talvez não seja imediatamente, mas no nosso coração buscaremos uma oportunidade de restauração.
Um amigo sábio comentou mais tarde: "Há um antigo provérbio que diz: 'Gato escaldado tem medo de água fria`”. Quantas pessoas temem a água fria que traz frescor porque foram queimadas no passado e não conseguiram perdoar?
Jesus deseja curar nossas feridas, mas, freqüentemente, não lhe permitimos fazê-lo porque esta não é a forma mais fácil. O caminho da humilhação e da autonegação é que leva à cura e à maturidade espiritual. É a decisão em dar mais importância ao bem-estar do outro do que ao próprio, mesmo que a pessoa nos tenha trazido grande tristeza.
O orgulho não pode tomar esse caminho, mas só aqueles que desejam a paz com risco de rejeição. É a trilha que leva à humilhação. É a estrada que nos leva à vida.


O que aprendemos na presença de Deus
não pode ser aprendido na presença dos homens.

7. Pedra solidamente assentada


Portanto, assim diz o Senhor Deus: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa, angular, solidamente assentada; aquele que crer não foge
(Is 28:16).

“Aquele que crer não foge". Aquele que foge ou age precipitadamente, é uma pessoa instável, porque suas ações não são bem fundamentadas. Essa pessoa é facilmente levada pelas tormentas das perseguições e provações. Por exemplo, vejamos o que aconteceu com Simão Pedro.
Jesus havia entrado na região de Cesaréia de Filipe e perguntou aos discípulos: "Quem diz o povo ser o Filho do Homem? (Mt 16:13) Vários discípulos discutiram, entusiasticamente, a opinião do povo sobre Jesus. Jesus esperou até que tivessem terminado e, então, olhou para eles sem rodeios e perguntou: "Quem dizeis que eu sou?
Tenho certeza de que houve olhares confusos e temerosos dos discípulos que ponderavam, de queixo caído e sem fala. Subitamente, esses homens, que estavam tão ansiosos para falar, silenciaram. Talvez nunca tivessem feito essa pergunta para si mesmos de forma tão séria. Qualquer que fosse o caso, perceberam que, não tinham resposta.
Jesus fez o que é sua especialidade: Ele os levou a perceber a realidade do que sabiam e do que não sabiam. Eles viviam a partir da especulação dos outros, em vez de cravar em seu coração quem Jesus realmente era. Não se haviam confrontado ainda.
Simão, que recebeu de Jesus o nome de Pedro, foi o único discípulos que pôde responder. Ele falou sem pensar: "Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo" (Mt 16:16). Jesus, então, respondeu dizendo: "Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelaram, mas o Pai, que está nos céus" (veja 17).
Jesus explicou a Simão Pedro qual a fonte dessa revelação. Simão Pedro não recebeu esse conhecimento porque ouviu a opinião dos outros ou porque foi ensinado, mas Deus a revelou a ele.
Simão Pedro estava sedento pelas coisas de Deus. Ele fazia a maior parte das perguntas e andou sobre as águas, enquanto os outros onze o observavam. Não era do tipo que se conformava com a opinião dos outros. Queria ouvir diretamente da boca de Deus.
Essa revelação de Jesus não veio conscientemente, mas era um dom, iluminado em seu coração em resposta a sua sede. Muitos viram e testemunharam o que Simão Pedro viu e testemunhou, mas o coração deles não estava tão sedento para conhecer a vontade de Deus como o de Pedro.
Em 1 João 2:27 está escrito:

Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou.

Simão Pedro ensinava essa unção. Ele ouviu tudo o que os outros tinham a dizer, e depois procurou em seu íntimo o que Deus havia revelado. Quando recebemos conhecimento revelado por Deus, ninguém pode desviá-lo. Quando Deus nos revela algo, não importa o que as pessoas dizem. Elas não podem mudar nosso coração.
Deus, então, disse a Simão Pedro e ao restante dos discípulos: “sobre esta pedra [o conhecimento revelado por Deus] edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16:18). Veremos, claramente, que há uma pedra solidamente assentada na Palavra de Deus que é revelada; neste caso, foi o entendimento de Pedro de que Jesus era o filho de Deus.

Palavra iluminada

Quando prego, tenho sempre dito às congregações e pessoas que ouçam a voz de Deus por intermédio de minha voz. Algumas vezes, estamos tão ocupados fazendo anotações que só registramos tudo o que é dito. Isto leva a um entendimento mental das Escrituras e suas interpretações: conhecimento intelectual.
Quando apenas possuímos conhecimento intelectual, duas coisas podem acontecer: a) ficamos facilmente suscetíveis ao emocionalismo, b) ficamos limitados ao nosso intelecto. Mas essa não é a pedra firmemente assentada onde Jesus construiu sua igreja. Ele disse que ela seria fundamentada na Palavra revelada, não em versículos memorizados.
Quando ouvimos um ministro ungido falar ou lemos um livro, devemos procurar palavras ou expressões que explodam em nosso espírito. Esta é a Palavra que Deus está revelando a nós. Ela transmite luz e entendimento espiritual. Como diz o salmista, "A revelação das tuas palavras esclarece e dá entendimento aos simples" (Sl 119:130). A sua palavra é que entra em nosso coração, e não em nossa mente, que nos ilumina e esclarece.
Freqüentemente, o pastor pode estar falando sobre um assunto, mas Deus está iluminando outra coisa totalmente diferente ao nosso coração. Por outro lado, Deus pode ungir exatamente as palavras do pastor, e elas explodem dentro de nós. De qualquer modo, ela é a revelação da Palavra de Deus para nós. Isso é o que nos transforma de simples (sem entendimento) em pessoas maduras (cheias de entendimento). Essa Palavra iluminada em nosso coração é o fundamento no qual Jesus se baseou para dizer que a sua igreja seria plantada.
Jesus compara a Palavra de Deus revelada a uma rocha. A rocha significa estabilidade e força. Lembramos a parábola das duas casas, onde uma foi construída na rocha e a outra na areia. Quando a adversidade - perseguição, tribulação e aflição - atacou violentamente as casas, a que estava sobre a areia foi destruída, enquanto a que estava construída sobre a rocha permaneceu em pé.
Algumas coisas que precisamos ouvir de Deus não são encontradas na Bíblia. Por exemplo: quando devemos casar-nos? Onde deve trabalhar? A que igreja devemos pertencer? A lista é longa. Precisamos ter a Palavra de Deus revelada para que tomemos essas decisões também. Sem ela, nossas decisões estarão assentadas em solo instável.
Aquilo que Deus revela por intermédio de seu Espírito Santo não pode ser tirado de nós. Esse deve ser o fundamento de tudo o que fazemos. Sem isso, seremos facilmente escandalizados pelas provações e tribulações que nos afligem.
Mais uma vez, lembramos o que Jesus disse sobre a Palavra ser ouvida e recebida com alegria e, mesmo assim, não ter raiz em nosso coração. Foi recebida com alegria em nossa mente e emoção:

Semelhantemente, são estes os semeados em solo rochoso, os que ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria. Mas eles não têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam (Mc 4:16, 17 - Destaques acrescidos).

Podemos facilmente trocar a palavra raiz por fundamento porque ambas indicam estabilidade e fonte de força para a planta ou a estrutura. A pessoa que não é estável ou fundamentada na Palavra de Deus revelada é uma grande candidata para ser levada pela tempestade da ofensa.
Quantos são como os discípulos com quem Jesus se confrontou! Vivem baseados naquilo que os outros dizem ou pregam. As opiniões e as afirmações dos outros são recebidas como verdade sem que o Espírito testemunhe. Só podemos viver ou proclamar o que nos é revelado por Deus. Jesus constrói sua igreja sobre essa verdade.
Eu tinha uma secretária que estava feliz com seu namoro com um jovem que também trabalhava para a igreja. Eles ficavam cada vez mais próximos. Todos viam que o relacionamento ia dar em casamento. Aliás, eles já conversavam sobre. Um domingo à noite, o pastor titular chamou-os à frente e disse: “Assim diz o Senhor: vocês dois se casarão".
Na manhã seguinte, minha secretária chegou andando nas nuvens. Ela estava muito animada. Pediu-me para fazer o casamento deles e eu disse que me sentiria honrado. Marquei um horário para aconselhá-los
Eu, porém, sentia-me incomodado. Quando chegaram ao meu gabinete, meu espírito ficou atormentado. Eu a olhei e perguntei se ela sabia que aquele jovem era o que Deus havia escolhido para ela. Ela respondeu com grande entusiasmo que sim. Então, olhei para ele e perguntei: "Você crê que é da vontade de Deus que você se case com esta moça?" Ele olhou para mim e, de boca aberta, sacudiu a cabeça como se "Não, não tenho certeza".
Olhei para os dois e me dirigi ao rapaz: "Não farei o casamento Não me importo quem profetizou sobre os dois ou o que foi dito. Não me importo quantas pessoas disseram que formam um lindo casal. Deus não revelou sua vontade ao coração de vocês, não faz sentido continuar com esta história de casamento.
“Se vocês se casarem sem que haja revelação de Deus sobre sua vontade perfeita", continuei, "quando vierem as tormentas - e elas virão - perguntará: `E se eu tivesse me casado com outra garota? Teria esses problemas? Deveria ter tido certeza de se era a vontade de Deus. Caí numa armadilha!'. Dessa forma, seu coração fica enfraquecido e você não terá forças para lutar contra as adversidades que acontecerão no seu casamento. Você será um homem inseguro em toda a sua a sua caminhada.
Eu me despedi deles e disse que não haveria motivo para nos encontrarmos novamente. Ele estava aliviado. Ela, arrasada. As semanas foram muito difíceis no escritório. Mas eu sabia que havia falado a verdade. Essa foi uma provação bastante longa para ela. Se Deus realmente lhe havia falado que aquele era seu marido, ela teria de confiar que o Senhor revelaria ao rapaz. Ficaria livre da ofensa que sentia por mim e por Deus. Eu a aconselhei a dar um tempo para que ele ouvisse a voz de Deus. Assim fez ela.
Três semanas se passaram e eles marcaram outro encontro comigo. Imediatamente, senti-me contente. Desta vez, quando entraram no gabinete, ele tinha um brilho no olhar e disse: "Sei, sem sombra de dúvida, que esta é a mulher que Deus tem para mim!" Eles se casaram sete meses depois.
Quando temos certeza de que Deus nos colocou num relacionamento ou igreja, o inimigo terá muita dificuldade em nos tirar de lá. Estamos assentados na Palavra de Deus revelada e passaremos pelos conflitos por mais que pareçam impossíveis.

Nenhuma outra opção

Os meus primeiros cinco anos de casamento foram muito difíceis para mim e para minha esposa. Nós nos magoamos tanto que parecia impossível salvar o relacionamento amoroso que tínhamos no passado. Uma única coisa apenas nos fez ficar juntos: ambos sabíamos que Deus havia feito nosso casamento. Dessa forma, não permitimos que o divórcio fosse uma opção. Nossa única opção foi acreditar que Ele nos curaria e mudaria. Nós dois nos comprometemos em seguir esse processo; sem nos importarmos com a dor que teríamos de sofrer. Quando pensava em desistir, lembrava-me das promessas Deus havia feito sobre o nosso casamento.
Não estava preparado para abandonar o que Deus tinha designado e decretado para nossa união.         Uma promessa que Deus fez era a de que eu e minha esposa teríamos um ministério juntos. Quando nos deu essa revelação, pensei: Posso facilmente ver isto. Suas mãos estão sobre nós dois para ministério.
Em meio às tormentas conjugais, não conseguia mais enxergar esta promessa tão claramente. Mas recusei-me a abandoná-la. A esperança natural se foi porque as lutas e o orgulho entraram nosso casamento. Mas havia uma semente sobrenatural de vida em meu coração. Esta promessa foi a âncora ou fundamento nos tempos de necessidade.
Como não poderia deixar de ser, Deus não só curou nosso relacionamento, como o fortaleceu. Superamos os conflitos através do perdão e ainda conseguimos tirar lições deles. Agora temos um ministério conjunto. Considero minha esposa não só como minha amante e melhor amiga, mas como a parceira de ministério em quem mais confio. Deposito minha confiança nela mais do que em qualquer outra pessoa.
Após passar por cinco difíceis anos, percebi que Deus via as falhas em nossa vida - e nosso relacionamento as trouxe à tona. Fiquei maravilhado com a sabedoria em nos juntar como marido e mulher. Antes de conhecer Lisa, orava diligentemente pela mulher com quem iria casar-me. Esta escolha foi a segunda mais importante de minha vida - após a obediência ao Evangelho. Achava que, pelo fato de estar esperando em Deus pela escolha de minha parceira, não teria problemas no casamento como as outras pessoas. Oh, como estava enganado!
Deus escolheu para mima esposa que era o desejo do meu coração. Mas também expôs a imaturidade egoísta que estava escondida em mim. E havia mais ainda: fugir dos conflitos e optar pelo divórcio ou culpá-la apenas teria soterrado minha imaturidade sob outra camada de falsa proteção chamada ofensa. O conhecimento da Palavra de Deus para o casamento me impediu de fugir.
Preciso agora me desviar um pouco do assunto principal deste capítulo. Alguns de vocês devem estar pensando: "Ainda não era convertido quando me casei".
Tem o seguinte para lhe dizer:

Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte de sua mulher [..] Irmãos, cada um permaneça diante de Deus naquilo em que foi chamado (1 Co 7:10, 11, 24).

Deixe que essa palavra de aliança de casamento seja estabelecida em seu coração para que você não perca a firmeza por causa de ofensa ou armadilha. Então, busque o Senhor para que tenha a revelação da Palavra para o seu casamento. Alguns de vocês talvez não tenham casado na vontade de Deus, mesmo sendo crentes. Para ser abençoado por Deus no casamento, você precisa, inicialmente, arrepender-se de não tê-lo buscado antes de se casar, e assim será perdoado. Entenda em seu coração que duas coisas erradas não formam uma certa. Quebrar a aliança por causa de ofensa não é a resposta. Dessa forma, busque a Palavra Senhor para seu casamento.

A rocha firme

A Palavra de Deus revelada é a rocha firme onde devemos construir nossa vida e ministério. Inúmeras pessoas me contam que já pertenceram a várias igrejas ou ministérios em curto espaço de tempo. Meu coração se entristece quando vejo como são movidas pelas provações e não pela direção de Deus. Essas pessoas se gabam apontando os erros dos outros ou dizendo como elas, ou outras pessoas, foram maltratadas. Sentem que estão justificando sua decisão. Mas seu raciocínio é só uma outra camada de engano que as impede de ver a ofensa ou suas próprias falhas de caráter.
Elas descrevem o seu relacionamento ou a igreja atual como 'temporário" ou "o lugar onde Deus me quer agora". Já até mesmo ouvi um homem dizer: "Estou apenas emprestado para esta igreja". Fazem essa afirmação porque, se algo der errado, têm uma saída de emergência. Não possuem fundamento para permanecer no lugar onde vão; as tempestades podem facilmente levá-las a outro porto.

Para onde poderíamos ir?

Voltando ao exemplo de Jesus quando pergunta aos discípulos quem dizem que Ele é, podemos ver a estabilidade que advém quando e conhecemos a vontade de Deus revelada. Veja Simão Pedro. Após falar o que o Pai revelou ao seu coração, Jesus lhe disse: "Também eu te digo que és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16:18).
Jesus mudou o nome de Simão para Pedro. Isso é muito significativo porque o nome Simão quer dizer "ouvir"'. O nome Pedro (do grego petros) quer dizer "pedra"'. Como resultado de ouvir a Palavra de Deus revelada em seu coração, ele se tornou uma rocha. Uma casa feita de pedra sobre um fundamento sólido de rocha resistirá às tempestades que a atingem.
A palavra pedra neste versículo vem da palavra grega petra, que significa “uma pedra grande”. Jesus estava dizendo a Simão Pedro que agora ele era feito do mesmo material que fundamentou sua casa.
Mais tarde, Pedro escreve em sua epístola: "Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual" (1 Pe 2:5). Uma pedra é um pedaço de rocha maior. Força, estabilidade e poder estão na palavra de Deus revelada e nos frutos de vida da pessoa que a recebe. A pessoa se torna forte com a força daquele que é a Palavra de Deus viva: Jesus Cristo.
O apóstolo Paulo escreve em 1 Coríntios 3:11: "Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo”. Quando buscamos Jesus Cristo, que é a Palavra de Deus viva, Ele será revelado a nós, e seremos firmados.
Durante os últimos dias em que Jesus andou na Terra, sua vida e a de sua equipe de ministério se tornaram mais difíceis. Os líderes religiosos e os judeus perseguiam Jesus, querendo matá-lo (Jo 5:16). Quando as coisas começaram a melhorar, e o povo queria arrebatá-lo e proclamá-lo rei, Ele se recusou e foi embora (Jo 6:15).
“Porque Ele fez isso?" Os discípulos pensaram: "Essa era a sua grande oportunidade e a nossa também". Eles estavam ficando incomodados. A tempestade era forte. "Nós deixamos nossa família e emprego para seguir esse homem. Existem muitas coisas em jogo. Cremos que Ele é o enviado. Afinal, João Batista assim o declarou e ouvimos Simão Pedro dizê-lo em Cesaréia de Filipe. São duas testemunhas. Mas por que Ele continua irritando os nossos líderes? Por que está cavando a própria sepultura? Por que fica falando frases como 'Oh geração perversa e adúltera, quanto tempo mais estarei com vocês' para nós, seus próprios discípulos?"
Esses homens estavam começando a guardar uma ofensa, pois haviam largado tudo para segui-lo. Então, o principal aconteceu: Jesus pregou algo que lhe parecia uma grande heresia: "Em verdade em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos" (Jo 6:53)
"O que Ele está pregando agora?", perguntaram a si mesmos, "Isto aí já é demais para mim!" Como se não bastasse, Ele disse estas coisas na frente dos líderes na Sinagoga em Cafarnaum. Para seus discípulos isto era a gota d'água!

Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? (Jo 6:60)

Note a resposta de Jesus:

Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam a respeito de suas palavras, interpelou-os: Isto vos escandaliza? (Jo 6:61)

Estes eram seus próprios discípulos! Ele não reagiu à verdade mas confrontou esses homens. Sabia que alguns viviam sobre um fundamento imperfeito e lhes mostra aquele fundamento e dá a oportunidade de analisarem seu próprio coração. Eles, porém, não eram como Simão Pedro ou como os outros discípulos que tinham sede pela verdade. Veja a sua reação:

À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonara não andavam com ele (Jo 6:66 - Destaque acrescido).

Note que não eram poucos; eram "muitos". Indubitavelmente eram os mesmos que se apressaram em dizer anteriormente Cesaréia de Filipe: "Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas" (Mt 16:14). Eles não estava assentados na Palavra de Deus revelada.
Chegaram a um grau de ofensa tão grande que fizeram o que muitos atualmente fazem: foram embora. Eles achavam que haviam sido enganados e maltratados, mas não foram. Não viram a verdade, porque seus olhos estavam fixos em seus próprios desejos.
Veja agora o que acontece com Simão Pedro quando Jesus confronta os doze:

Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e, nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus (Jo:6.67-69 -Destaque acrescido).

