Autoridade Espiritual

CAPÍTULO 1

A importância da autoridade

Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magis­trados não são para temor quando se faz o bem, e, sim, quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela; visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. Ê necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. Por esse motivo também pagais tributos: porque são ministros de Deus, atendendo constantemen­te a este serviço. Pagai a todos o que lhes é devido; a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra (Rm. 13:1-7).

Ele, que é o resplendor da glória e a ex­pressão exata do seu Ser, sustentando todas as cousas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas (Hb. 1:3).

Como caíste do céu, ó estrela da manhã, fi­lho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das es­trelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, nas ex­tremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo (Is. 14:12-14).
 E não nos deixes cair em ten­tação; mas livra-nos do mal (Mt. 6:13).

E, levantando-se o sumo sacerdote, pergun­tou a Jesus: Nada respondes ao que estes de­põem contra ti? Jesus, porém, guardou silên­cio. E o sumo sacerdote lhe disse: Eu te con­juro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. Respondeu-lhe Je­sus: Tu o disseste; entretanto, eu vos declaro que desde agora vereis o Filho do homem as­sentado à direita do Todo-poderoso, e vindo sobre as nuvens do céu (Mt. 26:62-64).




O trono de Deus estabelecido sobre autoridade

Deus age a partir do seu trono, e o seu trono está estabelecido sobre a sua autoridade. Todas as coisas são criadas pela autoridade de Deus e todas as leis físicas do universo são mantidas através de sua autoridade. Por isso a Bíblia diz que Deus está "sustentando todas as cousas pela palavra do seu poder", o que significa que todas as coisas são mantidas pela palavra do poder de sua autoridade. Pois a autoridade divina  representa o próprio Deus enquanto o seu poder se expressa apenas pelos seus atos. O pecado contra o poder é mais facilmente perdoado do que o pecado contra a autoridade, porque este é um pecado contra o próprio Deus. Só Deus é autoridade em todas as coisas; toda a autoridade da terra foi instituída por Deus. A autoridade é uma coisa tremenda no universo — nada a so­brepuja. Portanto é imperativo que nós que de­sejamos servir a Deus conheçamos a autoridade de Deus.

A origem de Satanás

O arcanjo transformou-se em Satanás quando tentou usurpar a autoridade de Deus, competir com Deus, e assim se tornou um adversário de Deus. Foi a rebeldia que provocou a queda de Satanás.
Tanto Isaías 14:12-15 como Ezequiel 28:13-17 falam da ascensão e queda de Satanás. A pri­meira passagem, entretanto, enfatiza como Sa­tanás violou a autoridade divina enquanto a se­gunda enfatiza sua transgressão contra a santi­dade de Deus. Ofender a autoridade de Deus é uma rebeldia bem mais séria do que ofender a santidade de Deus. Considerando que é uma ques­tão de conduta, o pecado é mais facilmente per­doado do que a rebeldia, pois esta última é uma questão de princípio. A intenção de Satanás de estabelecer o seu trono acima do trono de Deus foi o que violou a autoridade de Deus; foi o princípio da auto-exaltação. O ato do pecado não foi o que provocou a queda de Satanás; esse ato não passou do produto de sua rebeldia contra a autoridade. Foi a rebeldia que Deus condenou. Quando servimos a Deus não devemos desobe­decer às autoridades, porque isso é um princípio satânico. Como podemos pregar a Cristo de acor­do com o princípio de Satanás? Pois é possível em nossa obra permanecermos com Cristo em doutrina e, ao mesmo tempo, permanecermos com Satanás em princípio. Que coisa iníqua pre­sumirmos que estamos executando a obra do Se­nhor. Por favor, observe que Satanás não tem medo quando pregamos a palavra de Cristo, mas como tem medo quando nos submetemos à au­toridade de Cristo! Nós que servimos a Deus jamais deveríamos servi-lo de acordo com o prin­cípio de Satanás. Sempre que o princípio de Cris­to está operando, o de Satanás se desvanece. Sa­tanás continua sendo um usurpador; ele será derrotado no fim dos tempos segundo o livro do Apocalipse. Se quisermos verdadeiramente servir a Deus temos de nos purificar comple­tamente do princípio de Satanás.
Na oração que nosso Senhor ensinou à sua igreja, a expressão "e não nos deixes cair em tentação" destaca a obra de Satanás, enquanto a expressão "mas livra-nos do mal" refere-se diretamente ao próprio Satanás. Imediatamente após estas palavras o Senhor faz uma declaração muitíssimo significante: "pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém" (Mt. 6:13). Todo reino, autoridade e glória pertencem a Deus e somente a ele. O que nos liberta total­mente de Satanás é a percepção desta preciosíssi­ma verdade — que o reino é de Deus. Conside­rando que todo o universo está sob o domínio de Deus, temos de nos sujeitar à sua autoridade. Que ninguém usurpe a glória de Deus.
Satanás mostrou todos os reinos da terra ao Senhor, mas o Senhor respondeu que o reino dos céus é de Deus. Temos de perceber de quem é a autoridade. Pregamos o evangelho a fim de colocarmos os homens sob a autoridade de Deus, mas como podemos estabelecer a autoridade de Deus na terra se nós mesmos ainda não a conhe­cemos? Como nos seria possível enfrentar Sa­tanás?

Autoridade, a controvérsia do universo

A controvérsia do universo centraliza-se sobre quem deve ter autoridade, e nosso conflito com Satanás é o resultado direto de atribuirmos autoridade a Deus. Para manter a autoridade de Deus temos de nos submeter a ela com todo o nosso coração. É absolutamente necessário que reconheçamos a autoridade de Deus e que pos­suamos uma noção básica do que ela significa.
Antes de reconhecer a autoridade, Paulo tentou acabar com a igreja; depois de se encontrar com o Senhor na estrada de Damasco entendeu que era difícil recalcitrar (o poder humano) contra os aguilhões (autoridade divina). Imediatamente caiu ao chão e reconheceu Jesus como Senhor. Depois disso, foi capaz de se submeter à orien­tação que lhe foi dada por Ananias na cidade de Damasco, pois Paulo tomara conhecimento da autoridade de Deus. No momento em que foi salvo, reconheceu a autoridade de Deus além da salvação de Deus. Como podia Paulo, que era inteligente e capa­citado, dar ouvido às palavras de Ananias — um humilde e desconhecido irmão que só foi men­cionado uma única vez na Bíblia — se não reco­nhecesse a autoridade de Deus? Se não tivesse tido um encontro com a autoridade na estrada de Damasco jamais se teria sujeitado a esse obs­curo e humilde irmão na cidade. Isto nos faz ver que todo aquele que conhece a autoridade lida puramente com a autoridade e não com o ho­mem. Não consideremos o homem mas unica­mente a autoridade investida nele. Não obedeça­mos ao homem mas à autoridade de Deus que está nesse homem. De outro modo, como po­deríamos ficar sabendo o que é autoridade? Es­tamos trilhando uma estrada errada se vemos o homem primeiro, antes de obedecer à autorida­de. O oposto é o certo. Nesse caso não nos fará di­ferença quem é o homem.
Deus tem o propósito de manifestar sua auto­ridade ao mundo através da igreja. A autorida­de de Deus pode ser percebida na coordenação dos diversos membros do corpo de Cristo.
Deus usa seu poder máximo para manter sua autoridade; por isso a coisa mais difícil de en­frentar é a sua autoridade. Nós que somos tão cheios de justiça própria e ainda assim tão ce­gos, precisamos, uma vez em nossa vida, ter um encontro com a autoridade de Deus para sermos quebrantados até à submissão e assim começar a aprender a obedecer a essa autoridade. Antes que um homem se sujeite à autoridade delegada por Deus, é preciso que reconheça a autoridade ine­rente a Deus.

 Obediência à vontade de Deus — a maior das exigências da Bíblia

A maior das exigências que Deus faz ao homem não é a de carregar a cruz, servir, fazer ofertas, ou negar-se a si mesmo. A maior das exigências é que obedeça. Deus ordenou que Saul atacasse os amalequitas e os destruísse totalmente (1 Sm. 15). Mas, após a vitória, Saul poupou Agague, o rei dos amalequitas, junto com o que havia de melhor entre os bois e as ovelhas, os cordeiros e animais mais gordos e todas as coisas valiosas. Saul não quis destruí-los; argumentou que os poupara para sacrificá-los a Deus. Mas Samuel lhe disse: "Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor do que a gor­dura de carneiros" (versículo 22). Os sacrifícios mencionados aqui eram ofertas de cheiro suave — não tendo nada a ver com o pecado, pois as ofertas pelo pecado jamais foram chamadas de ofertas de cheiro suave. Eram oferecidas para aceitação e satisfação de Deus. Por que Samuel disse que "obedecer é melhor do que sacrificar"? Porque mesmo no sacrifício pode haver o elemen­to da vontade própria. Só a obediência honra a Deus de maneira absoluta pois só ela coloca a vontade de Deus no centro.
Para que a autoridade se expresse é preciso que haja submissão. Se é preciso que haja submissão, o ego precisa ficar excluído; mas de acordo com o ego, a submissão torna-se impossível. Isto só se torna possível quando alguém vive no Es­pírito. É a mais alta expressão da vontade de Deus.

 A oração de nosso Senhor no Getsêmani

quem pense que a oração de nosso Senhor no Getsêmani, quando o seu suor se transfor­mou em gotas de sangue, foi devido à fraqueza de sua carne, ao temor que tinha de beber o cáli­ce. De modo nenhum, pois a oração no Getsêmani fundamenta-se no mesmo princípio de 1 Samuel 15:22. É a oração suprema na qual nosso Senhor expressa sua obediência à autoridade de Deus. Nosso Senhor considerava o obedecer à auto­ridade de Deus mais importante do que o sa-crificar-se sobre a cruz. Ele ora sinceramente para conhecer a vontade de Deus. Ele não diz: "Eu quero ser crucificado, eu tenho de beber o cálice." Simplesmente insiste em obedecer. Na realidade, diz: "Se houver possibilidade de não subir à cruz", mas ainda aqui não é a sua von­tade que se destaca. Imediatamente ele conti­nua, dizendo: "mas seja feita a tua vontade."
A vontade de Deus é absoluta; o cálice (isto é, a crucificação) não é absoluto. Se Deus prefe­risse que o Senhor não fosse crucificado, então ele não teria de subir à cruz. Antes de conhecer a vontade de Deus, o cálice e a vontade de Deus eram duas coisas separadas; contudo, depois que tomou conhecimento que era de Deus, o cálice e a vontade de Deus se mesclaram numa só coisa. A vontade representa autoridade. Portanto, para conhecer a vontade de Deus e obedecê-la é pre­ciso sujeitar-se à autoridade. Mas como alguém pode sujeitar-se à autoridade se não ora ou não tem desejo de conhecer a vontade de Deus?
"Não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?" disse o Senhor (João 18:11). Aqui ele sustenta a supremacia da autoridade de Deus, não de sua cruz. Mais adiante, tendo compreen­dido que beber o cálice — isto é, ser crucificado para expiação — é a vontade de Deus, imedia­tamente diz: "Levantai-vos, vamos!" (Mt. 26:46). Indo à cruz ele realiza a vontade de Deus. Conse­quentemente a morte do Senhor é a mais alta expressão de obediência à autoridade. Mesmo a cruz, o ponto culminante do universo, não pode ser mais importante do que a vontade de Deus. Jesus considera a autoridade de Deus (a vontade de Deus) mais importante que a sua própria cruz (seu sacrifício).
No servir a Deus não somos chamados à ab­negação ou ao sacrifício, mas a cumprir o pro­pósito de Deus. O princípio básico não é o de escolher a cruz mas de obedecer à von­tade de Deus. Se o princípio sobre o qual tra­balhamos e servimos inclui rebeldia, então Satanás receberá e desfrutará a glória mesmo através de nossos sacrifícios. Saul poderia ofere­cer bois e ovelhas, mas Deus jamais os aceitaria como sacrifícios oferecidos a ele porque havia um princípio satânico envolvido. Eis por que as Escrituras declaram que "a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar" (1 Sm. 15:23).
Na qualidade de servos de Deus, a primeira coisa que temos de fazer é travar relações com a autoridade. Entrar em contato com a autoridade é coisa tão prática como entrar em contato com a salvação, mas é uma lição mais profunda. An­tes de podermos trabalhar para Deus temos de ser conquistados por sua autoridade. Todo o nosso relacionamento com Deus é regulado pelo fato de termos ou não travado relações com a autoridade. Em caso afirmativo encontraremos a autoridade em todos os lugares, e sendo assim governados por Deus, podemos começar a ser usados por ele.

Como nosso Senhor e Paulo agiram em juízo

Mateus 26 registra o julgamento duplo que nos­so Senhor enfrentou após seu aprisionamento. Diante do sumo sacerdote ele recebeu julgamento religioso e diante de Pilatos, julgamento polí­tico. Quando foi julgado por Pilatos, o Senhor não respondeu, pois não se encontrava sob a jurisdição terrena. Mas quando o sumo sacerdote o conjurou pelo Deus vivo, então lhe deu respos­ta. Isto é obediência à autoridade. Conforme registrado em Atos 23, quando Paulo estava sen­do julgado imediatamente se submeteu ao des­cobrir que Ananias era o sumo sacerdote de Deus.
Por isso, nós que trabalhamos, temos de en­frentar face a face a autoridade. Caso contrário, nosso trabalho ficará sob o princípio rebelde de Satanás e trabalharemos sem o conhecimento da vontade de Deus. Não estaremos sob o prin­cípio da obediência à autoridade. Mas é somente trabalhando na obediência à autoridade que po­demos trabalhar de acordo com a vontade de Deus. Oh! isto realmente exige uma grande re­velação!
Em Mateus 7:21-23 encontramos nosso Senhor repreendendo aqueles que profetizam e expulsam demônios e fazem muitas coisas grandiosas em seu nome. Por que foram censurados? Porque o seu ponto de partida foi o ego; eles mesmos faziam coisas em nome do Senhor. Esta é a ati-vidade da carne. Por isso nosso Senhor declarou--os malfeitores e não seus obreiros. Ele enfatiza que só a pessoa que faz a vontade do seu Pai entrará no reino de céus. Só isto constitui obe­diência à vontade de Deus, isto que se origina com Deus. Não temos de procurar trabalho para fazer, mas temos de ser enviados por Deus para trabalhar. Quando entendermos isto, realmente experimentaremos a realidade da autoridade do reino dos céus.

Para perceber a autoridade é preciso uma grande revelação

Há dois importantes aspectos no universo: con­fiar na salvação de Deus e obedecer à sua auto­ridade. Confiar e obedecer. A Bíblia define o pecado como transgressão (1 João 3:4). A palavra em Romanos 2:12 "sem" lei é o mesmo que "con­tra" a lei. A transgressão é desobediência à autori­dade de Deus; e isto é pecado. Pecar é uma ques­tão de conduta, mas transgressão e uma ques­tão de atitude do coração. O presente século caracteriza-se pela transgressão. O mundo está cheio do pecado de transgressão, e logo o fruto desse pecado aparecerá. A autoridade no mundo está sendo cada vez mais solapada até que, final­mente, todas as autoridades serão destituídas e a transgressão governará.
Saibamos que no universo existem dois prin­cípios: o da autoridade de Deus e o da rebeldia satânica. Não podemos servir a Deus e simulta­neamente andar pelo caminho da rebeldia reve­lando um espírito rebelde. Satanás ri quando uma pessoa rebelde prega a palavra, pois nessa pessoa habita o princípio satânico. O princípio do serviço tem de ser a autoridade. Vamos ou não vamos obedecer à autoridade de Deus? Nós que servimos a Deus temos de perceber este cri­tério básico da autoridade. Alguém que já tenha experimentado um choque elétrico sabe que não pode ser descuidado com eletricidade. Do mesmo modo, uma pessoa que já foi ferida pela autori­dade de Deus, a partir daí mantém os olhos aber­tos para julgar o que é transgressão nela mesma e nos outros.
Que Deus nos conceda a graça de nos livrar da rebeldia. Só depois que reconhecemos a auto­ridade de Deus e aprendemos a obedecer podemos orientar os seus filhos pelo caminho da retidão.

CAPITULO 2

Exemplos de rebeldia no Antigo Testamento

1. A QUEDA DE ADÃO E EVA

E lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não come­rás; porque no dia em que dela comeres, cer­tamente morrerás (Gn. 2:16-17).
Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: Ê assim que Deus dis­se: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis, conhecedores do bem e do mal. Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar enten­dimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu (Gn. 3:1-6).
Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores (Rm. 5:19).

A queda do homem devido à desobediência

Vamos recapitular a história de Adão e Eva conforme registrada em Génesis, capítulos 2 e 3. Depois que Deus criou Adão, encarregou-o de algumas coisas; entre estas estava a ordem de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. O ponto crucial dessa recomenda­ção foi mais do que a proibição de comer certo fruto; antes, significava que Deus estava colocan­do Adão sob autoridade para que aprendesse a obedecer. De um lado, Deus colocou todas as coi­sas criadas na terra sob a autoridade de Adão pa­ra que ele as dominasse; mas, por outro lado, Deus colocou o próprio Adão debaixo de sua autoridade para que ele pudesse obedecer à au­toridade. Só aquele que está debaixo de auto­ridade  pode  constituir  uma  autoridade.
De acordo com a ordem da criação divina, Deus criou Adão antes de criar Eva. Colocou Adão em posição de autoridade e Eva sob a autoridade de Adão. Estabeleceu os dois: um como autorida­de e o outro em submissão. Tanto na velha como na nova criação, esta ordem de prioridades cons­titui a base da autoridade. Todo aquele que for criado primeiro é a autoridade; todo aquele que for salvo primeiro será a autoridade. Portanto, onde quer que vamos, nosso primeiro pensamen­to deve ser o de descobrir quem são aqueles aos quais Deus quer que nos sujeitemos. Podemos en­contrar a autoridade em qualquer lugar e apren­der a obedecer à autoridade a qualquer hora.
A queda do homem deve-se à desobediência à autoridade de Deus. Em lugar de obedecer a Adão, Eva tomou sua própria decisão ao verificar se o fruto era bom e agradável à vista. Ela descobriu a cabeça. Ao comer o fruto não o fez em sujeição, mas de sua própria vontade. Além de transgre­dir a ordem de Deus também desobedeceu a Adão. Rebelar-se contra a autoridade represen­tativa de Deus é o mesmo que rebelar-se contra Deus. Ao dar ouvidos à Eva e comer do fruto proibido, Adão pecou contra a vontade direta de Deus; portanto ele também desobedeceu à autoridade de Deus. Isto também foi rebeldia.

Todo trabalho deve ser prestado em obediência

Eva não foi colocada só sob a autoridade de Deus, mas também, na ordem divina, sob a auto­ridade de Adão. Ela tinha de obedecer a uma autoridade dupla. E a nossa posição hoje em dia não difere disso. Eva, vendo que o fruto era bom para se comer, comeu-o sem perguntar a quem estava obedecendo. Mas, desde o princípio Deus ordenara ao homem que obedecesse e que não fizesse a sua própria vontade. A atitude de Eva, entretanto, não foi governada pela obediência; foi iniciativa de sua própria vontade. Ela não se sujeitou à ordem divina, nem obedeceu à auto­ridade de Deus. Pelo contrário, tomou sua pró­pria decisão. Rebelou-se contra Deus e caiu. Toda atitude que implica desobediência constitui uma queda, e qualquer atitude de desobediência é rebeldia.
Conforme a obediência de um homem vai cres­cendo, suas ações decrescem. Quando começamos a seguir o Senhor ficamos cheios de atividade, mas bastante falhos na obediência. Mas, conforme avançamos em espiritualidade, nossas ações gradualmente diminuem até que ficamos cheios de obediência. Muitos, entretanto, fazem o que gostam e recusam-se a fazer o que não gostam. Jamais meditam sobre se estão agindo em obediência. Por isso muito trabalho passa a ser executado pelo ego e não em obediência a Deus.

Certo ou errado, está na mão de Deus

A ação do homem não deve ser governada pelo conhecimento do bem ou do mal; deve ser motivada pelo senso de obediência. O princípio do bem e do mal é viver de acordo com o que é certo ou errado. Antes de Adão e Eva comerem do fruto proibido, o que era certo e errado para eles estava na mão de Deus. Se não vivessem diante de Deus, não saberiam nada, pois o que era certo e errado para eles se encontrava real­mente no próprio Deus. Consequentemente, de­pois da queda os homens não precisaram mais descobrir em Deus o senso do certo e do errado, Já o tinham neles mesmos. Este foi o resultado da queda. A obra da redenção é levar-nos de volta ao lugar onde encontramos o que é certo ou errado para nós em Deus.

Os cristãos devem obedecer à autoridade

Não existe nenhuma autoridade que não pro­ceda de Deus; todas as autoridades foram insti­tuídas por ele. Quando procuramos encontrar a fonte de toda autoridade, encontramo-la invaria­velmente em Deus. Deus está acima de toda autoridade, e todas as autoridades estão debaixo dele. Quando entramos em contato com a auto­ridade de Deus, entramos em contato com o pró­prio Deus. A obra de Deus se efetua basicamente não pelo poder mas pela autoridade. Ele mantém todas as coisas pela poderosa palavra de sua au­toridade, exatamente como as criou pela mesma palavra. Sua palavra de ordem é autoridade. Nós não sabemos como a autoridade de Deus ope­ra; não obstante, sabemos que ele realiza tudo através dela.
O amado servo de um centurião estava doente. O centurião sabia que se encontrava sob autori­dade e em autoridade sobre outros. Por isso pediu ao Senhor que apenas dissesse uma palavra, crendo que a cura se efetuaria — pois toda a autoridade não se encontra na mão do Senhor? Ele creu na autoridade do Senhor. Não nos causa admiração que o Senhor elogiasse a sua grande fé: "Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta" (Mt. 8:10). Entrar em contato com a autoridade de Deus é o mesmo que entrar em contato com Deus. Hoje em dia o universo está cheio de autoridades estabele­cidas por Deus. Tudo se encontra sob sua auto­ridade. Sempre que uma pessoa peca contra a autoridade de Deus peca contra Deus. Todos os cristãos devem, portanto, aprender a obedecer à autoridade.



A primeira lição que um obreiro tem de aprender é obediência à autoridade

Estamos sob a autoridade dos homens como também   temos homens sob nossa autoridade. Esta é a nossa posição. Até mesmo o Senhor Jesus na terra não só se encontrava sob a auto­ridade de Deus mas também sob a autoridade de outros. A autoridade se encontra em toda parte. Há autoridade na escola, há autoridade no lar. O guarda na rua, embora talvez tenha menos instrução que você, foi estabelecido por Deus como autoridade sobre você. Sempre que alguns irmãos em Cristo se reúnem, imediata­mente estabelece-se uma ordem espiritual. Um obreiro cristão deveria saber quem está acima dele. Alguns não sabem quais são as autoridades que estão acima deles, por isso não obedecem. Não deveríamos nos preocupar com o certo e o errado, com o bem ou o mal; antes, deveríamos saber quem é a autoridade sobre nós. Quando ficamos sabendo a quem devemos estar sujeitos, naturalmente encontramos nosso lugar no corpo. Quantos cristãos hoje em dia não têm a menor ideia do que seja submissão. É por isso que exis­te tanta confusão e desordem. Por causa disto, a obediência à autoridade é a primeira lição que um obreiro deveria aprender; e também ocupa um grande lugar no trabalho propriamente dito.

A obediência deve ser recuperada

Desde a queda de Adão prevalece a desordem no universo. Cada um pensa que é capaz de dis­tinguir o bem do mal e julgar o que é certo e o que é errado. Pensam saber melhor do que Deus. Isto é a loucura da queda. Temos de ser libertos de tal engano, porque nada mais é que rebeldia.
Nosso conceito de obediência é tristemente ina- dequado. Alguns parecem pensar que sua obediência é perfeita e total quando obedecem ao Senhor no batismo. Muitos jovens estudantes consideram injustiça a ordem divina de obedecer aos professores. Muitas esposas consideram uma crueldade total a ordem divina de ficarem su­jeitas a maridos difíceis. Inúmeros cristãos estão vivendo hoje em dia em um estado de rebeldia; não aprenderam nem a primeira lição de obe­diência.
A sujeição que a Bíblia ensina relaciona-se com a sujeição às autoridades estabelecidas por Deus. Como era superficial a antiga apresentação da obediência! A obediência é um princípio funda­mental. Se esta questão da autoridade permane­cer sem solução, nada pode ser resolvido. Assim como a fé é o princípio pelo qual obtemos vida, a obediência é o princípio pelo qual a vida é vivida. As divisões e desentendimentos frequentes dentro da igreja brotam da rebeldia. A fim de recuperar a autoridade, a obediência tem de ser primeiramente restaurada. Muitos têm cultivado o hábito de assumir o papel de cabeça, mas nem sequer aprenderam a obedecer. Por isso temos de aprender uma lição. Que a obediência seja a nossa primeira reação. Deus não nos tem privado de nada no que se refere à autoridade. Ele já nos demonstrou como ficar sujeitos a ambas, a auto­ridade direta e indireta. Muitos declaram que sabem como obedecer a Deus, mas na realidade nada sabem sobre a obediência à autoridade de­legada. Considerando que todas as autoridades vêm de Deus, temos de aprender a obedecer a to­das elas. Os problemas que enfrentamos nos dias de hoje devem-se ao fato de viverem os homens fora da autoridade de Deus.


Nenhuma unidade no corpo sem a autoridade da cabeça

Deus está operando na recuperação da uni­dade do corpo. Mas para que isto se realize é preciso que primeiro receba a vida da Cabeça, seguida da autoridade da mesma. Sem a vida da Cabeça não pode haver corpo. Sem a autoridade da Cabeça não pode haver unidade do corpo. Pa­ra manter a unidade do corpo temos de permi­tir que a vida da Cabeça governe.
Deus quer que obedeçamos às autoridades de­legadas por ele assim como a ele. Todos os mem­bros do corpo deveriam se sujeitar uns aos ou­tros. Quando isto acontece, o corpo é unido em si mesmo e com a Cabeça. Quando a autoridade da Cabeça prevalece, a vontade de Deus se rea­liza. Assim a igreja se torna o reino de Deus.

Algumas lições sobre obediência

Mais cedo ou mais tarde, aqueles que servem a Deus tomam consciência da autoridade no uni­verso, na sociedade, no lar, na igreja. Como al­guém pode servir e obedecer a Deus, se jamais entrou em contato com a autoridade de Deus? Isto é mais do que uma questão de ensino ou doutrina, pois o ensino pode ser abstraio. Alguns acham que é muito difícil saber como obedecer à autoridade, mas se conhecemos a Deus a di­ficuldade se evapora. Não existe ninguém que possa obedecer à autoridade divina sem que a misericórdia de Deus esteja sobre ele. Vamos, portanto, aprender algumas lições:

1.  Tenha um espírito de obediência.

2.  Pratique a obediência. Alguns indivíduos são como os selvagens que simplesmente não conse­guem obedecer. Mas aqueles que são educados não se sentem embaraçados onde quer que sejam colocados. Naturalmente vivem a obediência.

3.  Aprenda a exercer a autoridade concedida. Aquele que trabalha para Deus não só precisa aprender a obedecer à autoridade mas também deve aprender a exercer a autoridade que lhe foi concedida por Deus na igreja e no lar. Quando você aprende a ficar sob a autoridade de Deus, você não se considera mais nada, mesmo que Deus lhe confie muito.
Alguns só aprendem a obedecer e fracassam no que se refere ao exercício da autoridade quando são enviados a algum lugar a fim de trabalhar. É preciso aprender a ficar sob a autoridade e também em posição de autoridade. A igreja sofre porque muitos não sabem obedecer, mas também é igualmente prejudicada através de alguns que não aprenderam a ficar em posição de auto­ridade.



CAPÍTULO 3

Exemplos de rebeldia no
Antigo Testamento
(continuação)

2. A  REBELDIA  DE CÃO

Sendo Noé lavrador, passou a plantar uma vinha. Bebendo do vinho, embriagou-se, e se pôs nu dentro de sua tenda. Cão, pai de Ca­naã, vendo a nudez do pai, fê-lo saber, fora, a seus dois irmãos. Então Sem e Jafé tomaram uma capa, puseram-na sobre os próprios om­bros de ambos e, andando de costas, rostos desviados, cobriram a nudez do pai, sem que a vissem. Despertando Noé do seu vinho, sou­be o que lho fizera o filho mais moço, e disse: Maldito seja Canaã; seja servo dos servos a seus irmãos. E ajuntou: Bendito seja o Se­nhor, Deus de Sem; e Canaã lhe seja servo. Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas ten­das de Sem; e Canaã lhe seja servo (9:20-27).

Fracasso na autoridade concedida é um teste para a obediência

No Jardim do Éden, Adão fracassou. Na vinha, Noé também foi derrotado, mas por causa de sua justiça Deus salvou a família de Noé. No plano de Deus, Noé era o cabeça da família. Deus co­locou toda a família sob a autoridade de Noé; ele também colocou Noé como cabeça do mundo daquele tempo.
Mas um dia Noé se embebedou em sua vinha e descobriu-se em sua tenda. Cão, seu filho mais jovem, viu a nudez de seu pai e comentou o incidente com seus dois irmãos lá fora. No que se refere à conduta de Noé, é claro que estava erra­do; ele não deveria ter-se embriagado. Mas Cão fracassou não reconhecendo a dignidade da auto­ridade. O pai é autoridade constituída por Deus no lar, mas a carne se deleita em ver defeitos na autoridade para poder se desem­baraçar de todas as restrições. Quando Cão viu a conduta imprópria de seu pai não teve o menor sentimento de vergonha ou tristeza, nem tentou encobrir a falta de seu pai. Isto revela que tinha um espírito rebelde. Pelo contrário, saiu e contou a seus irmãos, destacando a feal­dade de seu pai, acrescentando aos seus erros o pecado da injúria. Observe, entretanto, como Sem e Jafé resolveram a situação. Entraram na tenda, de costas — evitando, assim, ver a nudez de seu pai — e cobriram seu pai com a capa que tinham colocado sobre os ombros.
Vê-se então que o fracasso de Noé tornou-se uma prova para Sem, Cão, Jafé e Canaã, o filho de Cão. Revelou quem era obediente e quem era rebelde. A queda de Noé descobriu a rebeldia de Cão.
Depois que Noé despertou do vinho profetizou que os descendentes de Cão seriam amaldiçoados e se tornariam escravos dos escravos de seus irmãos. O primeiro escravo na Bíblia foi Cão. Três vezes pronunciou-se a sentença de que Ca-naã seria escravo. Isto é o mesmo que dizer que aquele que não se sujeita à autoridade vem a ser escravo daquele que obedece à autoridade. Sem seria abençoado. O Senhor Jesus veio atra­vés de Sem. Jafé foi destinado a pregar Cris­to, e assim as nações que propagam o evangelho hoje em dia pertencem aos descendentes de Jafé. O primeiro a ser amaldiçoado depois do dilúvio foi Cão. Não reconhecendo a autoridade, foi co­locado sob a autoridade nas gerações futuras. To­do aquele que deseja servir ao Senhor precisa reconhecer a autoridade} Ninguém pode servir em espírito de transgressão.

3. FOGO ESTRANHO  OFERECIDO POR NADABE E ABIÚ

Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e sobre este, incenso, o trouxeram fogo estranho perante a face do Senhor, o que lhes não ordenara. Estão saiu fogo de diante do Senhor, e os consumiu; e morreram perante o Senhor (Lv. 10:1, 2).

Por que Nadabe e Abiú foram consumidos

Como a história de Nadabe e Abiú é solene! Serviram como sacerdotes, não porque fossem pessoalmente justos mas porque pertenciam à família que Deus tinha escolhido. Deus estabe­leceu Arão como sacerdote e ele foi ungido. Em todas as questões relacionadas com o culto Arão era o chefe; seus filhos eram simples ajudantes, servindo no altar em obediência a Arão. Deus jamais teve a intenção de permitir que os filhos de Arão servissem independentemente; ele os colocou sob a autoridade de Arão. Doze vezes Arão e seus filhos foram mencionados em Le-vítico 8. No capítulo seguinte encontramos Arão oferecendo sacrifícios, com seus filhos ao lado. Se Arão nada fizesse, seus filhos também nada deveriam fazer. Tudo começou com Arão, não com seus filhos. Se os filhos se aventurassem a ofere­cer sacrifícios, estariam oferecendo fogo estra­nho. Isto, entretanto, foi exatamente o que Na-dabe e Abiú, os filhos de Arão, fizeram. Acharam que podiam oferecer sacrifícios por si mesmos e os ofereceram sem a ordem de Arão. O significado do fogo estranho é servir sem uma ordem, é ser­vir sem obedecer à autoridade. Tinham visto seu pai oferecendo; era mais do que simples para eles. E assim presumiram que podiam fazer a mesma coisa. Nadabe e Abiú só pensaram em se eram ou não capazes de fazer o mesmo. Fra­cassaram em perceber quem representava a au­toridade de Deus.