Jesus não implorou a esses homens: "Por favor, não se vão. Acabei de perder a maior parte da minha equipe. Como irei virar-me sem vocês!" Ele os confrontou: "Quereis também vós outros retirar-vos?" Note que Simão Pedro respondeu, mesmo lutando contra a possibilidade de se sentir ofendido como os outros: "Senhor, para quem iremos?”
O que ouviu deve tê-lo confundido; mas possuía um conhecimento que os outros não possuíam. Em Cesaréia de Filipe, Pedro teve uma revelação de quem Jesus realmente era: "o Filho do Deus vivo" (Mt.16.16 ) Em meio a sua luta, ele falou o que estava plantado em seu coração: “Cremos e sabemos que Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Estas são as palavras exatas que pronunciou em Cesaréia de Filipe. Ele era uma pedra, firmada na rocha, que é a Palavra viva de Deus. Ele não sairia dali ofendido.

Reação sob pressão

Freqüentemente, digo que lutas e tribulações localizam a pessoa.. Em outras palavras: elas determinam onde nos encontramos espiritualmente. Elas revelam a verdadeira condição do nosso coração. A forma como reagimos sob pressão mostra como o verdadeiro eu reage.
Podemos ter uma linda casa de cinco andares construída sobre a areia, decorada com as peças de arte mais bem elaboradas. Enquanto o sol brilhar, ela se parecerá como um exemplo de segurança e beleza.
Próximo àquela casa poderemos ter uma casinha simples, nunca é notada, possivelmente porque não tem atrativos comparada à linda construção. Mas está edificada sobre algo que não podemos ver, uma rocha.
Contanto que as tormentas não venham, a casa de cinco andares parece bem melhor. Mas, quando se depara com uma grande tempestade, ela desaba e é destruída. Ela pode até sobreviver a algumas chuvas, mas não a um furacão. A simples, com apenas um andar, sobreviverá. Quanto maior a casa, pior a queda.
Algumas pessoas na igreja são como os discípulos que se apressaram em falar em Cesaréia de Filipe, mas só mais tarde é que serão desmascarados. Podem assemelhar-se à casa de cinco andares, modelo de força, estabilidade e beleza. Podem passar por tempestades de pequena e média intensidade, mas, quando passam por uma grande tormenta, são deslocados.
Tenha certeza de que construiu sua vida na Palavra revelada de Deus e não no que os outros dizem. Continue buscando ao Senhor e ouvindo o seu próprio coração. Não faça ou diga coisas só porque outros fizeram. Busque-o e firme-se naquilo que Ele iluminou no seu coração.



Quando o inimigo abala, é para destruir, mas
Deus tem um propósito bem diferente.

 8. Tudo o que pode ser abalado será abalado


Ele promete, dizendo: Ainda uma vez por todas, farei abalar não só a terra, mas também o céu. Ora, esta palavra: Ainda uma vez por todas significa a remoção dessas coisas abaladas, como tinham sido feitas, para que as coisas que não são abaladas permaneçam. (Hb 12:26,27)

No capítulo anterior, vimos que a Palavra revelada de Deus é o fundamento sobre o qual Jesus construiu sua Igreja. Vimos Simão Pedro permanecer mesmo quando os outros discípulos foram embora ofendidos. Embora Jesus lhe desse uma oportunidade para ir embora, Simão falou o que estava assentado em seu coração. Vejamos agora uma outra prova para Simão Pedro - a noite em que Jesus foi traído.
Jesus estava sentado com seus doze apóstolos, dando graças e servindo a ceia, quando fez uma afirmação surpreendente: "Todavia, a mão do traidor está comigo à mesa. Porque o Filho do Homem, na verdade, vai segundo o que está determinado, mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído!" (Lc 22:21, 22) Que declaração! Poderíamos dizer hoje que Jesus "jogou uma bomba" com essas palavras.
Embora Jesus soubesse, desde o início, que seria traído, era a primeira vez que seus discípulos sabiam disso. Você pode imaginar que sentimento horrível pairou naquela sala quando disse que um dos presentes que estava com Ele desde o início, um companheiro próximo, iria traí-lo?
Em resposta, "começaram a indagar entre si quem seria, d eles, o que estava para fazer isto" (Lc 22:23). Ficaram chocados que um deles pudesse ser capaz de coisa tão horrível. Mas a razão deles para essa investigação não era pura. Sabemos disso pelo final da sua conversa. A razão do interesse deles era egoísta e cheia de orgulho. Observe o próximo versículo:

Suscitaram também entre si uma discussão sobre qual deles parecia ser o maior (Lc 22:24).

Imagine isto: Jesus lhes disse que estava prestes a ser entregue aos chefes dos sacerdotes para ser condenado à morte e entregue aos romanos para ser escarnecido, açoitado e morto. E aquele que faria isso estava sentado com Ele à mesa.
Os discípulos perguntaram quem seria e começaram a discutir quem dentre eles seria o maior. Isto era uma desonra - quase como discussão de filhos sobre uma herança. Não estavam preocupados com Jesus, mas com poder e posição. Que egoísmo inimaginável!
Se eu fosse Jesus naquele momento, teria perguntado se tinham ouvido o que dissera ou se até mesmo se importavam com isso. Vimos nesse incidente um exemplo do amor e da paciência do Mestre. Muitos de nós diríamos, se estivéssemos no lugar de Jesus: "Todos vocês, saiam já! Estou vivendo o meu momento de maior necessidade e só pensam em si mesmos!" Que oportunidade para se sentir ofendido!
Poderíamos quase adivinhar quem iniciou a discussão entre os discípulos: Simão Pedro, que tinha a personalidade mais dominante do grupo e que geralmente era o primeiro a falar. Ele provavelmente apressou-se em lembrá-los de que foi o único que andou sobre as águas. Ou talvez refrescou-lhes a memória dizendo como foi o primeiro revelação de quem Jesus realmente era. Deve também ter compartilhado novamente sua experiência no monte da transfiguração com Moisés e Elias.
Estava bem confiante de que era o maior dos doze. Mas, sua confiança não era plantada no amor: ao contrário, era ancorada no orgulho. Jesus olhou para todos eles e disse que estavam agindo como homens e não como filhos do reino:

Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. Pois qual é o maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós eu sou como quem serve (Lc 22:25-27).

O propósito de sermos peneirados

Embora Simão Pedro tenha recebido grande revelação de quem Jesus era, ainda não andava no caráter e na humildade de Cristo. Ele estava construindo sua vida e seu ministério em vitórias passadas e orgulho. Paulo nos exorta a sermos prudentes na edificação do fundamento em Cristo (1 Co 3:10).
Simão Pedro não estava edificando com os materiais necessários ao reino de Deus, mas com determinação e autoconfiança. Embora não tivesse consciência, ainda esperava a transformação do seu caráter. Sua referência advinha da "soberba da vida" (1 Jo 2:16). O orgulho nunca seria forte o suficiente para capacitá-lo a cumprir seu destino em Cristo. Se não fosse removido, poderia destruí-lo. O orgulho era a mesma falha de caráter encontrada em Lúcifer, o querubim ungido de Deus, causando sua queda (Ez 28:11-19).
Note que Jesus diz a Simão Pedro: "Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo!" (Lc 22:31)
O orgulho abriu as portas para o inimigo entrar e peneirar Simão? A palavra peneirar é traduzida do grego siniazo. Significa “peneirar, passar por uma peneira (fig.). Testar a fé através da agitação interior ao ponto de ser destruído".
Agora, se Jesus tivesse a mesma mentalidade da maioria das igrejas, Ele teria dito: "Vamos orar e amarrar o ataque do diabo. Não deixaremos Satanás fazer isso com nosso querido Simão!" Mas veja o que Ele diz:

Eu, porém, roguei por ti, para que tua fé não desfaleça; tu, quando te converteres, fortalece os teus irmãos (Lc 22:32)

Jesus não orou para que Simão Pedro escapasse do intenso abalo que o destruiria. Orou para que sua fé não desfalecesse. Jesus sabia que da tribulação surgiria um novo caráter, do qual Simão Pedro precisava para cumprir seu destino e fortalecer seus irmãos.
Satanás tinha requerido permissão para abalar Simão Pedro tão severamente que perderia sua fé. A intenção do inimigo era destruir esse homem de grande potencial, que tinha recebido tão grande revelação. Mas Deus tinha um propósito diferente com esse abalo e, como sempre, está muito à frente do diabo. Permitiu ao inimigo fazer isso para abalar o que em Simão Pedro precisava ser abalado.
Deus mostrou a minha esposa, Lisa, cinco propósitos para abalar um objeto:

·                trazê-lo mais perto do seu fundamento;
·                remover o que está morto;
·                colher o que está maduro;
·                despertar;
·                unir ou misturar para que não mais fique separado.

Qualquer pensamento do coração enraizado em egocentrismo ou orgulho será expurgado. Como resultado desse abalo tremendo, toda a autoconfiança de Simão Pedro iria embora, e tudo o que permanecesse seria fundamento de Deus. Seria despertado para a sua verdadeira condição, o que era morto seria removido e o fruto maduro colhido, trazendo-o para mais perto do seu verdadeiro fundamento. Não mais trabalharia independentemente, mas seria dependente do Senhor.
Pedro, audaciosamente, contrariou as palavras de Jesus: "Senhor estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão quanto para a morte". Essa afirmação não nasceu do Espírito, mas de sua autoconfiança. Ele não conseguia enxergar que estava sendo abalado.

Judas versus Simão

Para alguns, Pedro foi um covarde que falava demais. Mas no jardim, quando o soldado do templo veio prender Jesus, ele tomou sua espada e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita (Jo 18:10). Os covardes não atacam quando os soldados inimigos estão em maior número. Concluímos, então, que ele era forte, mas a sua força estava na sua própria personalidade, e não na humildade de Deus, porque o processo de ser peneirado não tinha ainda começado.
Aconteceu justamente o que Jesus predisse. O mesmo Simão Pedro ousado e forte, pronto para morrer por Jesus, tomando a espada no jardim cheio de soldados, foi confrontado por uma insignificante serva. Ele foi intimidado por ela e negou que conhecia Jesus.
Alguns acham que são as grandes coisas que fazem com que os homens tropecem. Geralmente, são as menores que mais os abalam. Isso mostra a futilidade da autoconfiança.
Pedro negou Jesus por mais duas vezes. Imediatamente, o galo cantou e Pedro se retirou e chorou amargamente. Ele foi abalado pela sua autoconfiança e acreditou que nunca mais se levantaria. Tudo o que restou, embora não estivesse consciente disso, foi o que Espírito Santo lhe revelara.
Inclusive, Simão Pedro e Judas eram parecidos em várias coisas. Ambos rejeitaram Jesus nos últimos dias mais importantes de suas vidas. Mesmo assim, esses dois homens tinham uma diferença fundamental: Judas nunca desejou conhecer Jesus da forma como Simão. Judas não estava fundamentado nele. Parecia que ele amava a Jesus, uma vez que largou tudo para segui-lo, viajar em sua companhia e, até mesmo, sofrer perseguição. Expulsou demônios, curou os enfermos e pregou o Evangelho (lembre-se de que Jesus enviou os doze para pregar, curar e libertar, e
não só onze). Mas seu sacrifício não vinha do seu amor por Jesus ou da revelação de quem Ele era. Judas tinha, desde o início, seus próprios planos. Nunca se arrependeu de seus motivos egoísticos. Seu caráter revelado com a seguinte afirmação: "Que me quereis dar, e eu..." 26:15 - Grifo acrescido). Ele mentiu e bajulou para ganhar a vantagem (Mt 26:25). Ele pegou o dinheiro da tesouraria do ministério de Jesus para uso pessoal (Jo 12:4-6). E por aí vai. Ele nunca conheceu o Senhor mesmo tendo passado três anos e meio em sua companhia.
Ambos, Pedro e Judas, entristeceram-se pelo que haviam feito. Mas Judas não tinha o mesmo fundamento que Pedro. Porque ele nunca teve sede de conhecer Jesus; Jesus não lhe foi revelado. Se Judas tivesse revelação de Jesus, nunca poderia tê-lo traído. Quando uma forte tormenta atacou sua vida, tudo foi abalado e levado pelo vento! Veja o que aconteceu:

Então, Judas, o que o traiu, vendo que Jesus fora condenado, tocado de remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, contra sangue inocente. Eles, porém, responderam: Que nos importa? Isso é contigo. Então, Judas, atirando para o santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se (Mt 27:3 Destaques acrescidos).

Ele sentiu remorso e sabia que havia pecado. Mas não conhecia Cristo. Não tinha entendimento da magnitude de quem havia traído. Ele disse apenas: "Traí sangue inocente". Se ele conhecesse a Cristo como Simão Pedro, teria voltado a Jesus e se arrependido, conhecendo a vontade do Senhor. Cometer suicídio foi um ato de independência da graça de Deus. O abalo revelou que Judas não tinha fundamento, mesmo tendo seguido o Mestre durante três anos. Muitos convertidos oram a "oração do pecador", freqüentam igreja, tornam-se ativos e estudam a Bíblia. Tudo isso, porém, é sem uma revelação de quem Jesus realmente é, embora eles o confessem com a boca. Quando passam por uma grande decepção, ficam ofendidos com Deus e não querem ter nada a ver com Ele.
"Deus nunca fez nada para mim!", eu os ouço dizer. "Tentei o cristianismo, mas minha vida ficou muito pior." Ou: "Eu orei e pedi a Deus isso e Ele não me respondeu!" Nunca renderam a vida a Jesus, mas tentaram aliar-se a Ele para seu próprio benefício. Serviam-no por aquilo que Jesus lhes podia dar. Eram facilmente ofendidos. Aqui está a descrição de Jesus sobre eles:

Os quais, ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria. Mas eles não têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam (Mc 4:16, 17-Destaques acrescidos).

Note que Ele disse que logo se escandalizariam porque não tinham fundamento. Onde deveremos ter nossas raízes? Encontramos a resposta em Efésios 3:16-18: devemos estar arraigados e alicerçados em amor. Nosso amor por Deus é nosso fundamento.
Jesus, disse: "Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos" (Jo 15:13). Não podemos dar nossa vida a alguém em quem não confiamos. Não podemos dar nossa vida a Deus a menos que o conheçamos suficientemente para termos confiança nEle. Precisamos conhecer e entender a natureza do caráter de Deus. Precisamos ter a certeza de que Ele nunca fará algo para nos machucar.
Ele sempre tem em vista o que sabe que é melhor para nós. Talvez, o que para nós parece uma decepção, será para nosso bem, se não perdermos a fé. Deus é amor; não há nenhum egoísmo ou maldade nele. Satanás é aquele que deseja nos destruir.
Geralmente, vemos as situações em nossa vida através de lentes de curto alcance. Isso distorce a imagem real. Deus enxerga o aspecto eterno daquilo por que passamos. Se enxergarmos as situações só de nossa perspectiva limitada, duas coisas podem acontecer: primeiro, no meio do processo purificador de Deus, seremos presa fácil à ofensa, seja ela de Deus ou de seus servos; segundo, podemos ser facilmente enganados pelo inimigo. Satanás usará algo que pareça correto no momento, seu grande plano é usar aquilo para a nossa destruição ou morte. Quando confiamos em Deus, não somos tirados do cuidado do Pai. Não sucumbiremos à tentação de cuidar de nós mesmos.

Dependendo do caráter de Deus

Uma forma que Satanás usa para tentar tirar a confiança em é distorcendo nossa percepção do seu caráter. Ele fez isso com Eva no jardim quando lhe perguntou: "É assim que Deus disse: Não comam de toda árvore do jardim?" (Gn 3:1 - Grifo acrescido) Ele distorceu o mandamento de Deus para atacar o seu caráter.
Deus havia dito: "De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; pois no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2:16,17 - acrescidos).
Na realidade, a essência do que a serpente estava dizendo à Eva era: "Deus está retendo tudo o que é bom para vocês". Mas a ênfase de Deus era: "Comerás livremente, exceto..." Deus lhes tinha dado o jardim inteiro para aproveitar e todos os frutos para comer, com exceção de um.
A serpente distorceu a forma como a mulher via Deus, dizendo: "Deus, realmente, não se importa com você. O que será que ele está retendo que é bom para você? Talvez Ele não a ame como você pensava. Não deve ser um bom Deus!" Ela foi enganada e acreditou nas mentiras sobre o caráter de Deus. Sentiu desejo de pecar porque a Palavra de Deus não era mais vida, e, sim, lei. E "a força do pecado é a lei" (1 Co 15:56).
O inimigo ainda atua dessa forma. Ele distorce o caráter do Pai aos olhos de seus filhos. Todos já tivemos autoridade sobre nós, como pais, professores, chefes e governadores que agiam de forma egoísta e sem amor. Pelo fato de serem figura de autoridade, é fácil projetar a imagem dessas pessoas no caráter de Deus, por ser Ele a autoridade máxima.
O inimigo distorceu, de forma primorosa, o caráter do Pai, pervertendo nossa visão dos pais terrenos. Deus diz que, antes voltar, os corações dos pais se converterão aos filhos (Ml 4:6). Seu caráter, ou natureza, será visto nos lideres, e isso será um catalisador de cura.
Quando sabemos que Deus nunca fará nada para nos prejudicar ou destruir, e que qualquer coisa que faça ou que não faça em nossa vida é o melhor para nós, nos renderemos livremente a Ele. Ficaremos felizes de entregar nossa vida ao Mestre.
Se já nos entregamos totalmente a Jesus e nosso cuidado está em suas mãos, não podemos nos sentir ofendidos, porque não nos pertencemos. Aqueles que se sentem magoados e decepcionados são pessoas que se chegaram a Jesus por aquilo que Ele pode oferecer, não pelo que Ele é.
Quando temos essa atitude, somos facilmente desapontados. Nosso egocentrismo nos faz ficar míopes. Somos incapazes de ver nossas circunstâncias imediatas através dos olhos da fé. Quando nossa vida foi verdadeiramente dada a Jesus, conhecemos seu caráter e compartilhamos sua alegria. Não podemos ser abalados ou naufragados.
É fácil ficar ofendido quando julgamos as coisas por meio de nossas circunstâncias naturais. Não enxergamos através dos olhos do Espírito. Muitas vezes, Deus não me responde da maneira e no tempo que considero absolutamente necessários. Mas, quando analiso cada caso, compreendo sua sabedoria.
Vez por outra, nossos filhos não entendem nossos métodos ou lógica por trás da disciplina. Tentamos dar explicações a crianças mais velhas para que se beneficiem da sabedoria. Algumas vezes eles não compreendem ou concordam, por causa da imaturidade; mais tarde compreenderão. Ou talvez a razão seja para testar a obediência, o amor e a sua maturidade. O mesmo acontece com nosso Pai do céu. Nessas situações a fé diz: "Eu confio no Senhor, mesmo que não compreenda".
Em Hebreus 11:35, 39 vemos o registro daqueles que nunca viram o cumprimento das promessas de Deus em sua vida, mas nunca desistiram:

...Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição; outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra. Ora, todos estes que obtive ram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo concretização da promessa (Destaque acrescidos).