O culto é iniciado por Deus

Enfrentamos aqui um problema seríssimo: ser­vir a Deus e oferecer fogo estranho parecem-se muito, mas estão separados por um mundo de coisas. O verdadeiro culto é iniciado por Deus. Quando o homem serve sob a autoridade de Deus, é aceito por causa disso. O fogo estranho origina-se no homem. Não exige conhecimento da von­tade de Deus ou obediência à sua autoridade. É totalmente feito através do próprio zelo humano, e termina com a morte. Se acontece que nosso culto ou serviço se torna cada vez mais sem vida, é tempo de pedirmos a Deus que nos ilumine para vermos se estamos servindo no verdadeiro princípio do serviço ou de acordo com o princí­pio do fogo estranho.

A obra de Deus é a coordenação da autoridade

Nadabe e Abiú trabalharam separados de Arão; por isso trabalharam independentemente de Deus. O trabalho de Deus tem de ser coordenado sob autoridade: Deus queria que Nadabe e Abiú ser­vissem sob a autoridade de Arão. Observe no No­vo Testamento como Barnabé e Paulo, Paulo e Ti­móteo, Pedro e Marcos trabalharam juntos. Al­guns eram os responsáveis, enquanto os outros ajudaram. No trabalho de Deus ele coloca alguns em autoridade e outros sob autoridade. Deus nos chamou para sermos sacerdotes segundo a ordem de Melquizedeque; portanto, temos de ser­vir a Deus de acordo com a ordem da autoridade coordenada.
 Aquele que desordenadamente levanta a sua cabeça e age independentemente está sendo re­belde, o que resulta em morte. Todo aquele que tenta servir sem primeiro entrar em contato com a autoridade está oferecendo fogo estranho. Qualquer um que diz "Se ele pode, eu também posso" está em estado de rebeldia. Além de Deus  ter o cuidado de fornecer o fogo, ele também tem o cuidado de observar a natureza do fogo.  A rebeldia muda a natureza do fogo. Aquilo que não era ordenado por Jeová nem por Arão era fogo estranho Deus não se preocupa com a ques­tão do sacrifício mas com a manutenção da auto­ridade. Consequentemente os homens deveriam aprender a seguir, a sempre desempenhar um papel de menor importância.
Exatamente como a autoridade delegada segue a Deus, assim aqueles que estão sujeitos à auto­ridade deveriam seguir a autoridade delegada por Deus. Não há lugar para serviço individual isola-do. No trabalho espiritual todos devem servir em coordenação A coordenação é a regra; o indiví­duo não é a unidade. Nadabe e Abiú estavam fora da coordenação com Arão, portanto estavam fora da coordenação com Deus. Não deveriam ter deixado Arão, servindo independentemente. Aque­les que desobedecessem à autoridade deveriam ser consumidos pelo fogo diante de Deus. E em­bora Arão não tivesse consciência da seriedade deste assunto, Moisés percebeu a seriedade da rebeldia contra a autoridade de Deus. Hoje em dia muitos estão tentando servir a Deus          inde­pendentemente. Jamais se colocaram sob autori­dade; inconscientemente pecam contra a auto­ridade de Deus

4. O  ULTRAJE DE ARÃO   E MIRIÃ

Falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher etíope, que tomara; pois tinha tomado a mulher cusita. E   disseram:  Porventura tem falado o Senhor somente por Moisés? não tem falado também por nós? O Senhor o ouviu. Era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra. Logo o Senhor disse a Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três saí à tenda da congregação. E saíram eles três. Então o Se­nhor desceu na coluna da nuvem, e se pôs à porta da tenda; depois chamou a Arão e a Miriã, e eles se apresentaram. Então disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós há profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me faço conhecer, ou falo com ele em sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente, e não por enigmas; pois ele vê a forma do Senhor: como, pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moi­sés? E a ira do Senhor contra eles se acen­deu; e retirou-se. A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como a neve; e olhou Arão para Miriã; e eis que estava leprosa. Então disse Arão a Moisés: Ai! senhor meu, não ponhas, te rogo, sobre nós este pecado, pois loucamente proce­demos, e pecamos. Ora não seja ela como um aborto, que saindo do ventre de sua mãe, tenha metade de sua carne já consumida. Moisés clamou ao Senhor, dizendo: Ô Deus, rogo-te que a cures. Respondeu o Senhor a Moisés: Se seu pai lhe cuspira no rosto, não seria enver­gonhada por sete dias? Seja detida sete dias fora do arraial, e depois recolhida. Assim Miriã foi detida fora do arraial por sete dias; e o povo não partiu, enquanto Miriã não foi recolhida (Nm. 12).

Falar contra a autoridade representativa provoca a ira divina

Arão e Miriã eram os irmãos mais velhos de Moisés. Portanto, em casa, Moisés deveria se sujeitar à autoridade deles. Mas na vocação e no trabalho de Deus eles deveriam se sujeitar à autoridade de Moisés. Eles não gostaram da mu­lher etíope com quem Moisés se casou, por isso murmuraram contra Moisés dizendo: "Porventura tem falado o Senhor somente por Moisés? não tem falado também por nós?" Os etíopes são africanos, descendentes de Cão. Moisés não deve­ria ter-se casado com esta mulher etíope. Na posição de irmã mais velha, Miriã poderia ter repreendido seu irmão com base em seu rela­cionamento familiar. Mas quando ela abriu a boca para difamar, tocou na obra de Deus, pondo em dúvida a posição de Moisés.
Deus tinha concedido a Moisés sua autoridade delegada para o trabalho. Como erraram Arão e Miriã em atacar a posição de Moisés, com base numa questão familiar! Fora Deus quem escolhe­ra Moisés para dirigir o povo de Israel tirando-o do Egito, mas apesar disso Miriã desprezou Moi­sés. Por causa disto Deus se aborreceu grande­mente com ela. Ela podia avir-se com o irmão mas não injuriar a autoridade de Deus. O pro­blema foi que nem Arão nem Miriã reconheceram a autoridade de Deus. Permanecendo no terreno natural exibiram um coração rebelde.
Mas Moisés não revidou. Ele sabia que, tendo sido estabelecido por Deus como autoridade, não precisava defender-se. Todo aquele que o inju­riasse encontraria a morte. Enquanto Deus lhe desse autoridade podia permanecer em silêncio, Um leão não precisa de proteção, uma vez que tem em si autoridade total. Moisés podia repre­sentar Deus com autoridade porque antes ele mesmo se sujeitou à autoridade divina, pois ele era muito manso, mais do que todos os homens que habitavam a face da terra. A autoridade que Moisés representava era a própria autoridade de Deus. E ninguém pode tirar a autoridade conce­dida por Deus.
Palavras rebeldes sobem ao céu e são ouvidas por Deus. Quando Arão e Miriã pecaram contra Moisés, pecaram contra Deus que se encontrava em Moisés. A ira do Senhor foi acesa contra eles, Sempre que o homem entra em contato com au­toridade delegada por Deus, entra em contato com o próprio Deus que se encontra nessa pes­soa; pecar contra autoridade delegada é pecai contra Deus.  
                                                   
A autoridade é opção divina, não mérito humano

Deus convocou os três na tenda da congregação Arão   e Miriã  foram  sem  nenhuma  hesitação, porque pensaram que Deus estaria do lado deles e também porque tinham muito a dizer a Deus, uma vez que Moisés causara todos aqueles pro­blemas na família casando-se com uma mulher etíope. Mas Deus proclamou que Moisés era seu servo fiel em toda sua casa. Como se atreviam a falar contra o seu servo? Autoridade espiritual não é algo que se obtém através de esforços. concedida por Deus a quem quer que ele escolha Como o espiritual difere do natural!
              O próprio Deus é autoridade. É preciso tomar cuidado para que não se cometa ofensa. Qual­quer um que falasse contra Moisés falava contra o escolhido de Deus. Não desprezemos jamais os vasos escolhidos por Deus.



A rebeldia  se   manifestou  na  lepra

A ira do Senhor se acendeu contra eles e a nuvem se afastou da tenda. A presença de Deus desapareceu e imediatamente Miriã ficou branca de lepra. Sua lepra não surgiu devido à    conta­minação; foi claramente um castigo de Deus. Ser leprosa não era de maneira nenhuma coisa me­lhor do que ser uma mulher etíope. E ela que assim ficou leprosa teve de ficar isolada, perden­do todo privilégio de se comunicar com os outros.
Quando Arão viu que Miriã estava leprosa, rogou que Moisés agisse como mediador e orasse pedindo cura. Deus disse: "Se seu pai lhe cuspira no rosto, não seria envergonhada por sete dias? Seja detida sete dias fora do arraial, e depois recolhida." E, em resultado disto, a viagem da tenda ficou atrasada por sete dias. Sempre que há rebeldia e ofensa entre nós, perdemos o con-tato com Deus, e a tenda terrena permanece irre­movível. A coluna da nuvem divina não descerá até que aquelas palavras ofensivas tenham sido esclarecidas. Se esta questão da autoridade não for resolvida, tudo mais se torna vazio e inútil.

Além da autoridade direta, seja submisso à autoridade representativa

Muitos se consideram obedientes a Deus quan­do na realidade nada sabem sobre a sujeição à  autoridade delegada por Deus. Aquele que é ver­dadeiramente obediente descobrirá que a auto­ridade de Deus se encontra em todas as circuns­tâncias, no lar, e em outras instituições. Deus perguntou: "Como, pois, não temeste falar contra o meu servo?" É preciso prestar atenção especial sempre que palavras injuriosas forem enunciadas. Palavras tais não devem ser pronunciadas levia­namente. A injúria é prova de que há um es­pírito rebelde dentro da pessoa; é o germe da rebeldia. Temos de temer a Deus e não devemos falar levianamente. Mas existem hoje em dia aqueles que falam dos anciãos da igreja e da­queles que estão acima deles; não percebem a gravidade de tais palavras. Quando a igreja for reavivada na graça de Deus, aqueles que ofen­deram serão tratados como leprosos.
Que Deus nos conceda a graça de compreender que isto não se refere aos nossos irmãos, mas à autoridade instituída por Deus. Depois de reco­nhecermos a autoridade, perceberemos como pe­camos contra Deus. Nosso conceito de pecado passará por uma transformação drástica. Olha­remos para o pecado como Deus olha. Veremos que o pecado que Deus condena é o da rebeldia do homem.

5. A REBELIÃO  DE CORE, DATA E ABIRÃO

Rebelião Coletiva

Um exemplo de rebelião coletiva encontra-se no capítulo 16 de Números. Coré e seus com­panheiros pertenciam aos levitas; portanto, representavam os espirituais. Por outro lado, Data e Abirão eram filhos de Ruben, e portanto repre­sentavam os líderes. Todos estes, junto com du­zentos e cinquenta líderes da congregação, re­solveram rebelar-se contra Moisés e Arão. Arbi­trariamente atacaram os dois, dizendo: "Bas­ta! pois que toda a congregação é santa, cada um deles é santo, e o Senhor está no meio deles; por que, pois, vos exaltais sobre a congregação do Senhor?" Foram desrespeitosos para com Moi­sés e Arão. Talvez fossem bastante honestos no que disseram, mas falharam em ver a autorida­de do Senhor. Consideraram o assunto como pro­blema pessoal, como se não houvesse autoridade entre o povo de Deus. No seu ataque não men­cionaram o relacionamento de Moisés com Deus nem o mandamento de Deus.
Não obstante, mesmo debaixo dessas sérias acu­sações, Moisés não se zangou nem perdeu o  con­trole de si mesmo. Simplesmente caiu sobre o seu rosto diante do Senhor. Considerando que a autoridade pertence ao Senhor, ele não usou de nenhuma autoridade nem fez nada ele mesmo. Disse a Core e ao seu grupo que esperassem até a manhã seguinte quando o Senhor mostraria quem era dele e quem era santo. Assim ele en­frentou o espírito do erro com o espírito de justiça.
O que Core e seu partido disseram baseava-se na razão e em conjecturas; Moisés, entretanto, respondeu: "Amanhã pela manhã o Senhor fará saber quem é dele, e quem o santo que ele fará chegar a si: aquele a quem escolher fará chegar a si" (versículo 5). O problema não era de Moi­sés, mas do Senhor. O povo pensava que estava simplesmente se opondo a Moisés e Arão; não tinha a menor intenção de se rebelar contra Deus, pois ainda desejava servi-lo. Apenas des­prezou Moisés e Arão.
 Mas Deus e sua autoridade delegada são inse­paráveis. Não é possível manter uma atitude para com Deus e outra atitude para com Moisés e Arão. Ninguém pode rejeitar a autoridade dele­gada por Deus com uma mão e receber Deus com a outra. Se eles se submetessem à autoridade de Moisés e Arão estariam sujeitos a Deus.
Moisés, portanto, não se elevou por causa da autoridade que lhe foi concedida por Deus. Pelo contrário, ele se humilhou sob a autoridade de Deus e respondeu ao seu acusador com mansi­dão, dizendo: "Fazei isto: tomai vós incensários, Core e todo o seu grupo; e, pondo fogo neles amanhã, sobre eles deitai incenso perante o Se­nhor; e será que o homem a quem o Senhor es­colher, este será o santo" (versículos 6-7). Sendo mais amadurecido, previa as consequências; por isso suspirou: "Ouvi agora, filhos de levi... Acaso é para vós outros cousa de somenos que o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, a fim de cumprirdes o serviço do tabernáculo do Senhor e estar pe­rante a congregação para ministrar-lhe ...? Pelo que tu e todo o teu grupo juntos estais contra o Senhor" (versículos 8-11).
Datã e Abirão não estavam presentes no mo­mento. Pois quando Moisés mandou  chamá-los, recusaram-se a vir e resmungaram: "Porventura é cousa de somenos que nos fizeste subir de uma terra que mana leite e mel (Egito), para fazer-nos morrer neste deserto, senão que também queres fazer-te príncipe sobre nós?" (versículos 13-14.) Sua atitude foi de muita rebeldia. Não criam na promessa de Deus; o que esperavam eram bên­çãos terrenas. Esqueceram-se que foi devido às suas próprias faltas que não entraram em Canaã; pelo contrário, falaram asperamente contra Moisés.

Deus eliminou a rebeldia do seu povo

A esta altura a ira de Moisés despertou. Em lugar de falar com eles, orou a Deus. Quantas vezes a rebeldia do homem força a mão do juízo de Deus. Dez vezes os israelitas tentaram a Deus e cinco vezes deixaram de crer nele, e Deus se controlou e lhes perdoou; mas por causa desta re­beldia Deus resolveu julgar. Deus disse: "E os consumirei num momento" (veja versículo 21); ele extirparia a rebeldia do meio do seu povo. Mas Moisés e Arão caíram com o rosto em terra e oraram: "Acaso por pecar um só homem, in-dignar-te-ás contra toda esta congregação?" (ver­sículo 22). Deus atendeu às orações deles mas julgou Core e o seu grupo. A autoridade estabele­cida por Deus era a pessoa a quem Israel tinha de ouvir. Até o próprio Deus testificou diante dos israelitas que ele também aceitaria as palavras de Moisés.
A rebeldia é um princípio infernal. Aquela gen­te se rebelou e as portas do inferno se abriram. A terra abriu a sua boca e engoliu todos os ho­mens que pertenciam a Core, Data e Abirão e todos os seus bens. Portanto eles e tudo quanto lhes pertencia desceram vivos ao abismo (ver­sículos 32-33). As portas do inferno não prevalecerão contra a igreja, mas um espírito rebelde abre suas portas. Um dos motivos por que a igreja às vezes não prevalece é a presença da rebeldia. A terra não abrirá sua boca se não houver um espírito rebelde. Todos os pecados libertam o poder da morte, mas o pecado da     re­beldia é o principal. Só os obedientes podem fechar as portas do inferno e produzir vida.         
Os obedientes seguem a fé, não a razão
Para os israelitas a queixa de que Moisés não os tinha levado para uma terra que mana leite e mel, nem lhes tinha dado uma herança de campos e vinhas, não era sem motivos. Continua­vam no deserto e ainda não tinham entrado na terra do leite e mel. Mas, por favor, observe; aquele que anda segundo a razão e a vista segue o caminho da razão; só aquele que obedece à autoridade entra  em Canaã pela fé. Ninguém que segue a razão pode andar pelo caminho es- piritual, porque está além e acima do raciocínio humano. Só o fiel pode desfrutar de abundância espiritual, aquele que pela fé aceita a coluna de nuvem e de fogo e a liderança de autoridade de­legada por Deus como a representada por Moisés, A terra abre sua boca para apressar a queda dos desobedientes no Sheol, pois estão viajando pelo caminho da morte. Os olhos dos desobedien­tes são bastante vivos, mas, que pena!  tudo o que vêem é a esterilidade do deserto. Embora os que prosseguem pela fé possam parecer cegos, pois não percebem a esterilidade diante deles, os olhos de sua fé vêem a promessa melhor que jaz adiante. E assim entram em Canaã. Portanto, os
homens deveriam ficar sob a restrição da autori­dade de Deus a aprender a seguir a autoridade delegada por Deus. Aqueles que só se relacionam com os pais, irmãos e irmãs não sabem o que é autoridade e, portanto, não se encontraram ain­da com Deus. Resumindo, então, a autoridade não é um assunto de instrução externa mas uma revelação interna.
A  rebeldia  é  contagiosa Há dois exemplos de rebeldia em Números 16. Do versículo 1 ao versículo 40 os líderes se re­belaram; do versículo 41 ao versículo 50 toda a congregação se rebelou. O espírito de rebeldia é muito contagioso. O julgamento dos duzentos e  cinquenta líderes que ofereceram incenso não  deteve toda a congregação. Continuou rebelde,  declarando que Moisés matara seus líderes. Mas  Moisés e Arão não podiam ordenar à terra que  abrisse a sua boca! Fora ordem de Deus. Moisés  não podia invocar fogo para consumir o povo!  O fogo veio do Senhor Deus. Os olhos humanos só vêem os homens; não  sabem que a autoridade vem de Deus. Tais pessoas são tão atrevidas que não temem mesmo  quando  presenciam o  juízo. Como  é perigoso ignorar a autoridade. Quando toda a congregação se reuniu contra Moisés e Arão, a glória do  Senhor apareceu. Isto foi prova de que a autoridade pertencia a Deus. Deus se apresentou para  executar o juízo. Começou uma  praga e qua­torze mil e setecentas pessoas morreram por causa da praga. No meio disso, a percepção espiritual  de Moisés tornou-se mais aguda; imediatamente  pediu a Arão que tomasse o seu incensário e o acendesse no altar e que colocasse incenso nele, levando-o rapidamente à congregação para fazer expiação pelo povo. E enquanto Arão se colocou entre os mortos e os vivos, a praga foi interrom­pida.
Deus ignorou suas murmurações no deserto dez vezes, mas não permitiria.que resistissem à sua autoridade. Muitos pecados! Deus pode supor­tar e ignorar, mas a rebeldia ele não permite, porque a rebeldia é o princípio da morte, o prin­cípio de Satanás. Portanto, o pecado da rebeldia, é mais sério do que qualquer outro pecado.Sem­pre quando o homem resiste à autoridade, Deus julga imediatamente. Que coisa  solene!


CAPÍTULO 4

O conhecimento que Davi tinha da autoridade

Então os homens de Davi lhe disseram: Hoje é o dia, do qual o Senhor te disse: Eis que te entrego nas mãos o teu inimigo e far-lhe-ás o que bem te parecer. Levantou-se Davi, e furtivamente cortou a orla do manto de Saul. Sucedeu, porém, que, depois sentiu Davi bater-lhe o coração, por ter cortado a or­la do manto de Saul; e disse aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal cousa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor (1 Sm. U-.U-6).
Davi, porém, respondeu a Abisai: Não o mates, pois quem haverá que estenda a mão contra o ungido do Senhor, e fique inocente? ... O Senhor me guarde, de que eu estenda a mão contra o seu ungido (1 Sm. 26:9, 11).
Davi lhe disse: Como não temeste estender a mão para matares o ungido do Senhor? (2 Sm. 1:1b).

Davi não buscou o trono ao preço da rebeldia

Quando o reino de Israel foi estabelecido, Deus inaugurou formalmente a sua autoridade sobre a terra. Os israelitas, tendo entrado em Canaã, pediram um rei a Deus. Por causa disso Deus comissionou Samuel para ungir Saul como o primeiro rei. Saul foi escolhido e estabelecido por Deus para constituir sua autoridade delega­da. Infelizmente, depois de se tornar rei, desobe­deceu à autoridade de Deus até o ponto de tentar destruí-la. Poupou o rei dos amalequitas e o que havia de melhor entre as ovelhas, os bois, os animais cevados, os cordeiros e tudo o que era bom. Uma vez que isto foi feito em desobediên­cia à palavra de Deus, Deus rejeitou Saul e ungiu Davi. Não obstante, Davi continuou um homem sob a autoridade de Saul. Pertencia ao povo de Saul, estava alistado no seu exército e foi, mais tarde, escolhido para ser genro de Saul, Portanto os dois eram ungidos. Mas Saul pro­curou, muitas vezes, matar Davi. Israel tinha dois reis! O rejeitado permanecia no trono; o esco­lhido ainda não subira. Davi se encontrava em posição dificílima.
Saul saiu à procura de Davi no deserto de En-Gedi. No trajeto entrou numa caverna em cujo interior se encontravam assentados Davi e os seus homens. Os homens de Davi sugeriram que Davi poderia matar Saul, mas Davi resistiu à tentação pois não se atrevia a levantar sua mão contra a autoridade. No que dizia respeito ao trono, não era Davi o ungido de Deus? E con­siderando que se encontrava diretamente no plano e vontade de Deus, poderia alguém proibi-lo de ser o rei? Por que, então, Davi não fez nenhum movimento nesse sentido? Não seria uma coisa boa ajudar a Deus a realizar a sua vontade? Mas Davi sentiu que não deveria matar Saul. Fazê-lo seria rebelar-se contra a autoridade de Deus, uma vez que a unção do Senhor permanecia sobre Saul. Embora Saul fosse re­jeitado, ainda era o ungido de Deus — alguém estabelecido por Deus. Se Saul fosse morto na­quele momento, Davi subiria imediatamente ao trono e a vontade de Deus não teria sido atra­sada em tantos anos. Mas Davi era um homem que sabia como negar-se a si mesmo. Ele pre­feria atrasar a sua subida ao trono a ser uma pessoa rebelde. Eis por que finalmente veio a ser a autoridade delegada por Deus.
Tendo Deus empossado Saul como rei e colo­cado Davi sob a autoridade de Saul, Davi teria de pagar o preço da rebeldia para obter o trono, matando Saul. Teria de se tornar um rebelde. Ele não se atrevia a tanto. O princípio envolvido é semelhante à reserva de Miguel em pronunciar um juízo injurioso contra Satanás (Judas 9). A autoridade, vemos assim, é uma questão de im­plicações extremadamente profundas.

A obediência é mais importante que o trabalho

Para que se sirva a Deus, a sujeição à au­toridade é uma necessidade absoluta. A        obe­diência transcende nosso trabalho. Se Davi rei­nasse mas fracassasse em sujeitar-se à autoridade de Deus, teria sido tão inútil quanto Saul. O mesmo princípio de rebeldia opera no Saul do Antigo Testamento e no Judas do Novo Testa­mento: o primeiro poupou o melhor que havia entre os bois e as ovelhas, ao passo que o se­gundo cobiçou as trinta moedas de prata. Consa­gração não esconde o pecado da rebeldia. Davi não se atreveu a matar Saul com suas próprias mãos a fim de executar o plano e a vontade de Deus. Ele aguardou que Deus operasse; seu cora­ção permaneceu silenciosamente obediente. Mes­mo naquela ocasião em que cortou um pedaço da capa de Saul, seu coração o acusou.
A percepão espiritual de Davi era tão aguda quanto a dos crentes do Novo Testamento. Hoje não deveríamos simplesmente condenar o homi­cídio; inclusive uma ação menor como a de cortar um pedaço da capa de outrem com uma faquinha deveria ser condenada, pois também é rebeldia. Falar mal, comportar-se mal ou resis­tir internamente não podem se classificar como homicídios, mas certamente constituem o mesmo que cortar um pedaço da capa de alguém. Tudo se origina de um espírito rebelde.
Davi conhecia a autoridade divina em seu co­ração. Embora repetidas vezes fosse caçado por Saul, submeteu-se à autoridade de Deus. Até mes­mo chamava Saul de "meu senhor'" ou "o ungido do Senhor". Isto revela um fato importante: sujeição à autoridade não se limita a estar sujeito a uma pessoa, mas é estar sujeito à unção que vem a ela quando Deus lhe ordena que seja uma autoridade. Davi reconhecia a unção que havia sobre Saul e sabia que ele era o ungido do Senhor Por isso preferia fugir para salvar a vida a estender a mão para matar Saul. É verdade que Saul desobedeceu à ordem divina e foi rejeitado por Deus; isto, entretanto, era coisa entre Saul e Deus. A responsabilidade de Davi diante de Deus era a de sujeitar-se ao ungido do Senhor.

Davi sustentou a autoridade de Deus

Davi defendia de maneira absoluta a autoridade de Deus. É exatamente esta qualidade que Deus deseja restaurar. Uma vez no deserto de Zife, surgiu uma ocasião parecida. A tentação de ma­tar Saul veio pela segunda vez: Saul dormia e Davi conseguiu entrar no acampamento. Abisai queria matar Saul, mas Davi lho proibiu, res­pondendo com  um juramento:  "Quem haverá que estenda a mão contra o ungido do Senhor, e fique inocente?"  (1 Sm. 26:9). Pela segunda vez Davi poupou Saul. Simplesmente retirou a lança e o jarro de água que estavam junto à cabeça de Saul. Foi um progresso em relação ao primeiro exemplo, porque desta vez ele apenas tocou em coisas fora do corpo de Saul, não em algo sobre o corpo de Saul. Davi preferia obe­decer a Deus e manter a autoridade divina a salvar a sua própria vida.
Em 1  Samuel 31  e 2  Samuel  1, lemos que Saul cometeu suicídio com a ajuda de um jo­vem amalequita. O jovem veio correndo a Da­vi em busca de uma recompensa, dizendo que tinha   matado   Saul.   Mas   a   atitude   de   Davi continuou sendo a de completa negação do ego e submissão  à  autoridade  de  Deus.  Disse  ao   jovem:   "Como   não   temeste   estender   a   mão   para matares o ungido do Senhor?" E imediatamente ordenou que o jovem tagarela fosse morto. Deus chamou Davi de homem segundo o seu próprio coração, porque Davi sustentou a autori­dade divina. O reino de Davi continua até o dia de hoje. O Senhor Jesus é um descendente de Davi. Só aqueles que se sujeitam à auto­ridade podem exercer autoridade. Este assunto é terrivelmente sério. Temos de arrancar to­das as raízes da rebeldia em nós.
 É absoluta­mente essencial que sejamos sujeitos à autoridade antes de exercermos autoridade. A igreja existe por causa da obediência. Ela não teme os fracos, mas teme os rebeldes. Temos de nos sujeitar à autoridade de Deus em nosso coração para que a igreja possa ser abençoada. O futuro da igreja depende de nós. Estamos atravessando dias so­lenes.


CAPITULO 5

A obediência do Filho

Tende em vós o mesmo sentimento que hou­ve também em Cristo Jesus, pois ele, subsis­tindo em forma de Deus não julgou como usur­pação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tor-nando-se em semelhança de homens; e, reco­nhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua con­fesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Fp. 2:5-11). Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte, e tendo sido ouvido por causa da sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas cousas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obe­decem (Hb. 5:7-9).

O Senhor inicia a obediência

A Bíblia nos diz que o Senhor Jesus e o Pai são um. No começo era o Verbo, e o Verbo era Deus. Os céus e a terra foram criados pela Pala­vra. A glória que Deus tinha no princípio, até mesmo a glória inigualável de Deus, também era a glória do Filho. O Pai e o Filho existem igualmente e são iguais em poder e propriedade, Só em Pessoa há uma diferença entre o Pai e o Filho. Não é uma diferença essencial; é apenas um arranjo dentro da Divindade. Portan­to, as Escrituras dizem que o Senhor "não julgou como usurpação o ser igual a Deus" — isto é, não era uma coisa a ser tomada. Sua igualdade com Deus não é uma coisa tomada nem adquirida, pois inerentemente ele é a imagem de Deus.
Filipenses 2:5-7 é uma seção e os versículos 8-11, outra. Nestas duas seções, nosso Senhor foi apresentado humilhando-se duas vezes: primeiro esvaziou-se de sua divindade e, então, humilhou-, -se em sua humanidade Quando veio a este mun­do, o Senhor tinha se esvaziado de tal maneira da glória, do poder, do "status" e da forma de sua divindade que ninguém naquele tempo, a não ser por revelação, reconheceu-o como Deus) Trata-ram-no como homem, uma pessoa comum neste mundo. Como Filho, de boa vontade submeteu-se à autoridade do Pai e declarou "o Pai é maior do que eu" (João 14:28). Portanto há perfeita harmonia na Divindade. Alegremente o Pai as­sume o lugar de Cabeça, e o Filho reage com obediência. Deus torna-se o emblema da autoridade, enquanto Cristo assume a posição de sím­bolo da obediência.
Para nós, os homens, obedecer deveria ser simples, porque tudo de que precisamos é um pouco de humildade. Para Cristo, entretanto, ser obediente não foi uma questão simples. Foi muito mais difícil para ele ser obediente do que criar os céus e a terra. Por quê? Porque teve de esvaziar-se de toda a glória e poder de sua divin­dade e assumir a forma de escravo para poder obedecer. Portanto a obediência foi iniciada pelo Filho de Deus.
O Filho originalmente partilhou a mesma gló­ria e autoridade com o Pai. Mas quando veio ao mundo, de um lado, abandonou a autoridade e, de outro, assumiu a obediência. De boa vontade assumiu o lugar de escravo, aceitando as limi­tações humanas de tempo e espaço. Ele se hu­milhou ainda mais e foi obediente até à morte. Obediência dentro da Divindade é a coisa mais admirável em todo o universo. Sendo Cristo obediente até à morte — sofrendo uma morte muitíssimo dolorosa e vergonhosa na cruz — Deus o exaltou sobremaneira Deus exalta todo aquele que se humilha. Este é um princípio divino.

   Estar cheio de Cristo é estar cheio de obediência

Uma vez que o Senhor deu início à obediência, o Pai tornou-se o Cabeça de Cristo. Portanto, uma vez que a autoridade e a obediência foram instituídas por Deus, é natural que aqueles que conhecem Deus e Cristo obedeçam. Mas aqueles que não conhecem Deus nem Cristo, não conhe­cem também a autoridade e a obediência. Cristo é o princípio da obediência. Portanto, uma pes­soa que está cheia de Cristo deve ser uma pessoa que também está cheia de obediência.
Hoje em dia, as pessoas costumam perguntar: "Por que eu tenho de obedecer? Considerando que ambos somos irmãos por que eu tenho de obedecer a você?" Mas os homens não têm qua­lificações para fazer tais perguntas. Só o Senhor tem esta qualificação; contudo ele jamais enun­ciou tais palavras nem um tal pensamento jamais penetrou em sua mente. Cristo representa obe­diência, que é tão perfeita quanto a autoridade de Deus. Que Deus seja misericordioso com aqueles que proclamam conhecer a autoridade quando a obediência falta em suas vidas.

O Caminho do Senhor

No que se refere à Divindade, o Filho e o Pai são co-iguais; mas sendo ele o Senhor, foi recom­pensado por Deus. O Senhor Jesus Cristo foi feito Senhor só depois que se esvaziou Sua di­vindade deriva do que ele é, por ser Deus em sua natureza inerente Ser Senhor, entretanto, é um resultado do que fez. Foi exaltado e re­compensado por Deus para ser Senhor só depois que abandonou sua glória e manteve-se no papel perfeito da obediência. No que se refere a ele, é Deus; no que se refere à recompensa, é o Senhor. Seu Senhorio não existia originalmente na Di­vindade.
A passagem de Filipenses 2 é dificílima de ex­plicar, pois é muitíssimo controvertida além de ser muitíssimo santa. Vamos descalçar nossos pés e pisar terreno santo recapitulando esta passagem bíblica. Parece que no princípio houve um con­selho da Divindade. Deus idealizou um plano para a criação do universo. Nesse plano, a Di­vindade concordou que a autoridade fosse repre­sentada pelo Pai. Mas a autoridade não pode ser estabelecida no universo sem a obediência, pois não pode existir sozinha. Portanto, Deus tem de encontrar a obediência no universo. Seriam cria­dos dois tipos de seres vivos: os anjos (espíritos) e os homens (almas viventes). De acordo com sua onisciência, Deus previu a rebelião dos anjos e a queda dos homens; por isso não lhe foi pos­sível estabelecer sua autoridade nos anjos ou na raça adâmica. Consequentemente, dentro do acordo perfeito da Divindade, essa autoridade se­ria atendida pela obediência no Filho. A partir daí começaram as operações distintas de Deus Pai e Deus Filho. Um dia Deus Filho se esvaziou e, tendo nascido em semelhança de homem, tornou--se o símbolo da obediência. Considerando que a rebeldia surgiu nos seres criados, a obediência teria agora de ser estabelecida num ser criado. O homem pecou e se rebelou; por isso a auto­ridade de Deus tem de ser estabelecida na obe­diência do homem. Isto explica por que o Senhor veio ao mundo e foi feito igual ao homem criado.
O nascimento de nosso Senhor é na realidade o aparecimento de Deus. Em lugar de permane­cer como Deus com autoridade, colocou-se ao lado do homem, aceitando todas as limitações do homem e assumindo a forma de escravo. Ele enfrentou o possível perigo de não ser capaz de retornar com glória. Se desobedecesse na terra
como homem, ainda poderia reclamar o seu lu­gar na Divindade usando de sua autoridade
ori­ginal; mas, nesse caso, teria para sempre que-brado o princípio de obediência.
Havia duas formas de o Senhor retornar: uma era obedecendo absolutamente e sem reservas como homem, estabelecendo a autoridade de Deus em todas as coisas, em todas as ocasiões, sem o menor toque de rebeldia; assim, passo a passo, através da obediência a Deus, tornar-se-ia o Senhor de tudo. A outra seria forçando o seu caminho de volta, reclamando e usando a
au­toridade, o poder e a glória de sua divindade, se considerasse a obediência impossível através da fraqueza e limitações da carne humana.
Mas o Senhor ignorou o segundo caminho e trilhou humildemente o caminho da obediên­cia
 — até a morte. Tendo-se esvaziado, recusou voltar atrás. Ele jamais tomaria um caminho as­sim ambíguo. Se o Senhor falhasse no caminho da obediência, depois de renunciar sua glória e autoridade divinas, assumindo a forma de es­cravo, jamais teria novamente retornado com glória. Só através da obediência como homem é que ele retornou. Assim ele retornou com base na obediência perfeita e singular. Embora sacrifí­cio fosse acrescentado a sacrifício, ele demonstrou obediência absoluta, sem o menor toque de re­sistência ou rebeldia.
Consequentemente, Deus o exaltou grandemen­te e o fez Senhor quando retornou à glória. Não foi Jesus que se encheu com aquilo de que uma vez se esvaziara; antes, foi Deus Pai. Foi o Pai que trouxe este Homem de volta à glória. E, as­sim, Deus Filho também é agora Jesus Homem em seu retorno à glória. Por causa disto, o nome de Jesus é preciosíssimo; não há ninguém no universo igual a ele. Quando na cruz exclamou "Tudo está consumado!", proclamou não somente a consumação da salvação mas também o cum­primento de tudo o que seu nome significa. Por­tanto, ele obteve um nome que está acima de todo nome, e diante do seu nome todo joelho deverá se dobrar e toda língua deverá confessar que Jesus é Senhor. Doravante, ele é Senhor bem como Deus. Ser Senhor fala do seu relaciona­mento com Deus, de como foi recompensado por Deus. Ser Cristo revela o seu relacionamento com a igreja.
Resumindo, então: quando o Filho deixou a glória não pretendia retornar com base nos seus atributos divinos; pelo contrário, desejou ser exal­tado como homem. Desta maneira, Deus confir­mou seu princípio de obediência. Como é im­prescindível que sejamos totalmente obedientes sem o mais leve traço de rebeldia! O Filho retor­nou ao céu como homem; foi exaltado por Deus depois que obedeceu na semelhança de homem. Vamos encarar este grande mistério da Bíblia. Quando se despediu da glória e se revestiu da carne humana, o Senhor determinou não regres­sar por virtude de seus atributos divinos. E tendo jamais dado o menor sinal de desobediência, foi exaltado por Deus com base em sua humanidade. O Senhor abandonou a sua glória quando veio; mas quando retornou, não só recebeu de volta essa mesma glória, mas recebeu ainda glória muito maior.
Que nós também tenhamos esta mente que havia em Cristo Jesus. Vamos todos trilhar o caminho do Senhor e nos apegar à obediência tornando muito nosso este princípio da obediên­cia. Sujeitemo-nos uns aos outros. Tendo uma vez entendido este princípio não teremos di­ficuldade em discernir que nenhum pecado é mais sério do que a rebeldia e nada é mais im­portante do que a obediência. Só no princípio da obediência podemos servir a Deus; só obedecendo como Cristo obedeceu podemos reafirmar o prin­cípio divino da autoridade, pois a rebeldia é a operação do princípio de Satanás.

Aprendendo a obediência através do sofrimento

Em Hebreus 5:8 somos informados que Cristo "aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu". O sofrimento exigiu obediência do Senhor. Por favor, observe que ele não trouxe obediência a esta terra; ele a aprendeu — e o fez através do sofrimento.
Quando encontramos o sofrimento, aprende­mos a obediência. Tal obediência é verdadeira. Nossa utilidade não fica determinada através do nosso sofrimento, mas pelo tanto de obediên­cia que aprendemos por meio desse sofrimento. Só os obedientes são úteis para Deus. Enquanto o nosso coração não for amolecido, o sofrimento não nos abandonará. Nosso caminho passa por muitos sofrimentos; os que amam os prazeres e as coisas fáceis são inúteis para Deus? Vamos, portanto, aprender a obedecer no sofrimento.
A salvação torna as pessoas obedientes e tam­bém alegres. Se nós só buscamos a alegria, nos­sas propriedades espirituais não serão abundan tes; mas aqueles que são obedientes experimenta­rão a abundância da salvação. Não vamos trans­formar a natureza da salvação. Vamos obedecer — pois nosso Senhor Jesus, tendo sido aperfei­çoado pela obediência, tornou-se a fonte de nos­sa salvação eterna. Deus nos salva para que      
pos­samos obedecer à sua vontade. Se travamos co­nhecimento com a autoridade de Deus, desco­brimos que a obediência é fácil e que a vontade de Deus é simples, porque o próprio Senhor sem­pre foi obediente e nos transmitiu esta vida de obediência.


CAPÍTULO 6

Como Deus estabelece o seu Reino

Embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas cousas que sofreu e, tendo sido aperfei­çoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem (Hb. 5:8-9).
Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito Santo, que Deus outor­gou aos que lhe obedecem  (Atos 5:32).
Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação?" (Rm. 10:16).
Tomando vingança contra os que não conhe­cem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus (Ts. 1:8).
Tendo purificado as vossas almas, pela vos­sa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aos outros ardentemente (1 Pedro 1:22).

O Senhor aprendeu a obediência através do sofrimento

Assim como Deus garantiu o princípio da obe­diência através da vida de nosso Senhor, Deus também estabeleceu sua autoridade através do Senhor. Vamos ver agora como Deus estabelece hoje em dia o seu reino com base nessa autori­dade. O Senhor veio a este mundo de mãos va­zias; não trouxe consigo a obediência. Apren­deu a obediência através do que sofreu e, as­sim, tornou-se a fonte da salvação eterna a todos os que lhe obedecem. Passando por so­frimento após sofrimento aprendeu a obede­cer até à morte, e morte de cruz. Quando o Senhor deixou a Divindade para se tornar ho­mem, verdadeiramente tornou-se um homem — fraco e sofredor. Cada sofrimento pelo qual pas­sou amadureceu num fruto de obediência. Ne­nhum sofrimento foi capaz de incitá-lo à mur­muração ou à impaciência.
Como diferem disto muitos cristãos que não conseguem aprender a obedecer mesmo depois de muitos anos. Embora seu sofrimento aumente, sua obediência não. Quando surge o sofrimento, geralmente murmuram zangados, indicando no­vamente que não aprenderam a obedecer. Mas nosso Senhor, ao passar por toda espécie de so­frimentos, continuamente exibiu o espírito da obediência; e assim se tornou a fonte de nossa salvação eterna. Através da obediência de um homem muitos receberam graça. A obediência de nosso Senhor foi por amor do reino de Deus. O alvo da redenção é promover o reino de Deus.

Deus estabelecerá o seu reino

Você já notou até que ponto a queda dos anjos e do homem afetou o universo, que grande pro­blema criou para Deus? Era intenção divina que os seres por ele criados aceitassem sua autorida­de, mas ambos os tipos de seres criados rejeita-ram-na; Deus não pôde estabelecer sua autorida­de nos seres criados; mesmo assim, não a re­tirou. Ele poderia retirar sua presença, mas ja­mais desistirá da autoridade que iniciou. Onde houver sua autoridade, ali é o seu lugar de di­reito. Por isso, de um lado, Deus afirmará sua autoridade e, de outro, estabelecerá o seu reina Embora Satanás continuamente viole a autorida­de de Deus e os homens diariamente se rebelem contra ele, Deus não permitirá que tal rebeldia continue para sempre; ele estabelecerá o seu rei­no. Por que a Bíblia chama o reino de Deus de o reino dos céus? Porque a rebeldia não se res­tringiu simplesmente  a  esta  terra,  mas,  além dela, alcançou os céus onde os anjos se rebelaram, Como, então, o Senhor Jesus estabelece o reino de Deus? Ele o estabelece através de sua obe­diência. Nunca foi desobediente a Deus; nunca resistiu à autoridade de Deus enquanto esteve na terra. Obedecendo  perfeitamente e  permitindo que a autoridade reinasse absolutamente, estabe­leceu o reino de Deus dentro do reino de sua própria obediência. Agora, exatamente como fez nosso Senhor, a igreja deveria obedecer hoje em dia a fim de que a autoridade de Deus pudesse prosperar e o reino de Deus se manifestar.

Deus ordena que a igreja seja a vanguarda do seu reino

Depois da queda de Adão Deus escolheu Noé e sua família. Contudo, eles também falharam — depois do dilúvio. Então Deus chamou Abraão para ser o pai de uma multidão de nações, tendo a intenção de estabelecer o seu reino através de Abraão. Abraão foi substituído pela escolha de Isaque e, então, mais tarde, Jacó. Os descenden­tes de Jacó multiplicaram-se grandemente sob a opressão egípcia e, por isso, Deus enviou Moisés para livrá-los do Egito a fim de que pudessem estabelecer uma nova nação. Mas como havia desobedientes entre eles, Deus levou os israelitas através do deserto a fim de ensinar-lhes a obe­diência. Não obstante, persistiram em sua rebel­dia contra Deus, resultando que toda a geração morreu pelo caminho.
Conquanto a segunda geração conseguisse en­trar em Canaã, não deu ouvidos à palavra de Deus com coração perfeito; por isso não puderam expulsar os cananeus completamente da terra. Saul tornou-se o primeiro rei, mas devido à sua rebeldia o reino não pôde ser estabelecido. Só depois que Davi foi escolhido, Deus encontrou nele o rei que foi segundo o seu próprio coração, pois Davi obedeceu totalmente à autoridade de Deus. Mesmo assim, traços de rebeldia ainda per­maneceram dentro da nação. Deus indicou Je­rusalém como o lugar onde o seu nome seria estabelecido, mas o povo continuou a sacrificar no grande lugar alto de Gibeom. Falhou em obe­decer. Tinha um rei mas faltava-lhe a substância espiritual de um reino. Antes de Davi, havia um reino sem um rei apropriado. No tempo de Davi, ambos, rei e reino, estavam presentes, mas a substância espiritual do último ainda faltava. O reino de Deus tinha de ser verdadeiramente
es­tabelecido.
 O Senhor veio a este mundo para estabelece o reino de Deus. Seu evangelho é duplo em natureza: o pessoal e o geral. No que se refere ao pessoal, o evangelho chama homens para
 receber vida eterna através da fé; quanto ao geral convida homens para entrar no reino de Deus; através do arrependimento.
Os olhos de Deus estão sobre o reino: o "Pai Nosso", por exemplo, começa e termina com o reino. Começa com "Venha o teu reino, faça-se tua vontade, assim na terra como no céu".
O reino de Deus é aquele reino dentro do qual a vontade de Deus é executada sem nenhuma
in­terferência. A oração termina com "Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém". (Mt. 6:13.) O reino e o poder e a glória estão in­terligados. "Agora veio a salvação, o poder, o rei­no do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo", (Apocalipse 12:10). Eis por que o reino é o campo de ação da autoridade. "O reino de Deus está en­tre vós", diz o Senhor (Lucas 17:21, à margem, na versão usada pelo autor). "Entre vós", não "den­tro de vós". O próprio Senhor é finalmente o reino de Deus.
Quando o Senhor Jesus está entre vós o reino, de Deus está no vosso meio. Isto acontece porque a autoridade de Deus passa a ser completamente executada em vossa vida. Pois exatamente como o reino de Deus está no Senhor, deve também ser encontrado na igreja — porque a vida do Senhor é liberada para a igreja e assim o reino de Deus também se estende à igreja. Começando com Noé, Deus conseguiu obter um reino, mas era um reino terreno, não o reino de Deus. O reino de Deus realmente começa com o Senhor Jesus. Como foi pequena a sua esfera de ação no começo! Hoje, entretanto, este grão de trigo já deu muito fruto. Seu campo de ação abrange não só o Senhor mas também muitos santos.
Deus tem o propósito de que sejamos o seu reino e a sua igreja, uma vez que a igreja tem ordens de constituir o terreno onde a autoridade de Deus é exercida. Ele deseja ter o seu lugar de direito em mais do que apenas alguns indivíduos; ele deseja que toda a igreja lhe conceda preemi­nência absoluta a fim de que sua autoridade pre­valeça e não haja rebeldia. Assim Deus há de estabelecer sua autoridade no meio dos seres que criou. Quer que sejamos obedientes não ape­nas à autoridade direta que ele mesmo exerce mas também às autoridades delegadas que ele estabelece. O que ele espera é obediência total, não parcial.

O evangelho não só convoca o povo a crer mas também a obedecer

A Bíblia menciona a obediência além da fé, pois não somos apenas pecadores, mas também filhos da desobediência. O que Romanos 10:16 quer dizer com "acreditou na nossa pregação" de Isaías 53:1 é "obedeceu às boas novas" (Darby). A natureza da crença no evangelho é a obediên­cia. "Tomando vingança contra os que não co­nhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus" (2 Ts. 1:8). Aqueles que não obedecem são os rebeldes: "Ira e indignação aos facciosos que desobedecem à verdade" (Rm. 2:8). Os desobedientes são os re­beldes. "Tendo purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade" (1 Pedro 1:22). Isto indica claramente que a purificação é através da obediência à verdade. A fé é obediência.
Os crentes deveriam ser antes chamados de "obedecedores", pois devem ficar sujeitos à auto­ridade do Senhor além de crer nele. Depois que Paulo foi iluminado, perguntou: "Que farei, Se­nhor?" (Atos 22:10). Não só creu, mas também se submeteu ao Senhor. Seu arrependimento foi causado pela compreensão da graça e pela obe­diência à autoridade. Quando foi movido pelo Espírito Santo para ver a autoridade do evan­gelho, chamou Jesus de Senhor.
Deus não nos chama só para receber sua vida através da fé, mas também para manter sua au­toridade através da obediência. Ele aconselha--nos, aos que estamos na igreja, a obedecer às autoridades que ele estabeleceu — no lar, na es­cola, na sociedade e na igreja — como também a obedecer à sua autoridade direta. Não é neces­sário destacar especificamente a que pessoa seria preciso obedecer. Simplesmente significa que sempre quando nos encontramos com a autora dade de Deus, direta ou indiretamente, devemos; aprender a obedecer.
Muitos são capazes de dar ouvidos e obedecer somente a uma determinada pessoa. Isto indica que ainda não descobriram a autoridade. De nada adianta obedecer ao homem; é à autoridade que devemos obedecer. Para aqueles que conhecem a autoridade, até a mais leve desobediência fá-los sentir que foram rebeldes. Mas aqueles que não conhecem a autoridade não têm ideia de como são os rebeldes. Antes de ser iluminado, Paulo re­calcitrava contra os aguilhões sem perceber o que estava fazendo. Depois da iluminação, entre­tanto, a primeira coisa que aconteceu foi que os olhos de Paulo se abriram para ver a autoridade e essa visão continuou a se desenvolver mesmo de­pois. Embora Paulo se encontrasse apenas com um humilde irmão chamado Ananias, jamais per­guntou que espécie de homem era ele — culto ou ignorante — porque não olhava para o homem Paulo reconheceu que Ananias era enviado por Deus, por conseguinte, sujeitou-se àquela autori­dade delegada. Como é fácil obedecer quando se reconhece a autoridade.


Através da igreja as nações se tornam o reino de Deus

Se a igreja se recusa a aceitar a autoridade di­vina, Deus não tem meios de estabelecer o seu reino. A maneira de Deus obter o seu reino é, em primeiro lugar, no Senhor Jesus, depois na igreja, e, finalmente, em todo o mundo. Um dia se fará uma proclamação anunciando que "o reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo" (Ap. 11:15). A igreja ocupa o lugar entre o reino que se encontra na pessoa do Se­nhor Jesus, e sua mais ampla extensão se ve­rá quando o mundo se transformar no reino do Senhor e do seu Cristo. O reino tem de ser encontrado no Senhor Jesus antes que seja estabelecido na igreja; tem de ser implantado na igreja antes que seja assegurado entre as nações. Não pode haver igreja sem o Senhor Je­sus, e não pode haver uma extensão maior do reino de Deus sem a igreja. Quando se encontrava na terra, o Senhor obe­deceu em todos os menores detalhes. Por exem­pio, pagou o imposto devido ao templo. Não ten­do dinheiro, arranjou a moeda na boca de um peixe Novamente, quando interrogado em outra ocasião sobre o pagamento dos impostos civis, afirmou: "Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (Mt. 22:21). Embora: César fosse uma pessoa rebelde, fora estabelecido por Deus; consequentemente, tinha de ser obe­decido) Depois de obedecermos totalmente, nos­so Senhor se levantará e tratará daqueles que desobedecem.
Através de nossa obediência o reino será esten­dido por toda a terra. Hoje, entretanto, muitos têm consciência de pecado, mas não de rebeldia. Os homens precisam de um senso de autoridade, além do senso do pecado. Não ser sensível ao pecado prejudica a vida cristã; falta de sensibili­dade diante da autoridade desqualifica a pessoa.

A igreja tem de obedecer à autoridade de Deus

Temos de saber como obedecer na igreja. Não existe autoridade dentro da igreja que não exija obediência. Deus pretende que sua autoridade se manifeste totalmente na igreja e que seu reino se estenda através da igreja. Quando a igreja ti­ver obedecido totalmente, toda a terra ficará sob a autoridade de Deus. Se a igreja falhar em per­mitir que a autoridade de Deus prevaleça dentro dela, o reino de Deus será desviado do seu
alvo de cobrir toda a terra. A igreja é, portanto, o caminho para o reino; mas pode igualmente frustrar o reino.
Como pode o reino de Deus se manifestar se não somos capazes de nos sujeitar a pequenas dificuldades dentro da igreja? Como pode o reino de Deus prevalecer se sempre discutimos e ar­gumentamos entre nós? Temos grandemente atra­sado o horário divino. Todos os rebeldes têm de ser expulsos para que o caminho de Deus seja desobstruído. Quando a igreja obedecer verdadei­ramente, todas as nações lhe seguirão. A respon­sabilidade da igreja é imensa. Quando a vontade e a ordem de Deus encontrar livre acesso na igreja; seu reino certamente virá.


CAPÍTULO 7


Os homens devem obedecer à autoridade delegada


Autoridades instituídas por Deus



1. NO MUNDO

Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem \ foram por ele instituídas (Rm 18:1).

 Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor; quer seja ao rei, como so­berano; quer às autoridades como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores, como para louvor dos que praticam o bem (1 Pedro 2:13-14).

Deus é a fonte de toda a autoridade no uni­verso. Considerando que todas as autoridades go­vernantes foram por ele instituídas, então toda a autoridade é delegada por ele e representa a sua autoridade. O próprio Deus estabeleceu este sistema de autoridade a fim de se manifestar. Onde quer que as pessoas encontrem autoridade encontram Deus. Os homens podem vir a co­nhecer Deus através de sua presença; mas mesmo sem ela podem vir a conhecê-lo através de sua autoridade.
No jardim do Éden o homem conhecia Deus através de sua presença, ou, durante a sua au­sência, lembrando-se de suas ordens. Hoje, entre­tanto, os homens raramente encontram Deus diretamente neste mundo. Isto, naturalmente, não se aplica àqueles que, na igreja, vivem constante­mente em espírito, pois eles geralmente vêem Deus face a face. Hoje em dia o lugar onde ele mais se manifesta é nos seus mandamentos.
So­mente aqueles que são tolos como os lavradores da parábola de Marcos 12:1-9, precisam da pre­sença pessoal do Proprietário da vinha para obe­decer, pois na história não foram os servos e o seu Filho enviados antes dele como seus repre­sentantes?
Aqueles que são estabelecidos por Deus devem exercer autoridade em lugar dele Considerando que todas as autoridades governantes foram ins­tituídas e ordenadas por Deus, devem ser obede­cidas. Se nós realmente aprendêssemos a obedecer a Deus, não teríamos nenhum problema em re­conhecer sobre quem repousa a autoridade de Deus. Mas se nós conhecemos apenas a autoridade direta de Deus, possivelmente violamos mais da metade de sua autoridade. Sobre quantas vidas podemos identificar a autoridade de Deus? Po­demos escolher entre a autoridade direta de Deus e sua autoridade delegada? Não, temos de nos submeter à autoridade delegada como também à autoridade direta de Deus, pois "não há auto­ridade que não proceda de Deus".
No que se refere às autoridades terrenas, Paulo não só exorta positivamente para que haja su­jeição, mas também adverte negativamente con­tra a resistência. Aquele que resiste à autoridade resiste à lei do próprio Deus; aquele que rejeita a autoridade delegada por Deus rejeita a autori­dade do próprio Deus. A autoridade, de acordo com a Bíblia, caracteriza-se por uma natureza única: não existe autoridade exceto a que vem de Deus. Aquele que resiste à autoridade resiste a Deus e aquele que resiste incorrerá em julga­mento. Não há possibilidades de rebeldia sem jul­gamento. A consequência da resistência à auto­ridade é morte. O homem não tem escolha na questão da autoridade.                                   
No tempo de Adão Deus deu aos homens do­mínio sobre toda a terra. O que eles deveriam ­governar era, entretanto, as criaturas viventes Depois do dilúvio, Deus concedeu a Noé o poder de governar os outros homens, declarando que "se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu" (Gn. 9:6). A partir daí, a autoridade de governar o homem foi con­cedida aos homens. Desde então tem havido go­verno humano sob o qual os homens são colo­cados.
Depois de tirar o seu povo do Egito levando-o para o deserto, Deus lhe deu os Dez Manda­mentos e muitas ordenanças. Entre estas, havia uma que declarava: "Contra Deus não blasfema­rás, nem amaldiçoarás o príncipe do teu povo" (Êx. 22:28). Isto prova que Deus os colocou sob governantes. Já no tempo de Moisés, os israelitas que resistiam à autoridade, na verdade resistiam a Deus. Embora os governantes das nações não creiam em Deus e seus países estejam sob o domínio de Satanás, o princípio da autoridade ficou imutá­vel. Exatamente como Israel era o reino de Deus e o Rei Davi foi escolhido por Deus, assim o Imperador Persa foi declarado estabelecido por
 Deus. Quando nosso Senhor estava na terra, su-jeitava-se às autoridades do governo como tam­bém à autoridade do sumo sacerdote. Pagou im­postos e ensinou aos homens a dar a César o que é de. César (Mt. 22:21). Durante o interroga-tório, quando o sumo sacerdote o conjurou pelo Deus vivo para que dissesse se era o Cristo, o Filho de Deus, o Senhor imediatamente obedeceu (Mt. 26:63-64), reconhecendo assim em todas es­sas ocasiões que eles eram autoridades na terra.
   Nosso Senhor jamais tomou parte em qualquer rebelião.
Paulo mostra-nos em Romanos 13 que todos os que se encontram em posição de autoridade são servos de Deus. Temos de nos sujeitar à autori­dade local sob a qual vivemos, como também à autoridade de nosso próprio país e raça. Não deveríamos desobedecer à autoridade local sim­plesmente porque somos de uma nacionalidade diferente. A lei não constitui terror para a boa conduta, mas para a má. Embora diferentes as leis das nações, todas elas derivam da lei de Deus; o princípio básico de todas as leis de Deus é punir o mal e recompensar o bem. Todos os po­deres têm suas próprias leis. Sua função é manter e executar suas leis para que o bem seja aprovado e o mal disciplinado. Eles não empunham a es­pada em vão. Apesar do fato de alguns poderes exaltarem o mal e sufocarem o bem, têm de recorrer à distorção para chamar o mal de bem e o bem de mal. Não se atrevem a apresentarem-se francamente declarando que uma pessoa má seja exaltada por causa de sua maldade enquanto a boa é castigada por causa de sua bondade.
Até o presente momento, todos os poderes ainda seguem pelo menos em princípio — a regra da recompensa do bem e castigo do mal. Este prin­cípio não mudou; portanto a lei de Deus perma­nece em vigor virá o dia em que o iníquo anti­cristo subirá ao poder; então ele distorcerá todo o sistema da lei e francamente declarará que o bem é mal e vice-versa. Então os bons serão mortos e os maus exaltados.
Os símbolos da sujeição às autoridades terrenas são quatro: imposto a quem se deve imposto, tributo a quem se deve tributo, respeito a quem se deve respeito, e honra a quem se deve honra.
O cristão obedece à lei não só para fugir à ira de Deus mas também por causa de sua cons­ciência. Sua consciência o reprova se for deso­bediente. Por isso temos de aprender a sujeição às autoridades locais. Os filhos de Deus não de­veriam levianamente criticar ou acusar o gover­no. Até a polícia nas ruas foi instituída por Deus pois foi comissionada para uma tarefa específica. Quando os cobradores de impostos e taxas nos procuram, qual a nossa atitude para com eles? Será que os atendemos como autoridades delega­das por Deus? Somo-lhes sujeitos?

Como é difícil obedecer se não percebemos a autoridade de Deus. Quanto mais tentamos obe­decer mais difícil fica. "Especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas pai­xões e menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades su­periores" (2 Pedro 2:10). Quantos perdem o seu poder e desperdiçam a sua vida por causa de injúrias. Os homens não deveriam cair em um estado de anarquia. Temos de nos preocupar sobremaneira com o modo pelo qual Deus vai resolver aquilo que é injusto, embora devamos orar para que Deus discipline com base na justi­ça. Em qualquer circunstância, a insubordinação à autoridade é motim contra Deus. Se somos in­subordinados, estaremos ajudando o princípio do anticristo. Vamos nos fazer a pergunta: Quando o mistério da anarquia está operando, somos um impedimento ou uma ajuda?

2. NA FAMÍLIA

As mulheres sejam submissas a seus pró­prios maridos, como ao Senhor; porque o ma­rido é o cabeça da mulher, como também Cris­to é o cabeça ... Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas a seus maridos (Ef. 5:22-24).

Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promes­sa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra (Ef. 6:11-3).

Esposas, sede submissas aos próprios mari­dos, como convém no Senhor.. . Filhos, em tudo obedecei a vossos pais; pois fazê-lo é gra­to diante do Senhor... Servos, obedecei em tudo aos vossos senhores segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão-só agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor (Cl. 3:18, 20, 22).

Deus estabelece sua autoridade no lar, mas mui­tos dos seus filhos não prestam suficiente aten­ção a este setor da família. Mas as epístolas, tais como Efésios e Colossenses que são consideradas as epístolas mais espirituais, não ignoram este assunto. Especificamente mencionam a sujeição no lar, pois sem ela será difícil servir a Deus. As cartas de l Timóteo e Tito tratam da questão do trabalho, mas também falam do problema fa­miliar como algo que poderia afetar o trabalho, A primeira carta de Pedro focaliza o reino, mas também considera a rebeldia contra a autorida­de familiar como rebeldia contra o reino. Quando os membros de uma família entendem a autorida­de muitas dificuldades no lar desaparecem.
Deus estabeleceu o marido como autoridade de­legada de Cristo, com a esposa no papel de re­presentante da igreja. Seria difícil para a esposa ficar sujeita ao seu marido se não visse a autori­dade delegada que lhe foi concedida por Deus. Ela tem de entender que o ponto principal é a autoridade divina, não o seu marido. "A fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem a seus maridos e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas-de-casa, bondosas, sujeitas a seus próprios maridos, para que a palavra de Deus não seja difamada" (Tito 2:4-5). "Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vossos próprios maridos, para que, se alguns deles ainda não obe­decem à palavra, sejam ganhos, sem palavra al­guma, por meio do procedimento de suas espo­sas" (1 Pedro 3:1). "Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram outrora as santas mulhe­res que esperavam em Deus, estando submissas a seus próprios maridos, como fazia Sara, que obe­deceu a Abraão, chamando-lhe senhor" (1 Pedro 3:5-6).
"Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor" (Ef. 6:1), porque Deus estabeleceu os pais como auto­ridade. "Honra a teu pai e a tua mãe ... para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra" (Ef. 6:2-3). Dos Dez Mandamentos este é o pri­meiro com promessa específica. Alguns morrem cedo por causa de sua falta em prestar honra filial enquanto que outros podem ser curados quando o seu relacionamento com os pais é nor­malizado. "Filhos, em tudo obedecei a vossos pais; pois fazê-lo é grato diante do Senhor"
(Cl. 3:20). Estar sujeito aos pais requer percepção da auto­ridade divina. *

Quanto a vós outros, servos, obedecei a vos­sos senhores segundo a carne com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo, não servindo à vista, como para agra­dar a homens, mas como servos de Cristo, fa­zendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade, como ao Senhor, e não como a homens (Ef. 6:5-7),
 Todos os servos que es­tão debaixo de jugo considerem dignos de toda honra os próprios senhores, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfe­mados (1 Tm. 6:1).
  Quanto aos servos, que sejam, em tudo, obe­dientes aos seus próprios senhores, dando-lhes motivo de satisfação; não sejam respondões, não furtem; pelo contrário, dêem prova de toda a fidelidade, a fim de ornarem, em todas as cousas, a doutrina de Deus, nosso Salvador (Tito 2:9-10) Se honramos a autoridade do Senhor em nossas vidas, os outros respeitarão a autoridade do Se­nhor em nós. Quando Pedro e Paulo disseram essas palavras, a escravidão se encontrava no auge no Império Romano. Se a escravidão é coisa certa ou errada não é um problema que vamos con­siderar agora, mas precisamos entender que Deus ordenou que os servos obedecessem a seus se­nhores.

  1. NA IGREJA

Agora vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós, e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam; e que os tenhais com amor em máxima consi­deração, por causa do trabalho que realizam. Vivei em paz uns com os outros (1 Ts. 5:12-13).
f Devem ser considerados merecedores de do­brados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino (1  Tm. 5:17).
E, agora, irmãos, eu vos peço o seguinte (sabeis que a casa de Estéfanas é as primí­cias da Acaia, e que se consagraram ao ser­viço dos santos): que também vos sujeiteis a esses tais, como também a todo aquele que é cooperador e obreiro (1 Co. 16:15-16).
Deus estabeleceu autoridades na igreja tais co­mo os "presbíteros que presidem bem" e "os que se afadigam na palavra e no ensino". São aque­les a quem todos deveriam obedecer. Os mais jovens também devem aprender a sujeitar-se aos mais velhos. O apóstolo exortou os crentes coríntios a honrar especialmente homens como Estéfanas cuja família foi a primeira que se converteu na Acaia e que desejava servir os santos com grande humildade.
Na igreja as mulheres devem ficar sujeitas aos homens. Quero, entretanto, que saibais ser Cris­to o cabeça de todo homem, e o homem o cabeça da mulher, e Deus o cabeça de Cris­to" (1 Co. 11:3). Deus estabeleceu que os ho­mens representassem Cristo como autoridade, e as mulheres, a igreja em sujeição. Portanto, as mulheres deveriam usar um véu (no grego: auto­ridade) sobre a cabeça por causa dos anjos (1 Co. 11:10), e deveriam ficar sujeitas a seus próprios maridos.
"Como em todas as igrejas dos santos, conser-vem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar, mas estejam submis­sas como também a lei o determina. Se, porém, querem aprender alguma cousa, interroguem, em casa, a seus próprios maridos" (1 Co. 14:33-35). Algumas irmãs perguntam: — E se nossos ma­ridos não souberem responder? — Bem, Deus manda perguntar; façam-no. Depois de algum tempo seu marido saberá, considerando que sen­do repetidas vezes interrogado ver-se-á forçado a procurar entendimento. E assim você ajudará a seu marido e a si mesma também. "A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o marido; esteja, porém, em si­lêncio. Porque primeiro foi formado Adão, de­pois Eva" (1 Tm. 2:11-13).
"Outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade"  (1 Pedro 5:5). É coisa muito vergonhosa que alguém consciente­mente exiba sua posição e autoridade.
Deus também instituiu autoridades no mundo espiritual. "Especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas paixões e menospre­zam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores, ao passo que anjos, embora maiores em força e poder, não proferem contra elas juízo infamante na presen­ça do Senhor" (2 Pedro 2:10-11). Somos infor­mados aqui de um fato muitíssimo significativo: que há autoridades e posições gloriosas no mundo espiritual sob as quais os anjos são colocados, Embora algumas tenham fracassado, os anjos não se atrevem a injuriá-las uma vez que são supe­riores. Depois de sua queda, embora você possa falar sobre o fato da queda, você não pode acres­centar o seu juízo, pois o fato mais o juízo é coisa injuriosa.
"Contudo, o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamató­rio contra ele; pelo contrário, disser o Senhor te repreenda" (Judas 9). Por quê? Porque numa certa ocasião Deus estabeleceu Lúcifer como o chefe dos arcanjos; e Miguel, sendo um arcanjo, estivera sob sua autoridade. Mais tarde Miguel, em obediência a Deus, procurou o corpo de Moi­sés porque um dia Moisés teria de ressuscitar dos mortos (possivelmente no Monte da Transfi­guração). Quando Miguel foi impedido por Sa­tanás, ele poderia, com espírito de rebeldia, ter-se havido com esse rebelde, Satanás, abrindo a sua boca e injuriando-o. Mas ele não se atreveu. Tudo o que disse foi: "O Senhor te repreenda." (Com os homens o caso é diferente, uma vez que Deus nunca colocou os homens sob a autoridade de Sa­tanás. Embora tenhamos caído sob o seu governo, jamais fomos colocados sob a sua autoridade.)
Dentro do mesmo princípio, Davi durante um determinado período submeteu-se à autoridade delegada a Saul. Consequentemente, ele não se atreveu a contrariar a desvanecente autoridade de Saul. Que coisa dignificante é a autoridade dele­gada no reino espiritual! Não deve ser despreza­da; qualquer injúria contra ela resultará em perda de poder espiritual.
Se você já tomou conhecimento da autoridade em sua vida então você terá capacidade de per­ceber a autoridade de Deus em toda parte. Aonde quer que você vá, sua primeira pergunta será: A quem devo obedecer, a quem devo atender? Um cristão deve ser sensível em dois pontos: para com o pecado e para com a autoridade. Mesmo quando dois irmãos se consultam mutuamente, embora cada um possa apresentar a sua opinião, só um deles toma a decisão final.
Em Atos 15 houve um concílio. Os jovens tam­bém, além dos velhos, puderam levantar-se para falar. Cada irmão pôde apresentar a sua opinião. Mas depois que Pedro e Paulo terminaram de fa­lar, Tiago levantou-se para apresentar a decisão. Pedro e Paulo só relataram fatos, mas Tiago fez o julgamento. Mesmo entre os anciãos ou após­tolos havia uma ordem. "Porque eu sou o menor dos apóstolos", disse Paulo (1 Co. 15:9). Alguns apóstolos são maiores, outros menores. Esta or­dem não foi estabelecida pelo homem; todavia, cada um precisa saber onde foi colocado.
Que maravilhoso testemunho e que lindo qua­dro! É disso que Satanás tem medo, pois é o que finalmente provocará a queda do seu reino. Pois quando todos nós estivermos no caminho da obe­diência, Deus virá julgar o mundo.