Essas pessoas decidiram que Deus era tudo o que queriam, não importando o preço. Creram nele mesmo quando morreram sem ver a concretização da promessa. Não puderam ficar ofendidos!
Somos arraigados e alicerçados quando sentimos esse amor e essa confiança intensos em Deus. Nenhuma tempestade, não importa qual sua intensidade, jamais poderá mover-nos. Isso não advém de força de vontade ou personalidade. É a graça que é para todos os que confiam em Deus, rejeitando sua autoconfiança. Mas, para nos entregarmos sem reservas, precisamos conhecer aquele que tem a vida.

A graça é dada aos humildes

Simão Pedro não mais se gabava de ser o maior. Perdeu sua confiança natural. Via, muito claramente, a futilidade de sua personalidade forte. Foi humilhado. Era agora um candidato perfeito para a graça de Deus. Deus dá sua graça ao humilde. A humildade é pré-requisito. Foi uma lição que queimou a consciência de Pedro quando escreveu sua epístola: "Cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça" (1 Pe 5:5).
Pedro foi abalado a ponto de quase desistir. Sabemos disso através da mensagem que o anjo do Senhor deu a Maria Madalena na tumba: "Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vai adiante de vós, para a Galiléia; lá o vereis, como ele vos disse" (Mc 16:7 - Grifo acrescido) O anjo enfatizou seu nome, pois Pedro estava a ponto de naufragar, Deus ainda tinha assentado um fundamento nele. Ele não seria removido pelo abalo, e, sim, fortalecido.
Jesus não só perdoou Pedro, como o restaurou. Agora que havia sido abalado, ele estava pronto para ser uma das figuras centrais da Igreja. Corajosamente, proclamou a ressurreição de Cristo perante os responsáveis por sua crucificação. Enfrentou o conselho, não uma serva insignificante. Com grande autoridade e ousadia, se posicionou diante deles.
A história relata que Pedro foi crucificado de cabeça para baixo após anos de fidelidade em servir. Ele insistiu em dizer que era indigno de morrer a mesma morte do Senhor; então, o penduraram de cabeça para baixo. Não tinha mais medo. Era uma pedra assentada sobre uma base sólida da Rocha.
As tribulações desta vida exporão o que está em nosso coração – mesmo que a ofensa seja contra Deus ou contra outros. As provações nos fazem ficar amargos contra Deus e seus companheiros ou nos fazem ficar mais fortes. Se formos aprovados, nossas raízes ficarão mais profundas, estabilizando-nos e ao nosso futuro. Se formos reprovados, ficamos ofendidos, o que nos leva à corrupção por amargura.

Senhor, sou seu servo, por que então?

Quando eu era pastor, um jovem de quatorze anos, que era bem respeitado por seus amigos e líderes, participava da união de jovens. Ele era bom aluno e um grande atleta. Zeloso pelas coisas de Deus, este jovem serviu fielmente e era voluntário em todos os projetos. Saímos em uma viagem missionária na qual ele testemunhava para quase todos que encontrava.
Houve uma época em sua vida que passava quatro horas do dia em oração. Deus lhe dizia várias coisas, e ele as partilhava com os outros. O que compartilhava era sempre uma bênção. Reconhecia o seu chamado para o ministério e queria ser pastor antes de completar vinte anos. Parecia uma rocha inabalável.
Amava esse rapaz e reconhecia o chamado em sua vida, e também investia meu tempo nele. Mas tinha uma única preocupação: parecia que ele tinha muita confiança em si próprio. Queria dizer-lhe algumas coisas, mas não fui liberado para fazê-lo. Sabia que haveria uma mudança. Ele passou por algumas tempestades, mas mesmo assim permaneceu forte. Algumas vezes, eu questionava meu discernimento quando o via resistir a severas provações.
Alguns anos se passaram. Ele se mudou e eu comecei a viajar em tempo integral. Mas ainda mantínhamos contato. Eu sabia que ele ainda passaria por um processo no qual seria moldado. Uma vez que isso aconteceria, não fazia idéia de que poderia ser, mas percebia que seria necessário para que o seu futuro se concretizasse. Esse seria um processo semelhante ao da peneira pela qual Pedro passou.
Quando esse rapaz tinha dezoito anos, seu pai teve câncer. Ele e sua mãe jejuavam e oravam, crendo que seu pai seria curado. Outros amigos se uniram a eles. Alguns meses antes, seu pai tinha entregado a vida a Jesus.
A condição de seu pai piorou. Eu estava ministrando numa cidade no Alabama quando minha esposa telefonou, pedindo para que ligasse para esse jovem com urgência. Eu o localizei e comprovei que precisava de alguém para encorajá-lo. Dirigi a noite toda após aquele culto, chegando à casa dele às quatro da manhã. A situação de seu pai era tão crítica que os médicos lhe davam apenas alguns dias de vida. Ele nem mesmo conseguia comunicar-se.
O jovem tinha confiança de que seu pai levantaria curado. Eu ministrei àquela família e fui embora algumas horas mais tarde, manhã seguinte, recebemos um telefonema dizendo que as coisas pioraram.
Lisa e eu, imediatamente, começamos a orar. Enquanto orávamos, Deus deu a minha esposa uma visão de Jesus ao lado da cama daquele homem, pronto para levá-lo para casa. Meia hora mais tarde o jovem telefonou dizendo que seu pai havia morrido. Parecia que ele era o mesmo jovem forte. Mas aquilo era só o começo.
Naquela noite, ele ligou para alguns de seus amigos mais chegados para contar que seu pai havia morrido. Quando eles atendiam o telefone, estavam chorando. Ele ficou imaginando como seus amigos sabiam da notícia. Mas eles não sabiam. As lágrimas que eles davam eram por um de seus melhores amigos que morrera num acidente de carro. Em um único dia, ele perdera o pai e um grande amigo. Ele começou a ser abalado. Ele estava confuso, frustrado e amortecido. A presença de Deus parecia que se havia esquivado.
Um mês mais tarde, enquanto dirigia para casa, esse jovem deparou com um acidente que acabara de acontecer. Ele tinha treinamento em primeiros socorros, por isso parou o carro. Todos os envolvidos no acidente eram amigos chegados. Dois morreram em seus braços enquanto ele tentava ajudar.
Meu jovem amigo chegou ao limite. Ele passou três horas no mato orando e clamando a Deus. "Onde está o Senhor? O Senhor disse que seria o consolador e não tenho nenhum consolo!" Parecia que Deus lhe havia virado as costas. Mas essa era, de fato, a primeira vez que sua própria força falhara.
Ele ficou com raiva de Deus. Por que Ele permitiu isso? Não estava com raiva do pastor, de sua família ou de mim. Sua ofensa era contra Deus. Estava sendo consumido pela frustração. Deus não se manifestara na hora de maior necessidade.
“Senhor, sou seu servo e abandonei muitas coisas para segui-lo", orou, “Agora o Senhor me abandona?" Cria que Deus lhe devia algumas coisas por tudo que largou para servir-lhe. Muitas pessoas experimentaram mágoas e desapontamentos que são menos ou mais extremos. Muitos se sentem ofendidos pelo Senhor. Crêem que Deus deve levar em consideração tudo o que fizeram por Ele.
Estão servindo a Deus pelas razões erradas. Não devemos servir ao Senhor por aquilo que Ele pode fazer, mas por quem Ele é ou pelo que já fez por nós. Aqueles que ficam ofendidos não entendem completamente a grande dívida que Ele já pagou para nos libertar. Esqueceram de que tipo de morte foram libertos. Enxergam através de olhos naturais, e não espirituais.
Esse jovem parou de ir à igreja e começou a andar com a turma errada, freqüentando bares e festas. Em sua frustração, não queria ter nada a ver com as coisas do Senhor. Queria evitar qualquer contato Deus.
Não conseguiu manter esse estilo de vida por mais de duas semanas, porque seu coração estava completamente convencido. Mas, mesmo assim, recusou a achegar-se ao Senhor durante seis meses. Naquela época, os céus pareciam de bronze. A presença do Senhor parecia não ser encontrada em nenhum lugar.
Mais de um ano se passou. Através de vários incidentes, ele viu que Deus ainda atuava em sua vida. Achegou-se a Deus, mas viu que agora era diferente. Veio humildemente. Após essa fase de tribulação o Senhor lhe mostrou como nunca o havia abandonado. À medida que sua vida espiritual ia sendo restaurada, ele aprendia a colocar sua confiança em Deus e não em sua própria força.
Continuei em contato com ele. Um ano e meio mais tarde, contou que via coisas nele mesmo que não sabia que estavam lá. "Eu era um homem sem caráter e superficial em meus relacionamentos. Fui criado pelo meu pai para ser forte exteriormente, um homem de sucesso. Nunca poderia desenvolver-me como Deus gostaria. Sou grato ao Senhor por não me ter deixado nessa condição".
"Mas o que mais pesava em meu coração não era correr de em bar para beber. Foi o fato de ter dado as costas ao Espírito Santo. Minha comunhão com Ele está mais doce do que nunca agora."
Esta vida foi muito abalada. A autoconfiança foi eliminada. esse jovem tinha o mesmo fundamento que Simão Pedro, e ele não poderia ser-lhe tirado. Em vez de construir sua vida e seu ministério no orgulho, ele os está construindo na graça de Deus.
As ofensas revelam as fraquezas e os pontos de tensão em nossas vidas. Geralmente, o ponto onde achamos que somos fortes é onde se escondem as nossas fraquezas. Elas permanecerão escondidas até que uma violenta tormenta sopre a capa para longe. O Apóstolo Paulo escreve. "Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne " (Fp 3:3 - Destaque acrescido).
  Não podemos fazer nada que seja de valor eterno com nossa própria habilidade. É fácil dizer isso, mas outra coisa é ter esta verdade profundamente arraigada em nosso ser.


Jesus não era controlado pelas pessoas.
Ele falava a verdade, mesmo que isso
significasse um confronto e uma grande ofensa.


9 . A rocha da ofensa


Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. Para vós outros portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, a pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos (1 Pe 2:6-8).

Hoje o significado da palavra acreditar perdeu a força. Para muitos ela se tornou um mero reconhecimento de um certo fato. Para outros, não tem nada a ver com obediência. Mas, no texto acima, as palavras acreditar e desobediente são apresentadas como opostas.
A Bíblia nos exorta "que todo o que nele (Jesus Cristo) crê não perecerá, mas terá a vida eterna" (Jo 3:16). Como resultado da forma como vimos a palavra acreditar, muitos acham que basta acreditar que Jesus existiu e morreu no Calvário que estão acertados com Deus. Se esse fosse o único requisito, os demônios também estariam acertados com Deus. A Bíblia diz também: "Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem" (Tg 2:19 – Grifo acrescido).
A palavra acreditar possui mais significado na Bíblia do que só reconhecer a existência ou simplesmente consentir mentalmente um fato. Se formos fiéis ao contexto do versículo acima, podemos dizer que o elemento principal de acreditar é a obediência. Poderemos lê-lo desta maneira: "Para vós outros, que obedecem, é a preciosidade; mas, para os desobedientes, a pedra que os construtores rejeitaram, esta veio a ser a principal pedra, angular e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa".
Não é difícil obedecer quando conhecemos o caráter e amamos aquele a quem nos submetemos. O amor é a base do nosso relacionamento com o Senhor - não o amor de princípios ou ensinamentos, mas o amor pela Pessoa de Jesus Cristo. Se este amor não estiver bem firmado, seremos suscetíveis aos tropeços e às ofensas.
Os israelitas, a quem o Senhor chamou de construtores, rejeitaram a pedra principal: Jesus. Eles amavam seus ensinamentos do Antigo Testamento. Estavam satisfeitos com suas interpretações porque podiam usá-las para seu próprio benefício e para controlar os outros. Jesus desafiou o legalismo que lhes era tão precioso. Jesus argumentou com eles: "Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim" (Jo 5:39). Não eram capazes de compreender que Deus, desde o princípio, desejou filhos e filhas com quem pudesse ter um relacionamento. Eles queriam governar e reinar. A lei falou mais alto do que o relacionamento. Rejeitaram o que foi dado livremente. Talvez preferissem ter conquistado. Dessa forma, a dádiva de Deus, Jesus Cristo, a esperança de vida e salvação eles, tornou-se "pedra de tropeço e rocha de ofensa".
Simeão profetizou quando tomou o bebê Jesus em seus braços no templo: "Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel" (Lc 2:34). Note a ruína e o levantamento. Aquele que foi dado para trazer paz ao mundo acabou a trazendo a espada da divisão àqueles a quem foi enviado (Mt 10.34) e vida para os vitimados pelos construtores (os ministros daquela época).

Jesus e as ofensas

Na escola dominical, Jesus é geralmente apresentado como o pastor carregando a ovelha perdida em seus ombros de volta ao aprisco. Ou talvez abraçado com as crianças dizendo: "Eu amo vocês". Verdadeiro, mas não a imagem completa.
Este mesmo Jesus atacou os fariseus por causa de sua justiça própria: “Serpentes, raças de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?"(Mt 23:33) Virou a mesa dos mercadores do templo e os expulsou (Jo 2:13-22). Disse ao homem que queria enterrar seu pai antes segui-lo: "Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, tu, vai e prega o reino de Deus" (Lc 9:59, 60). A lista não termina por aqui também.
Uma análise mais detalhada do ministério de Jesus revela um Homem que ofendeu muitos durante seu ministério. Vejamos alguns exemplos.

JESUS OFENDEU OS FARISEUS

Em várias ocasiões Jesus confrontou e ofendeu esses líderes. Porque foram ofendidos, eles o mandaram para a cruz. Eles o odiavam. Mas Jesus os amava o suficiente para falar a verdade: "Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim" (Mt 15:7, 8). Essa afirmação os ofendeu. Note o que os discípulos de Jesus lhe perguntaram imediatamente após a afirmação:

Então, aproximando-se dele os discípulos, disseram: Sabes que os fariseus, ouvindo a tua palavra, se escandalizaram? (Mt 15:12 - Destaque acrescido)

Analise a resposta:

Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada. Deixai-os; são cegos, guias de cegos. Ora, se um cego guiar o rego, cairão ambos no barranco (Mt 15:13, 14).

Jesus mostrou que as ofensas iam, na realidade, eliminar aqueles que não são realmente plantados por seu Pai. Algumas pessoas podem fazer parte de uma igreja ou ministério e não serem enviadas por Deus ou não serem de Deus. A ofensa que vem quando a verdade é pregada, revela seus reais motivos e causam a eliminação deles.
Quando visito outras igrejas, testemunho muitos casos de pastores que sofrem com a perda de pessoas que foram embora, tanto funcionários como membros. Na maior parte dos casos, as pessoas ficaram chateadas por causa da verdade que foi pregada e que confrontaram com o estilo de vida delas. Então, tornam-se críticos de todos os aspectos da igreja e vão embora.
Para que os pastores agradem a todos, têm de comprometer a verdade. Eu lhes digo: se pregamos a verdade, ofenderemos as pessoas e elas irão embora. Não lamente pelas que foram, mas continue alimentar as que Deus enviou.
Alguns líderes evitam o confronto, por medo de perder as pessoas. Alguns são especialmente hesitantes porque aqueles a quem precisam confrontar dão grandes ofertas ou são de grande influência na igreja ou comunidade. Outros temem magoar os sentimentos de alguém que os acompanha há muito tempo. Como resultado disso, o pastor perde a autoridade dada por Deus para proteger e alimentar o rebanho confiado a ele.
Quando iniciei o pastorado, um homem sábio me alertou: "Agarre a sua autoridade, ou alguém vai tirá-la e usá-la contra você".
Samuel era um homem de Deus que não comprometia a verdade por ninguém, nem mesmo pelo rei. Quando Saul desobedeceu a Deus, o Senhor disse a Samuel para confrontá-lo. Assim ele fez. Infelizmente Saul não reagiu à palavra do Senhor com arrependimento genuíno. Estava mais preocupado com o que os outros iam achar dele. Quando Samuel ia saindo, se agarrou ao seu manto, rasgando uma beirada dele. Samuel acabou com ele com estas palavras: "O Senhor rasgou, hoje de ti o reino de Israel" (1 Sm 15:28).
Não era isso que Samuel queria para Saul. Ele se entristeceu por Saul. Havia ungido Saul como rei. Treinou-o para governar e presidiu sua coroação. Era amigo pessoal dele. Mas ouça como Deus reagiu à tristeza de Samuel: "Até quando terás pena de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre Israel? Enche um chifre de azeite e vem; enviar-te-ei” (1ª Sm 16:1 - Grifo acrescido).
Deus estava dizendo que, para Samuel continuar a andar na unção, teria de perceber que o amor e julgamento de Deus eram perfeitos. Se Samuel voltasse a Saul após Deus tê-lo rejeitado, não teria mais azeite. Se continuasse de luto, não iria a lugar algum.
Os pastores que têm pena e choram a saída de algumas pessoas da igreja ou se recusam a confrontar os membros porque são seus amigos acabam ficando sem azeite em sua vida. Alguns ministérios perecem, enquanto outros simplesmente fingem estar vivos. Sem saber, optam pelo relacionamento com os homens, em detrimento do relacionamento com Deus.
A Bíblia não registra que Jesus reagiu aos homens que o abandonaram. Seu maior prazer era fazer a vontade do seu Pai. Fazendo isso, beneficiaria um número maior de pessoas.
Nunca me esquecerei de quando estava pregando em uma denominação cheia do Espírito. Estávamos juntos havia quase um ano. O primeiro domingo pela manhã preguei uma mensagem bastante simples de arrependimento e volta ao primeiro amor. Senti uma certa oposição, mas sabia que era a mensagem que deveria pregar.
Após o culto, o pastor me disse: "Deus me revelou o que você pregou esta manhã, mas acho que meu rebanho não estava pronto para isso". Minha esposa sentiu que o Espírito Santo a incomodava a perguntar: "Quem é o pastor da igreja: você ou Jesus?"
O pastor abaixou a cabeça: "O Senhor me disse exatamente isso um mês atrás. Ele me falou que sabia o que essas pessoas podiam agüentar”. Ele nos falou que, pelo menos um terço de sua igreja era composta de pessoas da "velha guarda", que não queriam mudanças na ordem do culto, música ou pregação. Nós o encorajamos a ser forte e a obedecer ao Senhor.
Pregamos mais quatro vezes naquela igreja; cada uma era mais difícil que a outra. Quando fomos embora da cidade, sentia como se tivesse um saco de areia no estômago. Não conseguia compreender. Sentia-me cada vez mais pesado e desconfortável. Geralmente, quando saio de uma igreja a alegria toma conta do meu coração. Não sabia o que estava errado.
  Quando, finalmente, fiquei a sós com o Senhor, perguntei-lhe “Pai, o que fiz de errado? Por que tenho este fardo pesado no meu espírito? Será que usurpei a autoridade do pastor?" Ele simplesmente me disse: "Sacudi o pó dos vossos pés" (Veja Lc 9:5).
Fiquei chocado ao ouvi-lo dizer isso. Continuei orando e questionando, e ouvi as mesmas palavras: "Sacode o pó de vossos pés."
Finalmente, obedeci. Quando minhas mãos acabaram de limpar a sola do segundo sapato, o peso saiu e a alegria entrou no meu coração. Disse maravilhado: "Senhor, eles não me atacaram ou nem chutaram fora da cidade. Por quê?"
Ele me mostrou que a liderança e muitas pessoas haviam rejeitado sua Palavra.
"Dê-lhes mais tempo", pedi.
"Se desse mais cinqüenta anos, eles não mudariam. Já estão decididos em seu coração."
Eu sabia que o líder resolveu optar por manter a paz, comprometendo a obediência a Deus. Ele tinha a forma e não a substância. Em outras palavras: ele tinha a aparência de estar cheio do espírito e, mesmo assim, faltava-lhe poder ou presença de Deus. Mais tarde ouvi que ele havia pedido demissão do cargo de pastor e que a igreja se diluiu.
Jesus não era controlado pelas pessoas. Ele falava a verdade, mesmo que isso significasse um confronto e uma grande ofensa. Se queremos a aprovação dos homens, a unção de Deus não nos pode encher. Devemos ter o propósito em nosso coração de falar a Palavra de Deus e desempenhar sua vontade, até mesmo correndo o risco de ofender os outros.

JESUS OFENDEU AS PESSOAS DE SUA TERRA

Jesus foi a sua terra para ministrar. Mas não foi capaz de levar a libertação e cura que havia trazido a muitos outros. Veja o que aconteceu:

“E diziam: Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto? E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa” (Mt 13:55-57 - Destaque acrescido).

Será que você consegue ouvir os homens e as mulheres de Nazaré dizendo: "Quem Ele pensa que é nos ensinando com autoridade? Sabemos quem Ele é. Ele cresceu aqui. Nós somos mais importantes aqui. Ele é apenas o filho de um carpinteiro. Não teve nenhum treinamento formal".
Mais uma vez, Jesus não comprometeu a verdade para evitar que eles se ofendessem. O povo da cidade ficou com tanta raiva que tentou matá-lo empurrando-o até um barranco (Lc 4:28-30). Mesmo quando sua vida estava em perigo, continuou a falar a verdade. Como precisamos de mais homens e mulheres como Ele atualmente!

JESUS OFENDEU SEUS PRÓPRIOS FAMILIARES

Até mesmo os de sua própria casa foram ofendidos por Jesus. Não gostavam nada da pressão que estava sobre eles por causa das coisas que Jesus fazia. Era difícil para eles acreditar que Ele estava se comportando dessa forma. Veja:

E, quando os parentes de Jesus ouviram isto, saíram para o prender,porque diziam: Está fora de si. [...] Nisto, chegaram sua mãe seus irmãos e, tendo ficado do lado de fora, mandaram chamá-lo. Muita gente estava assentada ao redor dele e lhe disseram: Olha, tua mãe, teus irmãos e irmãs estão lá fora à tua procura. Então, ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, correndo com o olhar pelos que estavam assentados ao redor, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã (Mc 3:21; 31-35).

Sua própria família achava que Ele estava fora de si. Note que a Bíblia diz que a família de Jesus saiu para prendê-lo. Marcos identifica esses parentes como a própria mãe de Jesus e seus irmãos, que tarde o encontraram pregando na casa de alguém. Até mesmo o Evangelho de João diz: "Pois nem mesmo os seus irmãos criam nele" (Jo 7:5)
Muitos não percebem que Jesus foi rejeitado por aqueles que eram íntimos. Mas não buscava a aceitação de sua família. Não deixaria se controlar pelo desejo deles. Cumpriria o plano de seu Pai, sem se importar se aprovariam ou não.
Vi muitas pessoas, principalmente casais, que não seguem a Jesus por medo de ofender seus parceiros ou familiares. Como resultado, desistem ou nunca alcançam o completo potencial de seu chamado.
Quando nasci de novo, todos os meus familiares eram católicos e não se alegraram com a minha nova fé. Minha mãe, principalmente ficou muito chateada com minha decisão de largar a igreja onde ela me havia criado. Certamente, há muitos católicos preciosos que amam a Deus, mas eu sabia que Deus estava me chamando.
Um outro golpe aconteceu quando tomei a decisão de seguir ministério. Tinha acabado de me formar em Engenharia Mecânica na Universidade Purdue, e meus pais tinham grandes sonhos para mim. Conhecia o desejo do Senhor para minha vida e sabia que ofenderia aqueles que me eram mais íntimos. Passei anos difíceis por causa disso. Houve muito mal-entendido. Mas decidi que não importava o quanto estavam chateados: eu seguiria Jesus.
No início, tentava atropelá-los com o Evangelho. Eu lhes disse que não podiam ser salvos só porque freqüentavam a missa. Não me estavam agüentando mais. Eu não fui sábio. Então, Deus me instruiu a levar uma vida cristã digna e deixá-los ver minhas boas obras. Mesmo assim, não fui comprometido para agradar-lhes.
Hoje, meus pais me apóiam, e meu avô, que mais lutou contra mim, se converteu nos seus gloriosos oitenta e nove anos, dois dias antes de sua morte.
A mãe e os irmãos de Jesus talvez tenham achado que Ele estava fora de si. Mas, por causa da sua obediência ao Pai, todos foram salvos no dia de Pentecostes. Tiago, meio irmão de Jesus, tornou-se um dos apóstolos líderes da igreja em Jerusalém.
Se comprometemos o que Deus nos ordena para agradar aos nossos familiares, perdemos o azeite de nossa vida e os impedimos de serem libertos.

JESUS OFENDEU OS PRÓPRIOS COMPANHEIROS DE TRABALHO

No capítulo anterior, discutimos em detalhes o ponto de vista dos discípulos quando Jesus os ofendeu. Vamos fazer uma breve revisão e através da perspectiva de Jesus.

Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam a respeito de suas palavras, interpelou-os: Isto vos escandaliza?[...] À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. (Jo 6:60, 61, 66 - Destaque acrescido).

As coisas já estavam difíceis. Os líderes religiosos tramavam sua morte. Sua própria terra o rejeitou. Sua família achava que Ele estava fora de si. Seus próprios companheiros saíram ofendidos. Mesmo assim, Jesus não foi conivente. Apenas lhes disse que, se quisessem, poderiam ir a embora.
A única coisa que importava para Jesus era seguir o plano do Pai. Se tivesse sido totalmente abandonado naquele dia, ainda assim, não teria mudado seu coração. Estava determinado a obedecer ao seu Pai.

JESUS OFENDEU ALGUNS DE SEUS AMIGOS MAIS CHEGADOS

Estava enfermo Lázaro, de Betânia, da aldeia de Maria e de sua irmã Marta. Esta Maria, cujo irmão Lázaro estava enfermo, era a mesma que ungiu com bálsamo o Senhor e lhe enxugou os pés com os seus cabelos. Mandaram, pois, as irmãs de Lázaro dizer a Jesus: Senhor, está enfermo aquele a quem amas. (Jo 11:1-3).

Jesus amava Marta, Maria e Lázaro. Eram bem chegados, Jesus passava muito tempo com eles. Note sua resposta quando chega a notícia que Lázaro estava muito doente:

Quando, pois, soube que Lázaro estava doente, ainda se demorou dois dias no lugar onde estava (Jo 11:6).

Jesus sabia, através de revelação, que a doença de Lázaro o levaria à morte. Era uma situação crítica. Mas continuou onde estava por dois dias. Quando, finalmente, chegou a Betânia, Lázaro já estava morto.
Marta e Maria lhe disseram: "Se estiveras aqui, não teria morrido meu irmão" (Jo 11:21, 32). Em outras palavras, "Por que não veio imediatamente? Você poderia tê-lo salvado!"
Muito provavelmente, ambas ficaram um pouco ofendidas, enviaram um mensageiro até Jesus, mas Ele se demorou por mais dois dias. Jesus não reagiu como esperavam. Não largou tudo; em vez disso, seguiu a direção do Espírito Santo. Assim era melhor para todos. Naquele momento, porém, parecia que Jesus estava apático, como se não se importasse.
Muito freqüentemente, os ministros são controlados pelas pessoas. Acham que devem fazer tudo o que lhes pedem.
Um membro do conselho de uma igreja cheia do Espírito que havia perdido seu pastor me disse: "Queremos um pastor que preencha nossas necessidades, um que venha a minha casa às oito horas da manhã para tomar café".
Eu pensei: "Você encontrará um homem social que poderá controlar, mas não um controlado pelo Espírito". Fiquei sabendo, depois, que essa igreja já havia tido quatro pastores num período de um ano meio.
Quando era pastor de jovens, um rapaz veio até mim, quando tinha seis meses de ministério. Ele me perguntou: "Você será meu companheiro? Meu pastor de jovens anterior era meu companheiro".
O pastor de jovens anterior a mim era uma pessoa muito sociável com eles. Tinham várias atividades diferentes. Eu sabia o que ele estava pedindo. Era basicamente o que os membros do conselho queriam de seu pastor.
Citei Mateus 10:41 para ele, onde Jesus disse: "Quem recebe um profeta, no caráter de profeta, receberá o galardão de profeta; quem recebe um justo, no caráter de justo, receberá o galardão de justo".
Você tem vários companheiros, não tem? eu lhe perguntei.
Sim ele respondeu.
— Mas você só tem um pastor de jovens, correto?
— Sim.
— Você quer um galardão de pastor ou de companheiro? Porque a forma como você me receber determinará o que você receberá de Deus.
Ele compreendeu meu argumento: "Eu quero o galardão de pastor".
Muitos pastores temem que se não preencherem as expectativas dos outros ferirão os sentimentos e perderão o apoio. Estão presos pelo medo de ofender as pessoas. São controlados por seu próprio povo, não por Deus. Como resultado, muito pouco dos valores eternos é alcançado nas suas igrejas ou congregações.

JESUS OFENDEU JOÃO BATISTA

Até mesmo João Batista teve que lidar com a tentação de se sentir ofendido por Jesus.

Todas estas coisas foram referidas a João pelos seus discípulos. E João, chamando dois deles, enviou-os ao Senhor para perguntar: És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro? (Lc 7:18-20)

Espere um instante. Por que João pergunta a Jesus se Ele era o Messias? João foi o que preparou seu caminho: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" (Jo 1:29) Foi ele quem disse: “Esse é o que batiza com o Espírito Santo" (1:33). E também: "Convém que ele cresça e que eu diminua" (3:30). João era o único que sabia naquela época, quem era Jesus (ainda não havia sido revelado a Simão Pedro).
Por que está perguntando: "É Jesus o Messias, ou havemos de esperar outro?"
Coloque-se no lugar dele. Você era o homem-chave no que estava fazendo. Ministrou para multidões. Tinha o ministério mais falado da nação. Negou sua própria vida. Nem mesmo se casou para maximizar o potencial completo de seu chamado. Você morou no deserto, comeu gafanhotos e mel, e também jejuou bastante. Lutou contra fariseus e foi acusado de estar endemoninhado. Sua vida toda foi para preparar o caminho do Messias. Agora, você está na prisão. Já ficou encarcerado por várias vezes. Poucos o visitam porque a atenção está voltada para Jesus de Nazaré. Até mesmo seus próprios discípulos se juntaram àquele Homem. Poucos lhe servem agora. Quando vêm visitá-lo, trazem histórias de como esse Homem e seus discípulos vivem uma vida muito diferente da sua. Comem e bebem com coletores de impostos e pecadores. Desobedecem ao Sabbath e não jejuam.
Você se pergunta: "Eu vi o Espírito descer como uma pomba sobre Ele, mas este é o comportamento de um Messias?"
A tentação de se sentir ofendido cresce à medida que você fica mais tempo na prisão. "Esse homem, por quem passei a vida preparando o caminho, nem se dignou a me visitar na prisão! Como pode uma coisa dessa? Se Ele é o Messias, por que não me tira da prisão? Não fiz nada de errado."
Então, você envia dois de seus fiéis discípulos para questionar Jesus: "Tu és aquele que estava para vir, ou havemos de esperar outro?”
 Vejamos a resposta de Jesus a João:

Naquela mesma hora, curou Jesus muitos de moléstias, e de flagelos, e de espíritos malignos; e deu vista a muitos cegos. Então, Jesus respondeu: Ide e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres, anunciasse-lhes o evangelho. E bem-aventurado é aquele que não achar em mim tropeço (Lc 7:21-23 - Destaque acrescido).

A resposta de Jesus era profética. Ele cita Isaías, um livro conhecido por João. As passagens de Isaías 29:18, 35:4-6 e 61:1 se aplicam a tudo o que os discípulos de João tinham observado enquanto esperavam para questionar Jesus. Eles eram testemunhas dele como Messias. Mas ele não termina por aqui. Acrescenta: "E bem- aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço".
Estava dizendo: "João, eu sei que você não compreende tudo o que está acontecendo com você e com muitos de meus métodos, mas não se sinta ofendido por mim porque não faço o que você espera". Ele clamava que João não julgasse com seu próprio entendimento sobre os métodos de Deus usados no passado e sua própria vida e ministério. João não tinha a imagem completa ou o plano de Deus, assim como nós não conhecemos a sua imagem completa hoje. Jesus o estava encorajando dizendo: "Você fez o que lhe foi ordenado. Seu galardão será grande. Não se ofenda por minha causa!"

Ofensa sem desculpa

Mesmo quando somos treinados nos métodos de Deus, como João o foi, ainda temos a possibilidade de nos sentirmos ofendidos por Jesus. Se verdadeiramente o amamos e cremos nele lutaremos para ficar livres da ofensa, percebendo que seus caminhos são superiores aos nossos.
Da mesma forma, se vamos obedecer ao Espírito Santo, algumas pessoas ficarão ofendidas conosco. Jesus disse em João 3:8: "O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai, assim é todo o que é nascido do Espírito".
Alguns não entendem quando somos movidos pelo Espírito. Não permita que essa resposta negativa o impeça de fazer o que sabe no seu coração que é verdadeiro. Não estanque o fluir do Espírito por causa de desejos dos homens. Pedro resume muito bem:

Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado, para que, no tempo que vos resta na carne não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus (1 Pe 4:1, 2).

Quando vivemos para a vontade de Deus, não correspondemos aos desejos dos homens. Como resultado, sofreremos na carne. Jesus sofreu sua maior oposição dos líderes religiosos. Os religiosos crêem que Deus opera apenas de acordo com seus parâmetros. Acreditam que são os únicos que estão "ligados" a Deus. Se o Mestre ofendeu os religiosos conforme era guiado pelo Espírito há dois mil anos, aqueles que o seguem obviamente os ofenderão.
A perseguição do apóstolo Paulo é um bom exemplo. Algumas pessoas da Galácia erroneamente ouviram que Paulo havia comprometido o Evangelho da cruz por se aproximar de líderes religiosos que disseram que a circuncisão era necessária para a salvação. Mas Paulo colocou-os em seu devido lugar.
"Olhem para mim", ele disse. "Estou sendo perseguido de todos os lados pelos líderes religiosos. Será que fariam isso se eu estivesse pregando a circuncisão? O fato de a cruz ser o único meio de salvação ofende as pessoas, mas é verdade, e não adianta que não prego coisa!" (Veja Gl 5:11)
Se alguém desafia a verdade do Evangelho, é hora de sermos ofensivos sem pedir desculpas. Devemos determinar em nosso coração que iremos obedecer ao Espírito de Deus sem nos importarmos com o preço. Dessa forma, não teremos de fazer uma opção sob pressão, porque já teremos escolhido.


Jesus ofendeu alguns por obedecer ao seu Pai,
mas nunca causou uma ofensa a fim de defender seus próprios direitos.


10. Para que não os escandalizemos


Não julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão (Rm 14:13).

Acabamos de ver como Jesus ofendeu muitos durante suas viagens e ministração. Parece que em quase todos os lugares onde foi as pessoas se sentiram ofendidas. Neste capítulo, desejo analisar o lado irreverente disso.
Jesus e seus discípulos tinham acabado de retornar de Cafarnaum. Haviam completado um circuito ministerial e voltaram para um curto e necessário descanso. Se havia algum lugar que pudesse ser considerado a base para seu ministério, Cafarnaum era esse lugar. Enquanto estava lá, Simão Pedro foi abordado pelos oficiais responsáveis por coletar as taxas do templo: "Não paga o vosso Mestre as duas dracmas?" (Mt 17:24)
Pedro respondeu que sim e voltou a conversar com Jesus. Jesus se antecipou à pergunta do coletor de impostos e perguntou a Simão Pedro: “'Simão, que te parece? De quem cobram os reis da terra impostos ou tributos: dos seus filhos ou dos estranhos?' Respondendo Pedro: 'Dos estranhos', Jesus lhe disse: `Logo, estão isentos os filhos`” (Mt 17:24)
Jesus argumenta com Pedro que "os filhos estão isentos". Eles não são responsáveis pelas taxas. Aproveitam os benefícios delas, mas vivem no palácio, que é sustentado pelas taxas. Os filhos comem à mesa do rei e vestem roupas reais, tudo mantido pelas taxas. Eles estão isentos e são sustentados.
Esse oficial recebeu a taxa do templo. Mas quem era o rei ou o dono do templo? Em honra de quem ele foi construído? A resposta: Deus, o Pai. Pedro havia acabado de receber a revelação de Deus , que Jesus era "o Cristo, o Filho do Deus vivo".
Baseando-se nisso, Pedro perguntou: "Se sou filho daquele a quem pertence o templo, então não estou isento de pagar a taxa?" Certamente ele seria isento. Seria totalmente justificado em não pagar a taxa. Mesmo assim, Jesus responde a Simão Pedro:

Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe que fisgar, tira-o; e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter. Toma-o e entrega-lhes por mini ti. (Mt 17:27 - Destaque acrescido).

Ele acabara de provar sua liberdade. Mas, para não escandalizar, Ele disse a Simão Pedro: "Vamos pagar-lhe!" Era outra confirmação da sua liberdade quando instruiu a Pedro que fosse pescar e pegasse o primeiro peixe; em sua boca acharia uma moeda. Deus, o Pai, até mesmo providenciara o dinheiro da taxa.
Jesus é Senhor da Terra. Ele é o Filho de Deus. A Terra e o que nela há foram criados por Ele e estão sujeitos a Ele. Assim, sabia que o dinheiro estaria na boca do peixe. Não teria de trabalhar por aquele dinheiro porque era o Filho. E mesmo assim, decidiu pagar para não escandalizar.
Este é o mesmo Jesus que vimos no capítulo anterior escandalizando as pessoas sem pedir desculpas? Ele provou que estava isento da taxa do templo, mas disse: "Para que não os escandalizemos, vá e pague!” Parece haver alguma inconsistência. Será? Nossa resposta encontra-se no próximo versículo:

Naquela hora, aproximaram-se de Jesus os discípulos, perguntando: Quem é, porventura, o maior no reino dos céus? E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles. E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus (Mt 18:1-4).

A expressão-chave aqui é "quem se humilhar”. Logo a seguir, Jesus desenvolve essa afirmação dizendo:

Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva... tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mt 20:26-28).

Que afirmação! Ele não veio para ser servido, mas para servir. Ele era o Filho; era livre; não devia nada a ninguém; não estava sujeito a nenhum outro homem. Mesmo assim decidiu usar sua liberdade para servir.

Liberado para servir

Somos exortados no Novo Testamento de que, como filhos, devemos imitar nosso irmão, ter as mesmas atitudes que vemos em Jesus.

Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor (Gl 5:13).

Uma outra palavra para liberdade é privilégio. Não devemos usar nossa liberdade ou privilégio como filhos do Deus vivo para nossos próprios interesses. A liberdade é usada para servir aos outros. Há liberdade em servir e cativeiro na escravidão. O escravo é aquele que precisa servir, mas o servo é aquele que vive para servir. Vejamos algumas diferenças entre a atitude do servo e do escravo:

- o escravo precisa - O servo tem oportunidade.
- o escravo faz o mínimo requerido - O servo alcança o potencial máximo.
- o escravo anda uma milha - O servo anda uma milha extra.
- o escravo se sente roubado - O servo dá.
- o escravo é cativo - O servo é livre.
- o escravo luta por seus direitos - O servo abre mão dos seu direitos.

Já vi muitos crentes servirem com uma atitude de ressentimento. Dão com amargura e reclamam quando pagam os impostos. Eles ainda vivem como escravos de uma lei da qual foram libertos. Permanecem escravos em seu próprio coração.
O mais alarmante é que esta lei é feita a partir do Novo Testamento. Eles não possuem o"espírito" dos mandamentos que Jesus deu. Não perceberam que foram liberados para servir. Dessa forma, continuam a lutar por seus próprios interesses, e não pelos interesses dos outros.
Paulo nos dá um exemplo vívido de confronto com essa atitude nas cartas aos Romanos e Coríntios. A liberdade para esses crentes foi desafiada pela comida. Paulo começa exortando-os: "Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões. Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes" (Rm 14:1, 2).
Jesus esclareceu que o que corrompe não é o que entra pela boca, mas o que sai da boca. Quando Ele faz essa afirmação, todos os alimentos se tornam limpos para os crentes (Mc 7:18, 19).
Paulo diz que havia alguns crentes que eram fracos na fé e ainda não comiam carne com medo de estarem comendo alimentos sacrificados aos ídolos. Embora Jesus tivesse abordado o assunto, essas pessoas não comiam carne com a consciência limpa.

No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus [... 1 todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são, todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele. Entretanto, não há esse conhecimento em todos; porque alguns, por efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda comem dessas coisas como a ele sacrificadas; e a consciência destes, por ser fraca, vem a contaminar-se (1 Co 8:4, 6, 7).

Naquelas igrejas os crentes mais fortes na fé estavam comendo carne de origem questionável diante dos crentes mais fracos. Isso estava causando um problema, muito embora Jesus houvesse purificado aquele alimento.
Os mais fracos não podiam abalar a imagem da carne no altar de um ídolo. Os crentes mais fortes sabiam que um ídolo não era nada, e não tinham problema de consciência quando comiam.
Mas parecia que eles estavam mais preocupados em exercer seus direitos como crentes neotestamentários do que com o escândalo que poderiam causar aos seus irmãos. Sem perceber, colocaram uma pedra de tropeço no caminho dos irmãos mais fracos. Essa atitude não está presente no coração do servo. Veja como Paulo se dirige a eles:

Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão [...] Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo (Rm 14:13, 17).

Ele estava dizendo: "Vamos nos lembrar do que o reino realmente é formado: justiça, paz e alegria no Espírito Santo". Todos esses benefícios estavam causando tristeza no novo crente. Os crentes mais fortes não estavam usando sua liberdade para servir, mas como plataforma para os seus "direitos". Tinham conhecimento da liberdade que o Novo Testamento lhes dava. Mas o conhecimento sem amor destrói.
Eles não tinham o coração de Jesus nesse assunto. Jesus provou seus direitos relativos às taxas do templo a Pedro e ao restante dos discípulos para exemplificar a importância de se abrir mão da vida para servir. Ele nunca quis que a liberdade fosse uma licença para requerer nossos direitos e fazer com que o outro seja escandalizado e tropece.
Paulo deu esse alerta àqueles que tinham conhecimento de direitos em Cristo sem ter seu coração para servir.

E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo Cristo morreu. E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais (1ªCo 8:11,12).

Podemos usar nossa liberdade para pecar. Como? Ferindo os fracos de consciência, fazendo com que os pequeninos de Cristo se escandalizem e tropecem.

Renunciando aos nossos direitos

Após Jesus ter estabelecido sua liberdade em relação à taxa templo, foi cuidadoso em cobrar dos seus discípulos a importância humildade.

Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundo do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem escândalo! Portanto, se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar, corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado fogo eterno. Se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida com um só dos te olhos do que, tendo dois, seres lançado no inferno de fogo. Vede não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus vêem incessantemente a face meu Pai celeste (Mt 18:6-10).

Este capítulo inteiro de Mateus é sobre ofensas, escândalos. Jesus está claramente falando para nos livrarmos de qualquer causa de pecado, mesmo que seja um dos privilégios do Novo Testamento. Se alguma coisa faz seu irmão mais fraco pecar, corte-a pela raiz.
Você deve estar se perguntando por que Jesus ofendeu tantos, conforme vimos no capítulo anterior deste livro. A resposta é simples: Jesus ofendeu algumas pessoas como resultado da obediência ao Pai e no servir aos outros. Suas ofensas não vieram da imposição de seus direitos.
Os fariseus ficaram escandalizados quando Ele curou no sábado. Seus discípulos ficaram escandalizados com a verdade que seu Pai lhe mandou pregar. Maria e Marta ficaram ofendidas quando Ele se demorou para ir até onde Lázaro estava. Mas você não verá Jesus ofendendo e escandalizando outros quando o serviam.
Paulo, em sua carta aos Coríntios, deu este alerta: "Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos” (1 Co 8:9).
Nossa liberdade nos foi concedida para que servíssemos e renunciássemos a nossa vida. Fomos chamados para construir, e não para destruir. Nem a liberdade nos foi dada para que colhêssemos para nós mesmos. Temos agido desse modo, por isso muitos se escandalizam com nosso estilo de vida cristã.
Novamente, ouça o alerta que nos é dado em 1 Coríntios 8:9: “Vede, porém, que vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos".
Eis um exemplo de como tenho visto esse mandamento ser quebrado. Na minha segunda viagem à Indonésia, pude levar Lisa e meus filhos, acompanhados de uma babá. Chegamos em Denpasar, Báli, uma ilha turística.
Um membro do conselho da igreja que estávamos visitando era dono de um hotel modesto, numa parte muito barulhenta da cidade. Havíamos viajado uma grande distância e ainda não tínhamos conseguido dormir. Estávamos exaustos. Naquela noite, fomos acordados por barulhos muito altos e cães latindo. Só passamos uma noite naquele hotel e não conseguimos dormir.
No dia seguinte, seguimos para Java e trabalhamos nas duas semanas seguintes, numa rotina estafante. Tivemos só um dia livre naquelas duas semanas e aproveitamos para viajar. Num período vinte e quatro horas, pregávamos cinco vezes numa igreja de trinta mil membros.
Ao final da viagem, teríamos de voltar por Báli. O pastor nos informou que ficaríamos no mesmo hotel do membro do conselho. Não estávamos muito animados em ficar naquelas mesmas condições novamente, após duas semanas sem parar.
No café da manhã do dia em que partiríamos, uma querida senhora nos ofereceu para pagar nossa estada num luxuoso hotel em Bali. Fiquei muito animado, porque poderíamos descansar e ficar num lindo lugar.
Quando saímos do restaurante para arrumar as malas, Lisa me disse que não se sentiu bem em aceitar a oferta daquela senhora. intérprete e eu discutimos o assunto e chegamos à conclusão de que não havia problema em aceitar. Novamente, no avião de Java a Báli, ela disse que não achava que estávamos fazendo a coisa certa.
Fui tolo em não ouvi-la. Disse-lhe que não haveria custo para igreja e que tudo ficaria bem. Quando chegamos a Báli, ela implorou mais uma vez e eu a ignorei. Quando encontramos o pastor, eu lhe disse que não precisaríamos ficar no hotel do membro do conselho por causa da oferta de uma senhora. Ele pareceu incomodado com o que eu disse, então lhe perguntei o que estava errado.
Felizmente, ele foi sincero para comigo e disse: "John, isso ofenderá o senhor e sua família. Eles já reservaram o quarto para vocês e o hotel está lotado".
Eu, aparentemente, havia ofendido o pastor porque não gostei do que havia arrumado para nós. Finalmente, eu lhe disse que ficaríamos no hotel do senhor e não aceitaríamos a oferta da senhora.
O Senhor teve de lidar com minha atitude. Sabia que o pastor estava magoado. Percebi que exigir meus direitos havia ofendido o irmão e que isso era pecado. Eu lhe perdi perdão. Ele me perdoou. Espero não ter de aprender essa lição outra vez.

O teste que edifica

O apóstolo Paulo, na carta aos Romanos, resumiu o coração de Deus sobre isso:

Assim, pois, seguimos as coisas da paz e também as da edificação de uns para com os outros (Rm 14:19).

Este deve ser nosso alvo: não fazer com que o outro tropece por causa de nossa liberdade. O que fazemos pode até ser permissível segundo a Bíblia. Mas devemos perguntar-nos: isso edifica os outros ou a mim?

Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam. Ninguém busque o seu próprio interesse, e sim o de outrem [...] Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus, assim como também eu procuro, em tudo, ser agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos (1 Co 10:23-33 - Destaque acrescido).

Quero encorajar você a deixar o Espírito Santo filtrar sua vida por meio desta passagem. Deixe que Ele mostre seus motivos escondidos que buscam o seu próprio interesse e não o de outros. Não importa qual área na vida você vai seguir; aceite o seu desafio de viver como um servo de todos.
Use sua liberdade em Cristo para libertar os outros, não para reivindicar seus direitos. Esta era uma das diretrizes do ministério de Paulo, que escreveu: "Não dando vós nenhum motivo de escândalo em coisa alguma, para que o ministério não seja censurado".


A pessoa que não consegue perdoar, esqueceu-se da grande dívida da qual Deus a perdoou.


11. Perdão: Você não dá, você não recebe


Por isso vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco. E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai Celestial vos perdoe as vossas ofensas. [Mas, se não perdoardes, vosso Pai Celestial não vos perdoará as vossas ofensas] (Mc.:11: 24-26).

No restante do livro, gostaria de desviar nossa atenção para as conseqüências de se recusar a esquecer a ofensa e como se livrar dela. Jesus falava seriamente quando disse: "Mas, se não perdoardes, também vosso Pai celeste não vos perdoará as vossas ofensas". Vivemos numa sociedade na qual nem sempre se fala seriamente. Conseqüentemente, na maioria das vezes, não cremos que os outros são sinceros quando falam algo para nós. A começar da infância. Um pai diz a uma criança: "Se você fizer isso novamente, vai apanhar". Ela não só faz isso novamente, como repete o mesmo ato inúmeras vezes. Após cada episódio, ela recebe o mesmo alerta. Geralmente, não se toma uma atitude de correção. Se a correção ocorre, é mais branda do que o prometido ou muito mais severa, porque o pai está frustrado.
Ambas reações enviam uma mensagem à criança de que você realmente não falava sério; o que disse não era verdadeiro. Ela aprende que nem tudo que uma autoridade diz é verdade. Então, fica confusa sobre quando, e se deve levar a autoridade a sério. Essa atitude é projetada em várias áreas de sua vida. A visão da criança em relação aos professores, amigos, líderes e chefes passa pelo mesmo padrão referencial. Mas, quando se toma adulta, ela aceita este fato como normal. Suas conversas agora consistem de promessas e afirmações, nas quais dizem coisas que realmente não pretendem cumprir.
Vejamos um exemplo hipotético de uma típica conversa. Jim vê Tom, uma pessoa a quem conhece, mas que não tem contato há algum tempo. Ele está com pressa e pensa: "Oh, não. Não posso acreditar que me encontrei com Tom. Não tenho tempo de falar com ele". Os homens se entreolham. Jim diz: "Louvado seja Deus, irmão. Como é bom ver você". Conversam por um tempinho. Já que Jim está com pressa, ele termina a conversa assim: "Precisamos almoçar juntos"
Primeiro, Jim não está feliz em ver Tom porque está com pressa. Segundo, não estava pensando no Senhor e diz "Louvado seja Deus”. Terceiro, não tinha a intenção de convidá-lo para um almoço. Essa era uma fórmula de se livrar logo da situação e acalmar sua consciência durante o encontro. Desse modo, Jim não falava a verdade durante a conversa.
Situações reais como essa ocorrem todos os dias. Atualmente, as pessoas não falam seriamente em um quarto do que CONVERSAM. Não é de admirar que tenhamos dificuldade em saber se devemos levar a palavra de uma pessoa a sério.
Mas, quando Jesus fala, quer que o levemos a sério. Não podemos ver o que Ele diz da mesma forma como vemos as outras autoridades ou relacionamentos em nossa vida. Quando diz algo, realmente tem a intenção de falar aquilo. É fiel, mesmo quando somos infiéis. Anda em uma integridade que transcende nossa cultura. Quando Jesus disse "Se não perdoardes, também vosso Pai celestial não perdoará vossas ofensa” falou seriamente.
Se avançarmos um pouquinho mais, veremos que não falou isso só uma vez nos Evangelhos, mas muitas vezes. Ele estava enfatizando a importância desse alerta. Vejamos algumas afirmações que fez em diferentes ocasiões:

“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mt 6:14, 15).

De novo: perdoais e sereis perdoados (Lc 6:37).
Novamente, a oração do Pai Nosso diz: "E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores" (Mt 6:12 - destaque acrescido).
Fico a me perguntar como alguns crentes querem que Deus lhes perdoe da mesma forma como perdoaram aqueles que os ofenderam. Esta é exatamente a forma como serão perdoados. A falta de perdão é tão excessiva em nossas igrejas que não queremos levar essas palavras de Jesus a sério. O modo como perdoamos, liberamos e restauramos uma outra pessoa é o mesmo modo como seremos perdoados.
Ouvi um testemunho bem incomum sobre um pastor nas Filipinas. Alguns amigos que o conheciam de um ministério anterior mostraram-me um artigo sobre ele.
Esse homem havia resistido ao chamado de Deus em sua vida por muitos anos, por causa do sucesso em seus negócios. Ele fazia muito dinheiro. Sua desobediência o alcançou e foi levado às pressas ao hospital por causa de um enfarte. Morreu na mesa de cirurgia e se encontrou fora dos portões do céu. Jesus estava lá e teve de lidar com sua desobediência. O homem implorou a Jesus que estendesse sua vida, e ele lhe serviria. O Senhor consentiu.
Antes de enviá-lo a seu corpo de volta, o Senhor lhe mostrou uma visão do inferno. Ele viu a mãe de sua esposa queimando nas chamas. Ele estava surpreso. Ela orou a "oração do pecador" confessando-se como cristã e freqüentava a igreja. "Por que minha sogra está no inferno?” - ele perguntou ao Senhor.
O Senhor lhe contou que ela se havia recusado a perdoar um parente e, dessa forma, não pôde ser perdoada.

Perdão e crescimento espiritual

Também já vimos muitos exemplos da armadilha de falta de perdão em nosso ministério. Na primeira vez em que fui ministrar na lndonésia, fiquei hospedado na casa de um rico empresário. Embora freqüentas igreja onde eu estava pregando, ele e a família não eram salvos.
Durante aquela semana, sua esposa foi salva; ele foi o próximo, e depois, todos os três filhos. Houve libertação e toda a atmosfera da casa mudou. Grande alegria encheu o aquele lar.
Quando souberam que eu voltaria à Indonésia com minha esposa, nos convidou para ficar com eles e ofereceu-se para pagar as passagens aéreas de meus três filhos e da babá.
Chegamos e pregamos dez vezes naquela igreja. Preguei sobre arrependimento e a presença de Deus. Podíamos sentir sua presença nos cultos, houve muito choro e lágrimas de libertação.
A família inteira recebeu ministração outra vez. A mãe do marido que vivia na mesma cidade assistiu a todos os cultos. Ela havia contribuído com grande parte do dinheiro para a compra das passagens de filhos.
Próximo do final da semana, a mãe desse homem me olhou dentro dos olhos e perguntou: "John, por que nunca senti a presença Deus?"
Tínhamos acabado o café da manhã e todos já haviam saído da mesa. "Fui a todos os cultos", ela continuou, "e ouvi atentamente tudo o que você disse. Fui à frente arrependida, mas mesmo assim não senti a presença de Deus nem uma vez. Não só isso, mas não senti a presença de Deus uma só vez".
Conversei com ela por algum tempo e então lhe disse: "Vamos orar para que você seja cheia do Espírito de Deus." Impus minhas mãos sobre ela e orei para que recebesse o Espírito Santo, mas não sentia a presença de Deus.
Então, Deus falou ao meu espírito: "Ela não libera perdão ao marido. Diga a ela que o perdoe"
Retirei minhas mãos dela. Sabia que seu marido estava morto, mas olhei para ela e disse: "O Senhor está-me mostrando que você não consegue perdoar seu marido". "Sim, é verdade", ela concordou. "tenho feito o possível para perdoá-lo." Então, ela me contou as coisas horríveis que ele lhe fizera. Pude entender por que ela lutava com a de perdão. Mas lhe disse: "Para você receber de Deus você precisa perdoar". E lhe expliquei o que Jesus ensinou sobre perdão.
"Você não pode perdoá-lo com suas próprias forças. Você precisa entregar isso a Deus e pedir-lhe que a perdoe primeiro. Dessa forma perdoará seu marido. Você deseja liberar seu marido?" - pergunte. "Sim", ela respondeu.
Eu a dirigi em uma oração simples: "Pai celeste, no nome de Jesus eu peço perdão por não perdoar meu marido. Senhor, sei que não posso perdoá-lo com minhas próprias forças. Já fiz tudo errado. Agora, perante ti libero meu marido do meu coração. Eu o perdôo".
Logo que pronunciou essas palavras, as lágrimas começaram a pelo seu rosto.
"Levante-se e fale em línguas", eu a incentivei.
Pela primeira vez ela falou numa linda língua celeste. Sentimos a presença de Deus tão fortemente à mesa do café que ficamos maravilhados. Ela chorou por cinco minutos. Conversamos por mais algum tempo, e então a encorajei a aproveitar a presença do Senhor. Ela continuou a adorá-lo e eu a deixei só.
Quando a notícia chegou a seu filho e a sua nora, eles ficaram espantados. O filho disse que nunca havia visto sua mãe chorar. Ela própria não se lembrava de qual foi a última vez que havia chorado. “Mesmo quando meu marido morreu, não chorei".
No culto daquela noite ela foi batizada nas águas. Nos próximos três dias, seu sorriso irradiava brilho e doçura. Não me lembrava de tê-la visto sorrir antes disso. Ela não perdoava, e por isso estava prisioneira da falta de perdão. Mas uma vez tendo perdoado e liberado seu marido ela recebeu o poder do Senhor na sua vida e sentiu sua presença.