Seja destemidamente sujeito  à autoridade delegada

Que risco foi para Deus instituir autoridades! Que perda Deus sofre quando as autoridades de­legadas que instituiu não o representam devida­mente! Contudo, indômito, Deus estabeleceu tais autoridades. É muito mais fácil para nós deste­midamente obedecer às autoridades do que para Deus instituí-las. Não poderíamos, portanto, obe­decê-las sem temor, uma vez que o próprio Deus não teve receio de confiar autoridade aos ho­mens? Assim como Deus ousadamente estabeleceu autoridades, vamos corajosamente obedecê-las. Se algo ficar faltando, a falta não estará conosco mas com as autoridades, pois o Senhor declara: "Todo homem esteja sujeito às autoridades su­periores" (Rm. 13:1).
"Quem receber esta criança em meu nome, a mim me recebe" (Lucas 9:48). Para o Senhor representar o Pai não há problema. O Pai tem confiança nele e nos pede que confiemos nele como confiaríamos no Pai. Mas aos olhos do Senhor estas crianças também o representam. Ele tem fé nestas crianças e nos exorta a que as re­cebamos como o recebemos.
Quando enviou seus discípulos, o Senhor lhes disse que "quem vos der ouvidos, ouve-me a mim, e, quem vos rejeitar, a mim me rejeita" (Lucas10:16). O que quer que aqueles discípulos disses­sem ou decidissem seria reconhecido como re­presentando o Senhor. Como o Senhor foi des­temido quando lhes delegou sua autoridade! Ele reconheceu cada palavra que enunciaram em seu nome. Portanto aqueles que os rejeitaram, rejei­taram o Senhor. Ele não preveniu os discípulos a não falar levianamente. Não ficou nem um pouco apreensivo de que errassem. Teve a fé e a ousadia de lhes confiar a sua autoridade.
Os judeus, entretanto, eram diferentes. Duvida­ram e perguntaram: "Como isto pode acontecer? Como podemos ter certeza de que será assim? Precisamos de tempo para pensar." Não tiveram coragem para crer e tiveram muito medo.
Imaginemos que você é o diretor de uma ins­tituição. Enviando um representante, você lhe diz que reconhecerá tudo o que fizer de acordo com o que achar melhor e que as pessoas que o ouvi­rem estarão ouvindo a você mesmo. Naturalmente você exigirá dele que lhe preste um relatório diá­rio para que não cometa nenhum erro. Mas o Senhor nos fez representantes plenipotenciários. Que confiança teve em nós! Será que podemos confiar menos quando o Senhor demonstrou tal confiança na autoridade que delegou?
Talvez as pessoas argumentem: "E se a auto­ridade estiver errada?" A resposta é: Se Deus teve coragem de confiar sua autoridade aos homens, então precisamos de coragem para obedecer. Se a pessoa com autoridade está certa ou errada não nos diz respeito, uma vez que é diretamente res­ponsável para com Deus. Os obedientes só preci­sam obedecer; o Senhor não nos considerará res­ponsáveis por qualquer erro devido à obediência, mas, antes, considerará responsável a autoridade delegada pelo erro cometido. A insubordinação, entretanto, é rebeldia, e, por esta, aquele que se encontra debaixo da autoridade terá de respon­der a Deus.
Fica portanto explícito que nenhum elemento humano está envolvido nesta questão da autori­dade. Se a nossa sujeição for simplesmente diri­gida a um homem todo o significado da autorida­de fica perdido. Quando Deus institui sua auto­ridade delegada ele fica obrigado por sua honra a manter essa autoridade. Cada um de nós é responsável diante de Deus nessa questão. Vamos tomar o cuidado de não cometer erros.
Rejeitar a autoridade  delegada é uma afronta a Deus

Toda a parábola registrada em Lucas 20:9-16 focaliza a questão da autoridade delegada. Deus não veio pessoalmente para receber o que lhe era devido depois que arrendou a vinha aos la­vradores. Três vezes enviou seus servos e na quarta vez enviou o seu próprio Filho. Todos fo­ram seus delegados. Queria ver se os lavradores se sujeitariam às autoridades por ele delegadas, Ele poderia ter vindo pessoalmente, mas enviou representantes.
Aos olhos de Deus aqueles que rejeitam seus servos rejeitam-no pessoalmente. É impossível que ouçamos a palavra de Deus e não as pala­vras dos seus delegados. Se estamos sujeitos à autoridade de Deus, então também devemos ficar sujeitos à sua autoridade delegada. Noutras pas­sagens, além de Atos 9:4-15 que exemplifica a autoridade direta do Senhor, o restante da Bíblia demonstra a autoridade que ele delegou aos ho­mens. Pode-se dizer que ele concedeu quase toda a sua autoridade aos homens. Os homens podem frequentemente pensar que são simplesmente su­jeitos a outros homens, mas aqueles que conhe­cem a autoridade percebem que estes outros ho­mens são autoridades delegadas por Deus. Não é preciso humildade para ser obediente à autori­dade direta de Deus, mas é preciso modéstia e quebrantamento para ficar sujeito à autoridade delegada. Se uma pessoa não se despojar com­pletamente da carne não será capaz de aceitar e atender à autoridade delegada. Vamos tomar consciência de que, em vez de vir pessoalmente, ele enviou seus delegados para recolher aquilo que lhe é devido. Qual, então, deveria ser a nos­sa atitude para com Deus? Deveríamos esperar que Deus viesse pessoalmente? Lembre-se de que quando ele aparecer virá para julgar, não para recolher!
O Senhor mostrou a Paulo como ele tinha re­calcitrado contra os aguilhões quando resistiu ao Senhor. Quando Paulo viu a luz e a autoridade, entretanto, perguntou: "Que queres que eu faça, Senhor?" Com esta atitude colocou-se sob a auto­ridade direta do Senhor. Não obstante, o Senhor imediatamente desviou Paulo para sua autorida­de delegada. "Levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer" (Atos 9:6). Dali em diante Paulo reconheceu a autoridade. Não se considerou tão excepcional que só ouviria se o próprio Senhor lhe dissesse o que fazer. Durante seu primeiro encontro o Senhor colocou Paulo sob sua autoridade delegada. E nós? Considerando
que cremos no Senhor, até que ponto estivemos sujeitos à autoridade delegada? A quantas autori­dades delegadas temo-nos sujeitado?
No passado Deus ignorou nossas transgressões porque éramos ignorantes, mas agora temos de pensar seriamente nas autoridades delegadas por Deus. O que Deus enfatiza não é a sua própria autoridade mas as autoridades indiretas que ele estabeleceu, todos aqueles que são insubordina­dos às autoridades indiretas de Deus não estão sujeitos à autoridade direta de Deus.
Para conveniência da explanação, fazemos dis­tinção entre autoridade direta e autoridade dele­gada; para Deus, entretanto, só existe uma única autoridade. Não desprezemos as autoridades no lar e na igreja; não negligenciemos todas aque­las autoridades delegadas. Embora Paulo ficasse tomado pela cegueira, esperou por Ananias com seus olhos interiores bem abertos. Ver Ananias foi como ver o Senhor; ouvi-lo foi como ouvir o Senhor.
A autoridade delegada é tão séria que se al­guém a ofende fica em desacordo com Deus. Ninguém pode esperar obter luz diretamente do Senhor se recusar-se a receber luz da auto­ridade delegada. Paulo não raciocinou: "Uma vez que Cornélio pediu para falar com Pedro, eu vou procurar Pedro ou Tiago; eu não vou aceitar que este humilde irmão Ananias exerça autori­dade sobre mim." É absolutamente impossível re­jeitar a autoridade delegada e continuar sujeito diretamente a Deus; rejeitar o primeiro é o mes­mo que rejeitar o segundo. Só um louco tem pra­zer em falhar diante da autoridade delegada. Aquele que não gosta dos delegados divinos não gosta do próprio Deus. É a natureza rebelde do homem que fá-lo desejar obedecer à autoridade direta de Deus sem ficar sujeito às autoridades delegadas que Deus estabeleceu.

Deus respeita sua autoridade delegada

Números 30 trata da questão do voto ou pro­messa feita por uma mulher. Enquanto estivesse na casa de seu pai durante a sua mocidade o voto ou promessa feita por uma mulher seria válido só se o pai não tivesse nada contra ele. Se ela fosse casada, seu voto teria de ser apro­vado ou desaprovado por seu marido. A autorida­de direta agiria sobre o que a autoridade dele­gada consentisse ou anularia aquilo que esta cancelasse. Deus gosta de delegar sua autoridade e também respeita seus delegados. Considerando que a mulher se encontrava sob a autoridade do marido, Deus preferia que ela obedecesse à au­toridade a que cumprisse o seu voto. Mas se o marido como autoridade delegada errasse, Deus certamente lidaria com ele, pois ele levaria a iniquidade dela. A mulher não era considerada responsável.
Assim, esta passagem das Escrituras nos mostra como não podemos ignorar a autoridade delega­da para nos sujeitarmos à autoridade de Deus. Tendo delegado sua autoridade aos homens, o próprio Deus não suplanta a autoridade delega­da; antes ele se restringe pela autoridade que delegou. Ele confirma o que a autoridade dele­gada confirmou e anula o que também foi anu­lado. Deus sempre mantém a autoridade que de­legou. Ficamos, portanto, sem outra escolha a não   ser sujeitarmo-nos  às  autoridades  gover­nantes.
Todo o Novo Testamento se apóia na autori­dade delegada. A única exceção se encontra em Atos 5:29 quando Pedro e os apóstolos respon­deram ao concílio judeu que lhes proibia en­sinar em nome do Senhor Jesus. Pedro respon­deu dizendo: "Antes importa obedecer a Deus do que aos homens." Isto porque a autoridade dele­gada, neste caso, transgrediu distintamente a ordem de Deus e pecou contra a Pessoa do Senhor. Uma resposta como essa de Pedro só poderia ser dada nesta situação particular. Em todas as ou­tras circunstâncias temos de aprender a nos su­jeitarmos às autoridades delegadas. Jamais deve­ríamos produzir obediência através da rebeldia.










CAPÍTULO 8

A autoridade do corpo (a Igreja)

Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim tam­bém com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escra­vos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. Se o ouvido dis­ser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde o olfato? Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. Não podem os olhos dizer à mão: Não precisa­mos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós (1 Co. 12:12-21).

Se teu irmão pecar (contra ti), vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra, terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu (Mt. 18:15-18).

A autoridade se expressa de maneira mais completa no corpo

A mais ampla expressão da autoridade de Deus se encontra no corpo de Cristo, sua Igreja. Em­bora Deus tenha estabelecido o procedimento da autoridade neste mundo, nenhum daqueles rela­cionamentos (governantes e povo, pais e filhos, maridos a esposas, senhores e servos), pode dar à autoridade sua expressão mais ampla. Conside­rando que as muitas autoridades governantes na terra são todas institucionais, sempre há a pos­sibilidade da aparência de subordinação sem que haja realmente sujeição do coração. Não há modo de averiguar se as pessoas estão seguindo uma ordem do governante com sinceridade ou simples­mente estão prestando obediência de boca. Tam­bém é difícil dizer se os filhos estão atendendo aos pais de todo o coração ou não. Por isso a sujeição à autoridade não pode ser exemplificada pelo modo como os filhos estão sujeitos aos pais, os servos aos sem: senhores, ou o povo aos go­vernantes. Contudo a  autoridade de Deus não pode ser estabelecida sem sujeição, nem poderia se a sujeição não fosse do coração. Então, nova­mente, todos esses exemplos de sujeição ficam dentro do raio de ação dos relacionamentos hu­manos; consequentemente são temporais e estão sujeitos à separação. Portanto fica claro que a sujeição absoluta e perfeita não se pode encontrar neles.
Só o relacionamento entre Cristo e a igreja pode expressar totalmente a autoridade e a obe­diência. Pois Deus não chamou a igreja para ser uma instituição; ordenou que fosse o corpo de Cristo. Frequentemente pensamos que a igreja é uma reunião de crentes com a mesma fé ou um ajuntamento de corações amorosos, mas Deus a vê de maneira diferente. Ela não representa só a mesma fé e o amor unido, mas muito mais, como se fosse um só corpo.
A igreja é o corpo de Cristo, enquanto Cristo é o Cabeça da igreja. Os relacionamentos de pais e filhos, senhores e servos, e até mesmo ma­ridos e esposas, todos podem ser interrompidos, mas o corpo físico não pode ser separado de sua cabeça; são um para sempre. Do mesmo modo, Cristo e a igreja também não podem nunca ser separados. A autoridade e a obediência encontra­das em Cristo e na igreja são de uma natureza tão perfeita que ultrapassam todas as outras ex­pressões de autoridade e obediência.
Apesar do amor que os pais têm para com seus filhos, estão sujeitos ao uso ilegal de sua autori­dade. Semelhantemente, os governos podem emi­tir ordens erradas ou os senhores podem abusar de sua autoridade. Neste mundo, a autoridade, assim como a obediência, são todas imperfeitas. Isto explica por que Deus desejou estabelecer uma autoridade perfeita e uma obediência per­feita em Cristo e na igreja, sendo ele o Cabeça e ela o corpo. Os pais podem às vezes magoar seus filhos, os maridos às esposas, os senhores aos servos, e os governos ao povo. Mas nenhuma cabeça fará mal ao seu próprio corpo; a autorida­de da cabeça não está sujeita a erro, mas é per­feita. Do mesmo modo, a obediência do corpo à cabeça é perfeita. Logo que a cabeça concebe uma idéia, os dedos se movem naturalmente, harmo­niosamente, silenciosamente. A intenção de Deus para nós é que prestemos obediência completa; ele não se satisfará até que sejamos colocados no mesmo grau de obediência do corpo para com a sua cabeça.
Isto vai muito além do que pode ser repre­sentado pelo relacionamento entre marido e es­posas, uma vez que maridos e esposas são en­tidades separadas. Mas em Cristo os dois são um: Ele é a obediência e também a autoridade. São um nele. Isto difere do mundo, porque nesse cam­po de ação a autoridade e a obediência são duas coisas separadas. Isto não acontece com o corpo e a cabeça; os movimentos do corpo exigem pouco esforço da cabeça; o corpo se movimenta com graça ao menor impulso da cabeça. Este é o tipo de obediência que satisfaz a Deus, não a sujeição que os filhos têm aos pais ou esposas aos maridos, mas como o corpo tem para com a cabeça. Como isto difere da sujeição pela subjugação!
Depois que uma pessoa aprende mais sobre a obediência, verá a diferença entre a ordem de Deus e a vontade de Deus. A primeira é uma palavra enunciada por Deus enquanto a última é uma idéia concebida pela mente de Deus. A ordem tem de ser enunciada mas a vontade pode silenciar. O Senhor Jesus agia de acordo com ambas, a vontade e a palavra de Deus.
Do mesmo modo Deus vai operar em seu povo até que o relacionamento entre Cristo e a igreja siga o mesmo padrão do relacionamento entre Deus e o seu Cristo. Deus deve continuar tra­balhando até que obedeçamos a Cristo assim co­mo Cristo obedece a Deus. A primeira fase do trabalho divino é fazer-se ele mesmo o Cabeça de Cristo. A segunda fase é tornar Cristo o Ca­beça da igreja. Deus vai trabalhar até que obe­deçamos à sua vontade instantaneamente sem mesmo haver necessidade de sermos disciplinados pelo Espírito Santo. A terceira fase é tornar o reino deste mundo no reino de nosso Senhor e do seu Cristo. A primeira fase já foi realizada, a terceira está por vir. Atualmente nos encontra­mos na fase do meio. Seu cumprimento é abso­lutamente essencial para a vinda da terceira fase. Estamos aqui para obedecer a fim de que Deus possa realizar sua vontade, ou para desobedecer e assim atrapalhar a obra de Deus? Deus tem procurado estabelecer sua autoridade no univer­so, e a chave disso é a igreja. A igreja está no meio, servindo de pivô. Nisto, Deus nos reveste com muito maior glória. Sobre os nossos ombros está a responsabilidade de manifestar autoridade.

Para o corpo obedecer à cabeça é a coisa mais natural e agradável

Deus providenciou para que a cabeça e o corpo participassem de uma só vida e natureza. Portanto, é a coisa mais natural para o corpo obe­decer à cabeça. Na verdade, nesse relacionamento a desobediência estaria fora de lugar. Por exem­plo, é normal que a mão se levante quando a cabeça dá a instrução; se a mão falhar em obe­decer, algo está errado! Do mesmo modo, o es­pírito de vida que Deus nos deu é exatamente o mesmo que o Senhor tem; portanto a natureza de nossa vida é a mesma da vida dele. Assim, não existe possibilidade de discórdia e desobe­diência.
Em nossos corpos físicos alguns movimentos são conscientes enquanto outros são automáticos, porque a cabeça e o corpo estão tão unidos que a obediência inclui tanto o que é consciente quan­to o automático. Por exemplo, pode-se respirar profundamente de maneira consciente ou respi­rar naturalmente sem nenhum esforço consciente. Nosso coração bate automaticamente; não espera que se dê uma ordem. Esta é a obediência da vida. A cabeça solicita a obediência do corpo sem alarde ou compulsão, sem nenhum conflito, e em perfeita harmonia. Mas hoje em dia há pessoas que só obedecem ordens. Isto não é apropriado, pois por trás da ordem jaz a vontade, e a von­tade é a lei da vida. A obediência perfeita só pode ser reconhecida quando se obedece à lei da vida. Nada aquém daquilo que um corpo presta à sua cabeça pode ser chamado de obediência. A obediência forçada não segue o padrão da obe­diência.
O Senhor nos colocou em seu corpo onde exis­te união e obediência perfeitas. É verdadeiramen­te maravilhoso ver a mente do Espírito Santo operando nos membros, que nem sequer estão conscientes de serem membros diferentes por­que seu relacionamento é tão indivisível e sua coordenação tão harmoniosa. Às vezes nem sequer precisamos pensar na coordenação das funções dos vários membros. Está verdadeiramente além das palavras humanas descrever a harmonia que existe entre os diversos membros. Mas cada um de nós tenha o cuidado de não ser um mem­bro doente, causador de problemas. Vivendo sob a autoridade de Deus estaremos habilitados a obedecer com mais naturalidade.
Resumindo, a igreja é o lugar não só da co­munhão dos irmãos e irmãs mas também o local da manifestação da autoridade.

Resistir à autoridade dos membros é resistir à cabeça

Embora a autoridade do corpo às vezes seja manifestada diretamente, muitas vezes ela se ma­nifesta de maneira indireta. O corpo não está apenas sujeito à cabeça; além disso, seus diver­sos membros ajudam-se mutuamente e estão su­jeitos uns aos outros. As mãos direita e esquerda não têm comunicação direta; é a cabeça que as movimenta. A mão esquerda não tem capacidade de orientar a mão direita, e vice-versa. A mão também não tem capacidade de ordenar aos olhos que olhem, mas simplesmente notifica à cabeça e deixa que a cabeça ordene aos olhos. Por isso, todos os diversos membros estão igualmente liga­dos à cabeça. Faça o que fizer um membro, tudo se atribui à cabeça. Quando meus olhos olham, sou eu que estou olhando; e o mesmo acontece com o andar e o trabalhar. Podemos, portanto, concluir que frequentemente julgar o membro é julgar a cabeça. A mão não pode ver; tem de aceitar o julgamento do olho. Se a mão pedir à cabeça para olhar, ou se a mão pedir para ver por si mesma, seria pedir de maneira errada.
Mas é justamente aí que jaz a falta comum dos filhos de Deus. Precisamos reconhecer nos outros membros a autoridade da Cabeça. A fun­ção de cada membro é limitada; o olho vê, a mão trabalha, e o pé caminha; devemos, portanto, aprender a aceitar as funções dos outros mem­bros. Não devemos recusar a função de qualquer membro. Se o pé rejeitasse a mão, seria o mesmo que rejeitar a Cabeça. Mas se aceitamos a auto­ridade de um membro, é o mesmo que aceitar a autoridade da Cabeça. Através da comunhão todos os outros membros podem constituir a mi­nha autoridade. Embora a função da mão no corpo físico seja tremenda, ela tem de aceitar a função do pé no momento em que precisar andar. A mão não pode ver cores, por isso tem de aceitar a autoridade do olho. A função de cada membro constitui a sua autoridade.



As riquezas de Cristo são autoridade

É impossível fazer de cada membro um corpo completo; cada um de nós tem de aprender a permanecer na posição de membro e aceitar as operações dos outros membros. O que os outros vêem e ouvem é como se eu visse e ouvisse. Acei­tar as operações dos outros membros é aceitar as riquezas da Cabeça. Nenhum membro pode dar-se ao luxo de ser independente, uma vez que cada um é membro do corpo; tudo o que fizerem os outros membros é considerado como operação de todos os membros e portanto operação do corpo.
O problema de hoje é que a mão insiste em ver, mesmo depois que o olho já viu. Cada um deseja ter tudo em si mesmo, recusando aceitar a provisão dos outros membros. Isto cria pobreza para o próprio membro e também para a igreja. A autoridade é apenas uma outra expressão das riquezas de Cristo. Só aceitando as funções dos outros — aceitando sua autoridade — recebe-se a riqueza de todo o corpo. Submeter-se à auto­ridade dos outros membros é possuir suas rique­zas. A insubordinação cria pobreza. "Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso" (Mt. 6:22); se o teu ouvido é bom, todo o corpo ouvirá.
Geralmente interpretamos mal a autoridade como algo que nos oprime, nos magoa, nos per­turba. Deus não tem um conceito assim. Ele usa autoridade para suprir nossas falhas. Sua moti­vação para instituição da autoridade é conceder--nos suas riquezas e suprir as necessidades dos fracos. Ele não quer que você fique anos a fio esperando e atravesse muitos dias negros e cheios de sofrimento antes que seja capaz de ver por si mesmo. A essa altura você poderá ter levado muitos para as trevas. Na verdade, você se trans­formaria num cego guiando cegos. Que prejuízos Deus sofreria por seu intermédio! Não, primeiro ele opera na vida de outro, e opera de maneira total, para poder colocar essa pessoa como auto­ridade sobre você para que você aprenda a obe­diência e possua o que nunca possuiu antes. A riqueza dessa pessoa se torna sua riqueza. Se você fizer vista grossa a este procedimento divino, ainda que viva cinquenta anos ficará muito atrás do que aquela pessoa alcançou.
A maneira pela qual Deus nos garante a sua gra­ça é dupla; às vezes, embora seja raro, concede-nos a sua graça diretamente; na maioria das ve­zes ele no-la concede indiretamente — isto é, Deus coloca sobre nós irmãos e irmãs na igreja que são mais desenvolvidos espiritualmente para que aceitemos o julgamento deles como nosso.
Com isto nos tornamos aptos a possuir as rique­zas deles sem que passemos por dolorosas expe­riências. Deus depositou muita graça na igreja, mas ele dispensa a cada membro alguma graça em particular, tal como cada estrela tem a sua própria glória. Assim, a autoridade apresenta as riquezas da igreja. A riqueza de cada membro é a riqueza de todos. Rebelar-se é preferir o ca­minho da pobreza. Resistir à autoridade é rejei­tar os meios da graça e da riqueza.

Distribuição de funções também é uma delegação de autoridade

Quem se atreveria a desobedecer à autoridade do Senhor? Mas vamos nos lembrar de que a autoridade dos membros que Deus coordenou no corpo também precisa ser atendida. Deus reuniu muitos membros, e é rebeldia total alguém re-cusar-se a ajudar os outros membros. Às vezes o Senhor usa um membro de maneira direta, mas em outras ocasiões ele usa outro membro para suprir a necessidade daquele membro. Quando a cabeça orienta o olho para olhar, todo o corpo tem de aceitar a visão daquele olho como sua visão. Tal distribuição de funções é uma dele­gação de autoridade; isto também representa a autoridade da cabeça. Se os outros membros ti­verem a presunção de ver por si mesmos, estarão sendo rebeldes. Jamais seja tolo a ponto de imaginar-se todo-poderoso.
Lembre-se sempre que você não passa de um membro; você tem de aceitar as operações dos outros membros. Quando você se submete a uma autoridade visível está em perfeita harmonia com a Cabeça, uma vez que o fato de alguém ter o que você precisa constitui sua autoridade. Todo aque­le que tem um talento tem um ministério, e todo aquele que tem um ministério tem autoridade. Só o olho pode ver; portanto, quando houver neces­sidade de visão, você tem de se submeter à auto­ridade do olho e receber o que ele tem para dar. 0 ministério concedido por Deus é autoridade; ninguém pode rejeitá-lo. A maior parte das pes­soas quer receber autoridade direta de Deus, po­rém Deus mais frequentemente estabelece autori­dades indiretas ou delegadas para obedecermos. Através delas recebemos suprimento espiritual.

A vida torna fácil a obediência

Para o mundo, assim como foi para os israeli­tas, é difícil obedecer, porque não há um elo de vida. Mas para nós que temos um relacionamento vital, desobedecer é que é difícil. Há uma unida­de interna — uma vida e um Espírito, o Espírito Santo orientando e controlando tudo. Sentimo-nos felizes e em paz quando nos sujeitamos uns aos outros. Se tentamos colocar todo o fardo sobre os nossos próprios ombros, ficamos cansa­dos. Mas se o fardo é distribuído entre os diversos membros, sentimo-nos em paz. Que tranquilida­de é aceitar as restrições do Senhor. Ficando su­jeitos à autoridade dos outros membros, expe­rimentamos uma grande emancipação. Mas colocarmo-nos no lugar de outros faz com que nos sintamos muito artificiais. A obediência é natural; desobedecer é difícil.
O Senhor chamou-nos para aprender a obe­diência no corpo, na igreja, como também no lar e no mundo. Temos de aprender bem no corpo, para não encontrarmos dificuldades em outros setores. A igreja é o lugar onde temos de começar a aprender obediência. É o lugar do cumprimen­to como também o lugar da provação. Se fracas­sarmos ali, fracassaremos em qualquer lugar. Se aprendemos bem na igreja, os problemas do rei­no, do mundo, e do universo poderão ser resol­vidos.
No passado, tanto a autoridade como a obe­diência eram objetivas, isto é, uma sujeição externa a um poder externo. Hoje a autoridade tornou-se uma coisa viva, algo interno. Autorida­de e obediência encontram-se no corpo de Cristo. Instantaneamente ambos se tornam subjetivos e as duas se mesclam numa só. Eis aí a mais alta expressão da autoridade de Deus. Autoridade e obediência atingem sua consumação no corpo. Vamos nos edificar aqui; não podemos de outro modo. O lugar onde entramos em contato com a autoridade é o corpo. A Cabeça (a fonte da auto­ridade) e os membros (cada um com sua função, ministrando mutuamente como autoridade delegada além de obedecer à autoridade) tudo se en­contra na igreja. Se fracassarmos em reconhecer a autoridade aqui, não há outra saída.





CAPÍTULO 9

As manifestações da rebeldia do homem

Em que setores particulares a rebeldia do ho­mem se manifesta mais obviamente? Em palavras, razão e pensamentos. Se não tratarmos esses se­tores de maneira prática, a esperança de livra­mento da rebeldia é muito obscura.

1. PALAVRAS

Especialmente aqueles que, seguindo a car­ne, andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores, ao passo que anjos, embora maiores em força e poder, não proferem contra eles juízo infa­mante na presença do Senhor. Esses, todavia, como brutos irracionais, naturalmente feitos para presa e destruição, falando mal daquilo em que são ignorantes, na sua destruição tam­bém hão de ser destruídos (2 Pedro 2:10-12).
Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas cousas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência (Ef. 5:6).
Ora, estes, da mesma sorte, quais sonhado­res alucinados, não só contaminam a carne, como rejeitam governo, e difamam autorida­des superiores. Contudo, o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário; disse: O Senhor te repreenda. Es­tes, porém, quanto a tudo o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o que compreendem por instinto natural, como brutos sem razão, até nessas cousas se corrompem (Judas 8-10).
 Raça de víboras, como podeis falar cousas boas, sendo maus? porque a boca fala do que está cheio o coração (Mt. 12:34).

As palavras são o  escoadouro do coração

Um homem rebelde de coração acabará profe­rindo palavras rebeldes, pois do que está cheio o coração a boca fala. Para reconhecer a auto­ridade, é preciso que primeiro se entre em con-tato com a autoridade; caso contrário, jamais se obedecerá. O simples ouvir uma mensagem sobre obediência é totalmente ineficaz. É preciso que haja um encontro com Deus; então o fundamen­to da autoridade de Deus será estabelecido em sua vida. Depois disso, sempre que proferir uma pa­lavra rebelde — não, antes mesmo que a profi­ra — tomará consciência de sua transgressão e assim ficará internamente impedido. Se alguém pode livremente pronunciar palavras de rebeldia sem qualquer sentimento interno de restrição, certamente jamais teve contato com a autoridade. É muito mais fácil pronunciar palavras rebeldes do que efetuar atos de rebeldia.
A língua é difícil de ser domada. Muito rapi­damente a rebeldia de um homem se expressa através de sua língua. Ele pode concordar com uma pessoa diante dela mas injuriá-la pelas cos­tas; pode manter silêncio diante de um homem mas tem muito a dizer em altas vozes depois. Não é difícil usar a boca em atitude de rebeldia. Os componentes da sociedade de hoje são todos rebeldes; só prestam culto de boca e sujeição ex­terna.
A igreja tem de ser diferente; na igreja deveria haver obediência do coração. Se há ou não obediência do coração é fácil de perceber pelas palavras que saem da boca de uma pessoa. Deus quer obediência de coração.




Eva levianamente acrescentou algo à palavra de Deus

Quando Eva foi tentada, ela acrescentou "nem tocareis nele" à palavra de Deus (Gn. 3:3). Vamos tomar consciência da seriedade disto. Se alguém conhece a autoridade de Deus jamais ousará acrescentar uma sílaba. A palavra de Deus é bastante clara: "De toda árvore do jardim co­merás; porque no dia em que dela comeres, cer­tamente morrerás" (Gn. 2:16-17). Deus jamais disse "nem tocareis"; isto foi acrescentado por Eva. Todos aqueles que levianamente mudam a palavra de Deus, acrescentando ou omitindo, dão evidência de que não conhecem a autoridade; por­tanto são rebeldes e ignorantes.
Imaginem alguém que foi enviado pelo go­verno a algum lugar como representante ou por-ta-voz; certamente a pessoa se esforçará muito tentando memorizar o que foi encarregada de dizer; não se atreveria a acrescentar qualquer pa­lavra sua. Embora Eva visse Deus diariamente, não reconheceu a autoridade; portanto, leviana­mente, acrescentou suas próprias palavras. Tal­vez imaginasse que não havia muita diferença numas poucas palavras a mais ou a menos. Não, mesmo uma pessoa deste mundo, servindo um senhor deste mundo, não se atreveria a mudar livremente as palavras do seu senhor. Como, en­tão, nos atreveríamos nós que servimos ao Deus vivo?