O servo que não perdoou


Em Mateus 18, Jesus esclarece melhor sobre a falta de perdão e a ofensa. Ele estava ensinando os discípulos como se reconciliarem com um irmão que os tivesse ofendido. (Vamos discutir sobre reconciliação no capítulo 14).
Pedro perguntou: "Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?" (Mt 18:21) Ele pensou que estava sendo generoso.
Pedro gostava de levar as coisas ao extremo. Ele é quem disse: “Vamos fazer três tendas; uma será tua, outra para Moisés, outra para Elias" no monte da transfiguração (veja Mt 17:4). Desta vez ele realmente achava que estava sendo generoso. "Vou impressionar o Mestre com minha disposição em perdoar sete vezes".
Mas ele recebeu uma resposta firme. Jesus acabou com o que Pedro considerava generoso: "Não te digo que até sete vezes, mas setenta vezes sete" (Mt 18:22 - Destaque acrescido). Em outras palavras: perdoe, assim como Deus perdoa, sem limites.
Mais tarde, Jesus conta uma parábola para enfatizar sua posição:

Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolve ajustar contas com os seus servos. E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que devia dez mil talentos (Mt 18:23, 24).

Para compreender a enormidade do que Jesus estava dizendo precisamos saber o que era um talento. Um talento era uma unidade medida. Era usado para medir ouro (2ºSm 12:30), prata (1ºRs 20:1) outros metais e produtos. Nessa parábola, ele representa uma dívida. Então, podemos dizer com certeza que Ele estava se referindo a unidade de troca como ouro ou prata. Digamos ouro.
Um talento normal era equivalente a aproximadamente setenta e cinco libras. Era o peso total que um homem poderia carregar (veja 2ºRs 5:23). Dez mil talentos seriam aproximadamente 750 mil libras ou toneladas. Dessa forma, o servo devia ao rei 375 toneladas de ouro.
No presente momento, o preço do ouro é de aproximadamente 375 dólares a onça. No mercado atual, um talento de outro valeria mil dólares. Sendo assim, 10 mil talentos de ouro valem 4,5 bilhões de dólares. Esse servo devia ao rei 4,5 bilhões de dólares!
Jesus estava enfatizando aqui que esse servo devia uma dívida que não poderia pagar. Lemos:

Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga. Então, o servo, prostrando-se reverente rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida (Mt 18:25-27).

Agora vejamos como essa parábola se aplica quando somos ofendidos. Quando uma ofensa ocorre, existe uma dívida. Você, provavelmente já ouviu: "Ele pagará por isso". Dessa forma, o perdão é como o cancelamento da dívida.
O rei representa Deus, o Pai, que perdoou a dívida desse servo que era impossível pagar. Em Colossenses 2:13, 14, encontramos:

E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito [nota promissória] de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz.

A dívida pela qual fomos perdoados era impagável. Não existia forma alguma de pagar a Deus pelo que lhe devíamos. Nossa ofensa foi terrível. Assim, Deus nos deu a salvação como um presente. Jesus pagou a nota promissória que existia contra nós. Podemos ver o paralelo entre o relacionamento do servo e o rei e nosso relacionamento com Deus:

Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves (Mt 18:28).

Um denário era aproximadamente o salário diário de um trabalhador. Se formos comparar com o salário de hoje em dia de um trabalhador americano, cem denários seriam aproximadamente 4 mil dólares.
Continua a leitura:

Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê, paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida (Mt 18:29,30).

Um de seus conservos devia uma vultosa quantia: um terço de férias um salário de um ano. Que você acharia se faltasse um terço no seu salário? Mas lembre-se de que esse homem foi perdoado de uma dívida de 4,5 bilhões de dólares. Isto era mais do que poderia ganhar durante a sua vida toda!
As ofensas que guardamos uns contra os outros, comparadas às nossas ofensas contra Deus, são como 4 mil dólares comparados a 4,5 bilhões de dólares. Podemos ter sido muito maltratados por alguns, mas isso não se compara às transgressões contra Deus.
Você pode sentir que ninguém foi tão maltratado quanto você. Mas não percebe como Jesus foi maltratado. Ele era um cordeiro inocente e imaculado e foi morto.
Uma pessoa que não consegue perdoar esqueceu-se da grande dívida da qual foi perdoada. Quando você perceber que Jesus o libertou da morte eterna, você liberará os outros incondicionalmente. (Falaremos mais sobre isso no capítulo 13).
Não há nada pior do que a eternidade num lago de fogo. Não há alívio: os vermes não morrem e o fogo nunca é saciado. Este era o nosso destino até que Deus nos perdoou através da morte de seu Filho, Jesus Cristo. Aleluia! Se você tem dificuldade em perdoar, pense na realidade do inferno e no amor de Deus que o salvou disso.

Lições para os crentes

Vamos continuar a parábola:

Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? (Mt 18:31-33)

Jesus não estava se referindo a não crentes nessa parábola. Estava falando dos servos do rei. Esse homem já havia sido perdoado de uma grande dívida (salvação) e era chamado de "servo" do mestre. O outro a quem ele não perdoou era chamado de "conservo". Então, podemos concluir que este é o destino de um crente que se recusa a perdoar.
E, indignado-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se não perdoardes (Mt 18:34, 35).
Estes versos têm três pontos principais:
1. O servo que não perdoou é entregue à tortura;
2. Ele teve de pagar a dívida original: 375 toneladas de ouro;
3. Deus, o Pai, fará o mesmo com qualquer crente que não perdoa a dívida de um irmão.

1. O servo que não perdoou é entregue à tortura.

O Dicionário Webster define tortura como "agonia do corpo e da mente" ou "aplicação de dor intensa para punir, coagir ou ter prazer sádico”.
Os que instigam a tortura são espíritos demoníacos. Deus dará aos "verdugos” permissão para causar dor e agonia no corpo e na mente conforme desejarem, mesmo que sejamos crentes. Freqüentemente, oro por pessoas nos cultos que não conseguiram receber cura, conforto ou libertação, tudo porque não liberaram outros e os perdoaram de todo o coração.
Médicos e cientistas relacionam a falta de perdão e amargura a certas doenças, como artrite e câncer. Muitos casos de doença mental são ligados à amargura da falta de perdão.
O perdão é geralmente negado a outros, mas, algumas vezes é negado a nós mesmos. Jesus disse: "Se você tem alguma coisa contra alguém, perdoe...” (Veja Mt 5:24) Alguém inclui você mesmo! Se Deus o perdoou, quem é você para não perdoar aquele a quem Ele perdoou, mesmo que seja você?
 

2. O servo que não perdoou teve de pagar a dívida original

Foi-lhe pedido para fazer o impossível. É como se nos pedissem que pagássemos a dívida que Jesus pagou no Calvário. Perderia nossa salvação. "Espere um minuto", você, diz. "Pensei que uma vez que a pessoa tivesse feito a oração do pecador e entregue a sua vida a Jesus, ela nunca poderia se perder novamente".
Se você crê nisso, então explique por que Pedro escreveu o seguinte:

Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro. Pois melhor lhes fora que nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. (2ªPe 2:20, 21 - Destaque acrescido).

Pedro estava falando de pessoas que escaparam do pecado, "contaminações do mundo", através da salvação em Jesus Cristo e, porém deixaram-se enredar pelo pecado (que pode ser falta de perdão) ou foram vencidos. Ser vencido significa que não voltaram ao Senhor e se arrependeram de seu pecado voluntário. Pedro afirmou que dar as costas à justiça era pior do que nunca tê-la conhecido. Em outras palavras Deus está dizendo que é melhor nunca ter sido salvo do que receber a dádiva da vida eterna e dar-lhe as costas permanentemente.
Judas também descreveu pessoas na Igreja que estavam "duplamente mortas" (Jd 12, 13). Estar duplamente morto significa que estava morto uma vez sem Cristo, foi ressuscitado quando o recebeu e morreu novamente desviando-se de seus caminhos permanentemente.
Muitos vão a Jesus se justificando, dizendo: "Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade" (Mt 7:22, 23). Eles o conheciam. Eles o chamavam Senhor e faziam milagres em seu nome. Mas Ele não os conhecia.
Quem Jesus conhecerá? O apóstolo Paulo escreveu: "Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por Ele" (1 Co 8:3). Deus conhece aqueles que O amam.
Você pode dizer: "Eu amo a Deus. Eu só não amo aquele irmão que me magoou". Então, você está enganado e não ama a Deus, pois está escrito: "Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê" (1 Jo 4:20). O engano é algo terrível, porque os enganados acreditam de todo coração que estão certos. Acreditam que são de uma forma, mas são de outra. Aquele que se recusa a obedecer a Palavra engana a seu próprio coração.
Não é interessante que "muitos" acharão que vão entrar no céu e serão recusados, e que Jesus disse que muitos se escandalizarão nos últimos dias? (Mt 24:24) Será que esses dois grupos incluem as mesmas pessoas?
  Alguns crentes são tão atormentados pela falta de perdão, que esperam que a morte lhes traga alívio. Mas isso não é verdade. Devemos lidar com a falta de perdão agora, ou seremos chamados a pagar o impagável.

  3. Deus, o Pai, fará isso com qualquer crente que se recusar a perdoar de todo o coração - não importa o quanto foi magoado ou ofendido.

Jesus foi muito específico, tendo o cuidado de fazer-nos entender essa parábola. Em quase todas as parábolas Jesus não ofereceu a interpretação, a menos que seus discípulos tivessem pedido. Neste caso, porém, Ele não queria dúvida alguma sobre a severidade do julgamento dos que se recusavam a perdoar.
Em muitos outros casos Jesus também deixou claro que, se não perdoássemos, não seríamos perdoados. Lembre-se de que Ele não é como nós; Ele fala sério.
Isto nem sempre é encontrado na Igreja. Ao contrário: muitas desculpas são dadas para guardarmos a falta de perdão. A falta perdão é considerada um pecado menos importante que o homossexualismo, adultério, roubo, bebedice e assim por diante. Mas aqueles que o praticam não herdarão o reino de Deus, assim como aqueles que praticam outros pecados.
Alguns podem achar que esta mensagem é bastante difícil, vejo-a como uma mensagem de misericórdia e alerta, e não julgamento. Você prefere ser convencido pelo Espírito Santo agora e experimentar o arrependimento e o perdão genuínos? Ou recusar o perdão e ouvir o Mestre dizer "vai embora", quando você não puder mais arrepender?


Devemos de tal maneira nos abster da vingança que de bom grado correremos o risco de sermos abusados novamente.

12. Vingança: a armadilha


Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens (Rm 12:17).

Como vimos claramente no capítulo anterior, agarrar-nos à ofensa da falta de perdão é como não cancelar a dívida de alguém. Quando uma pessoa é magoada por alguém, ela acredita que há uma dívida a ser paga. Ela espera um pagamento de algum tipo, monetário ou não.
Nosso sistema judicial existe para vingar o que foi maltratado, a parte que sofre danos. Os processos resultam do fato de as pessoas tentarem quitar suas dívidas. Quando uma pessoa foi magoada por outra, a justiça humana diz: "Ela será mandada a julgamento e pagará se for considerada culpada". O servo que não perdoou queria que seu conservo pagasse por aquilo que devia, dessa forma buscou sua compensação no tribunal. Este não é o caminho da justiça divina.

Não vos vingueis a vós mesmos, amados, nem dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor (Rm 12:19).

Não é reto para nós, filhos de Deus, buscar nossa própria vingança. Mas é exatamente isso que fazemos quando nos recusamos a perdoar. Desejamos, buscamos, planejamos e executamos a vingança. Não perdoamos, até que a dívida seja totalmente saldada, e só nós podemos determinar a compensação aceitável. Quando buscamos corrigir o mal feito a nós, colocamo-nos na posição de juiz. Mas sabemos que:

Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas o teu próximo? [...] Não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas (Tg 4:12; 5:9).

Deus é o justo juiz. Ele trará julgamento reto. Mas retribuirá segundo sua justiça. Se alguém causou mal e genuinamente se arrepende, a morte de Jesus no Calvário cancela toda a dívida.
Você poderá dizer: "Mas o mal foi feito a mim, e não a Jesus!” Sim, mas você não percebe o mal que lhe fez. Ele era uma vítima inocente e carregou a culpa enquanto todos os homens pecaram e estavam condenados à morte. Cada um de nós quebrou as leis de Deus, que transcendem as leis dos homens. Todos nós deveríamos ser condenados à morte pela última instância do universo se a justiça prevalecesse.
Você pode não ter feito nada para provocar o mal que lhe foi causado, através das mãos de alguém. Mas se contrastar o que foi feito a você com o que lhe foi perdoado, não há comparação. Se você acha que foi passado para trás, perdeu a noção da misericórdia que lhe foi estendida..

Nenhuma área de rancor

De acordo com a aliança do Antigo Testamento, se você me infringisse algum mal eu teria direitos legais de pagar na mesma moeda. Havia permissão de cobrar uma dívida, pagando o mal com mal (veja Lv 24:19; Êx 21:23-25). A lei era tudo. Jesus não havia ainda morrido para os libertar. Veja como Ele se dirige aos crentes da nova aliança:

Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu porém vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes (Mt 5:38-42 - Destaques acrescidos).

Jesus elimina qualquer área de rancor. Na realidade, Ele diz que devemos abster-nos de vingar-nos que de bom grado corremos o risco der abusados novamente.
Quando buscamos corrigir o mal que nos foi feito, colocamo-nos na posição de sentir rancor. O servo que não perdoou em Mateus 18 fez isto quando pôs seu conservo na prisão. Em troca, o servo que não perdoou foi entregue aos verdugos, e sua família foi vendida até que pagasse toda a dívida.
Devemos dar espaço ao justo Juiz. Ele recompensa retamente. Só Ele julga com justiça.
Eu estava pregando sobre ofensa numa igreja em Tampa, Flórida. Após o culto, uma senhora me abordou. Ela disse que havia perdoado seu ex-marido de todo o mal que ele lhe tinha causado. Mas, conforme ela me ouvia falando sobre liberar as ofensas, percebeu que ainda não tinha paz interior e que estava incomodada.
  "Você ainda não o perdoou", eu lhe disse gentilmente. "Sim, perdoei”, disse ela. "Chorei lágrimas de perdão", "Você pode ter chorado, mas ainda não o liberou", eu lhe disse. Ela insistiu em que eu estava errado e que havia perdoado. "Eu não quero nada dele. Já o liberei". “Conte-me o que ele lhe fez", pedi.
"Meu marido e eu pastoreávamos uma igreja. Ele me deixou e a meus filhos, indo embora com uma mulher importante da igreja." Lágrimas brotaram de seus olhos. "Ele disse que não havia obedecido a Deus quando se casou comigo porque a perfeita vontade de Deus era que se casasse com aquela mulher com quem estava. Disse que ela era muito mais importante para seu ministério porque lhe dava muito mais apoio, que eu era impedimento muito crítica. Colocou toda a culpa do rompimento sobre mim. Nunca voltou e admitiu que tinha culpa também”.
Esse homem estava obviamente enganado e tinha causado um grande mal à esposa e a sua família. Ela havia sofrido muito com sua atitude e estava esperando que ele saldasse a dívida. A dívida não era pensão para os filhos ou coisa parecida, porque seu novo marido estava sustentando todos. A dívida que queria que pagasse era admitir que ele estava errado e ela certa.
“Você não o perdoará até que ele venha e diga que estava errado, que foi tudo culpa dele, não sua, e então peça seu perdão. Este é o pagamento que não foi feito e que a mantém cativa”, lhe expliquei.
Se Jesus tivesse esperado por nós para pedirmos desculpas, dizendo “Nós estávamos errados, o Senhor estava certo. Perdoe-nos” - Ele não nos teria perdoado na cruz. Quando foi colocado nela, gritou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23:34). Nos perdoou antes que nos achegássemos a Ele confessando nossas ofensas. Somos exortados com as palavras do Apóstolo Paulo: “Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós”. E, “antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou” (Ef 4:32)
Quando eu disse àquela senhora “Você não o perdoará até que ele diga 'Eu estava errado e você certa'”, lágrimas correram-lhe pelo rosto. O que ela queria parecia mínimo em comparação com toda a dor que ele lhe havia trazido e a sua família. Mas ela estava cativa da justiça humana. Ela se colocou como juiz, exigindo seus direitos à divida e esperando pelo pagamento. Essa ofensa impediu seu relacionamento com seu atual marido. Afetou também todos os seus relacionamentos com a autoridade masculina, porque seu ex-marido havia sido seu pastor também.
Geralmente, Jesus compara a condição do nosso coração com o solo. Somos advertidos a nos arraigarmos e edificarmos no amor de Deus. A semente da Palavra de Deus forma raízes em nosso coração e cresce para produzir frutos de justiça. Esse fruto é amor, alegria, paz, longanimidade, mansidão, benignidade, bondade, fidelidade e domínio próprio (veja Gl 5:22,23).
O solo só produz o que é plantado. Se plantamos sementes de dívida, falta de perdão e ofensa, uma outra raiz surgirá no lugar do amor de Deus. É chamada raiz de amargura.
Francis Frangipane deu uma excelente definição de amargura: “Amargura é a vingança não executada”. Ela é produzida quando a vingança não é satisfeita no grau que desejamos.
O escritor do livro de Hebreus fala diretamente sobre esse assunto:

Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados. (Hb.12:14,15 – Destaques acrescidos)

Note a expressão “muitos sejam contaminados”. Será que “muitos” são aqueles a quem Jesus se referiu que seriam escandalizados nos últimos dias? (veja Mt.24:10)
Amargura é uma raiz. Se as raízes forem aguadas, protegidas, adubadas e receberem atenção, crescerão em profundidade e força. Se não forem arrancadas logo, torna-se difícil puxá-las. A força da ofensa continuará a crescer. Somos, desse modo, exortados a não deixar o sol se pôr sobre a nossa ira (veja Ef 4:26). Em vez de o fruto de justiça ser produzido, veremos uma colheita de ódio, ressentimento, ciúme, raiva, contenda e discórdia. Jesus os chama de frutos maus (veja Mt.7:19, 20)
A Bíblia diz que uma pessoa que não busca a paz através da liberação das ofensas será eventualmente contaminada. Aquilo que é precioso acaba sendo corrompido pela mesquinhez da falta de perdão.