Cão publicou o fracasso de seu pai

Vamos ver o que Cão fez quando viu a nudez de seu pai. Saiu para contá-lo a seus irmãos, Sem e Jafé. Aquele que é insubordinado de cora­ção sempre espera que a autoridade fracasse. As­sim Cão teve a sua oportunidade de revelar a falta de seu pai. Fazendo assim comprovou ple­namente que não estava de todo sujeito à auto­ridade dele. Geralmente submetia-se a seu pai por fora, mas não de todo coração. Agora, porém, quando descobriu a fraqueza de seu pai, aprovei­tou a oportunidade para publicá-la aos irmãos. Hoje em dia, muitos irmãos, devido a uma falta de amor, sentem prazer em criticar pessoas e deleitam-se grandemente em revelar as faltas dos outros.Cão não tinha nem amor nem submis­são. É uma manifestação de rebeldia.

Miriã e Arão injuriaram Moisés

Números 12 registra como Miriã e Arão fala­ram contra Moisés e introduziram problemas fa­miliares no trabalho. Moisés ocupava uma posição única na vocação divina; Miriã e Arão eram simples subordinados. Era a ordem de Deus. Não obstante, os dois se rebelaram contra aquela or­dem e expressaram seus sentimentos falando con­tra Moisés. Não conheciam a autoridade, uma vez que o reconhecimento da autoridade sela bocas e resolve muitos problemas. Dificuldades naturais são resolvidas logo que se coloquem diante da autoridade. Miriã simplesmente disse: "Porventu­ra tem falado o Senhor somente por Moisés? não tem falado também por nós?" (versículo 2). Ela não parece ter dito muita coisa, mas Deus per­cebeu que era injurioso. Provavelmente ela tinha muitas outras palavras que não foram proferidas, exatamente como um "iceberg" tem visível sobre a superfície apenas um décimo de sua massa, enquanto os outros nove décimos permanecem es­condidos na água. Por mais inconsequentes que as palavras sejam, se houver um espírito rebelde na pessoa, será imediatamente descoberto por Deus. A rebeldia geralmente se manifesta em pa­lavras. Não importa se sejam frívolas ou sérias, são rebeldia.


Core a seu grupo atacaram Moisés

Em Números 16, Core e seu grupo de duzentos e cinquenta líderes da congregação reuniram-se para atacar Mosiés. Atacaram-no com palavras. Disseram tudo o que estava em seus corações. Re­clamaram de Moisés. Embora Miriã falasse con­tra ele, suas palavras foram reprimidas; por isso ela pôde ser restaurada. Mas Core e seu grupo, como uma torrente incontrolável, desligou-se de toda restrição. Vemos aí dois diferentes graus de rebeldia: alguns caem em desgraça mas são fi­nalmente restaurados, enquanto outros devem ser engolidos pelo Seol, pois não têm nenhuma re­pressão. Esses de Números 16, além de falarem contra Moisés, também o censuraram aberta e se­veramente. A situação foi tão séria que Moisés nada pôde fazer a não ser se prostrar ao chão.
Como foram graves suas acusações! Disseram a Moisés: "Basta! ... por que, pois, vos exaltais so­bre a congregação do Senhor?" (versículo 3). Era como se dissessem: "Reconhecemos que Deus está no meio da congregação, pois a congregação é santa, mas não reconhecemos sua autoridade pois você é um usurpador." Aprendemos neste exemplo que todo aquele que atende à autoridade direta de Deus mas rejeita a autoridade delegada con­tinua, não obstante, sob o princípio da rebeldia. Se uma pessoa fosse submissa à autoridade, certamente controlaria sua boca não ousaria fa­lar tão livremente Quando Paulo foi julgado pelo concílio falou como profeta ao sumo sacerdote dizendo: "Deus há de ferir-te parede branqueada" (Atos 23:3). Mas ele também era judeu, por isso tão-logo foi informado que Ananias era o sumo sacerdote voltou atrás, dizendo: "Não sabia, ir­mãos, que ele é sumo sacerdote; porque está es­crito: Não falarás mal de uma autoridade do teu povo" (versículo 5). Que cuidado teve com suas palavras e com que escrúpulo controlou sua boca.

A rebeldia está ligada à indulgência da carne

O apóstolo Paulo mencionou aqueles que des­prezam a autoridade imediatamente depois de falar daqueles que são indulgentes na concupiscência das paixões que corrompem. O sintoma daqueles que desprezam a autoridade é resposta pronta, isto é, a enunciação das palavras re­beldes.
Os semelhantes se atraem. Uma pessoa natu­ralmente se ligará àqueles que são iguais a ela e se comunicará com aqueles que têm a mesma natureza. O rebelde e o carnal andam juntos. Deus os considera iguais. O rebelde e o carnal são tão maus e obstinados que não têm medo de injuriar os gloriosos. Aqueles que conhecem Deus tremem ao fazê-lo. É concupiscência da boca falar palavras injuriosas. Se tal pessoa co­nhecesse a Deus, ficaria arrependida e se odiaria porque saberia o quanto Deus odeia uma atitude assim. Os anjos antes se encontravam sob a ju­risdição desses seres gloriosos, por isso não se atreveram a pronunciar um julgamento injurioso sobre estes diante do Senhor. Tiveram a cautela de não armazenar uma atitude rebelde em se tratando daqueles espíritos que não permanece­ram em sua antiga posição.
Pelo mesmo motivo, não deveríamos injuriar aos outros, falando contra eles diante de Deus, nem mesmo em nossas orações. Davi provou ser pessoa que manteve sua posição reconhecendo que Saul era o ungido do Senhor. O poder de Satanás é estabelecido por aqueles que não ficam no seu lugar, enquanto os anjos permanecem no seu lugar. Pedro usa os anjos para exempli­ficar este princípio do lugar de cada um para que sejamos mais cuidadosos nesse aspecto.
Há duas coisas que levam os cristãos a perder o seu poder: 1) pecado, 2) injúria à autoridade. Sempre que uma pessoa fala contra outra, significa perda de poder) Perda de poder é maior quando a desobediência é expressa em palavras do que quando parmenece escondida no coração. 0 efeito das palavras sobre o poder excede muito aquilo que percebemos comumente.
é verdade que diante de Deus o pensamento de um homem é julgado como se fosse um ato. Aquele que concebe o mal já cometeu o mal. Por outro lado o Senhor diz: "Raça de víboras, como podeis falar cousas boas, sendo maus? por­que a boca fala do que está cheio o coração... Digo-vos que toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia de juízo; por­que pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado" (Mt. 12:34, 36-37). Isto implica dizer que há uma diferença entre palavras e pensamentos. O pensamento pode per­manecer encoberto, mas uma vez proferida a palavra, tudo fica desnudo. Os cristãos de hoje perdem o seu poder tanto através da boca quan­to dos atos; não, perdem muito mais através da boca. Todos os rebeldes têm problemas com suas bocas. Todos aqueles que não podem con­trolar suas palavras não podem controlar a si mesmos.

Deus repreende fortemente os rebeldes

Leia novamente 2 Pedro 2:12: "Esses, todavia, como brutos irracionais, naturalmente feitos para presa e destruição." Será que pode haver pala­vras de repreensão mais fortes na Bíblia do que estas que se encontram aqui? Por que repreendê-­los como a animais? Porque são tão insensíveis. Uma vez que a autoridade constitui a coisa mais importante de toda a Bíblia, rebelar-se contra ela constitui o mais grave dos pecados. Nossa boca não deveria falar inadvertidamente. Tão-logo travamos conhecimento com Deus nossa bo­ca deveria sofrer restrições; não deveríamos nos atrever a replicar às autoridades. O encontro com a autoridade cria em nós uma consciência de autoridade exatamente como o encontro com o Senhor nos torna conscientes do pecado.

As dificuldades na igreja geralmente derivam de palavras injuriosas

Falar inadvertidamente é o grande responsá­vel pela quebra da união da igreja e pela perda de poder. Provavelmente a maioria das dificul­dades na igreja de hoje se devem principalmente às palavras injuriosas; só uma parte diminuta das dificuldades são verdadeiros problemas. Na realidade, a maioria dos problemas deste mundo foram criados através de mentiras. Se na igreja pudermos deixar de falar mal uns dos outros eliminaremos a maior parte de nossas dificulda­des. Como precisamos confessar nossos pecados diante de Deus e pedir o seu perdão! Todas as nossas palavras injuriosas devem ser cuidadosas e totalmente limitadas diante de Deus. "Acaso pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?" (Tiago 3:11) Não deveriam sair dos mesmos lábios palavras de amor e pa­lavras injuriosas. Que Deus envie um guarda para os nossos lábios, e não só para os lábios mas também para o nosso coração, para que se­jamos libertados dos pensamentos de rebeldia e das palavras injuriosas. Que as palavras injurio­sas se afastem para sempre de nós!





2. RAZÃO

E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus quanto à eleição prevale­cesse, não por obras, mas por aquele que cha­ma), já lhe fora dito a ela: 0 mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei a Jacó, porém me aborreci de Esaú.
Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum. Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprou­ver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz. Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua von­tade? Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura pode o objeto pergun­tar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para hon­ra e outro para desonra? Que diremos, pois, se Deus querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados pa­ra a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?  (Rm. 9:ll-24).

A injúria vem da razão

A rebeldia do homem contra a autoridade se manifesta em palavras, razão e pensamento. Se não reconhece a autoridade dirá palavras inju­riosas; tais palavras geralmente brotam do seu raciocínio. Cão tinha suas razões para injuriar seu pai, pois Noé estava nu. Miriã falou contra Moisés com base no fato de seu irmão ter se casado com a mulher cusita. Aquele que se su­jeita à autoridade, entretanto, vive sob a
auto­ridade não com a razão. Coré e seu grupo de duzentos e cinquenta líderes rebelaram-se contra Moisés e Arão dizendo: "Toda a congregação é santa, cada um deles é santo, e o Senhor está no meio deles; por que, pois, vos exaltais sobre a congregação do Senhor?" (Nm. 16:13). Eles ti­nham também suas razões; palavras injuriosas como essas geralmente são produzidas pelo racio­cínio.
Datã e Abirão parece que tinham razões ainda mais fortes; responderam a Moisés dizendo: "Nem tão pouco nos trouxeste a uma terra que mana leite e mel, nem nos deste campos e vinhas em herança; pensas que lançarás pó aos olhos destes homens?" (versículo 14). O que queriam dizer era que seus olhos podiam ver mais claramente a aparência da terra se estivessem lá. Quanto mais raciocinavam, mais fortes razões tinham para desconfiar que Moisés não era quem parecia ser. A razão não pode permitir a reflexão, uma vez que só se agrava mais através desta. As pessoas deste mundo vivem segundo a razão. Onde está, então, a diferença entre nós e o povo do mundo se nós também vivemos nesse reino?
Seguir o Senhor exige libertação da razão
É a pura verdade que precisamos arrancar os olhos de nossa razão para podermos seguir o Se­nhor. O que governa nossas vidas? É a razão, ou a autoridade? Quando uma pessoa é iluminada pelo Senhor fica cega com a luz, e sua razão é colocada de lado. Paulo ficou cego sob a grande luz na estrada de Damasco; deixou de se guiar por sua própria razão. Moisés jamais arrancou seus olhos, não obstante agia como se estivesse cego. Ele tinha seus argumentos a suas razões, mas em obediência a Deus vivia acima da razão. Aqueles que estão sob a autoridade de Deus não vivem segundo a vista. Os servos de Deus devem libertar-se da vida da razão. A razão é a primeira causa da rebeldia; portanto não pode haver ne­nhum controle sobre nossas palavras se primei­ro não resolvermos totalmente o problema da ra­zão. Se uma pessoa não for libertada pelo Senhor da escravidão da razão, mais cedo ou mais tarde pronunciará palavras injuriosas.
Parece fácil falar sobre o livramento da vida da razão. Mas, se somos seres racionais, como podemos evitar discutir com Deus? Parece muito difícil. Raciocinamos desde a infância até a ida­de adulta, desde o nosso estado de incrédulos até o presente momento. O princípio básico de nossa vida é o raciocínio. Como então acabar com isto? Para acabar é  preciso sacrificar literalmente a própria vida de nossa carne! Por isso há duas categorias de cristãos: aqueles que vivem no nível da razão e aqueles que vivem no nível da autoridade.
Vamos fazer a pergunta: Onde estamos vivendo hoje? Quando recebemos uma ordem de Deus, será que paramos para examinar a questão e ver se existem motivos suficientes para fazer aquilo? Oh! Isto não passa de uma manifestação da árvore do conhecimento do bem e do mal. O fruto dessa árvore governa não só nossos negó­cios pessoais, mas até mesmo as coisas resol­vidas por Deus têm de passar através de nossa razão e julgamento. Pensamos por Deus e deci­dimos o que Deus deveria pensar. Sem dúvida, este é o princípio de Satanás, pois ele não deseja ser igual a Deus? Todos aqueles que realmente conhecem a Deus obedecem a ele sem argumenta­ção; aí não há possibilidade de misturar a razão com a obediência. Se alguém deseja aprender a obediência tem de deixar de lado a razão. Ou viverá pela autoridade de Deus ou pela razão humana
 — é absolutamente impossível viver atra­vés de ambas.
A vida terrena do Senhor Jesus foi totalmente acima da razão. Que razão poderia haver para a desgraça, os açoites e a crucificação que ele so­freu? Mas ele submeteu-se à autoridade de Deus; ele nem sequer argumentou ou perguntou; ele só obedeceu! Viver sob o domínio da razão é tão complicado! Pense nas aves do ar e nos lírios do campo. Com que simplicidade eles vivem! Quanto mais nos submetemos à autoridade, mais simples nossas vidas se tornam. Em Romanos 9, Paulo provou aos judeus que Deus também chama os gentios. Ele dá a entender que dos descendentes de Abraão só Isaque foi es­colhido e da semente de Isaque só Jacó foi escolhi­do. Tudo está de acordo com a eleição de Deus. Portanto, por que Deus não deveria escolher os gentios? Ele pode exercer misericórdia com quem ele quiser e ter compaixão de quem quiser. Ele ama o Jacó traiçoeiro e odeia o Esaú honesto (pelo menos é o que os homens supõem). Ele até endurece o coração de Faraó. Será que é injusto por causa disso? Mas Deus está assentado no tro­no da glória acima dos homens e estes estão sujeitos à sua autoridade. Quem é você, partícula de pó, para argumentar com Deus?
Ele é Deus e tem autoridade para fazer o que deseja. Não podemos segui-lo de um lado e, do outro, exigir a revelação dos motivos. Se quiser­mos servi-lo, não devemos argumentar. Todos aqueles que se encontram com Deus têm de jogar fora o seu raciocínio. Temos de permanecer tão-somente no solo da obediência. Não vamos inter­ferir através de nossos argumentos, tentando ser conselheiros de Deus. Vamos ouvir o que Deus declara: "Terei misericórdia de quem me aprou­ver ter misericórdia." Quão preciosa é a palavra "vontade"! Vamos adorar a Deus. Ele jamais ar­gumenta; ele simplesmente faz o que deseja fazer. Ele é o Deus da glória. Paulo também atesta: "Assim, pois, não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz" (Rm. 9:16-18). Endurecer seu coração não significa fazê-lo pecar; simplesmente significa desistir dele (veja Rm. 1:24, 26, 28).
Paulo, prevendo que aqueles aos quais escrevia poderiam objetar, antecipa-se dizendo: "Tu, po­rém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade?" (ver­sículo 19). Muitos concordariam que o raciocínio acima é tremendamente forte. Paulo também reconhece a força de tal argumento. Por isso ele prossegue: "Quem és tu, ó homem, para dis­cutires com Deus?! Porventura pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste as­sim?" (versículo 20). Ele não responde ao argu­mento deles; pelo contrário, faz-lhes uma per­gunta: "Quem és tu?" Ele não diz: "O que tu dizes?" Só pergunta: "Quem és tu para discu­tires com Deus?" Quando Deus exerce autorida­de não precisa consultar ninguém nem procurar aprovação. Simplesmente exige que se obedeça à sua autoridade e se reconheça que, se vem de Deus, é coisa boa.
Os homens sempre gostaram de discutir; mas não poderíamos perguntar: Há algum bom mo­tivo para sermos salvos? Não existe razão algu­ma. Eu nunca desejei nem lutei, mas estou salvo. É a coisa mais irracional que jamais acon­teceu. Mas Deus terá misericórdia de quem qui­ser. O oleiro tem o direito de fazer do mesmo bolo de barro um vaso lindo e outro para fins cor­riqueiros. É uma questão de autoridade, não uma questão de raciocínio. A dificuldade básica conosco, os homens de hoje, é que ainda vivemos sob o princípio do bem e do mal, sob o poder da razão. Se a Bíblia fosse um livro de argumentos, então certamente poderíamos discutir tudo. Mas em Romanos 9 Deus abre uma janela do céu e nos ilumina, não argumentando conosco, mas fazendo-nos uma pergunta: "Quem és tu?"

A glória de Deus liberta da razão

Não é fácil para os homens libertarem-se das palavras injuriosas; ainda é mais difícil ver-se livre do raciocínio. Quando eu era jovem, fre­quentemente me ofendia pelas coisas exorbitantes que Deus fazia. Mais tarde li Romanos 9 e pela primeira vez em minha vida percebi um pouco da autoridade de Deus. Comecei a perceber quem eu era — apenas um ser criado por ele. Como me atrevia a lhe responder com minhas mais
 ra­zoáveis palavras? Aquele que está acima de tudo vive numa glória inatingível. O vislumbre de uma fração de sua glória nos poria de joelhos e nos levaria a jogar fora nossos argumentos. Só aqueles que vivem muito distantes podem ser soberbos; aqueles que estão sentados nas trevas podem viver pelo raciocínio. Mas ninguém em todo o mundo é capaz de se ver verdadeiramente através da luz de sua própria combustão. Mas logo que o Senhor lhe concede um pouquinho de luz e permite que veja um pouquinho da glória de Deus, então ele cai como se estivesse morto — exatamente como o apóstolo João de antiga­mente. elimina o conhecimento do bem e do mal que veio através de Adão. Depois disso torna-se rela­tivamente fácil obedecermos.

"Eu sou o Senhor vosso Deus" — Eis a razão

Em Levítico 18-22, cada vez que Deus ordena certas coisas ao povo de Israel, introduz a frase: "Eu sou o Senhor vosso Deus." Esta nem sequer é antecedida pela conjunção "pois". Significa: "Fa­lei assim porque sou o Senhor vosso Deus. Eu não preciso apresentar minhas razões. Eu, o Se­nhor, sou a razão." Se você entender isto jamais será capaz de viver novamente pela razão. Você terá desejo de dizer a Deus: "Ainda que no passa­do eu tenha vivido pela mente e pela razão, agora me inclino e te adoro; qualquer coisa que te­nhas feito é suficiente para mim, porque foste tu que o fizeste." Depois que Paulo caiu na estrada de Damasco, seu raciocínio todo foi posto de lado. A pergunta que fez foi: "O que queres que eu faça, Senhor?" Instantaneamente colocou-se em sujeição ao Senhor. Ninguém que conhece a Deus argumentará, pois a razão é julgada e posta de lado pela luz.
Argumentar com Deus implica que Deus neces­sita obter nosso consentimento para tudo o que faz. Isto é loucura consumada. Quando Deus age não tem nenhuma obrigação de nos contar os motivos, porque os seus caminhos são mais altos que os nossos caminhos. Se tentamos rebaixar Deus e fazê-lo discutir conosco, nós o perderemos porque o transformamos num igual. Na argu­mentação não teremos adoração. Tão-logo a obe­diência se ausenta, desaparece a adoração.
 Julgando Deus com a nossa razão, nós mesmos nos estabelecemos por deuses. Onde, então, fica a diferença entre o oleiro e o barro? Será que o oleiro precisa pedir consentimento ao barro para fazer seu trabalho? Que o glorioso aparecimento do Senhor ponha um fim a toda nossa argu­mentação!

CAPÍTULO 10

As manifestações da rebeldia
do homem
(continuação)


3. PENSAMENTOS

Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e, sim, poderosas em Deus, para des­truir fortalezas; anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo; e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão (2 Co. 10:b-6).

O elo entre a razão e o pensamento

O homem manifesta sua rebeldia não apenas em palavras e raciocínio mas também em pensa­mentos. Palavras rebeldes brotam de um racio­cínio rebelde, e o raciocínio por sua vez trama o pensamento. Portanto o pensamento é o fator central na rebeldia.
2 Coríntios 10:4-6 é uma das mais importantes passagens da Bíblia, porque, nestes versículos, o setor particular no homem onde se exige obediência a Cristo tem destaque especial. O versículo 5 diz: "levando cativo todo pensamento à obediên­cia de Cristo". Isto dá a entender que a rebeldia do homem jaz basicamente no seu pensamento.
Paulo menciona que temos de destruir argu­mentações e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus. O homem gosta de edi­ficar raciocínios como fortalezas à volta do seu pensamento, mas tais raciocínios têm de ser des­truídos e o pensamento tem de ser cativo. As ar­gumentações devem ser deixadas de lado, mas o pensamento tem de ser reconduzido. Na guerra espiritual, as fortalezas têm de ser tomadas de assalto para que o pensamento seja levado ca­tivo. Se as argumentações não são jogadas fora, não há possibilidade de reconduzir o pensamen­to do homem à obediência de Cristo.
A frase "toda altivez", no versículo 5 é "todo edifício alto" no original. Do ponto de vista de Deus, as argumentações humanas são como um arranha-céu, obstruindo o seu conhecimento. Logo que o homem começa a raciocinar, seus pensamentos ficam sitiados e perde a liberdade de obedecer a Deus, uma vez que a obediência é uma questão de pensamento. A razão expressa externamente transforma-se em palavras, mas quando as argumentações se escondem dentro, cercam o pensamento e o paralisam para que não obedeça. O hábito do homem de argumentar é tão sério que não pode ser resolvido sem uma batalha.
Mas Paulo não usou a razão para lutar con­tra a razão. A inclinação mental para argumen­tar tem de ser derrotada com armas espirituais, isto é, o poder de Deus. É Deus que luta contra nós, pois nos tornamos seu inimigo. Nosso hábito mental de argumentar é algo que herdamos da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas como são poucos os que percebem quanta dificul­dade as nossas mentes proporcionam a Deus!
Sa­tanás emprega toda sorte de argumentações para nos escravizar a fim de que nos tornemos inimi­gos de Deus, em lugar de sermos subjugados por ele.
Gênesis 3 exemplifica 2 Coríntios 10. Satanás argumentou com Eva, e Eva, vendo que a árvore era boa para alimento, reagiu com argumenta­ção. Ela não deu ouvidos a Deus, pois tinha suas razões. Quando a razão aparece, o pensamento do homem cai numa armadilha. A razão e o pen­samento estão intimamente ligados; o primeiro tende a derrotar o segundo. E uma vez cativa a mente, o homem encontra-se impossibilitado de obedecer a Cristo. Segue-se, portanto, que se realmente desejamos obedecer a Deus, temos de saber como a autoridade de Deus destrói as for­talezas da razão.

Recapturando a mente cativa

No Novo Testamento grego a palavra "noema" ("noemata" no plural) foi usada seis vezes: Fili-penses 4:7; 2 Coríntios 2:11, 3:14, 4:4, 10:5 e 11:3. Foi traduzido em português por "mente", "desíg­nios", "sentidos", "entendimento", "pensamen­to" e "mente", respectivamente — significando "os desígnios da mente". A "mente" é a facul­dade; o "desígnio" é sua ação — o produto da mente humana. Através da faculdade da mente o homem pensa e decide livremente, e isto repre­senta o próprio homem. Assim, se alguém deseja preservar sua liberdade, tem de dizer que todos os seus pensamentos são bons e correios. Não se atreve a expô-los à interferência e, portanto, deve cercá-los com muitas argumentações. Eis por que os homens falham em crer no Senhor: ficam frequentemente aprisionados na fortaleza de al­guma argumentação.
 Um incrédulo pode dizer: "Vou esperar até ficar bem velho"; ou "Muitos cristãos não se comportam bem. Por isso não posso crer"; ou "Não agora. Vou esperar até que meus pais mor­ram. Semelhantemente, há razões que os cren­tes apresentam para não amar o Senhor: os estudantes dirão que estão ocupados demais com seus estudos; os homens de negócios ocupados demais com seus negócios; o doente acha que sua saúde é fraca demais, e assim por diante. Se Deus não destruir essas fortalezas os homens jamais ficarão livres.Satanás aprisiona os ho­mens através das fortalezas dos argumentos?
 A maioria dos homens está por trás de tantas li­nhas de defesa que eles são incapazes de atra­vessá-las para a liberdade. Só a autoridade de Deus pode levar cativo cada pensamento para obedecer a Cristo.
Para reconhecer a autoridade, as argumen­tações humanas têm de ser primeiramente lan­çadas ao chão. Só depois que o homem começa a ver que Deus é Deus conforme declarado em Romanos 9 é que suas argumentações são des­truídas. E quando as fortalezas de Satanás são destruídas, nenhuma argumentação permanece e os pensamentos humanos podem ser então le­vados cativos para obedecer a Cristo. Só depois que seus pensamentos são recapturados é que o homem pode verdadeiramente obedecer a Cristo.
Podemos perceber se alguém já tomou conheci­mento da autoridade observando se as suas pa­lavras, argumentos e pensamentos já foram de­vidamente reestruturados. Quando uma pessoa depara com a autoridade de Deus sua língua não se atreve a agitar-se livremente, suas argumen­tações e, mais profundamente, seus pensamen­tos já não podem mais ser livremente expressos. Naturalmente, o homem tem numerosos pensa­mentos, todos fortalecidos com muitas argumen­tações. Mas tem de vir um dia quando a autori­dade de Deus derruba todas as fortalezas da ar­gumentação que Satanás levantou a recaptura todos os pensamentos do homem para torná-lo um escravo espontâneo de Deus. Então já não pensa mais independentemente de Cristo; é to­talmente obediente a ele. Isto é libertação total.
Aquele que ainda não tomou conhecimento da autoridade geralmente aspira a ser conselheiro de Deus. Tal pessoa não tem os seus pensamentos recapturados por Deus. Aonde quer que vá, seu primeiro pensamento é como melhorar a situa­ção. Seus pensamentos jamais foram disciplina­dos, pois suas argumentações são tantas e tão incessantes. Temos de permitir que o Senhor faça em nós uma operação de corte, penetrando nas profundezas íntimas de nossos pensamentos até que sejam todos tomados cativos por Deus. De­pois reconheceremos a autoridade de Deus e não nos atreveremos a livremente argumentar ou aconselhar.
Agimos como se existissem duas pessoas no uni­verso que são oniscientes: Deus e eu. Eu sou um conselheiro que sabe tudo! Tal atitude indica claramente que meus pensamentos precisam ser recapturados, que não sei nada sobre a autori­dade. Se eu fosse alguém cujas fortalezas da ar­gumentação estivessem realmente tomadas pela autoridade de Deus, não ofereceria mais con­selhos, nem teria interesse em fazê-lo. Meus pen­samentos ficariam subordinados a Deus, e eu já não seria mais uma pessoa livre. (A liberdade natural é o solo para o ataque de Satanás; tem de ser renunciada.) Eu deveria estar pronto a ouvir. Os pensamentos do homem são controla­dos por um de dois poderes: pela argumentação ou pela autoridade de Cristo. Na verdade, nin­guém neste universo pode exercer livremente sua vontade, porque ou é cativo das argumen­tações ou tomado por Cristo. Consequentemente, ou serve a Satanás ou serve a Deus.
Se um irmão reconhece ou não a autoridade, pode ser facilmente percebido observando-se o seguinte: 1) se pronuncia palavras rebeldes, 2) se argumenta diante de Deus, e 3) se oferece muitas opiniões. A derrota da argumentação é simples­mente o aspecto negativo; sua sequência positiva é ter todos os pensamentos cativos para obedecer a Cristo de modo que não oferece mais sua pró­pria opinião independente. Antes eu tinha mui­tos argumentos para sustentar meus muitos pen­samentos; mas agora não tenho mais nenhum argumento pois fui capturado. Um cativo não tem liberdade; quem prestaria atenção à opi­nião de um escravo? Um escravo tem de aceitar os pensamentos de outra pessoa, não oferecer sua própria opinião. Consequentemente, nós, os que fomos capturados por Cristo, estamos prontos a aceitar os pensamentos de Deus e não a oferecer qualquer conselho que seja nosso.

Advertências aos opiniosos

1. PAULO

Em seu estado natural, Paulo era uma pessoa inteligente, capaz, sábia e racional. Sempre po­dia descobrir um meio de fazer as coisas, era confiante e servia a Deus com todo o seu entu­siasmo. Mas, quando liderava um grupo de pes­soas a caminho de Damasco para aprisionar os cristãos ali, foi derrubado ao solo por uma gran­de luz. Naquele momento, todas as suas intenções, modos e capacidade foram dissolvidos. Não re­tornou a Tarso nem voltou a Jerusalém. Não só abandonou sua tarefa em Damasco mas tam­bém jogou fora todos os seus motivos.
Muitas pessoas, quando encontram dificulda­des, mudam de direção, tentando primeiro este caminho e então aquele; mas, não importa o que façam, continuam agindo de acordo com suas próprias idéias e modos. São tolas e não caem segundo o golpe desferido por Deus. Embora Deus as prostrasse naquele assunto em particular, não aceitam a derrota de suas argu­mentações e pensamentos. Assim, muitos podem realmente ter bloqueada sua estrada para Da­masco, enquanto se mantêm em seu caminho para Tarso ou Jerusalém.
Não foi o que aconteceu com Paulo. Uma vez abatido, perdeu tudo. Não podia mais dizer ou pensar coisa alguma. Não sabia mais nada. "Que devo fazer, Senhor?" perguntou. Encontramos aqui um cujos pensamentos foram cativados pe­lo Senhor e que obedeceu nas profundezas do seu coração. Antes, fossem quais fossem as cir­cunstâncias, Saulo de Tarso sempre liderava; mas, agora, tendo tomado conhecimento da au­toridade de Deus, Paulo perdeu suas opiniões. A principal evidência de que uma pessoa entrou em contato com Deus está no desaparecimento de suas opiniões e esperteza. Que possamos ho­nestamente pedir a Deus que nos conceda a per­plexidade produzida pela luz. Paulo parecia dizer: "Sou um homem recapturado por Deus e portan­to prisioneiro do Senhor. Chegou a hora de ouvir e obedecer, não de pensar e decidir."

2.   REI SAUL

O rei Saul foi rejeitado por Deus não porque roubasse mas porque poupou o que havia de me­lhor entre os bois e ovelhas para sacrificá-los ao Senhor. Foi algo que brotou de sua própria opi­nião — seus próprios pensamentos sobre como agradar a Deus. Sua rejeição foi por causa dos seus pensamentos que não foram capturados por Deus. Ninguém poderá dizer que o rei Saul não foi zeloso em servir a Deus. Não mentiu, uma vez que realmente poupou o melhor entre o gado e as ovelhas. Mas tomou sua própria decisão de acordo com seu próprio pensamento. (Veja 1 Sm. 15.)
A inferência é clara: todos os que servem a Deus devem categoricamente refrear suas deci­sões com base em seus próprios pensamentos; antes, devem executar a vontade de Deus. Devem dizer expectativamente: "Senhor, o que queres que eu faça?" Dizer mais que isso seria total­mente errado. Obedecer é melhor do que sacri­ficar. Os homens absolutamente não têm o direi­to de oferecer conselhos a Deus.
Quando o rei Saul viu aquelas ovelhas e o gado, desejou poupá-los da morte. Seu coração podia se inclinar para Deus, mas faltava-lhe o espírito da obediência. Um coração que se in­clina para Deus não pode substituir a atitude de "eu não me atrevo a dizer coisa alguma"; uma oferta de gorduras não pode suplantar o "não dar opinião". Tendo o rei Saul recusado a destruir todos os amalequitas com suas ovelhas e gado conforme Deus ordenara, deveria ser mor­to por um amalequita e seu governo terminou as­sim. Todo aquele que poupa um amalequita em seu próprio pensamento será finalmente aniqui­lado por um amalequita.

  1. NADABE E ABIÚ

Nadabe e Abiú rebelaram-se quanto à oferta porque deixaram de se sujeitar à autoridade de seu pai. Tentaram executar seus próprios pen­samentos. Pecaram contra Deus oferecendo fogo estranho; assim ofenderam à administração di­vina. Embora não falassem nenhuma palavra nem apresentassem motivos, ainda assim quei­maram incenso de acordo com suas próprias ideias e sentimentos. Acharam que um culto assim prestado era uma coisa boa; se errassem seria apenas tentando fazer uma coisa boa — isto é, servindo a Deus. Achavam que tal pecado seria insignificante. Mas não sabiam que seriam do seja obediente se a igreja não obedece? Uma igreja desobediente não pode esperar que os in­crédulos obedeçam ao evangelho. Mas com uma igreja obediente também surgirá a obediência ao evangelho.
Todos nós devemos aprender a aceitar a dis­ciplina para que nossas bocas sejam instruídas no sentido de não falar levianamente, nossa men­te a não argumentar, nossos corações a não ofe­recer conselho. O caminho da glória está exata-mente à nossa frente. Deus há de manifestar sua autoridade sobre a terra.


CAPÍTULO 11

A medida da obediência à autoridade

Pela fé Moisés, apenas nascido, foi ocultado por seus pais, durante três meses, porque vi­ram que a criança era formosa; também não ficaram amedrontados pelo decreto do rei (Hb.  11:23).
As parteiras, porém, temeram a Deus, e não fizeram como lhes ordenara o rei do Egito, antes deixaram viver os meninos (Êx. 1:17).

Se o nosso Deus, a quem servimos, quer li-vrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deu­ses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste  (Dn. 3:17, 18).

Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa, e, em cima, no seu quarto, onde havia janelas aber­tas da banda de Jerusalém, três vezes no dia se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus, como costumava fazer. (Dn. 6:10).

Tendo eles partido, eis que aparece um anjo do Senhor a José em sonho e diz: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e permanece lá até que eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o ma­tar (Mt. 2:13).

Então Pedro e os demais apóstolos afirma­ram: Antes importa obedecer a Deus do que aos homens (Atos 5:29).

A submissão é absoluta, mas a obediência é relativa

A submissão é uma questão de atitude, en­quanto a obediência é uma questão de conduta. Pedro e João responderam ao concílio religioso dos judeus: "Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus" (Atos 4:19). Seu espírito não foi rebelde, uma vez que ainda se submetiam àqueles que esta­vam em posição de autoridade. A obediência, entretanto, não pode ser absoluta. Algumas au­toridades têm de ser obedecidas; enquanto outras não deveriam, especialmente em questões que atingem os fundamentos cristãos — tais como crer no Senhor, pregar o evangelho e assim por diante. Os filhos podem fazer sugestões a seus pais, mas não devem demonstrar uma atitude de insubmissão. A submissão tem de ser abso­luta. Às vezes a obediência é submissão, enquan­to que, noutras ocasiões, uma incapacidade de obedecer ainda pode ser submissão. Mesmo quan­do fazemos uma sugestão, deveríamos manter uma atitude de submissão.
Atos 15 serve de bom exemplo de como a igre­ja se reúne. Durante a reunião pode haver su­gestões e debates, mas uma vez tomadas as decisões todos  devem  tomar conhecimento e se submeter.

A medida da obediência às autoridades delegadas

Se os pais se recusarem a permitir que seus filhos se reúnam com os santos, os filhos devem manter uma atitude de submissão embora não precisem necessariamente obedecer. Isto se pa­rece com o modo pelo qual os apóstolos respon­deram ao concílio dos judeus. Quando foram proi­bidos pelo concílio de pregar o evangelho man­tiveram um espírito de submissão no tribunal: mesmo assim, continuaram obedecendo à ordem do Senhor. Não desobedeceram com discussões e gritaria; apenas calma e mansamente discor­daram. Não deve absolutamente haver uma pa­lavra injuriosa nem uma atitude de insubordi­nação para com as autoridades governantes. Aquele que reconhece a autoridade será delicado e respeitoso. Será absoluto em sua submissão tanto no coração como na atitude e em palavras. Não haverá sinais de rispidez ou rebeldia.
Quando a autoridade delegada (homens que representam a autoridade de Deus) e a autori­dade direta (o próprio Deus) entram em conflito, a pessoa pode prestar submissão mas não obe­diência à autoridade delegada. Vamos resumir isto em três pontos:
1.  A obediência está relacionada com a condu­ta: é relativa. A submissão relaciona-se com a atitude do coração: é absoluta.
2.  Só Deus recebe obediência irrestrita sem medida; qualquer pessoa abaixo de Deus só pode receber obediência restrita. 3. Se a autoridade delegada emitir uma ordem claramente em contradição com a ordem de Deus, deverá receber submissão mas não obediência. Temos de nos submeter à pessoa que recebeu autoridade delegada de Deus, mas devemos deso­bedecer à ordem que ofende a Deus.
Se seus pais quiserem que você frequente um lugar onde um cristão prefere não ir mas não um lugar onde a questão do pecado esteja envolvida, então a questão fica aberta à dis­cussão. A submissão é absoluta, enquanto que a obediência pode ser uma questão de considera­ção. Se os pais o obrigarem a ir, vá. Mas se não insistirem, então está livre para não ir. Deus há de libertá-lo do seu ambiente se você, na qualidade de filho, mantiver a devida atitude.

Exemplos na Bíblia

1.  As parteiras e a mãe de Moisés, todas deso­bedeceram ao decreto de Faraó preservando a vida de Moisés. Mas foram consideradas mulhe­res de fé.
2.  Os três amigos de Daniel recusaram-se a adorar a imagem de ouro erigida pelo rei Na­bucodonosor. Desobedeceram à ordem do rei, mas submeteram-se ao fogo do rei.
3.  Ignorando o decreto real, Daniel orou a Deus; não obstante submeteu-se ao julgamento do rei sendo lançado na cova dos leões.
4.  José pegou o Senhor Jesus e fugiu para o Egito para evitar que a criança fosse morta pelo rei Herodes.
5. Pedro pregou o evangelho embora fosse con­tra a ordem do concílio governante, pois declarou que importava antes obedecer a Deus do que aos homens. Mas submeteu-se quando foi levado à prisão.

Sinais indispensáveis que acompanham o obediente

Como podemos julgar se uma pessoa é obe­diente à autoridade? Pelos seguintes sinais:
1. Uma pessoa que reconhece a autoridade na­turalmente vai procurar descobrir a autoridade aonde quer que vá. A igreja é o lugar onde a obe­diência pode ser aprendida, uma vez que não há uma coisa tal como a obediência neste mundo. Só os cristãos podem obedecer, e eles também precisam aprender a obedecer, não externamente, mas de coração. Uma vez aprendida esta lição de obediência, o cristão vai procurar e encontrará a autoridade em qualquer lugar.
2. Uma pessoa que tomou conhecimento da autoridade de Deus é mansa e delicada. Foi amansada e não consegue ser dura. Tem receio de estar errada e por isso é delicada.
3. Uma pessoa que verdadeiramente reconhe­ce a autoridade jamais deseja estar em posição de autoridade. Não tem idéia nem interesse de se tornar autoridade. Não tem prazer em dar conselhos, nem prazer em controlar os outros. O verdadeiro obediente está sempre com receio de cometer um erro. Mas, que pena! quantos ainda aspiram a ser conselheiros de Deus! Só aqueles que não reconhecem a autoridade desejam ser autoridade.
 4.  Uma pessoa que entrou em contato com a autoridade mantém sua boca fechada. Está sob controle. Não se atreve a falar levianamente porque há nela um senso de autoridade.
5.  Uma pessoa que entrou em contato com a autoridade é sensível a todo ato de anarquia e rebelião à sua volta. Percebe como o princípio da anarquia encheu a terra e até mesmo a igre­ja. Só aqueles que experimentaram a autoridade podem levar outros à obediência. Irmãos e irmãs precisam aprender a obedecer à autoridade; caso contrário a igreja não dará nenhum testemunho sobre a terra.

Manutenção da ordem é reconhecer a autoridade

Se os homens não entrarem em contato vivo com a autoridade, é impossível estabelecer a obediência e a autoridade que emana do princí­pio da obediência à autoridade. Por exemplo, se você colocar dois cães juntos será inútil tentar estabelecer um deles como autoridade e o outro para obedecer. Só um contato vivo com a au­toridade pode resolver os problemas que surgem da falta de obediência à autoridade. E logo que alguém ofende a autoridade, perceberá instan­taneamente que ofendeu a Deus. É coisa fútil apontar o erro para alguém que jamais viu a autoridade. Não, primeiro leve-o a reconhecer a autoridade e, então, mostre-lhe sua falta. Aju­dando os outros, entretanto, você deve tomar o cuidado de você mesmo não cair em rebelião.
Ora, será que Martinho Lutero acertou quan­do se levantou e defendeu o princípio fundamen­tal da justificação pela fé? Sim, pois estava obedecendo a Deus quando defendeu a verdade. Do mesmo modo está certo que nós também defen­damos a verdade, como por exemplo o teste­munho da unidade da igreja local, abandonando o terreno denominacional. Vimos o corpo de Cristo e a glória de Cristo; e assim não podemos assumir nenhum outro nome que não seja o de Cristo. O nome do Senhor é importante. Por que não dizemos "salvos pelo sangue" mas "salvos pelo nome do Senhor"? Porque o nome do Se­nhor fala também de sua ressurreição e ascen­são. "E não há salvação em nenhum outro; por­que abaixo do céu não existe nenhum outro no­me, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (Atos 4:12). Somos batiza-dos em nome do Senhor, e nos reunimos em seu nome também. Portanto a cruz e o sangue so­zinhos não podem resolver o problema das de­nominações. Mas quando percebemos a glória do Senhor que subiu, não podemos mais in­sistir em ter outro nome que não seja o do Senhor. Então só podemos levantar o nome do Senhor, recusando ter qualquer outro nome. As denominações organizadas de hoje são uma afron­ta à glória do Senhor.

Vida e autoridade

A igreja é mantida por duas coisas essenciais: vida e autoridade. A vida interior que recebemos é uma vida de submissão, que nos capacita a obe­decer à autoridade. Dificuldades dentro da igreja raramente se encontram em questões de desobe­diência externa; na maioria das vezes relacionam-se com uma falta de submissão interna. Mas o princípio governante de nossa vida tem de ser a submissão, exatamente como o dos pássaros é voar e dos peixes, nadar.
"A unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus" que encontramos em Efésios 4:13, parece ainda se encontrar tão distante; mas na realidade não está tão distante se reconhecemos a autoridade. Os santos podem ter opiniões di­ferentes e ainda assim não é preciso que haja insubordinação, pois mesmo com opiniões dife­rentes podemos, não obstante, nos submeter uns aos outros. Assim, somos um na fé. Atualmente já temos a vida que habita em nós e já perce­bemos algo do princípio governante dessa vida; portanto, se Deus for misericordioso conosco, va­mos avançar rapidamente. A vida que recebemos não é só para resolver o pecado — o lado nega­tivo — mas principalmente para obedecer — o lado vital e positivo. Quando o espírito da rebel­dia nos abandonar, então o espírito da obediência será rapidamente restaurado à igreja, e o sublime estado de Efésios 4 será então introduzido. Se todas as igrejas locais andassem nesse caminho da obediência, o glorioso fato da unidade da fé apareceria realmente diante de nossos olhos.

  
SEGUNDA PARTE
  
AUTORIDADES DELEGADAS

CAPÍTULO 12

Aqueles a quem Deus delega autoridade

Obedecendo às autoridades delegadas   e sendo uma autoridade delegada

mesmo modo estar à procura Os filhos de Deus não deveriam apenas apren­der a reconhecer a autoridade, mas do daqueles a quem deveriam obedecer. O centurião falou ao Senhor Jesus, dizendo: "Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, tenho soldados às minhas ordens" (Mt. 8:9). Ele era realmente um homem que reconhecia a autoridade. Atualmente, assim como Deus sustenta todo o universo com sua autori­dade, também reúne seus filhos através de sua autoridade. Se algum dos seus filhos é indepen­dente e autoconfiante, não sujeito à autoridade delegada por Deus, então jamais pode realizar a obra de Deus na terra. Cada um dos filhos de Deus deve procurar alguma autoridade para obedecer para que ele ou ela se coordene devi­damente com os outros. É triste dizer, entre­tanto, muitos têm fracassado neste ponto. Como podemos crer se não sabemos em quem crer; como podemos amar se não sabemos a quem amar; ou como podemos obedecer se não sabemos a quem obedecer? Mas na igreja há muitas autoridades delegadas a quem devemos nossa submissão. Submetendo-nos a elas sub-metemo-nos a Deus. Não temos de escolher a quem obedecer, mas aprender a sujeitar-nos a todas as autoridades governantes.
Não existe ninguém apto a ser autoridade de­legada por Deus se ele mesmo não aprender primeiro como sujeitar-se à autoridade. Nin­guém pode saber como exercer autoridade até que sua própria rebeldia tenha sido resolvida. Os filhos de Deus não são um novelo de lã ou uma multidão mista. Se não houver testemunho de autoridade, não há igreja nem trabalho. Isto propõe um problema sério. É essencial que apren­damos a ficar sujeitos uns aos outros e sujeitos às autoridades delegadas.

Três  requisitos para uma  autoridade delegada

Além de um conhecimento pessoal de autori­dade e uma vida vivida sob autoridade, a auto­ridade delegada por Deus necessita preencher estes três requisitos principais:

  1. Deve reconhecer que toda autoridade pro­cede de Deus.

Cada pessoa que é chamada para ser uma autoridade delegada deveria se lembrar que "não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas" (Rm. 13:1). Ela mesma não é autoridade, nem ninguém pode constituir-se uma autoridade. Suas opiniões, idéias e pensamentos não são melhores do que os dos outros. São totalmente sem valor. Só aquilo que vem de Deus constitui autoridade e merece a obediência do homem. Uma autoridade delegada deve repre­sentar a autoridade de Deus, jamais presumir que também tenha autoridade.
Nós mesmos não temos a menor autoridade no lar, no mundo, ou na igreja. Tudo o que podemos fazer é executar a autoridade de Deus; não podemos criar autoridade por nós mesmos. O guarda e o juiz executam autoridade e aplicam a lei, mas não devem eles mesmos escrever a lei.Do mesmo modo, aqueles que são colocados em posição de autoridade na igreja simplesmen­te representam a autoridade de Deus. Sua au­toridade se deve ao fato de estarem numa po­sição representativa, não porque em si mesmos têm algum mérito mais excelente do que os demais.
  Estar em posição de autoridade não depende de ter idéias ou pensamentos; antes, depende de conhecer a vontade de Deus. A medida do conhecimento que uma pessoa tem da vontade de Deus é a medida de sua autoridade delegada. Deus estabelece uma pessoa como sua autoridade delegada totalmente com base no conhecimento que essa pessoa tem da vontade de Deus. Nada tem a ver com as idéias abundantes, fortes opi­niões ou nobres pensamentos que possa ter. Na verdade, tais pessoas que são fortes em si mes­mas, devem ser grandemente temidas na igreja.
Muitos irmãos e irmãs jovens ainda não apren­deram a reconhecer a vontade de Deus; por isso Deus os colocou sob autoridade. Aqueles que estão em posição de autoridade são responsáveis pela instrução desses jovens no conhecimento da vontade de Deus. Contudo, em toda e cada ocasião em que lidar com eles, é imperativo que a autoridade delegada saiba sem nenhuma dú­vida qual é a vontade do Senhor naquele caso em particular. Então pode agir como represen­tante e ministro de Deus com autoridade. Fora de tal conhecimento, não tem autoridade para exigir obediência.
Ninguém é capaz de constituir autoridade de­legada por Deus se não aprender a obedecer à autoridade de Deus e compreender sua vontade. Vamos exemplificar. Se um homem representa determinada companhia que vai negociar um contrato, antes de assinar o contrato deve pri­meiro consultar seu gerente geral; não pode as­sinar o acordo independentemente. Do mesmo modo, aquele que age como autoridade delega­da por Deus precisa primeiro conhecer a von­tade e o caminho de Deus antes de ter capaci­dade de pôr em efeito a autoridade. Jamais deve dar aos irmãos e irmãs uma ordem que Deus não tenha dado. Se disser aos outros o que de­vem fazer sem que seja reconhecido por Deus, estará representando a si mesmo e não a Deus. Por isso exige-se dele que primeiro conheça a vontade de Deus para agir em nome de Deus. Então sua ação ficará sob a aprovação de Deus. Só o julgamento reconhecido por Deus tem au­toridade; seja o que for que venha do homem, é inteiramente vazio de autoridade, pois só pode representar a si mesmo.
 Por causa disto temos de aprender a nos ele­varmos e a nos aprofundarmos nas coisas es­pirituais. Precisamos de um conhecimento mais abundante da vontade e caminhos de Deus. De­veríamos ver o que os outros não viram e atin­gir o que outros não atingiram. O que fazemos deve vir daquilo que aprendemos diante de Deus, e o que dizemos deve emanar daquilo que expe­rimentamos com ele. Não há autoridade exceto a de Deus. Se nada vimos diante de Deus, então não temos absolutamente nenhuma autoridade diante dos homens. Toda autoridade depende do que aprendemos e conhecemos diante de Deus. Não pense que por ser mais velho alguém pode ignorar o mais jovem, ou por ser irmão, pode oprimir as irmãs, ou por ser genioso, subjugar o mais calmo. Tentar isto não resultará em su­cesso. Todo aquele que deseja que os outros se sujeitem à autoridade deve ele mesmo aprender a reconhecer a autoridade de Deus.
2. Deve negar-se a si mesmo. Até que uma pessoa saiba qual é a vontade de Deus deve manter sua boca fechada. Não deve exercer a autoridade levianamente. Aquele que vai repre­sentar a Deus deve aprender do lado positivo o que é a autoridade de Deus e, do lado nega­tivo, como negar-se a si mesmo. Nem Deus nem os irmãos vão dar grande valor aos seus pen­samentos. Provavelmente você é o único em todo
 o mundo que considera sua opinião a melhor.
Pessoas com muitas opiniões, ideias e pensamen­tos subjetivos devem ser temidas Gostam de dar conselhos a todo mundo. Apossam-se de cada oportunidade para impor suas idéias aos outros.
Deus não pode jamais usar uma pessoa tão cheia de opiniões, ideias e pensamentos para repre­sentar a sua autoridade. Por exemplo, quem ja­mais empregaria um perdulário como seu contador? Fazê-lo seria dar lugar a profundos so­frimentos. Deus também não empregará um ho­mem cheio de opiniões como sua autoridade de­legada para não vir também a sofrer danos.
Se não formos totalmente quebrantados pelo Senhor não estaremos qualificados como autori­dade delegada por Deus. Deus nos convoca para representarmos sua autoridade, não para a subs­tituirmos. Deus é soberano em sua personali­dade e posição. Sua vontade é sua. Ele ja­mais consulta o homem nem permite que al­guém seja o seu conselheiro. Consequentemente, aquele que representa a autoridade não pode ser uma pessoa subjetiva.
Isto não implica dizer que para ser usado por Deus deve reduzir-se a não ter nenhuma opinião, nenhum pensamento e nenhum julga­mento. De modo nenhum. Significa simplesmen­te que o homem deve ser verdadeiramente que­brantado; sua inteligência e suas opiniões e seus
 pensamentos   devem   todos   ser   quebrantados.
Aqueles que são naturalmente comunicativos, dogmáticos e presunçosos precisam de um trata­mento radical, um amansamento básico. Isto é algo que não pode ser nem doutrina nem imita­ção. Tem de constituir feridas na carne. Só de­pois que uma pessoa é açoitada por Deus começa a viver em temor e tremor diante dele. Não se atreve a abrir a boca inadvertidamente. Se a sua experiência não passar de doutrina ou imi­tação, com o passar do tempo as folhas da figuei­ra logo secarão (Gn. 3:7) e seu estado original reaparecerá. É fútil controlarmo-nos por nossa própria vontade. No muito falar logo nos esqueceremos de nós mesmos e revelaremos o ego ver­dadeiro. Como é preciso que sejamos derrubados pela luz de Deus! Como Balaão em Números 22:25, temos de ser empurrados de encontro à parede para que nosso pé seja esmagado. Então sentiremos dor ao nos movimentarmos e não teremos mais coragem de falar levianamente. Não é necessário aconselhar a pessoa que teve o seu pé esmagado que ande devagar. Só através de tão dolorosas experiências como esta é que seremos libertados de nós mesmos.
Na posição de autoridade delegada não deve­mos expressar nossos próprios pontos de vista nem desejar ardentemente interferir nos negó­cios dos outros. Alguns parecem se considerar cortes supremas de justiça. Imaginam que sabem tudo na igreja e tudo no mundo. Têm opinião pronta sobre tudo e todos, prontamente apresen­tando seus ensinamentos como se fossem o evan­gelho. Uma pessoa subjetiva jamais aprendeu a disciplina, nem jamais passou por um tratamen­to sério. Sabe tudo e pode fazer tudo. Suas opi­niões e métodos são incontáveis como os muitos itens de uma mercearia. Tal pessoa é básica­mente desqualificada como autoridade, porque a exigência básica para ser autoridade delegada por Deus é não abrigar nenhum pensamento ou opinião que seja sua própria.

  1. Deve constantemente estar em comunhão com o Senhor.

 Aqueles que são autoridades dele­gadas por Deus precisam manter íntima comu­nhão com Deus. Não deve haver apenas comu­nicação mas também comunhão.
Qualquer um que oferece opiniões apressa­damente e fala em nome do Senhor levianamente está muito longe de Deus. Aquele que men­ciona o nome de Deus casualmente só prova a enorme distância em que se encontra de Deus Aqueles que estão perto de Deus têm um temor piedoso; saber como expressar levianamente suas próprias opiniões é desonroso.
A comunhão, portanto, é outra exigência prin­cipal para aquele que está em autoridade. Quan­to mais perto uma pessoa se encontra do Senhor, mais claramente vê suas próprias faltas. Tendo sido colocado face à face com Deus, não se atre­ve depois a falar com tanta firmeza. Não tem confiança em sua carne; começa a temer que esteja errado. Por outro lado, aqueles que falam levianamente denunciam o quanto estão afasta­dos de Deus.
O temor de Deus não pode ser simulado; só aqueles que sempre esperam no Senhor pos­suem esta virtude. Embora tivesse ouvido mui­to, só depois que a Rainha de Sabá se colo­cou realmente na presença de Salomão é que ficou atónita. Mas nós temos alguém que é maior do que Salomão diante de nós. Devería­mos ficar sem fôlego, aguardando à porta como servos, reconhecendo que realmente nada sa­bemos. Nada é mais sério do que um servo de Deus que fala apressadamente antes de saber qual é a vontade de Deus. Que problemas se criam quando se faz um julgamento antes de ter claro qual é a vontade do Senhor!
"Então lhes falou Jesus: Em verdade, em ver­dade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho tam­bém semelhantemente o faz... Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo porque não procuro a minha própria vontade, e, sim, a daquele que me enviou" (João 5:19, 30). Do mesmo modo deveríamos aprender a ouvir, a conhecer e a compreender. Isto só vem através de comunhão íntima com o Senhor. Só aqueles que vivem na presença de Deus e aprendem com ele estão qualificados a falar diante dos irmãos e irmãs. Só eles sabem o que fazer quando há dificulda­des entre os irmãos ou problemas na igreja.  Posso falar francamente que a dificuldade hoje em dia é que muitos dos servos de Deus são ousados demais ou intransigentes demais ou do­minadores demais. Atrevem-se a falar o que não ouviram de Deus! Mas com que autoridade você diz isto? Quem lhe garante autoridade?
O que o torna diferente dos demais irmãos e irmãs? Que autoridade você tem se você não tem certeza de que aquilo que você diz é a palavra de Deus?
A autoridade é representativa em natureza, não inerente. Significa que é preciso viver diante de Deus, aprendendo e sendo ferido para que não se projete a si mesmo. Ninguém deveria se enganar considerando-se ele próprio a autorida­de. Só Deus tem autoridade; ninguém mais a
pos­sui. Quando a autoridade de Deus flui para mim, flui então através de mim para os outros o que me torna diferente dos outros é Deus, não eu mesmo.
Por isso temos de aprender a temer a Deus e evitar fazer qualquer coisa levianamente. De­vemos confessar que não somos diferentes dos outros irmãos e irmãs. Se Deus fez arranjos para que hoje eu aprendesse a ser sua autoridade delegada, devo viver em sua presença, ter
co­munhão com ele continuamente, e buscar conhe­cer sua mente. Se não perceber algo ali com Deus, nada tenho a dizer aqui aos homens.
Por que usamos a palavra "comunhão"? Por­que devemos viver na presença do Senhor conti­nuamente, não só de vez em quando. Sempre que nos afastamos de Deus, o caráter de nossa au­toridade se modifica. Que o Senhor seja miseri­cordioso conosco e possamos sempre viver diante dele, temendo-o.
 Estas são as exigências principais de uma au­toridade delegada. Considerando que a autorida­de vem de Deus, não temos nada dela em nós mesmos; somos apenas representantes. Conside­rando que a autoridade não é nossa, não deve­ríamos ser subjetivos em nossa atitude. E con­siderando que a autoridade vem de Deus temos de viver em comunhão com ele. Se a comunhão for interrompida, a autoridade também cessa.

Jamais tente estabelecer sua própria autoridade

A autoridade é estabelecida por Deus; portan­to nenhuma autoridade delegada precisa tentar assegurar-se de sua autoridade. Não insista em que outros lhe dêem ouvidos. Se erram, deixe que errem; se não se submetem, que fiquem insubor­dinados; se insistem em fazer a sua própria von­tade, deixe. Uma autoridade delegada não deve lutar com os homens. Por que deveria eu exigir que me ouçam se não sou autoridade estabelecida por Deus? Por outro lado, se sou estabeleci­do por Deus, preciso ter medo que os homens não se me submetam? Todo aquele que se recusa a me ouvir, desobedece a Deus. Não é necessá­rio que eu force as pessoas a me ouvirem. Deus é meu apoio, por que então eu deveria temer? Jamais deveríamos dizer uma palavra que fosse para apoiar nossa autoridade; antes, vamos con­ceder às pessoas a sua liberdade. Quanto mais Deus nos confia, mais liberdade garantimos às pessoas. Aqueles que têm sede do Senhor virão a nós. É muitíssimo desonroso falar em bene­fício de nossa própria autoridade ou tentar es­tabelecer nossa própria autoridade.
Embora Davi fosse ungido por Deus e escolhi­do para ser rei, durante muitos anos permane­ceu sob a mão de Saul. Não estendeu sua mão para instituir sua própria autoridade. Do mesmo modo, se Deus designou você como autoridade, você também deveria ser capaz de suportar a oposição dos outros. Mas se você não foi cons­tituído por Deus, qualquer esforço que fizer para estabelecer sua autoridade será dolorosa­mente fútil.
Não gosto de ouvir alguns maridos dizendo a suas esposas: "Eu sou autoridade estabelecida por Deus; por isso você tem de me ouvir"; nem tenho qualquer prazer em ouvir os anciãos da igreja dizer aos irmãos e irmãs: "Sou autorida­de designada por Deus". Amados, jamais tentem estabelecer sua própria autoridade. Se Deus o escolher, receba-a com humildade; se Deus não o chamar, por que você deveria lutar por isso?
Qualquer tentativa de se estabelecer como au­toridade deve ser totalmente erradicada do nosso meio. Que Deus estabeleça sua autoridade; que nenhum homem o tente. Se Deus realmente o
designar como autoridade, você tem duas alter­nativas pela frente: desobedecer e retroceder espiritualmente ou obedecer e receber graça.
Quando a autoridade que lhe foi delegada for testada, não faça nada. Não se apresse, não lute, não fale por si mesmo. As pessoas não estão se rebelando contra você, mas contra Deus. Pecam contra a autoridade de Deus, não contra a sua autoridade. A Pessoa a quem desonram, criticam e se opõem não é você. Se a sua autoridade é realmente de Deus, aqueles que se opõem en­contrarão bloqueado seu caminho espiritual; não receberão mais revelação. O governo de Deus é um assunto seríssimo! Que Deus nos conceda a graça de reconhecer o que é autoridade, temen­do a Deus e não confiando em nós mesmos!


CAPÍTULO 13

A principal credencial para
delegação de autoridade:
Revelação

Apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Midiã; e, levando o rebanho para o lado ocidental do deserto, che­gou ao monte de Deus, a Horebe. Apareceu--Ihe o Anjo do Senhor numa chama de fogo do meio duma sarça; Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consu­mia. Então disse consigo mesmo: Irei para lá, e verei essa grande maravilha, porque a sarça não se queima. Vendo o Senhor que ele se vol­tava para ver, Deus, do meio da sarça, o cha­mou, e disse: Moisés, Moisés! Ele respondeu: Eis-me aqui. Deus continuou: Não te cheques para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. Moisés es­condeu o rosto, porque temeu olhar para Deus. Disse ainda o Senhor: certamente vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-Ihe o sofrimento, por isso desci a fim de livra-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e ampla, terra que mana leite e mel; o lugar do cananeu, do heteu, do amorreu, do ferezeu, do heveu e do jebuseu. Pois o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo. Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito. En­tão disse Moisés a Deus: Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel ? Deus lhe respondeu: Eu serei contigo; e este será o sinal de que eu te enviei: depois de haveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte (Êx. 3:1-12).
Falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher etíope, que tomara; pois ti­nha tomado a mulher cusita. E disseram: Por­ventura tem falado o Senhor somente por Moisés? não tem falado também por nós? O Senhor o ouviu. Era o varão Moisés mui man­so, mais do que todos os homens que havia sobre a terra. Logo o Senhor disse a Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três saí à tenda da congregação. E saíram eles três. Então o Senhor desceu na coluna da nuvem, e se pôs à porta da tenda; depois chamou a Arão e a Miriã, e eles se apresentaram. Então disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós há profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me faço conhecer, ou falo com ele em sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente, e não por enigmas; pois ele vê a forma do Senhor; como, pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés?
E a ira do Senhor contra eles se acendeu; e retirou-se. A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã, e eis que estava leprosa. Então disse Arão a Moi­sés: Ai! senhor meu, não ponhas, te rogo, sobre nós este pecado, pois loucamente pro­cedemos, e pecamos. Ora não seja ela como um aborto, que saindo do ventre de sua mãe, tenha metade de sua carne já consumida. Moi­sés clamou ao Senhor, dizendo: ó Deus, rogo--te que a cures. Respondeu o Senhor a Moisés: Se seu pai lhe cuspira no rosto, não seria en­vergonhada por sete dias? Seja detida sete dias fora do arraial, e depois recolhida. Assim Miriã foi detida fora do arraial por sete dias; e o povo não partiu, enquanto Miriã não foi recolhida  (Nm. 12).

Nenhuma autoridade delegada por Deus no Velho Testamento foi maior do que a de Moisés, consequentemente podemos usá-lo como exem­plo. Por enquanto passaremos sobre todas as ordens que recebeu de Deus e focalizaremos sua reação quando sua autoridade foi transgredida, ridicularizada, enfrentada e rejeitada.
Antes do período em que Deus lhe concedeu autoridade, Moisés matou um egípcio e repreen­deu os hebreus porque brigavam. Quando foi de­safiado por um hebreu ("Quem te pôs por prín­cipe e juiz sobre nós?"), Moisés perturbou-se e fugiu. Nessa ocasião ainda não experimentara a cruz e a ressurreição; tudo fazia através de suas forças naturais. Embora fosse rápido em re­preender e ainda mais corajoso para matar, por dentro era fraco e vazio. Não podia passar por uma provação. Quando provado, ficou com medo e fugiu para o deserto de Midiã. Ali, durante quarenta anos, aprendeu lições. Depois desse longo período de provações, Deus lhe deu certo dia uma visão da sarça ardente. A sarça ardia, mas não se consumia. Com esta visão, Deus lhe concedeu autoridade. Vamos ago­ra passar adiante para ver como Moisés reagiu mais tarde quando seu irmão Arão e sua irmã Miriã falaram contra ele e rejeitaram sua auto­ridade delegada.

Não dê ouvidos a palavras caluniosas

Perguntaram a Moisés: Só você fala em nome de Deus — você que se casou com uma mulher cusita? Deus também não tem falado por nosso intermédio? Como pode a semente de Sem ca­sada com a semente de Cão continuar no minis­tério de Deus? Não podemos nós ministrar, nós que somos filhos de Sem e não estamos casados com os filhos de Cão? Sobre tudo isto, a Bíblia simplesmente registra: "O Senhor o ouviu." Foi como se Moisés não tivesse tomado conhecimen­to. Encontramos aqui um homem que não se perturbava com as palavras dos homens, pois estava além do alcance de suas palavras calu­niosas.,
 Todos aqueles que desejam ser porta-vozes de Deus e desejam ajudar seus irmãos e irmãs de­vem aprender a não dar ouvidos a calúnias. Que Deus se encarregue disso. De sua parte, não dê a menor atenção às críticas das pessoas; não se zangue por causa das palavras dos outros. Aqueles que se perturbam e se sentem esmagados por palavras caluniosas provam que não têm capa­cidade para receber autoridade delegada.

Não se defenda

 Vingança ou defesa ou qualquer outra reação deve proceder de Deus, não do homem. Aquele que se vinga não conhece a Deus. Ninguém sobre a face da terra jamais poderia ter mais autorida­de do que Cristo, mas ele jamais se defendeu. A autoridade e a autodefesa são incompatíveis. Aquele contra o qual você se defende torna-se o seu juiz. Ele se coloca em posição mais alta quando você começa a responder às suas críticas. Aquele que fala de si mesmo está sob julgamen­to; portanto não tem autoridade. Sempre que uma pessoa tenta se justificar, perde a sua au­toridade.
Paulo se colocou diante dos crentes coríntios como autoridade delegada e declarou: "Nem eu tão pouco julgo a mim mesmo" (1 Co. 4:3). A vingança vem de Deus. No momento em que você se justifica diante de uma pessoa, ela se torna o seu juiz. Tão-logo você tenta se explicar você cai diante dela.