Um rei em potencial contaminado


Vimos anteriormente como Davi permaneceu fiel ao rei Saul, mesmo quando não era fiel a Davi. Davi não buscou vingar-se, mesmo quando teve duas oportunidades. Davi era um homem conforme o coração de Deus. Permitiu que Deus julgasse entre Saul e ele. Quando a justiça de Deus recaiu sobre Saul, Davi não se regozijou. Entristeceu-se por Saul porque não guardava rancor contra ele.
Após a morte de Saul, Davi ascendeu ao trono. Fortaleceu a nação, obteve sucesso militar e financeiro e guardava o trono com segurança. Casou-se com muitas mulheres que lhe deram filhos, incluindo Amnon seu filho mais velho, e Absalão, seu terceiro filho.
O filho de Davi, Amnon, cometeu uma terrível ofensa contra sua meio irmã, Tamar, que era irmã de Absalão. Ele fingiu estar doente e pediu ao pai que mandasse Tamar lhe servir comida. Quando ela foi, ordenou que seus servos saíssem e a estuprou. Depois, começou a desprezá-la e ordenou que a tirassem fora de sua vista. Ele desgraçou a vida de uma princesa real virgem, entregando-a à vergonha (veja 2ºSm 13).
Sem dizer palavra alguma a seu meio irmão, Absalão levou sua irmã para sua própria casa e providenciou tudo de que ela precisasse. Mas ele odiava Amnon por corromper Tamar.
Absalão esperava que seu pai punisse seu meio-irmão. O rei Davi se sentiu ultrajado com a maldade de Amnon, mas não tomou providência. Absalão ficou arrasado com a falta de justiça de seu pai.
Tamar se vestia com mantos reais, reservados para as filhas virgens do rei; agora, cobria-se de vergonha. Ela era uma linda jovem, e muito provavelmente era estimada pelo povo. Agora, vivia em reclusão, sem poder casar-se, porque não era mais virgem.
Não era justo. Ela serviu a Amnon por ordem do rei e foi estuprada. Sua vida se acabara, enquanto o homem que cometera essa atrocidade vivia como se não houvesse feito coisa alguma. Carregava toda essa carga sozinha, com a vida destruída.
Dia após dia, Absalão via sua irmã sofrendo. A existência perfeita de uma princesa se transformara em um pesadelo. Absalão esperou um ano para que seu pai fizesse algo, mas Davi nada fazia. Absalão se sentiu ofendido com seu pai e odiava cada vez mais o terrível Amnon.
Após dois anos de ódio contra Amnon, planejou matá-lo. "Vou vingar minha irmã, já que a autoridade decidiu nada fazer", provavelmente, Absalão pensou.
Absalão preparou um banquete para todos os filhos do rei. Quando Amnon não suspeitava de nada, providenciou sua morte e fugiu para Gesur. Sua vingança contra Amnon se cumprira. Mas a ofensa que tinha contra seu pai ficou mais forte, principalmente quando estava fora do palácio.
Os pensamentos de Absalão se contaminaram com amargura. Ele se tornou um perito em detectar os pontos fracos de Davi. Mesmo assim, esperava que seu pai o chamasse. Davi não o fez. Isso alimentou, ainda mais, o ressentimento de Absalão.
Talvez seus pensamentos tivessem sido: "Meu pai é adorado pelo povo, mas estão cegos em relação sua natureza verdadeira. Ele é apenas um homem egoísta que usa Deus como fachada. Bem, ele é pior que o rei Saul! Saul perdeu seu trono por não matar o rei dos amalequitas e poupar umas ovelhas e bois. Meu pai cometeu adultério com a mulher de um dos seus homens mais leais. Ele é um assassino e adúltero - por isso é que não puniu Amnon! E ele encobre tudo isso com uma falsa adoração a Jeová”.
Absalão ficou em Gesur durante três anos. Davi se conformara com a morte de seu filho Amnon, e Joab o havia convencido de trazer Absalão para casa. Mas Davi ainda se recusava a encontrar Absalão face a face. Dois anos mais se passaram e Davi, finalmente, teve Absalão de volta e lhe deu outra vez todos os privilégios. Mas a ofensa no coração de Absalão continuou ainda muito forte.
Absalão era belo em aparência. Antes de matar Amnon, "porém Absalão não falou com Amnon nem mal nem bem; porque odiava a Amnon" (2 Sm 13:22). Muitas pessoas são capazes de esconder suas ofensas e seu ódio, assim como Absalão o fez.
Por causa dessa atitude crítica, começou a atrair todos os que estavam descontentes. Ele se fez disponível a toda Israel, ouvindo todas as suas reclamações. Lamentava-se e achava que as coisas seriam bem diferentes se fosse rei. Julgava seus casos, uma vez que parecia que o rei não tinha tempo para eles. Talvez Absalão assim o fizesse porque sentia que a justiça não havia sido feita em relação a seu próprio caso,
Ele parecia preocupado com o povo. A Bíblia diz que Absalão conquistou o coração do povo de Israel. Mas será que estava genuinamente preocupado com o povo ou estava buscando um modo de destruir Davi, aquele que o ofendera?

Peritos em erros

Absalão conquistou Israel para si e voltou-se contra Davi. O rei teve de fugir de Jerusalém para salvar sua vida. Parecia que Absalão estabeleceria seu próprio reino. Em vez disso, foi morto quando o perseguia, embora Davi houvesse ordenado que não tocassem em Absalão.
Absalão, na realidade, foi morto por sua própria amargura e ofensa. Um homem com tanto potencial, herdeiro do trono, morreu em seu apogeu porque se recusou a liberar a dívida que achava que seu pai devia. Ele terminou contaminado.
Os assistentes de lideres de igrejas ficam, freqüentemente ofendidos com as pessoas a quem servem. Logo ficam bastante críticos - peritos em achar todos os tipos de erros que seus lideres, ou outras pessoas a quem eles nomeiam, cometem. Ficam ofendidos. Têm a visão distorcida. Enxergam numa perspectiva totalmente diferente de Deus. Acreditam que sua missão na vida é libertar aqueles à sua volta de um líder injusto. Conquistam o coração dos descontentes, desapontados e ignorantes e, antes que percebam, dividem a igreja ou o ministério. Exatamente como Absalão.
Algumas vezes, suas observações estão corretas. Talvez Davi devesse ter feito alguma coisa em relação a Amnon. Talvez um líder tenha áreas de erros. Quem é o juiz: você ou o Senhor? Lembre-se de que se você semear contenda colherá contenda.
O que aconteceu com Absalão e o que acontece com ministérios é um processo que leva tempo. Freqüentemente, não percebemos que uma ofensa entrou em nosso coração. A raiz de amargura ó raramente notada enquanto se desenvolve. Mas, como é nutrida, vai crescer e se fortalecer. Como o autor de Hebreus nos exorta, devemos atentar para que não "haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados" (Hb 12:15). Devemos examinar nosso coração e nos abrirmos à correção do Senhor, pois apenas sua Palavra pode discernir os pensamentos e as intenções do coração. O Espírito Santo nos convence quando fala através de nossa consciência. Não devemos ignorar seu convencimento ou sufocá-lo. Se alguém fez isso, arrependa-se diante de Deus e abra o coração para sua correção.
Certa vez, um pastor me perguntou se havia agido como Absalão em uma certa situação. Ele trabalhava como pastor auxiliar em uma cidade e o pastor titular o despediu. Tudo indicava que o pastor titular tinha ciúme e medo desse homem mais jovem, porque a mão de Deus estava sobre ele.
Um ano mais tarde, esse pastor que foi despedido acreditou em que o Senhor queria que começasse uma nova igreja no outro lado da cidade. Ele prosseguiu, e algumas das pessoas de sua igreja anterior foram juntar-se a ele. Estava incomodado porque não queria agir como Absalão, mas aparentemente não estava ofendido com o seu ex-pastor. Ele iniciou a nova igreja com a direção do Senhor e não como reação à falta de cuidado da outra igreja.
Eu lhe mostrei a diferença entre Absalão e Davi. Absalão conquistou o coração do povo de Israel porque se sentia ofendido pelo seu líder. Davi encorajou os outros a permanecerem fiéis a Saul, muito embora Saul o estivesse atacando. Absalão levou os homens com ele; Davi foi embora só.
"Você foi embora de sua igreja só?", perguntei-lhe. "Você fez alguma coisa para incentivar as pessoas a saírem com você, ou a apoiá-lo?"
  "Eu saí só e não fiz nada para atrair as pessoas a mim", ele disse. "Muito bem. Você agiu como Davi. Certifique-se se as pessoas que o procuraram não estão ofendidas com seu ex-pastor, e, se estiverem, leve-as à libertação e à cura", conclui.
A igreja desse homem está prosperando. O mais importante é que ele não estava com medo de examinar seu próprio coração. Não só isso, mas submeteu-se ao conselho divino. Era mais importante para ele submeter-se à vontade de Deus do que provar que estava "certo".
Não tenha medo de permitir que o Espírito Santo revele qualquer falta de perdão ou amargura. Quanto mais tempo você esconder esses sentimentos, mais fortes eles se tornarão, e seu coração ficará cada vez mais duro. Tenha um coração maleável. Como?

Longe de vós, toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, blasfêmia, e bem assim toda malícia. Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou (Ef 4:31, 32).


Você amadurece quando passa pelas ofensas
mais desafiadoras - aquelas para as quais você
não
foi treinado


13. Escapando da armadilha


Por isso, também me esforço por ter sempre consciência pura diante de Deus e dos homens (At 24:16).

Ficar livre de ofensa requer esforço. Paulo compara isso a um exercício. Se exercitamos nosso corpo, teremos menos tendência a nos machucar. Quando estava no Havaí, subi em um muro para tirar uma foto e distendi alguns músculos no meu joelho. Por quatro dias, não pude andar.
Se você estivesse se exercitando com regularidade", o médico me disse, "isso não teria acontecido. Porque seus músculos estão fora de forma, você é mais propenso a se machucar".
Quando já estava em condições de andar, um outro perito me instruiu: “Você precisa fazer esses exercícios para trazer os músculos do seu joelho de volta à forma e condição apropriadas". Levou alguns meses para que meu joelho voltasse ao normal.
A palavra grega, em Atos 24:16, para "esforçar" é askeo. O Vine's Dictionary define esforço como "chegar à dor, empenhar-se, exercitar por treinamento ou disciplina".
Algumas vezes, outros nos ofendem e não é fácil perdoá-los. Se exercitarmos nosso coração afim de que esteja em condição de lidar com a ofensa, nenhuma mágoa ou dano permanente resultará.
Muitos poderiam ter escalado daquele muro no Havaí sem se machucarem, porque estavam em forma. Do mesmo modo, alguns estão condicionados a obedecer a Deus exercitando o coração. Nosso grau de maturidade determina a habilidade que temos de lidar com uma ofensa sem nos magoarmos.
Algumas ofensas serão mais desafiadoras que outras para as quais fomos treinados. Esse esforço extra pode causar uma ferida. Após isso devemos exercitar-nos espiritualmente para sermos libertos e curados novamente. Mas o resultado valerá o esforço.
Neste capítulo, tratarei dessas ofensas extremas e intensas, que requerem mais esforço para solucioná-las.
Um incidente ocorreu em minha vida envolvendo alguém do ministério. Essa ofensa extrema que experimentei não foi isolada, mas uma dentre muitas com essa mesma pessoa, e que se intensificou durante um ano e meio.
Todos ao meu redor sabiam o que estava acontecendo. "Você não está magoado?" - perguntavam-me. "O que você vai fazer? Você vai ficar aí retraído sem reagir?"
"Estou bem", eu disse. "Não me afetou. Vou seguir com o meu chamado."
Mas minha resposta era, nada mais nada menos, do que orgulho. Eu estava extremamente magoado, mas negava até mesmo para mim, Passava horas tentando imaginar como tudo isso havia acontecido comigo. Eu estava chocado, amortecido e surpreso. Mas reprimia esses pensamentos e armava um forte muro de proteção, quando, na realidade eu estava fraco e profundamente magoado.
Meses se passaram. Tudo parecia árido, o ministério estava sem graça e eu sem ânimo para orar; estava atormentado. Diariamente, lutava contra demônios. Pensei que toda essa resistência fosse por causa do meu chamado, mas na realidade era que a falta de perdão me atormentava, Toda vez que estava perto desse homem, sentia-me espiritualmente massacrado.
Então, veio aquela manhã da qual nunca me esquecerei. Estava sentado na varanda orando. "Senhor, estou magoado?" - perguntei. Tão logo estas palavras deixaram meus lábios, ouvi um brado no mais profundo do meu espírito: Sim! Deus queria ter a certeza de que eu saberia que estava magoado. "Deus, por favor, ajude-me a sair desta mágoa e ofensa" eu lhe pedi. "É demais para mim lidar com isso".
Esse era o lugar exato onde o Senhor queria que eu estivesse: no final das minhas forças. Muito freqüentemente tentamos fazer as coisas com a força de nossa alma. Isso não faz com que cresçamos espiritualmente, ao contrário: ficamos mais suscetíveis à queda.
O primeiro passo para a cura e a libertação é reconhecer que estamos magoados. Geralmente, o orgulho nos impede de admitir que estamos machucados e ofendidos. Assim que admiti minha verdadeira condição, busquei o Senhor e fiquei aberto a sua correção.
Senti que o Senhor queria que eu jejuasse por alguns dias. O jejum me colocaria numa posição de sensibilidade à voz do Seu Espírito e me traria outros benefícios.

Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo? (Is 58:6)

Eu estava pronto para que as ligaduras da impiedade fossem quebradas e, então, ficar livre da opressão.
Alguns dias mais tarde, fui assistir a um culto fúnebre. O homem que me havia ofendido também estava lá. Do fundo da igreja, olhei para ele e comecei a chorar.
"Senhor, eu o perdoei. Eu o libero de tudo o que me fez." Imediatamente, senti o fardo ser tirado. Eu o perdoei. O alívio me inundou!
Mas esse era só o início do caminho para a recuperação. No meu coração o havia perdoado, mas não havia percebido a extensão da ferida. Eu ainda estava vulnerável e poderia ser magoado outra vez. Era exatamente como a recuperação de uma ferida física. Eu precisava exercitar, fortalecer meu coração, mente e emoções, para prevenir futuras feridas.

E a recaída?

Alguns meses se passaram. Ocasionalmente, tinha de lutar contra os mesmos pensamentos que tinha antes de perdoá-lo. Uma pessoa magoada poderá do mesmo modo trazer as mesmas reclamações a mim ou talvez eu visse o homem ou ouviria seu nome. Eu rejeitava esse pensamentos tão logo os percebia, e então os expulsava (veja 2ªCo 10: 5) Este era meu exercício, meu esforço para ficar livre.
Finalmente, perguntei ao Senhor como fazer para que esses pensamentos não me levassem novamente à falta de perdão. Sabia que Ele desejava um nível mais elevado de liberdade para mim e não queria passar o resto de minha vida retendo uma ofensa. O Senhor me instrui a orar por aquele homem que me havia magoado, lembrando-me suas Palavras: "Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem" (Mt 5:44).
Então, orei. Inicialmente, foi um voz seca, um monólogo, sem sombra de paixão. Por obrigação, eu acrescentava: "Senhor, abençoe-o. Dê-lhe um bom dia. Ajude-o em tudo que fizer. Em nome de Jesus Amém".
Isso continuou por algumas semanas. Parecia que não ia chega a lugar algum. Então, numa manhã, o Senhor me deu o Salmo 35; abri Bíblia e comecei a ler. Quando cheguei à metade, vi minha situação:

Levantam-se iníquas testemunhas e me argúem de coisas que eu não sei. Pagam-me o mal pelo bem, o que é desolação parei a minha alma (Sl.35:11, 12).

Pude identificar-me com Davi. Na minha opinião, o homem e seus associados me pagaram o mal pelo bem. Minha alma estava, definitivamente, triste. Deus estava usando esse Salmo para me mostrar as batalhas dos últimos anos. Uma passagem me fez pular alto o suficiente para quase tocar o teto.

Quanto a mim, porém estando eles enfermos, as minhas veste eram pano de saco; eu afligia a minha alma com jejum e em oração me reclinava sobre o peito, portava-me como se eles fossem meus amigos ou meus irmãos; andava curvado, de luto, como quem chora por sua mãe (Sl 35:13, 14 - Destaque acrescido).

Davi disseque esses homens estavam tentando destruí-lo. Eles o atacaram com mal, quando nada havia feito para merecê-lo.
Então, veio a resposta: "Quanto a mim..." A resposta de Davi não estava baseada nas ações dos outros. Determinado a fazer o que era correto, orou por eles como se fossem irmãos íntimos ou alguém que chora a perda da mãe. Deus estava me mostrando como orar por esse homem: "Ore por ele exatamente para que Eu lhe faça o mesmo que você quer que Eu lhe faça!"
Agora, minhas orações estão totalmente mudadas. Não é mais: “Deus abençoe-o e dê-lhe um bom dia". Elas se tornaram parte da minha vida. Ore: "Senhor, revele-se a ele de forma surpreendente. Abençoa-o com sua presença. Permita-lhe conhecer-te mais intimamente. Que ele seja agradável a ti e que traga honra a seu nome". Orei o que queria que Deus fizesse em minha própria vida.
Depois de um mês orando apaixonadamente por ele, gritei bem alto, "Eu o abençôo! Eu amo você no nome de Jesus!" Foi um grito que veio de dentro do meu espírito. Passei a orar por ele para seu próprio bem, e não para meu próprio bem. Creio que a cura esteja completamente feita.

A cura no confronto

Mais algumas semanas se passaram e o vi novamente. Uma sensação desconfortável se formou em meu coração. Ainda lutava com a vontade de ser crítico.
"Você precisa ir até ele, John", minha esposa falou. "Não, não preciso”, disse-lhe. "Estou curado agora."
Mas senti que o Espírito Santo testemunhou o que acabara de falar. Então, perguntei ao Senhor se eu precisava ir até ele. Ele disse que sim.
Marquei um encontro com o homem e levei-lhe um presente. Humilhei-me, confessei minha atitude errada e pedi-lhe perdão. Estamos reconciliados, e o perdão e a cura inundaram meu coração.
Saí de seu gabinete curado e fortalecido. Não tive mais de lutar contra a dor e a crítica. Nosso relacionamento tem ficado cada vez mais forte desde então, e nunca mais tive problema. Na realidade, damos muito apoio um ao outro.
"Quando conheci aquele homem", contei a Lisa, "a meu ver, ele não seria capaz de fazer nada de errado. Não vi falhas nele. Eu o amava porque pensei que fosse perfeito. Mas quando fui magoado ficou difícil de amá-lo. Tive de usar toda minha fé para isso. Agora que passei por este processo de restauração e fui curado, amo-o com a mesma intensidade de quando o conheci, apesar de qualquer falha. É um amor maduro."
Este versículo veio-me à mente:

Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados (1 Pe 4:8).

É fácil amar aqueles que não podem fazer mal a nossos olhos. Esse é amor de lua-de-mel. É uma coisa bem diferente amar quando vemos as falhas, principalmente quando somos as vítimas. O amor de Deus estava me amadurecendo, fortalecendo meu coração.
Desde então, casos semelhantes apareceram, mas não levou tempo para liberar as ofensas. A razão: meu coração estava exercitado e fortalecido. Durante esses meses, parecia que não ia chegar a lugar algum. Na realidade, eu achava que havia até piorado.
Mas eu estava no caminho certo para a recuperação. O Espírito do Senhor me guiou num ritmo que eu podia agüentar. Era parte do meu processo de amadurecimento. Eu não trocaria essa experiência por nada e sou grato pelo crescimento que ela trouxe a minha vida.