Muito manso

O versículo 2 de Números 12 registra que Deus ouviu a calúnia e o versículo 4, que Deus agiu. Mas entre os dois vem o versículo 3 como um parêntesis, declarando: "Era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra." Moisés não argumentou porque percebeu que tinha errado. Deus não pode con­ceder autoridade a uma pessoa teimosa. Aqueles que ele estabelece como autoridades são os mansos e sensíveis — e não se trata de uma mansidão comum, é a mansidão divina.
Não devemos nunca tentar estabelecer nossa própria autoridade. Quanto mais tentamos, me­nos autoridade temos. Não são os violentos ou os fortes, mas um homem como Paulo — cuja presença física é fraca e cujas palavras não im­pressionam — que Deus coloca em posição de autoridade. Senhor disse que o seu reino não é deste mundo e portanto os seus servos não precisam lutar por ele. Autoridade obtida através de lutas não é concedida por Deus.
As pessoas geralmente presumem que estas coisas são requisitos necessários para ter-se
auto­ridade: esplendor ou magnificência; força de per­sonalidade, boa aparência; e poder.
Para se co­locar em posição de autoridade, raciocinam, é preciso que a pessoa tenha forte determinação, idéias inteligentes e lábios eloquentes. Mas não são estes que representam a autoridade; pelo con­trário, são carnais.
Ninguém no Velho Testamento ultrapassou Moisés em autoridade concedida por Deus, mas ele foi o mais manso de todos os homens. En­quanto estava no Egito foi bastante violento, matando o egípcio o repreendendo os hebreus. Lidou com as pessoas com sua própria mão car­nal. Por isso, naquela ocasião, Deus não o desig­nou como autoridade. Só depois que passou por muitas provações e foi moldado por Deus, só depois que se tornou muito manso — mais do que todos os homens da terra — Deus o usou como autoridade. A pessoa menos provável de receber autoridade é geralmente aquela que se les que ele estabelece como autoridades são os mansos e sensíveis — e não se trata de uma mansidão comum, é a mansidão divina.
Não devemos nunca tentar estabelecer nossa própria autoridade. Quanto mais tentamos, me­nos autoridade temos. Não são os violentos ou os fortes, mas um homem como Paulo — cuja presença física é fraca e cujas palavras não im­pressionam — que Deus coloca em posição de autoridade. Senhor disse que o seu reino não é deste mundo e portanto os seus servos não precisam lutar por ele. Autoridade obtida através de lutas não é concedida por Deus.
As pessoas geralmente presumem que estas coisas são requisitos necessários para ter-se auto­ridade: esplendor ou magnificência; força de per­sonalidade, boa aparência; e poder. Para se co­locar em posição de autoridade, raciocinam, é preciso que a pessoa tenha forte determinação, idéias inteligentes e lábios eloquentes. Mas não são estes que representam a autoridade; pelo con­trário, são carnais.
Ninguém no Velho Testamento ultrapassou Moisés em autoridade concedida por Deus, mas ele foi o mais manso de todos os homens. En­quanto estava no Egito foi bastante violento, matando o egípcio o repreendendo os hebreus. Lidou com as pessoas com sua própria mão car­nal. Por isso, naquela ocasião, Deus não o desig­nou como autoridade. Só depois que passou por muitas provações e foi moldado por Deus, só depois que se tornou muito manso — mais do que todos os homens da terra — Deus o usou como autoridade. A pessoa menos provável de receber autoridade é geralmente aquela que se considera uma autoridade. Do mesmo modo, quanto mais autoridade uma pessoa pensa que tem, menos a possui na realidade.

Revelação: uma credencial de autoridade

"Logo o Senhor disse a Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três saí à tenda da congregação." "Logo" significa "inesperadamente". Arão e Mi­riã devem ter falado contra Moisés muitas ve­zes, mas agora Deus abruptamente convocou os três à tenda da congregação. Muitos que se re­belam contra a autoridade fazem-no fora da ten­da. É muito fácil e conveniente criticar em casa; mesmo assim, tudo será esclarecido na tenda da congregação. Quando os três se apresentaram na tenda, o Senhor disse a Arão e Miriã: "Ouvi-agora as minhas palavras." No passado murmu­raram: "Porventura tem o Senhor falado somen­te por Moisés?" Agora o Senhor lhes pediu que viessem e ouvissem suas palavras, revelando o fato de que nunca tinham ouvido antes as pala­vras divinas. Arão e Miriã jamais souberam o que Deus dizia. Foi a primeira vez em que o Senhor lhes falou — e não foi em revelação mas em repreensão, não a manifestação da glória de Deus mas o julgamento de sua conduta.
"Ouvi agora as minhas palavras" significa não só que o Senhor não tinha falado antes, mas também indica que desejava permissão para fa­lar desta vez considerando que eles já tinham falado tanto. "Vocês que falam tanto, ouçam agora as minhas palavras!" Disto concluímos cla­ramente que as pessoas que falam muito não podem ouvir a palavra de Deus; só os mansos podem. Moisés não era pessoa de falar muito mas fazia o que lhe mandavam. Não lhe fazia diferença avançar ou retroceder contanto que fosse ordem de Deus. Arão e Miriã, entretanto, eram diferentes; eram duros e obstinados. As­sim Deus chegou a dizer: "Se entre vós há pro­feta", como se tivesse esquecido que eles eram profetas.
Embora Arão e Miriã fossem profetas, o Se­nhor só se lhes revelava em sonhos e visões. Com Moisés era diferente, porque Deus falava com ele boca a boca, claramente, e não por meio de enigmas. Foi a vingança divina. Moisés re­cebeu revelação, não Arão e Miriã; pois são aque­les que se encontram face a face com Deus que ele estabelece como autoridades. Estabelecer au­toridades pertence à jurisdição de Deus; o ho­mem não tem permissão de se intrometer, nem pode a calúnia humana repudiar qualquer au­toridade. Fora Deus quem estabelecera a Moisés e só Deus poderia rejeitá-lo. Era negócio de Deus; nenhuma pessoa podia interferir, portanto, com o que Deus tinha estabelecido.
O valor de um homem diante de Deus não se decide pelo julgamento dos outros ou do próprio homem. Ele é medido pela revelação que recebe de Deus. A revelação é a avaliação e a medida divinas. A autoridade se estabelece sobre a reve­lação de Deus, e sua estimativa de uma pessoa de acordo com essa revelação. Se Deus concede revelação, estabelece-se autoridade; mas quando sua revelação é retirada, o homem é rejeitado.  Se quisermos aprender a ter autoridade temos de prestar atenção ao nosso estado diante de Deus Se Deus está pronto a nos conceder revela­ção e a nos falar claramente, se temos com ele comunhão face a face, então ninguém pode nos eliminar. Mas se essa nossa comunicação acima for interrompida e os céus se fecharem, e apesar disso continuarmos prosperando na terra, tudo resultará em nada. O céu aberto é o selo de Deus e o testemunho da filiação. Depois que o Senhor Jesus foi batizado, os céus se abriram para ele. O batismo simboliza morte. Foi quando ele entrou na morte e nos maiores sofrimen­tos, quando tudo escureceu à sua volta e não havia nenhuma saída, que os céus se abriram.
A revelação portanto é evidência de autori­dade. Precisamos aprender a não lutar e falar por nós mesmos. Não devemos nos alistar nas fileiras de Arão e Miriã na luta pela autoridade. Na verdade, se lutarmos, só provaremos que nossa autoridade é totalmente carnal, das trevas, e
des­provida de visão celestial.
Moisés "é fiel em toda a minha casa" (Nm. 12: 7). Moisés, um tipo de Cristo, foi fiel na casa de Israel. Deus o chamou de "meu servo". Ser servo de Deus simplesmente significa que pertenço a Deus, que sou sua propriedade, que fui comprado por ele e que, portanto, perdi a minha
liberda­de. Isto explica por que Deus não pode perma­necer quieto mas fala quando seus servos são caluniados. Não temos necessidade de nos vin­dicarmos a nós mesmos. Que bem recebo se falo, quando Deus não se adianta para fazê-lo? Se nossa autoridade for de Deus não necessitamos fortalecê-la. A revelação será a prova. Se exis­tem aqueles que falam contra nós, que Deus desvie seus suprimentos e  encerre  suas   revelações para eles, provando assim que fomos por ele designados. Qualquer um que ofenda as au­toridades delegadas por Deus ofende àquele que representam. Se pertence ao Senhor, descobrirá que os céus estão fechados acima dele e terá que humildemente reconhecer aquelas autoridades que Deus estabeleceu. Portanto, ninguém precisa fortalecer sua própria autoridade; tudo depende da prova divina. Cancelando a revelação aos ou­tros, Deus lhes prova a quem ele designou como sua autoridade delegada.

Nenhum sentimento pessoal

"Como pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés?" perguntou Deus. Para ele, tal calúnia foi simplesmente terrível. Deus, sen­do Deus, sabe o que é amor, o que é luz, e o que é glória. Mas será que sabe o que é o medo? Sem dúvida sabe, pois aqui ele temeu por Arão e Miriã. Na qualidade de Deus, nada tinha a te­mer; não obstante, declarou àquelas duas pes­soas que coisa terrível tinham feito. Por causa disso deixou de falar com elas e afastou-se irado. É assim que Deus manteve sua autoridade, não a autoridade de Moisés. Ele não disse: — Por que vocês falaram contra Moisés?, mas: — Por que vocês falaram contra o meu servo Moisés? Ele não permite que alguém prejudique sua au­toridade. Se a sua autoridade é desafiada, afas-ta-se irado. Assim, a nuvem, que representava a presença de Deus, afastou-se da tenda; e eis que Miriã ficou leprosa. Arão o viu e ficou com medo, pois ele também participara da rebelião, embora Miriã sem dúvida assumisse a li­derança.
A tenda recusou-se dar revelação e Moisés não abriu a sua boca. Embora Moisés fosse um ho­mem eloquente, manteve-se em silêncio. Aqueles que não sabem como controlar seus corações e lábios não servem como autoridade. Mas quando Arão rogou a Moisés, este clamou ao Senhor. Durante todo o caso Moisés agiu como se não fosse mais que um espectador. Não tinha inte­resse pessoal; não murmurou nem reprovou. Não tinha intenções de julgar ou punir. Mas tão-logo o propósito de Deus se realizou, rapidamente perdoou.
Autoridade se estabelece para executar ordens de Deus, não para edificação pessoal. Dá aos filhos de Deus consciência dele, não da própria pessoa. O que importa é ajudar as pessoas a se sujeitarem à autoridade de Deus; era portanto um assunto sem importância para Moisés o ser rejeitado. Por isso Moisés clamou ao Senhor: "ó Deus, rogo-te que a cures." Vamos nós também nos libertar de sentimentos pessoais, pois sua presença prejudica os negócios divinos e impede a mão de Deus.
Se Moisés não conhecesse a graça de Deus, cer­tamente teria dito a Arão: "Por que você mesmo não ora a Deus uma vez que insiste que Deus também lhe fala?" E Moisés poderia também ter dito a Deus: "Vinga-me ou eu pedirei demissão!" Mas Moisés nem se defendeu nem procurou vin-gar-se de Arão e Miriã, nem aproveitou-se da vigança divina. Não tinha sentimentos pessoais, porque não vivia para si mesmo. Sua vida na­tural já  fora  resolvida;   e assim prontamente rogou pela saúde de Miriã. Sua atitude foi como a de Cristo quando pediu a Deus que perdoasse àqueles que o crucificaram.
Assim Moisés provou ser autoridade delega­da por Deus, pois foi capaz de representar Deus. Não foi prejudicado pela vida natural, nem se protegeu procurando defesa ou vingança. A au­toridade de Deus podia ser propagada através dele sem nenhum impedimento. Na verdade, as pessoas encontravam nele a autoridade de Deus. Ser autoridade delegada não é de modo nenhum uma coisa fácil, porque exige um esvaziamento do ego.

CAPÍTULO 14

O caráter da autoridade delegada: Benevolência

A primeira reação de Moisés para com a rebelião:  prostrou-se

Não houve nenhuma rebelião, da parte dos israelitas, mais séria do que a registrada em Números, capítulo 16. O líder da rebelião foi Core, filho de Levi, com Datã e Abirão, filhos de Rúben, apoiados por duzentos e cinquenta líde­res da congregação.
Reuniram-se e com palavras fortes atacaram Moisés e Arão (versículo 3). A calúnia de Números 12 foi apenas da parte de Arão e Miriã, e ainda assim foi mais oculta. Mas aqui a rebelião foi coletiva e o ataque contra Moisés e Arão foi franco e direto. Portanto, nes­ta situação, vamos prestar especial atenção a: 1) Qual foi a posição e atitude pessoal de Moi­sés? e 2) Como Moisés reagiu diante da crise, como respondeu aos rebeldes?
A primeira reação de Moisés foi esta: "caiu sobre o seu rosto" (versículo 4). Esta é a atitude exata que todo servo de Deus deveria ter. O povo estava nervoso e muitos falavam, mas só Moisés se prostrou ao chão. Aqui novamente colocamo-nos diante de alguém que conhece a autoridade. Sendo verdadeiramente dócil, não tinha nenhum sentimento pessoal. Nem se de­fendeu nem ficou irritado. A primeira coisa que fez foi cair sobre o seu rosto. Então lhes disse: "O Senhor fará saber quem é dele, e quem o santo que ele fará chegar a si: aquele a quem escolher fará chegar a si" (versículo 5). Não foi necessário lutar. Moisés não se atreveu a dizer algo de si mesmo, porque sabia que o Senhor mostraria quem era dele. Seria melhor permitir que Deus fizesse a distinção. Moisés tinha fé e assim atreveu-se a confiar tudo a Deus. O Se­nhor faria o seu julgamento na manhã seguin­te quando todos comparecessem diante dele com incenso. As palavras de Moisés foram mansas mas de peso: "Basta-vos, filhos de Levi." Foi o suspiro de um velho que conhecia Deus muito bem (versículo 7).

Exortação e Restauração

Moisés exortou a Coré com palavras para res­taurá-lo. Ele sabia a seriedade do assunto e real­mente estava preocupado com os rebeldes. Não só suspirou mas exortou-os também, dizendo:
"Ouvi agora, filhos de Levi: Acaso é para vós outros cousa de somenos que o Deus de Is­rael vos separou da congregação de Israel, pa­ra vos fazer chegar a si, a fim de cumprirdes o serviço do tabernáculo do Senhor e estar perante a congregação para ministrar-lhe . .. Ainda também procurais o sacerdócio? Pelo que tu e todo o teu grupo juntos estais contra o Senhor; e Arão, que é ele, para que murmu­reis contra ele?" (versículos 8-11).
Exortação não e uma expressão de senho­rio; antes, exibe mansidão. Aquele que persuade diante de ataques é verdadeiramente uma pes­soa mansa. Mas aquele que permite que as pes­soas permaneçam no erro sem nenhuma inten­ção de restaurá-las mostra que tem um coração duro. Não exortar numa situação dessas seria falta de humildade; obviamente daria idéia de orgulho. Moisés estava pronto a exortá-los quan­do atacado e, então depois, deu aos seus calunia­dores toda uma noite para que se arrependessem.
Moisés lidou com os rebeldes separadamente. Primeiro com Coré, o levita, depois com Datã e Abirão. Enviou alguém para buscar Datã e Abi-rão mas eles recusaram-se, claramente indicando que nada mais tinham a ver com Moisés (ver­sículo 12). Na atitude de Moisés vemos que aque­les que representam autoridade procuram a res­tauração, não a divisão, mesmo depois de serem rejeitados. Aqueles homens rebeldes acusaram Moisés de tê-los tirado de uma terra que manava leite e mel (versículo 13). Que acusação absurda. Já tinham se esquecido de que em vez de leite e mel no Egito eram forçados a fazer tijolos e às vezes até mesmo sem o fornecimento de palha. Aqueles rebeldes não foram diferentes dos dez espias que, depois de ver claramente a abun­dância de Canaã, recusaram-se a entrar nela, e ainda acusaram Moisés. Sua rebeldia atingiu o ponto que não tem retorno. Nada restava além do julgamento. Por isso Moisés ficou muito
zangado e procurou o Senhor para uma revelação de fatos (versículo 15).
Deus veio para julgar. Não só consumiria Co­re, que era o principal instigador, mas também a congregação que seguira a Core. Mas Moisés caiu com o rosto em terra e rogou pela congre­gação (versículo 22). Deus atendeu sua oração e poupou a congregação mas ordenou que todos se afastassem das tendas dos culpados. Então julgou Core, Data e Abirão.

Nenhum espírito de julgamento

Enquanto Deus se preparava para julgar os rebeldes, Moisés declarou: "...o Senhor me en­viou a realizar todas estas obras, que não pro­cedem de mim mesmo" (versículo 28). Até onde iam seus próprios sentimentos, não tinha in­tenção de julgar ninguém que se rebelara contra ele. Provou ser o verdadeiro servo de Deus quan­do insistiu que aquelas pessoas não tinham pe­cado contra ele mas contra Deus. Que possa­mos aprender como tocar o espírito do homem. Vemos que em Moisés não havia a menor inten­ção de julgar. Agiu em obediência a Deus porque era o servo de Deus. Não tinha sentimentos pes­soais exceto que achava que tinham pecado con­tra Deus. Além disso explicou que o Senhor o comprovaria através de uma coisa nova (versículo 30). Assim Deus executou um grande julgamento para estabelecer a autoridade de Moisés. Três famílias foram destruídas e duzentos e cinquenta e seis líderes foram consumidos pelo fogo (ver­sículos 27-35).
O caminho da rebeldia leva ao Seol; rebelião e morte estão ligadas. Autoridade é algo
que Deus estabelece; todos aqueles que ofendem suas autoridades estabelecidas desprezam a Deus Mas em Moisés encontramos uma autoridade de­legada que nunca tinha sua própria opinião nem um espírito julgador.

Intercessão e expiação

Embora toda a congregação de Israel teste­munhasse que a terra se abriu e engoliu as
 fa­mílias rebeldes, e embora fugissem aterroriza­dos, seu medo era apenas quanto ao castigo, não de Deus. Falharam em compreender Moisés; seus corações permaneceram intocados. Por isso, após uma noite de reflexão, rebelaram-se outra vez no dia seguinte (versículo 41). Se a pessoa não tem um encontro com a graça de Deus, sua condição interior permanece a mesma.
Toda a congregação murmurou contra Moisés e Arão, declarando: "Vós matastes o povo do Senhor" (versículo 41). Vamos agora observar toda a história de como essas autoridades dele­gadas reagiram diante de tal atitude contra elas.
Humanamente falando, Moisés deveria ficar zangado com o ataque. Claramente, o aconteci­do fora obra de Deus; por que murmuravam contra ele? Por que não murmuraram contra Deus em lugar de se voltarem contra sua au­toridade delegada? Mas a reação de Deus foi mais rápida do que a de Moisés e Arão. Eis que a nuvem cobriu a tenda e a glória do Se­nhor apareceu (versículo 42). Deus veio para julgar a congregação, e assim ele disse a Moi­sés e Arão que se afastassem do meio do povo. Foi como se Deus dissesse a Moisés e Arão: sua oração de ontem foi um erro, hoje vou aniqui­lar toda a congregação.
Não obstante Moisés e Arão caíram sobre seus rostos pela terceira vez (versículo 45). O senso espiritual de Moisés era tão aguçado que perce­beu imediatamente que este problema poderia ser solucionado só pela oração. O pecado de on­tem não fora tão declarado como o de hoje. Ra­pidamente disse a Arão que pegasse o seu in­censário, fosse à congregação e fizesse expiação por eles (versículo 46). Moisés certamente era a pessoa indicada para autoridade delegada. Ele sabia que consequências trágicas poderiam advir ao povo de Israel, e ainda esperava que Deus fosse gracioso em perdoar. Seu coração estava cheio de amor e compaixão, o anseio de alguém que verdadeiramente conhece a Deus. Moisés não era sacerdote, por isso pediu a Arão que fosse rapidamente fazer expiação pelo povo. Eis aí in­tercessão mais expiação. A praga já tinha come­çado entre o povo; Arão agora se colocou entre os mortos e vivos; o resultado foi que a praga foi interrompida. Aqueles que morreram da pra­ga foram quatorze mil e setecentas pessoas (ver­sículo 49). Se Moisés e Arão estivessem menos alertas, certamente muito mais gente teria mor­rido.
A graça expiadora que vemos em Moisés foi admiravelmente semelhante à que vemos no seu Senhor. Preocupou-se com o povo de Deus e assumiu a responsabilidade pelos obedientes e rebeldes. Uma pessoa que só se preocupa con­sigo mesma e que geralmente se queixa da res­ponsabilidade que tem pelos outros, não serve para representar autoridade! O modo pelo qual uma pessoa reage mostra o tipo de pessoa que é. Muitos pensam em apenas salvar as aparências e são extremamene sensíveis à crítica dos outros. Todos os seus pensamentos são egocentralizados. Moisés, entretanto, era fiel em toda a casa de Deus. Possivelmente se a casa de Deus sofresse, Moisés, na sua carne ficaria satisfeito; mas ele não teria sido um servo fiel. Um servo fiel, em­bora pessoalmente rejeitado e desprezado, carre­ga o fardo de muitos. Os israelitas
rebelaram-se contra Moisés, mas Moisés assumiu seus pecados; eles se lhe opuseram e rejeitaram, mas ainda assim intercedeu por eles. Se nos preocuparmos apenas com nossos próprios sentimentos não se­remos capazes de assumir os problemas dos fi­lhos de Deus.
Portanto, confessemos nosso pecado, reconhe­cendo que somos demasiadamente pequenos e duros. O desejo de Deus para nós é que te­nhamos graça em nós. Sejamos tais que Deus tenha permissão de julgar em todas as coisas. A graça para com os outros é o caráter de todo aquele que está em posição de autoridade.


CAPÍTULO 15

A base para a delegação de autoridade: Ressurreição

Disse o Senhor a Moisés: Fala aos filhos de Israel, e recebe deles varas, uma pela casa de cada pai de todos os seus príncipes segundo as casas de seus pais, isto é, doze varas; es­creve o nome de cada um sobre a sua vara. Porém o nome de Arão escreverá sobre a vara de Levi; porque cada cabeça da casa de seus pais terá uma vara. E as porás na tenda da congregação, perante o testemunho, onde eu vos encontrarei. A vara do homem que eu escolher, essa florescerá; assim farei cessar de sobre mim as murmurações que os filhos de Israel proferem contra vós. Falou, pois, Moisés aos filhos de Israel, e todos os seus príncipes lhe deram varas, cada um lhe deu uma, segundo as casas de seus pais: doze va­ras; e entre elas a vara de Arão. Moisés pôs estas varas perante o Senhor na tenda do testemunho.
No dia seguinte Moisés entrou na tenda do testemunho, e eis que a vara de Arão, pela casa de Levi, brotara, e, tendo inchado os gomos, produzira flores, e dava amêndoas. Então Moisés trouxe todas as varas de dian­te do Senhor a todos os filhos de Israel; e eles o viram, e tomaram cada um a sua vara. Disse o Senhor a Moisés: Torna a pôr a vara de Arão perante o Testemunho, para que se guarde por sinal para os filhos rebeldes; as­sim farás acabar as suas murmurações con­tra mim, para que não morram. E Moisés fez assim; como lhe ordenara o Senhor, assim fez   (Nm. 17:1-11).

O propósito do incidente em Números 17 é o de resolver a rebelião do povo de Israel. No ca­pítulo precedente testemunhamos uma rebelião que sobrepujou todas as outras; no capítulo que temos diante de nós, veremos como Deus acaba com tal rebelião, libertando o seu povo dela e de suas consequências, a morte. Deus provaria a Israel que a autoridade procede dele e que ele tem uma base e uma razão para estabelecê-la. Cada pessoa à qual Deus garante autoridade, deve ter esta experiência básica. Caso contrário não pode ser designada por Deus.

Vida ressurreta é base de autoridade

Deus ordenou aos doze líderes das tribos que pe­gassem doze varas, uma para cada chefe de fa­mília, e que as colocassem na tenda da congrega­ção diante do testemunho. A vara do homem que Deus escolhesse brotaria. Uma vara é um pedaço de madeira, um galho de árvore, cortado nas duas pontas. Não tem folhas nem raízes. Já foi vivo mas agora está morto. Antes recebia seiva da árvore e tinha capacidade de brotar e dar frutos, mas agora é uma vara morta. Todas as doze varas foram desprovidas de folhas e raízes, todas eram mortas e secas. Mas Deus disse que se uma brotasse, seria a vara daquele que ele escolhera. Isto dá uma ideia de que a resur-reição é a base para a eleição como também para a autoridade.
No capítulo 16 o povo rebelou-se contra a au­toridade designada por Deus; no capítulo
17 Deus confirma a autoridade que destacou. Deus determinou que a base para a autoridade fosse a ressurreição, acabando assim com toda mur­muração do povo. O povo não tinha o direito de pedir explicações a Deus, mas apesar disso Deus condescendeu em informar qual era a sua base para o estabelecimento de autoridade. A base foi a ressurreição; era uma coisa contra a qual o povo de Israel não poderia argumentar.
Naturalmente, Arão e os israelitas descendiam de Adão. Todos eram filhos da ira, de acordo com a vida natural; não havia diferença. Aquelas doze varas eram todas iguais, todas desprovidas de folhas e raízes, mortas e sem vida. A base do ministério está na recepção da vida ressurreta além da vida natural. E isto constitui autorida­de. A autoridade depende não da pessoa mas da ressurreição. Arão não era diferente dos
ou­tros, exceto que Deus o escolhera e lhe dera vida ressurreta.


O brotar da vara seca mantém os homens humildes

É Deus que faz uma vara brotar. É ele que coloca o poder da vida numa vara morta e seca. A vara que brota torna humilde o dono da vara e aquieta as murmurações dos donos das outras varas. A vara que originalmente pegamos está seca, morta e sem esperanças como a de Arão, mas se ela brota, dá flores e frutos no dia se­guinte, devemos chorar diante de Deus dizendo: "Isto é coisa tua; nada tem a ver comigo; é tua glória, não minha." Naturalmente nos humilha­remos diante de Deus, pois é verdadeiramente o tesouro em vasos terrenos, demonstrando que o poder transcendente pertence a Deus e não a nós. Só os tolos podem ficar orgulhosos. Aqueles que são favorecidos se prostrarão diante de Deus, dizendo: "Isto foi feito por Deus; não há nada em que o homem possa se gloriar; tudo vem da misericórdia de Deus, não dos esforços humanos. O que há que não seja recebido, pois tudo é es­colha de Deus?"
Vamos igualmente perceber que a autoridade não se baseia em nós. Na realidade, não se re­laciona conosco. Daí em diante, sempre que Arão usava sua autoridade ministrando a Deus ele confessaria: "Minha vara é tão morta quanto as outras. A única razão por que posso servir e eles não, é por que tenho autoridade espiritual e eles não, não está nas varas (pois todas estão igual­mente secas), mas deve-se à misericórdia e es­colha de Deus." Arão não servia no poder da vara, mas no poder que a vara tinha de brotar.

A  pedra  de   toque do  ministério  é  a ressurreição

A vara indica a posição do homem, mas o bro­tar indica vida ressurreta. No que se referia à posição, aqueles doze homens estavam todos li­derando nas doze tribos de Israel. Arão simples­mente representava a tribo de Levi, uma das doze tribos. Ele não podia servir a Deus com base em sua posição, pois as outras tribos não concorda­riam com isso. Como Deus resolveu o problema? Ordenou que depositassem doze varas — uma cada um — na tenda da congregação diante do testemunho. As varas deviam ficar ali a noite inteira, e a vara do homem que ele escolhese brotaria.
Isto é vida que brota da morte. Só aqueles que passaram pela morte e pela ressurreição são re­conhecidos por Deus como seus servos. A pedra de toque do ministério é a ressurreição. Nin­guém pode visar tal posição; tem de ser escolha de Deus. Depois que Deus fez brotar, florescer e dar fruto a vara de Arão, e quando os outros líderes todos o viram, nada mais tiveram a dizer.
Autoridade, então, não vem pelo esforço. É estabelecida por Deus. Depende não de uma po­sição de liderança mas da experiência da morte e ressurreição. Os homens são escolhidos para exercer autoridade espiritual não porque são diferentes dos demais mas com base na graça, eleição e ressurreição. É preciso que haja mui­tas trevas e cegueira para se ter orgulho! No que nos diz respeito, embora possamos depositar nossas varas por toda uma vida, não brotarão. A dificuldade nos dias de hoje é que tão poucos caem sobre os seus rostos reconhecendo que não são diferentes dos outros.

Os tolos são orgulhosos

Quando o Senhor Jesus entrou em Jerusalém montado no jumentinho, as multidões gritaram: "Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!" (Mt. 21:9). Vamos imaginar por um ins­tante que o jumento, ouvindo as exclamações de hosanas e vendo os galhos pelo caminho, se voltasse para o Senhor e perguntasse: "É para mim ou para você?", ou se voltasse para a jumen­ta e dissesse: "Afinal, sou mais nobre que você," Seria evidente que o jumentinho não estaria reconhecendo aquele que montava nele.
Muitos dos servos de Deus são exatamente tão tolos. Não havia nenhuma diferença entre o
ju­mentinho e a jumenta; era o Senhor sobre o jumento que tinha de ser louvado. As
excla­mações de hosana não são para você; nem os galhos estendidos pelo chão. Só um tolo diria: "Eu sou melhor do que você." Quando Arão viu pela primeira vez a vara que brotara, sua reação imediata deveria ser a de espanto. Ele deveria cair sobre o seu rosto, dizendo: "Por que minha vara brotou? Não é igual às outras? Por que Deus me concedeu tal glória e poder? Eu mesmo jamais poderia fazê-lo. O que é nascido da carne é carne. Eu sou igual ao povo de Deus." Outros poderiam ficar confusos, mas Arão entendeu. Ele reconheceu que toda sua autoridade espiri­tual fora dada por Deus. Nenhum de nós tem direito de ficar orgulhoso.
Se hoje recebemos misericórdia, é porque Deus assim o quis. Quem é competente para este
mi­nistério? Nossa competência vem de Deus. Viver alguém na presença de Deus e não se sentir humilde seria muito estranho. Seria preciso que houvesse uma quantidade tremenda de
autocon­fiança e tolice da parte do jumento para que ima­ginasse que o louvor daquele dia lhe fosse dirigido. Um dia ele despertaria e ficaria enver­gonhado de si mesmo. É verdade que seremos glorificados, mas nossa glória está no futuro, não agora.
Irmãos e irmãs mais jovens deveriam aprender a lição da humildade. Todos nós precisamos sa­ber que não depende nem um pouco de nós mes­mos o nosso progresso. Não deveríamos nos con­siderar diferentes dos outros só porque aprende­mos algumas lições espirituais. Tudo é graça de Deus, tudo é concedido por Deus, nada vem de nós mesmos.
Arão sabia muito bem que fora Deus que fizera sua vara brotar, porque tudo aconteceu através de poder sobrenatural. Deus usou este meio para falar a Arão como também ao povo de Israel. Daquele momento em diante Arão fi­cou sabendo que todo ministério baseava-se no brotar, não nele mesmo. Hoje, ao servirmos a Deus, nós também devemos reconhecer que o ministério vem da ressurreição e a ressurreição vem de Deus.

O  que é a ressurreição?

A ressurreição significa aquilo que não é na­tural, não vem do ego nem da capacidade da pes­soa. É aquilo que eu não posso fazer, pois está além de minha capacidade. Eu posso pintar e e esculpir flores sobre a vara, mas não posso fazê-la brotar. Ninguém jamais ouviu falar de uma vara velha que tivesse brotado, nem de uma mulher idosa que tivesse concebido. Sara deu à luz Isaque: foi obra de Deus. Portanto Sara re­presenta a ressurreição. A ressurreição é aquilo que eu não posso, mas Deus pode; o que eu não sou, mas o que Deus é. Não importa o que eu sou, pois baseia-se em Deus. Não depende de grande inteligência ou muita eloquência. O que eu tenha de espiritualidade deve-se à operação do
pró­prio Deus em mim.
 Como teria sido absurdo e tolo se Arão insis­tisse em que sua vara brotou porque era diferente das outras varas, mais polida e mais reta. Se por um momento pensamos que somos melhores do que os outros, fazemos a coisa mais tola deste mundo. Qualquer diferença que haja vem do Senhor.
Isaque significa riso. Sara riu porque sabia que era velha demais para conceber. Ela o
con­siderava impossível. Por isso Deus chamou seu filho de IsaqueiServindo ao Senhor, nós tam­bém precisamos rir e dizer: eu não posso, eu te­nho certeza de que não sou capaz, mas isto é obra do Senhor. Se há alguma manifestação de autoridade, temos de confessar que é obra sua, não nossa.