Amadurecendo através das dificuldades

Crescemos em tempos difíceis e não nos fáceis. Encontraremos lugares áridos na nossa jornada com o Senhor. Não podemos escapar, precisamos enfrentá-los, porque são parte do processo para nos aperfeiçoarmos nele. Se você decidir escapar, estará comprometendo seriamente o seu crescimento.
Quando você supera diferentes obstáculos, fica mais forte e mais compassivo. Você se apaixonará mais por Jesus. Se passou pela dificuldade e não se sente dessa forma, provavelmente não se recuperou da ofensa. A recuperação é uma escolha sua. Algumas pessoas se machucam e nunca se recuperam. Pode parecer uma coisa cruel de dizer, mas foi decisão própria.
Jesus aprendeu obediência com as coisas que sofreu. Pedro aprendeu obediência pelas coisas que sofreu. Paulo aprendeu obediência pelas coisas que sofreu. E você? Aprendeu? Ou está duro, insensível, frio, amargo e ressentido? Então, não aprendeu obediência.
Sim, é verdade, algumas ofensas não se vão tão facilmente. Você terá de lutar para se libertar. Mas nesse processo você crescerá e amadurecerá.
A maturidade não vem tão facilmente. Se viesse, tudo resultaria nela. Poucos alcançam esse nível na vida por causa da resistência que enfrentam. Há resistência porque as pessoas são é egoístas. O mundo é dominado pelo "príncipe da potestade do ar" (Ef 2:2). Como resultado, para chegarmos à maturidade de Cristo haverá dificuldades que advêm quando estamos contra o fluxo do egoísmo.
Paulo retornou a três cidades onde plantou igrejas. Seu propósito era fortalecer a alma dos discípulos. É interessante, porém, ver como ele os fortaleceu. Ele os encorajou:

“Exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At 14:22).

Ele não lhes prometeu uma vida fácil e sucesso de acordo com os padrões do mundo. Ele lhes mostrou que, se terminassem o percurso com alegria, iriam encontrar muita resistência, que ele chamou de tribulação. Se você está remando num rio contra a correnteza, terá de remar continuamente a fim de progredir contra o fluxo do rio. Se parar de remar e relaxar, eventualmente seguirá junto com a correnteza. Mesmo assim, quando estamos determinados a prosseguir no caminho de Deus, vamos encontrar muitas tribulações. Todas as provações mostrarão resposta a uma questão principal: você vai preocupar-se com você mesmo como o mundo faz, ou vai viver uma vida de autonegação?
Lembre-se de que quando perdemos nossa vida por causa de Jesus vamos encontrar a sua vida. Aprenda a fixar seu foco no resultado final, não no conflito.
Pedro coloca isso muito bem:

Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando (1 Pe 4:12, 13).

Perceba que ele compara a extensão do sofrimento à extensão da alegria. Como você pode alegrar-se tanto assim? Quando sua glória é revelada, você será glorificado com Ele. Esse processo de glorificação se dá à medida que você lhe permite aperfeiçoar o caráter dEle dentro de você. Então, não olhe para a ofensa. Olhe para a glória por vir. Aleluia!


É mais importante ajudar um irmão que tropeça
do que provar que você está correto.

14. Objetivo: Reconciliação


Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem, lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo. Se pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta (Mt 5:21-24).

Esta citação vem do Sermão do Monte. Jesus começou dizendo: “Ouvistes que foi dito aos antigos..." Depois Ele diz: "Eu, porém, vos digo..”.
Jesus continua esta comparação por toda esta porção de sua mensagem. Primeiro, cita a lei que regula os nossos atos de aparência exterior. Depois, mostra seu cumprimento ao trazê-la para o coração. Assim, aos olhos de Deus, um assassino não é apenas aquele que comete assassinato; é também aquele que odeia seu irmão. O seu coração determina como você realmente é.
Jesus claramente delineia as conseqüências da ofensa nessa porção do seu sermão. Ilustra a severidade de alguém guardar rancor e amarga ofensa. Se alguém se ira contra seu irmão sem uma causa, está sujeito a julgamento. Ele está sujeito a julgamento no tribunal se a ira der frutos e chamar seu irmão raca!
A palavra raca significa cabeça-oca, ou tolo. Era um termo de reprovação usado entre os judeus na época de Cristo. Se a ira atingisse uma pessoa a ponto de ela chamar um irmão de tolo, estava sujeita a ir para o inferno. A palavra tolo significa "ser sem deus". O tolo diz em seu coração que não há Deus (veja Salmo 14:1). Naquele tempo, chamar um irmão de tolo era uma acusação bem séria. Ninguém diria estas palavra, a menos que a raiva se tornasse ódio. Hoje, seria comparado a falar com um irmão "vá para o inferno", realmente falando sério.
Jesus estava-lhes mostrando que, se não começassem a lidar com a raiva, ela se transformaria em ódio. O ódio que não é tratado o levaria a ser sujeito a ir para o inferno. Dessa forma, lembrando-se de que o irmão foi ofendido, a pessoa teria como prioridade encontrá-lo e buscar a reconciliação.
Por que devemos buscar com tanta urgência a reconciliação - por nós mesmos ou por nosso irmão? Por nosso irmão, porque assim faremos com que ele se livre da ofensa. Mesmo que não estejamos ofendidos com ele, o amor de Deus não permite que permaneça com raiva sem que primeiro haja um tentativa de alcançá-lo e restaurá-lo. Talvez não tivéssemos feito nada de errado. Certo ou errado, não importa. É mais importante ajudar um irmão que tropeçou do que provar que estamo corretos.
As possibilidades para uma ofensa são ilimitadas. Talvez a pessoa a quem ofendemos acredite que fomos injustos, quando na realidade não lhe fizemos mal algum. Ela pode ter recebido uma informação errada, que a levou à conclusão incorreta. Por outro lado, pode ter recebido a informação correta, de onde tirou suas conclusões. O que dissemos pode ter sido totalmente distorcido enquanto a informação era passada de um para o outro. Embora nossa intenção não fosse magoar, nossas palavras e ações deram uma aparência diferente.
Geralmente, julgamo-nos por nossas intenções, enquanto os outros, por suas ações. É possível ter um tipo de intenção enquanto comunicamos algo totalmente diferente. Algumas vezes, nossos verdadeiros motivos estão habilmente escondidos até mesmo de nós mesmos. Queremos acreditar que são puros. Mas, quando os filtramos através Palavra de Deus, nós os vemos de modo diferente.
Finalmente, talvez tenhamos pecado contra a pessoa. Estávamos com raiva ou sob pressão, e a pessoa foi atingida. Ou ele pode ter estado constantemente ou deliberadamente nos repreendendo, e respondendo na mesma moeda.
Não importa a causa, o entendimento da pessoa ofendida está confuso e ela baseia em seus julgamentos em suposições, fofocas aparências, enganando-se, mesmo crendo que discernia nosso verdadeiro motivo. Como podemos julgar corretamente sem as informações corretas? Devemos estar sensíveis ao fato de que ela crê de todo o coração, que foi injustiçada. Independentemente da razão que a faz sentir-se desse modo, devemos estar prontos para nos humilhar e nos desculpar.
Jesus nos exorta à reconciliação, mesmo que a ofensa não seja nossa culpa. Precisamos de maturidade para andar em humildade, que traz reconciliação. Mas, dar o primeiro passo, é sempre mais difícil para aquele que está magoado. Por isso, Jesus diz àquele que causou a ofensa para "ir primeiro a ele..."

Pedindo perdão àquele que foi ofendido

O Apóstolo Paulo disse:

Assim, pois, seguimos as coisas da paz e também as da edificação de uns para com os outros (Rm 14:19).

Isso nos mostra como devemos tratar a pessoa ofendida. Se formos com uma atitude de frustração, não promoveremos a paz. Só estaremos dificultando as coisas para ela. Temos de manter uma atitude de quem segue as coisas da paz através da humildade à custa de nosso orgulho. É a única forma de garantirmos a verdadeira reconciliação.
Em certas ocasiões, tenho procurado pessoas a quem magoei, ou que estão com raiva de mim e me tratam com severidade. Dizem que fui egoísta, sem consideração, orgulhoso, rude, áspero e assim por diante.
Minha resposta antes tinha sido: "Não sou. Você é que não me compreende!" Mas, quando me defendo, coloco mais lenha na fogueira. Isso não é seguir as coisas da paz. Defender-nos e aos "nossos direitos" nunca trará paz real.
Ao contrário de dar essa resposta, tenho aprendido a ouvir e a manter minha boca fechada até que tenham dito aquilo de que precisam. Se eu não concordar, deixo-as saber que respeito o que disseram e que reavaliarei minha atitude e intenção. Aí, então, desculpo-me por tê-la magoado.
Outras vezes essas pessoas estão corretas em sua análise. Eu admito: "Você está correto. Peço perdão".
Repito que isso simplesmente significa nos humilharmos para promover a reconciliação. Talvez seja por isso que Jesus disse n versículos seguintes:

Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz, ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão. Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último centavo (Mt 5:25, 26).

O orgulho defende. A humildade concorda e diz: "Você está certo. Eu agi dessa forma. Por favor, perdoe-me".

A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento (Tg 3:17 - Destaque acrescido).

A sabedoria de Deus é tratável, pronta para ceder. Não é teimosa quando se trata de conflitos pessoais. A pessoa que se submete sabedoria de Deus não teme ceder ao ponto de vista do outro, contanto que este não viole a verdade.

Abordando aquele que o ofendeu

Agora que discutimos o que fazer quando ofendemos um irmão, vamos considerar o que fazer quando um irmão nos ofende.

Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão (Mt 18:15).

Muitos aplicam os versículos da Bíblia de maneira diferente da que Jesus pretendia. Se foram magoados, confrontam o ofensor num espírito de revanche e ódio. Usam esse versículo para condenar aquele que os magoou. Mas não compreendem a verdadeira razão de Jesus tê-los instruído a ir até o irmão. Não é para condenar, mas para reconciliar. Ele não quer que falemos a nosso irmão como foi horrível conosco. Devemos remover a brecha que nos impede de restaurar nosso relacionamento.
Esse é um paralelo de como Deus nos restaura. Pecamos contra Deus, mas Ele "prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rm 5:8). Estamos dispostos a baixar nossa guarda e morrer para o orgulho para sermos restaurados àquele que nos ofendeu? Deus nos alcançou antes que tivéssemos pedido perdão. Jesus decidiu perdoar-nos antes que tivesse reconhecido nossa ofensa.
Mesmo tendo nos alcançado, não poderíamos ser reconciliados com o Pai até que recebêssemos sua palavra de reconciliação:

Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilies com Deus (2 Co 5:18-20-Destaques acrescidos)

A palavra de reconciliação começa com a aceitação de que todos pecamos contra Deus. Não desejamos a reconciliação ou a salvação, a menos que saibamos que há um separação.
No Novo Testamento, os discípulos pregavam que o povo havia pecado contra Deus. Mas por que dizer-lhes que haviam pecado? Para condená-los? Deus não condena. "Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele" (Jo 3:17). Para fazê-los perceber sua condição, arrependerem-se dos pecados e pedirem perdão?
Que leva o homem ao arrependimento? A resposta é encontrada em Romanos 2:4:

Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te coduz ao arrependimento? (Destaque acrescido)

A bondade de Deus nos leva ao arrependimento. Seu amor não nos deixa ser condenados ao inferno. Ele provou seu amor quando enviou Jesus, seu único filho, à cruz para morrer por nós. Deus nos alcança primeiro, mesmo que tenhamos pecado contra Ele. Nos alcança não para nos condenar, mas para nos restaurar - salvar.
Uma vez que devemos imitar Deus (veja Ef 5:1), devemos estender a reconciliação ao irmão que pecou contra nós. Jesus estabeleceu este padrão: vá até ele e mostre-lhe seu pecado, não para condená-lo, mas para remover qualquer coisa que existe entre vocês dois, e assim serem reconciliados e restaurados. A bondade de Deus em nós vai levar nosso irmão ao arrependimento e à restauração do relacionamento.

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4:1-3).

Mantemos esse laço de amor quando temos uma atitude de humildade, de mansidão e de longanimidade, suportando as fraquezas uns dos outros em amor. Assim, os laços de amor são fortalecidos.
Magoei muitas pessoas que me haviam confrontado com condenação. Como resultado, perdi toda a vontade de me reconciliar. Na realidade eu achava que elas não queriam a reconciliação; elas apenas queriam que soubesse que estavam chateadas.
Outros que magoei vieram a mim em mansidão. Então, rapidamente mudei minha atitude e pedi perdão - algumas vezes, até mesmo antes que terminassem de falar.
Alguém já veio até você e lhe disse: "Só quero que saiba que eu o perdôo por não ser um amigo melhor e por não fazer isto ou aquilo por mim"- e depois, quando já acabou com você, encara-o e diz: "Você me deve desculpas?"
Você fica perplexo, confuso e magoado. Essa pessoa não veio para reconciliar-se, mas para intimidá-lo e controlá-lo.
Não devemos ir até o irmão que nos ofendeu até que tenhamos decidido perdoá-lo de todo o coração - não importa como ele irá reagir. Devemos livrar-nos de qualquer sentimento de animosidade em relação aele antes de abordá-lo. Caso contrário, provavelmente reagiremos aos sentimentos negativos e o magoaremos, em vez de curá-lo.
Que acontece se temos a atitude certa e tentamos reconciliar-nos com alguém que pecou contra nós, mas não está nem aí?

Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano (Mt 18:16, 17).

Cada uma dessas etapas tem o mesmo objetivo: reconciliação. Na realidade, Jesus está dizendo: "Continue tentando". Note que o que cometeu a ofensa está envolvido em cada etapa. Muito freqüentemente levamos as ofensas a todos antes mesmo de ir até àquele que pecou contra nós, como Jesus nos ordenou! Fazemos isso porque ainda não soubemos lidar com nosso coração. Sentimo-nos justificados quando contamos a todos o nosso lado da história. Quando alguém concorda que fomos injustiçados, nosso caso é fortalecido e somos confortados. Esse é um comportamento egoísta.


Conclusão


Se mantivermos o amor de Deus como nossa motivação, não fracassaremos. O amor nunca falha. Como amamos os outros do modo como Jesus nos amou, estaremos livres, mesmo se a outra pessoa decidir não se reconciliar conosco. Observe atentamente o texto a seguir. A misericórdia de Deus está disponível a todas as situações:

"Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens" (Rm 12:18).

Ele diz "Se possível..." porque haverá momentos em que os outros se recusarão a ter paz conosco. Ou poderá haver condições para a reconciliação que colocarão em risco nosso relacionamento com o Senhor. Qualquer que seja o caso, não será possível restaurar o relacionamento.
Note que Deus diz "... quanto depender de vós". Devemos fazer tudo o que pudermos para nos reconciliarmos com a outra pessoa, contanto que permaneçamos leais à verdade. Geralmente, desistimos muito facilmente dos relacionamentos. Nunca me esquecerei de uma vez em que um amigo me aconselhou a não fugir de uma difícil situação: "John, sei que você pode achar razões na Bíblia para fugir. Antes que você faça isso, tenha a certeza de que colocou isso em oração e fez tudo o que podia para trazer a paz de Deus a essa situação". Acrescentou: "Você nunca se arrependerá se um dia, olhando para trás, perguntar-se se fez tudo que podia para salvar o relacionamento. É melhor saber que você não tinha mais recursos e que você fez o possível, sem colocar em risco a verdade"
Fiquei muito grato pelo conselho e o reconheci como sabedoria de Deus.
Lembre-se das palavras de Jesus: "Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus" (Mt 5:9).
Ele não disse "Bem-aventurados os mantenedores da paz". Os mantenedores da paz evitam confronto a qualquer preço para manter a paz, mesmo pondo em risco a verdade. Mas a paz que mantêm não é paz verdadeira. É uma paz frágil, superficial, que não dura.
Um pacificador confronta em amor, trazendo a verdade para que a reconciliação resultante perdure. Não manterá um relacionamento superficial e artificial. Deseja transparência, verdade e amor. Ele se recusa, com um sorriso político, a esconder as ofensas. Faz a paz com um amor ousado, que não fracassa.
Deus age dessa forma com a humanidade. Ele não deseja que pereçamos. Mas não coloca em risco a verdade, não em termos superficiais. Isso desenvolve um laço de amor que nenhum mal pode quebrar. Ele deu sua vida por nós. A única coisa que podemos fazer é retribuir da mesma forma.
Lembre-se de que a conclusão é o amor de Deus. Ele nunca falha, nunca desfalece, nunca termina. Não busca seus próprios interesses. Não se ofende facilmente (1ªCo 13:5).
O Apóstolo Paulo escreve que o amor supera todos os tipos de pecado:

E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus (Fp 1:9-11- Destaques acrescidos).

O amor de Deus é a chave para a libertação da isca da ofensa. Esse amor deve aumentar continuamente e se fortalecer em nosso coração.
Muitos em nossa sociedade são enganados com um amor superficial, um amor que fala, mas não age. O amor que nos impede de tropeçar dá sua própria vida de modo abnegado - mesmo até para o bem do inimigo. Quando andamos nesse tipo de amor, não seremos seduzidos a cair na isca de Satanás.


Epílogo: Tomando uma atitude


Enquanto você lia este livro, o Espírito de Deus pode ter lembrado você dos relacionamentos, do passado ou do presente, dos quais guarda mágoa. Sinto que o Senhor está me instruindo para pedir-lhe que faça uma oração simples de libertação comigo.
Mas, antes de orar, peça ao Espírito Santo que caminhe com você no passado, trazendo à memória pessoas de quem você guarda mágoa, Aquiete-se diante dele enquanto Ele lhe mostra quem são essas pessoas. Não precisa sair à caça de algo que não existe. Ele lhe mostrara claramente para que não fique dúvidas. Quando Ele o fizer, você talvez se lembre da dor que experimentou. Não tenha medo. Ele estará bem ao seu lado, confortando-o.
Quando você liberar essas pessoas da vergonha do que fizeram com você, imagine cada uma delas individualmente. Perdoe cada um separadamente. Cancele a dívida que têm para com você. Faça uma oração, mas não se sinta limitado por estas palavras. Use esta oração como orientação e seja guiado pelo Espírito de Deus.

"Pai, no nome de Jesus, eu reconheço que pequei contra ti por não perdoar aqueles que me ofenderam. Eu me arrependo disso e peço o teu perdão.
Também reconheço minha incapacidade de perdoar sem tua ajuda. Assim, de todo o coração, eu decidi perdoar. [Diga aqui os nomes das pessoas - libere cada uma individualmente]. Tudo o que fizeram para comigo deposito sob o sangue de Jesus. Eles não me devem mais nada. Cancelo todos os seus pecados contra mim.
Meu Pai celeste, como o meu Senhor Jesus Cristo pediu a ti que perdoasse aqueles que o ofenderam, oro para que teu perdão cubra aqueles que pecaram contra mim.
Peço que os abençoe e os leve a um relacionamento íntimo Contigo. Amém."

Agora escreva o nome daqueles que você liberou num diário ou registro para que saiba que nessa data você decidiu perdoar-lhes.
Você precisa exercitar a libertação da ofensa. Releia o capítulo 13 se não compreendeu esta frase. Estabeleça um compromisso de orar por eles, assim como ora por você mesmo. O diário vai ajudá-lo a se lembrar. Se os pensamentos continuarem a bombardear sua mente, expulse-os com a Palavra de Deus e declare sua decisão de perdoar. Você pediu a graça de Deus para perdoar, e a falta de perdão não é mais forte que a graça. Esteja atento e lute o bom combate da fé.
Quando souber que seu coração está forte e estável, vá até eles. Lembre-se de que vai com o propósito da reconciliação para o benefício deles, não para o seu próprio. Fazendo isso, selará a vitória. Você ganhará um irmão (veja Mt 18:15). Isso é agradável aos olhos de Deus.

Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória, ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém! (Jd 24, 25)