A ressurreição é regra permanente para o serviço

Deus devolveu todas as varas aos seus respec­tivos donos, exceto a de Arão que brotou. Ela tinha de permanecer na arca como lembrete eterno. Isto sugere que a ressurreição é a regra permanente para o serviço. Se um serviço não passar da morte para a ressurreição, não é acei­to por Deus. Aquilo que ressuscita é de Deus; não é de nós mesmos. Todos aqueles que se jul­gam louváveis não têm conhecimento do que é ressurreição. Aqueles que conhecem a
ressurrei­ção já se desiludiram de si mesmos. Enquanto houver poder natural, o poder da ressurreição fica obscurecido.
Não é na criação que o poder de Deus se mani­festa de maneira mais poderosa; é na ressurrei­ção. O poder de Deus não se manifesta de manei­ra mais poderosa na criação; aparece na ressur­reição. Tudo aquilo que o. homem é capaz de fazer não é da ressurreição Temos de chegar ao ponto de nos considerarmos como nada, como cães mortos; temos de ficar tão completamente arrasados que só possamos dizer a Deus o seguin­te: "Haja o que houver, foi dado por ti; qualquer coisa que foi feita, veio toda de ti. De agora em diante não vou me enganar mais a respeito disto, pois estou totalmente persuadido que de mim só vem o que está morto, mas de ti, tudo o que é vivo. Temos, portanto, de tomar cons­ciência desta diferença. O Senhor jamais enten­de mal, mas nós geralmente interpretamos erra­do. Era absolutamente impossível para Sara pen­sar que Isaque nasceu através de suas próprias forças. Deus tem de nos levar ao ponto onde jamais interpretaremos mal as suas obras.
A autoridade vem de Deus, não de nós mesmos. Somos simplesmente mordomos de sua autorida­de. Uma visão interior assim torna-nos capaci­tados para recebermos autoridade delegada. Sem­pre que tentamos exercer autoridade como se fosse nossa, somos imediatamente despojados de qualquer autoridadeJ A vara seca só pode pro­duzir morte. Onde houver ressurreição, há au­toridade, porque a autoridade repousa na res­surreição e não é coisa natural. Considerando que aquilo que nós temos é natural, não temos autoridade a não ser no Senhor.
O que Paulo diz em 2 Coríntios 4:7 harmoniza com a interpretação acima. Ele se compara a um vaso terreno, e o tesouro, ao poder da res­surreição. Ele percebe muito bem que é mera­mente um vaso de barro, mas que o tesouro que há nele possui poder transcendente. Quanto a ele mesmo, é afligido de todas as maneiras; mas, através do tesouro, não é esmagado. De um lado há morte, mas ao mesmo tempo manifesta vida.  Onde a morte opera, manifesta-se vida. Desco­brimos o centro do ministério de Paulo em 2 Co­ríntios, capítulos 4 e 5; e a regra do seu minis­tério é a morte e ressurreição. O que há em nós é morte, o que há no Senhor é ressurreição.
Não nos enganemos, a autoridade vem de Deus. Cada um de nós deve entender claramente que toda autoridade pertence ao Senhor. Nós mera­mente mantemos a autoridade do Senhor sobre a terra, mas nós mesmos não somos autoridade. Sempre que dependemos do Senhor temos au­toridade. Mas, logo que um pouco do natural se intromete, somos como os outros — sem autori­dade. Tudo aquilo que é da ressurreição tem autoridade. A autoridade vem da ressurreição e não de nós mesmos. É mais do que simplesmente depositar a vara diante de Deus; é a vara da ressurreição que permanece na presença de Deus. Ser autoridade delegada por Deus não é simples­mente manifestar um pouco de ressurreição mas é ter a vara brotando, florindo e produzindo fru­tos, transformando-se assim em vida ressurreta amadurecida

CAPÍTULO 16

Abuso de autoridade e a disciplina governamental de Deus

Não havia água para o povo; então se ajuntaram contra Moisés e contra Arão. E o povo contendeu com Moisés, e disseram: Oxa­lá tivéssemos perecido quando expiraram nos­sos irmãos perante o Senhor!...Disse o Senhor a Moisés: Toma a vara, ajunta o povo, tu e Arão teu irmão, e, diante dele, falai à rocha, e dará a sua água; assim lhe tirareis água da rocha, e dareis a beber à congregação e aos seus animais. Então Moisés tomou a vara de diante do Senhor, como lhe tinha ordenado. Moisés e Arão reuniram o povo diante da rocha, e lhe disseram: Ouvi, agora, rebeldes, porventura faremos sair água desta rocha para vós outros? Moisés levantou a mão, e feriu a rocha duas vezes com a sua vara, e saíram muitas águas; e bebeu a congregação e os seus animais. Mas o Senhor disse a Moisés e a Arão: Visto que não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso não fareis entrar este povo na terra que lhe dei. São estas as águas de Meribá, porque os filhos de Israel conten­deram com o Senhor; e se santificou neles (Nm. 20:2-3,  7-13).
Disse o Senhor a Moisés e a Arão no monte de Hor, nos confins da terra de Edom: Arão será recolhido a seu povo, porque não entrará na terra que dei aos filhos de Israel, pois fostes rebeldes à minha palavra, nas águas de Meribá. Toma a Arão e a Eleazar, seu filho, e faze-os subir ao monte Hor; de­pois despe a Arão das suas vestes, e veste com elas a Eleazar, seu filho; porque Arão será recolhido a seu povo, e aí morrerá. Fez Moisés como o Senhor lhe ordenara; su­biram ao monte Hor perante os olhos de toda a congregação. Moisés, pois, despiu a Arão de suas vestes, e vestiu com elas a Eleazar, seu filho; morreu Arão ali sobre o cume do mon­te; e dali desceram Moisés e Eleazar (Nm. 20:23-28).
Naquele mesmo dia falou o Senhor a Moi­sés, dizendo: Sobe a este monte de Abarim, ao monte Nebo, que está na terra de Moabe, defronte de Jericó, e vê a terra de Canaã, que aos filhos de Israel dou em possessão. E morrerás no monte, ao qual terás subido, e te recolherás ao teu povo, como Arão, teu irmão, morreu no monte Hor, e se recolheu ao seu povo, porquanto prevaricastes contra mim no meio dos filhos de Israel, nas águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim, pois me não santificastes no meio dos filhos de Israel. Pelo que verás a terra defronte de ti, porém, não entrarás nela, na terra que dou aos filhos de Israel (Dt. 32:48-52).

Autoridade delegada deve santificar a Deus

Depois de mais de trinta anos vagando pelo deserto o povo de Israel tornou a esquecer as lições aprendidas na rebelião. Quando chegaram ao deserto de Zim e não acharam água tornaram a discutir com Moisés e Arão, pronunciando muitas palavras desagradáveis. Deus, não obs­tante, não se zangou com eles. Simplesmente ordenou que se pegasse a vara e falasse à rocha para que pudesse dar água. Moisés pegou a vara, um símbolo da autoridade de Deus, em suas mãos. Contudo, estava tão tomado de ira que chamou o povo de rebelde e, então, ignorando a ordem de Deus, bateu na rocha duas vezes com a vara. Errou, mas mesmo assim a água jorrou da rocha.
Por causa disto, Deus repreendeu o seu servo, dizendo: "Não crestes em mim, para me santifi­cardes diante dos filhos de Israel." Significava que Moisés não colocara Deus à parte de si mesmo e de Arão. Representara mal a Deus, pois agira seguindo o seu próprio espírito e assim falara de maneira errada e ferira a rocha erra­damente. Parece que Deus repreendeu Moisés deste modo: "Vi meu povo com sede e quis lhe dar água para beber, por que você os repreendeu?" Deus não reprovou o povo, mas Moisés, sim. E assim deu ao povo de Israel uma impressão er­rada de Deus, como se Deus fosse violento, vin­gativo e desprovido de graça.
Ser autoridade é representar Deus. Seja na ira ou na misericórdia, uma autoridade sempre tem de ser como Deus. Se, numa tal posição, fizermos alguma coisa errada, temos de reconhe­cer que é atitude nossa. Não devemos jamais co­locar Deus em nossos próprios erros. Tendo Moi­sés representado mal a Deus, tinha de ser jul­gado. Se uma pessoa em posição de autoridade representa mal a Deus e não o confessa, Deus tem de se vingar. Assim, mostrou ao povo de Israel que fora ati­tude do próprio Moisés, não dele. É verdade que o povo tinha murmurado e talvez sua atitude fosse rebelde, não obstante Deus não os julgara. Como pôde Moisés ser tão impaciente julgando-os antes que Deus fizesse, e falando colericamen­te sem controle? Foi atitude sua e sua ira, mas com toda probabilidade o povo de Israel ficou com a impressão que foi atitude de Deus e ira de Deus. Por isso Deus precisou inocentar-se se-parando-se de Moisés e Arão.
Vamos tomar o cuidado de jamais responsa­bilizar Deus pelo fracasso humano, dando a im­pressão errada de que ele está expressando sua atitude através de nós. No caso de uma tal ati­tude errada, Deus terá de se inocentar. Se ficar­mos zangados, vamos confessar que esta ira é nossa e não de Deus. É preciso haver separação. É coisa terrível misturar as nossas atitudes com as de Deus.
Somos propensos demais para o erro. Por cau­sa disto, sempre que errarmos reconheçamos imediatamente que é nosso próprio erro. As­sim não representaremos mal a Deus e não
con­cederemos nenhum terreno ao mal, nem caire­mos nas trevas. Se confessarmos logo, então Deus não precisará se defender e seremos libertados de cair sob sua mão governamental.

Ser   autoridade delegada  é um  assunto  sério

Em consequência do incidente acima, Deus anunciou que tanto Moisés como Arão não te­riam permissão de entrar em Canaã. Se uma pessoa falar  descuidadamente e  fizer  algo   de maneira que não santifique a Deus, então, no momento em que Deus tiver de se manifestar justificando-se, não há mais jeito de pedir per­dão. Devemos temer e tremer quando dirigimos os negócios divinos. Tomemos o cuidado de não nos tornarmos negligentes e imprudentes quando ficarmos mais velhos.
Tempos atrás, quando a ira de Moisés se in­flamou e ele quebrou em pedaços as tábuas em que Deus escrevera a lei, Deus não o acusou. Com seu zelo, tocara o coração de Deus e por isso sua ira foi justificada. Agora, depois de seguir o Senhor por muitos anos mais e ainda assim fa­lhando em obedecer quando bateu na rocha duas vezes e pronunciou palavras apressadas, Moisés deturpou a pessoa divina. Por isto, não teve per­missão de entrar em Canã. O povo de Israel rebelou-se contra Deus mui­tas vezes, mas ele teve paciência. Moisés e Arão, pelo contrário, cometeram um erro e não tiveram permissão de entrar em Canaã. Isto é prova da seriedade da autoridade delegada. Deus é mais severo com aqueles que o representam. Em Nú­meros 18 o Senhor disse a Arão: "Tu e teus filhos, e a casa de teu pai contigo, levareis sobre vós a iniquidade relativamente ao santuário" (versículo 1). Quanto mais autoridade for dele­gada, mais severa é a atitude de Deus. O Senhor também disse: "Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão" (Lu­cas 12:48).
Realmente foi um quadro lindo ver Moisés, Arão e Eleazar, seu filho, subindo juntos ao Monte Hor. Todos foram obedientes a Deus, aceitando humildemente o julgamento divino. Nem sequer oraram, pois conheciam a Deus. Arão sa­bia que o seu dia tinha chegado, e Moisés tam­bém estava cônscio de seu próprio futuro. Deus ordenou a Moisés que realizasse a troca, uma vez que junto às águas de Meribá Moisés tam­bém foi o personagem principal. Vendo como Arão partia, Moisés ficou sabendo como ele
 tam­bém partiria.
Quando Arão foi despido de suas roupas san­tas, morreu. Pessoas comuns não morrem só porque se lhes tiram as roupas, mas Arão sim, porque sua vida era mantida pelo serviço isto dá a idéia de que a vida da pessoa que serve a Deus acaba quando acaba o serviço.
Muitos anos se passaram depois do aconteci­do acima, mas o juízo de Deus não passou. Fi­nalmente ele agiu com Moisés da mesma maneira que tinha agido com Arão. Convocou Moisés ao Monte Nebo para morrer, mesmo que durante os anos sucessivos Moisés tivesse permanecido fiel. Antes de sua morte Moisés abençoou o povo de Israel com um hino, mas não pediu que fosse poupado de sua própria sentença: (Veja Deutero-nômio 33). Ele também se humilhou sob a podero­sa mão de Deus. Ele que representara a autorida­de de Deus e que o tinha obedecido toda a sua vi­da exceto naquela vez quando já era idoso, não te­ve permissão de entrar em Canaã. Que tremenda perda para Moisés! Não pôde participar da pro­messa que Deus fez a Abraão seiscentos anos antes!
Nada é mais sério nem considerado com maior severidade do que a autoridade delegada que age erradamente. Toda a vez em que exercemos autoridade devemos pedir para ficar unidos a Deus. Se houver um erro, vamos nos separar rapida­mente de Deus, para não incorrermos em seu julgamento. Antes de decidirmos qualquer coisa, vamos procurar saber o que ele pensa. Só depois de tomar conhecimento do que ele pensa pode­mos fazê-lo em seu nome. Moisés não podia de­clarar que aquilo que fez junto às águas de Meribá foi feito em nome do Senhor. Não seja­mos tolos, mas aprendamos a temer e tremer diante de Deus. Não julgue com leviandade; antes, controle seu espírito e sua boca, especial­mente no momento de provocação. Quanto mais alguém conhece a Deus, menos descuidado é. Às vezes uma pessoa pode receber perdão depois de ter caído sob a mão governamental de Deus, mas isto não acontece sempre. O governo de Deus não deve ser ofendido. Vamos ser claros a res­peito disto.

Autoridades delegadas não devem errar

Para que o nosso trabalho seja aprovado por Deus não devemos servir com nossas próprias forças mas com base na ressurreição. Nós mes­mos não temos autoridade, estamos apenas re­presentando autoridade. Assim, a carne não tem lugar. Só causamos problemas se fazemos algo de acordo com nossas próprias inclinações. A igreja não só teme a ausência de autoridade, mas também teme a autoridade errada. Deus tem um pensamento e é o de estabelecer a sua pró­pria autoridade.
Na igreja, a submissão à autoridade deve ser absoluta. Sem submissão não pode haver igreja.
Do mesmo modo, a atitude de temor e tremor naqueles que representam a autoridade também deve ser absoluta. Há duas dificuldades na igre­ja: a falta de submissão absoluta e a presença de autoridade errada. Temos de aprender a não falar inadvertidamente, a não dar opinião
levia­namente. Nosso espírito deve sempre se manter aberto para com o Senhor, esperando sua luz disponível. Caso contrário, seremos arrastados aos nossos erros e faremos coisas em seu nome que não são dele. Por isto, temos de aprender, de um lado, como nos submeter e, de outro, como representar Deus. Isto significa que temos de conhecer a cruz e a ressurreição. Se a igreja tem um futuro, isto depende muitíssimo de como aprendermos nossas lições.

A autoridade vem do ministério;  o ministério, da ressurreição

A autoridade de uma pessoa se baseia em seu ministério, e o seu ministério por sua vez na ressurreição. Se não houver ressurreição não po­de haver ministério; e se não houver ministério, não há autoridade. O ministério de Arão veio da ressurreição; sem esta, não poderia nem ter servido. Deus jamais estabeleceu como autorida­de alguém que não tem ministério.
Atualmente autoridade não é uma questão de posição. Onde falta ministério espiritual, não pode haver posição de autoridade. Quem tem trabalho espiritual diante de Deus tem autori­dade diante dos homens. Justo significa que o mi­nistério espiritual de uma pessoa concede autori­dade à pessoa entre os filhos de Deus. Quem, então, pode lutar por esta autoridade, considerando que não há jeito de se lutar pelo ministério? Exatamente como o ministério é concedido pelo Se­nhor, a autoridade também é decidida por ele.
Toda autoridade se baseia no ministério. Arão possuía autoridade porque tinha serviço a pres­tar diante de Deus. Seu incensário devia fazer expiação pelo povo e fazer parar a praga, quando os incensários dos duzentos e cinquenta líderes foram amaldiçoados por Deus. A rebelião de
Nú­meros 16 não foi dirigida somente contra a auto­ridade mas também contra o ministério. Arão estava em posição de autoridade pois possuía ministério. A autoridade de uma pessoa não pode ultrapassar ao seu ministério
Não deveríamos tentar ultrapassar a autorida­de de nosso ministério Nossa atitude sempre
de­veria ser a de não nos atrevermos a fazer coisas grandes demais e maravilhosas demais para nós (veja SI 131:1) Sejamos, pelo contrário, fiéis diante de Deus de acordo com nossa posição. Muitos irmãos imaginam erradamente que po­dem assumir autoridade ao acaso, não sabendo que a autoridade que vem do ministério jamais se impõe aos filhos de Deus. a autoridade de uma pessoa diante dos homens e igual ao minis­tério dela diante de Deus. A medida do minis­tério determina a proporção da autoridade. Se a autoridade excede o ministério, torna-se posi­cional e portanto já não é mais espiritual. Se uma autoridade delegada erra, Deus irá julgar O mais alto princípio no governo divino é sua própria vindicação. Considerando que Deus está pronto a nos dar o seu nome e permite que o usemos —exatamente como alguém nos confia o seu selo para nosso uso — então ele deve exonerar-se quando o representamos mal. Ele dirá ao povo que a falta é nossa e não dele.
Arão morreu e Moisés também. Não tiveram permissão de entrar em Canaã. Lutaram contra Deus? Não, porque estavam cônscios de que a justificação de Deus era muito mais importante que sua entrada em Canaã. Eles preferiram dei­xar de entrar em Canaã para que Deus pudesse inocentar-se. Como se pode ver em Deuteronô­mio 32, Moisés se esforçou para explicar ao povo que fora falta de Israel, não de Deus. Portanto devemos manter a incondicionalidade da verda­de. Nenhum servo do Senhor deveria procurar uma saída fácil ou conveniente. A vindicação divina é muito mais importante do que o
 pres­tígio do homem. Embora Moisés e Arão tivessem algumas desculpas, não argumentaram nem in­tercederam por si mesmos. Muitas vezes no pas­sado eles tinham intercedido pelo povo de Is­rael, mas agora nada pediram para si mesmos. Esse silêncio é preciosíssimo. De preferência en­frentariam a dificuldade se com isto proporcio­nassem a Deus a oportunidade de absolver-se.
A autoridade vem do ministério; flui para os corações das pessoas e as torna cônscias de Deus. O ministério brota da vida da ressurreição e está enraizado em Deus. Quando um ministro repre­senta mal a autoridade de Deus seu ministério cessa, exatamente como aconteceu com Moisés e Arão. Aprendamos, portanto, a manter o tes­temunho do Senhor. Não ofereçamos conselhos levianamente, para não cairmos em juízo.
Que o Senhor nos conceda a graça de sermos instruídos por Deus. Que conceda graça à sua igreja neste final dos tempos. Como é necessário que oremos: ó Senhor, que a tua autoridade se manifeste na igreja; Senhor, leva cada irmão e irmã a reconhecer o que é autoridade. A igreja local se revelará quando Deus for capaz de ex­pressar sua autoridade através dos homens. Aque­les que estão em responsabilidade não represen­tarão mal e o povo não os interpretará mal. Todos e cada um saberão qual é o seu lugar e assim o Senhor poderá operar.

CAPÍTULO 17

As autoridades delegadas têm de permanecer sob autoridade

Tendo Saul voltado de perseguir os filisteus, foi-lhe dito: Eis que Davi está no deserto de En-Gedi. Tomou então Saul três mil homens, escolhidos dentre todo o Israel, e foi ao en­calço de Davi e dos seus homens, nas faldas das penhas das cabras monteses. Chegou a uns currais de ovelhas no caminho, onde ha­via uma caverna; entrou nela Saul, a aliviar o ventre. Ora Davi e os seus homens estavam assentados no mais interior da mesma. En­tão os homens de Davi lhe disseram: Hoje é o dia, do qual o Senhor te disse: Eis que te entrego nas mãos o teu inimigo e far-lhe-ás o que bem te parecer. Levantou-se Davi, e furtivamente cortou a orla do manto de Saul. Sucedeu, porém, que, depois sentiu Davi ba-ter-lhe o coração, por ter cortado a orla do manto de Saul; e disse aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal cousa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor
 (1 Sm. 24:1-6).

Vieram, pois, Davi e Abisai de noite ao povo, e eis que Saul estava deitado, dormindo no acampamento, e a sua lança fincada na terra à sua cabeceira; Abner e o povo estavam deitados ao redor dele. Então disse Abisai a Davi: Deus te entregou hoje nas mãos o teu inimigo; deixa-me, pois, agora, encravá-lo com a lança, ao chão, de um só golpe; não será preciso segundo. Davi, porém, respondeu a Abisai: Não o mates, pois quem haverá que estenda a mão contra o ungido do Senhor, e fique inocente? Acrescentou Davi: Tão certo como vive o Senhor, este o ferirá, ou o seu dia chegará em que morra, ou em que, descendo à batalha, seja morto. O Senhor me guarde, de que eu estenda a mão contra o seu ungido; agora, porém, toma a lança que está à sua cabeceira, e a bilha da água, e vamo-nos. Tomou, pois, Davi a lança e a bilha da água, da cabeceira de Saul, e foram-se; ninguém o viu, nem o soube, nem se despertou, pois todos dormiam, por­quanto da parte do Senhor lhes havia caído profundo sono
 (1 Sm. 26:7-12).

Disse Davi ao moço que lhe dava as no­vas: Como sabes tu que Saul e Jôanatas, seu filho são mortos? Então disse o moço por­tador das notícias: Cheguei por acaso à mon­tanha de Gilboa, e eis que Saul estava apoia­do sobre a sua lança, e os carros e a cava­laria apertavam com ele. Olhando ele para trás, viu-me e chamou-me. Eu disse: Eis-me aqui. Ele me perguntou: Quem és tu? Eu respondi: Sou amalequita. Então me disse: Arremete contra mim, e mata-me, pois me sinto vencido de cãibra, mas o tino se acha ainda todo em mim. Arremessei-me, pois, so­bre ele, e o matei, porque bem sabia eu que ele não viveria depois de ter caído. Tomei-Ihe a coroa que trazia na cabeça e o bra­celete, e os trouxe aqui ao meu senhor. Então apanhou Davi as suas próprias ves­tes e as rasgou, e assim fizeram todos os homens que estavam com ele. Prantearam, choraram e jejuaram até à tarde por Saul, e por Jônatas, seu filho, e pelo povo do Se­nhor, e pela casa de Israel, porque tinham caído à espada. Então perguntou Davi ao moço portador das notícias: Donde és tu? Ele respondeu: Sou filho de um homem es­trangeiro, amalequita. Davi lhe disse: Como não temeste estender a mão para matares o ungido do Senhor? Então chamou Davi a um dos moços, e lhe disse: Vem, lança-te sobre esse homem. Ele o feriu, de sorte que mor­reu  (2 Sm. 1:5-15).

Depois disto consultou Davi ao Senhor, dizendo: Subirei a alguma das cidades de Judá?  (2 Sm. 2:1).

Indo Recabe e Baaná, filhos de Rimom beerotita, chegaram à casa de Is-Bosete, no maior calor do dia, estando este a dormir, ao meio-dia. Ali entraram para o interior da casa, como que vindo buscar trigo, e o feri­ram no abdómen; Recabe e Baaná, seu ir­mão escaparam. Tendo eles entrado na casa, estando ele no seu leito, no quarto de dor­mir, feriram-no, e o mataram. Cortaram-lhe depois a cabeça e a levaram, andando toda a noite pelo caminho da planície. Trouxeram a cabeça de Is-Bosete ao rei Davi, a Hebrom, e lhe disseram: Eis aqui a cabeça de Is-Bose­te, filho de Saul, teu inimigo, que procurava tirar-te a vida; assim o Senhor vingou hoje ao rei meu senhor, de Saul e da sua descen­dência. Porém Davi respondendo a Recabe e a Baaná, seu irmão, filhos de Rimom, o beerotita, disse-lhes: Tão certo como vive o Senhor, que remiu a minha alma de toda a angústia, se eu logo lancei mão daquele que me trouxe notícia dizendo: Eis que Saul é morto, parecendo-lhe porém aos seus olhos que era quem trazia boas novas, e como re­compensa o matei em Ziclague, muito mais a perversos, que mataram a um homem jus­to em sua casa, no seu leito; agora, pois, não requereria eu o seu sangue de vossas mãos, e não vos exterminaria da terra? Deu Davi ordem aos seus moços; eles, pois, os mataram e, tendo-lhes cortado as mãos e os pés, os penduraram junto ao açude em He­brom; tomaram, porém, a cabeça de Is-Bosete, e a enterraram na sepultura de Abner, em Hebrom   (2 Sm. 4:5-12).

Então todas as tribos de Israel vieram a Davi, a Hebrom, e falaram, dizendo: Somos do mesmo povo de que tu és. Outrora, sendo Saul ainda rei sobre nós, eras tu que fazias entradas e saídas militares com Israel; tam­bém o Senhor te disse: Tu apascentarás o meu povo de Israel, e serás chefe sobre Is­rael. Assim, pois, todos os anciãos de Israel vieram ter com o rei em Hebrom; e o rei Davi fez com eles aliança em Hebrom, pe­rante o Senhor. Ungiram a Davi, rei sobre Israel  (2  Sm.  5:1-3).

Ao entrar a arca do Senhor na cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela, e, vendo ao rei Davi, que ia saltando e dançando diante do Senhor, o des­prezou no seu coração. Introduziram a arca do Senhor, e puseram-na no seu lugar, na tenda que lhe armara Davi; e este trouxe holocaustos e ofertas pacíficas perante o Senhor. Tendo Davi trazido holocaustos e ofertas pacíficas, abençoou o povo em nome do Senhor dos Exércitos. E repartiu a todo o povo, e a toda a multidão de Israel, assim a homens como a mulheres, a cada um, um bolo de pão, um bom pedaço de carne e pas­sas. Então se retirou todo o povo, cada um para sua  casa.
Voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, a filha de Saul, saiu a encontrar-se com ele, e lhe disse: Que bela figura fez o rei de Israel, descobrindo-se hoje aos olhos das servas de seus servos, como sem pejo se descobre um vadio qualquer! Disse, porém, Davi a Mical: Perante o Senhor, que me escolheu a mim antes do que a teu pai, e a toda a sua casa, mandando-me que fosse chefe sobre o povo do Senhor, sobre Israel, pe­rante o Senhor me tenho alegrado. Ainda mais desprezível me farei, e me humilha­rei aos meus olhos; quanto às servas, de quem falaste, delas serei honrado. Mical, filha de Saul, não teve filhos, até ao dia da sua morte (2 Sm. 6:16-23).

Então entrou o rei Davi na casa do Se­nhor, ficou perante ele, e disse: Quem sou eu, Senhor Deus, e qual é a minha casa, para que me tenhas trazido até aqui? (2 Sm. 7:18).

Disse, pois, o rei a Itai, o geteu: Por que irias também tu conosco? Volta, e fica-te com quem vier a ser o rei, porque és estrangeiro e desterrado de tua pátria. Chegaste ontem e já te levaria eu hoje conosco a vaguear, quando eu mesmo não sei para onde vou? Volta, pois, e faze voltar a teus irmãos con­tigo. E contigo sejam misericórdia e fide­lidade (2 Sm. 15:19, 20).

Eis que Abiatar subiu, e também Zadoque e com este todos os levitas que levavam a arca da aliança de Deus; puseram ali a arca de Deus, até que todo o povo acabou de sair da cidade. Então disse o rei a Zadoque: Torna a levar a arca de Deus à cidade. Se achar eu graça aos olhos do Senhor, ele me fará voltar para lá, e me deixará ver assim a arca como a sua habitação. Se ele, porém, disser: Não tenho prazer em ti; eis-me aqui, faça de mim como melhor lhe parecer (2 Sm. 15:24-26).

Tendo chegado o rei Davi a Baurim, eis que dali saiu um homem da família da casa, de Saul, cujo nome era Simei, filho de Gera; saiu, e ia amaldiçoando. Atirava pedras con­tra Davi e contra todos os seus servos; ainda que todo o povo e todos os valentes estavam à direita e à esquerda do rei. Amaldiçoando-o dizia Simei: Fora daqui, fora, homem de san­gue, homem de Belial; o Senhor te deu agora a paga de todo o sangue da casa de Saul, cujo reino usurpaste, já o entregou nas mãos de teu filho Absalão; eis-te agora na tua desgraça, porque és homem de sangue. Então Abisai, filho de Zeruvia, disse ao rei: Por que amaldiçoaria este cão morto ao rei meu se­nhor? Deixa-me passar, e lhe tirarei a ca­beça. Respondeu o rei: Que tenho eu con­vosco, filhos de Zeruia? Ora deixai-o amal­diçoar; pois se o Senhor lhe disse: Amaldi­çoa a Davi, quem diria: Por que assim fizes­te? Disse mais Davi a Abisai, e a todos os seus servos: Eis que meu próprio filho pro­cura tirar-me a vida, quanto mais ainda este benjamita? Deixai-o, que amaldiçoe, pois o Senhor lhe ordenou. Talvez o Senhor olhará para a minha aflição e me pagará com bem a sua maldição deste dia. Prosseguiam, pois, o seu caminho, Davi e os seus homens; tam­bém Simei ia ao longo do monte, ao lado dele, caminhando e amaldiçoando, e atirava pedras e terra contra ele. O rei e todo o povo que ia com ele chegaram exaustos ao Jordão, e ali descansaram (2 Sm. 16:5-14).

Todo o povo, em todas as tribos de Israel, andava altercando entre si, dizendo: O rei nos tirou das mãos de nossos inimigos, livrou--nos das mãos dos filisteus, e agora fugiu da terra por causa de Absalão. Absalão, a quem ungimos sobre nós, já morreu na peleja; agora, pois, por que vos calais, e não fazeis voltar o rei? Então o rei Davi mandou dizer a Zadoque e a Abiatar, sacerdotes: Falai aos anciãos de Judá: Por que seríeis vós os últimos em tornar a trazer o rei para a sua casa? visto que aquilo que todo o Israel dizia já chegou ao rei, até à sua casa. Vós sois meus irmãos, sois meu osso e minha carne; por que, pois, seríeis os últimos em tornar a trazer o rei? Dizei a Amasa: Não és tu meu osso e minha carne? Deus me faça o que lhe aprouver se não vieres a ser para sempre comandante do meu exército, em lugar de Joabe. Com isto, moveu o rei o co­ração de todos os homens de Judá, como se fora um só homem, e mandaram dizer-lhe: Volta, ó rei, tu e todos os teus servos. Então o rei voltou, e chegou ao Jordão; Judá foi a Gilgal, para encontrar-se com o rei, a fim de fazê-lo passar o Jordão (2 Sm. 19:9-15).

Nos tempos do Velho Testamento Davi foi o segundo a quem Deus fez rei; o primeiro rei, Saul, também foi estabelecido por ele. Davi era a nova autoridade estabelecida por Deus, o novo ungido do Senhor; enquanto Saul era a auto­ridade rejeitada, aquele cuja unção era coisa do passado, pois o Espírito de Deus já o tinha dei­xado. Vamos observar agora como Davi estava sujeito à autoridade, não se esforçando em esta­belecer a sua própria autoridade.

Esperando que Deus garantisse a autoridade

1 Samuel 24 apresenta o que aconteceu em En-Gedi. Davi cortou um pedaço do manto de Saul e o seu coração o acusou porque sua consciência era extremamente sensível. O capítulo 26 conta como Davi tomou a lança e o cantil de Saul. Provavelmente pensava que tirando essas coisas que pertenciam a Saul daria provas de sua pre­sença e seria assim mais atendido. Isto, entre­tanto, é o modo de agir de um advogado e não de um cristão. Um cristão se preocupa com os sentimentos, não com o raciocínio; lida com fa­tos, não com evidências. É verdade que Davi, no princípio, agiu como um advogado, mas tendo os sentimentos de um cristão, seu coração podia imediatamente ser tocado. Diante de Deus somos pessoas que se preocupam com atos e não com a política, por isso não enfatizamos processos. Embora o cortar do manto e o tirar de uma espada e um cantil nos tornassem mais cons­pícuos, nosso coração haveria de nos acusar.
Davi era capaz de se sujeitar à autoridade. Jamais anulou a autoridade de Saul; simples­mente aguardava que Deus garantisse a sua au­toridade. Não ajudaria Deus a fazê-lo; pelo con­trário, prontamente aguardaria que Deus agisse. Qualquer pessoa para ser autoridade delegada por Deus tem de aprender a não tentar estabelecer sua própria autoridade.
As autoridades precisam ser escolhidas por Deus e pela igreja

O primeiro capítulo de 2 Samuel conta como um homem matou Saul, mas Davi então, por sua vez, julgou o assassino. Por quê? Porque o homicida violou a autoridade. Embora a violação não se dirigisse contra Davi, ele julgou o assunto porque foi uma violação de autoridade.
Depois da morte de Saul, Davi perguntou a Deus a que cidade devia ir. Humanamente fa­lando, Davi com o seu exército deveria descer rapidamente a Jerusalém, pois ali estava o pa­lácio. Era uma oportunidade que não deveria ser perdida. Mas ele perguntou a Deus e Deus lhe disse que fosse a Hebrom. Hebrom era ape­nas uma cidade pequena e sem importância. A ida de Davi para lá provou que ele não estava tentando usurpar a autoridade por sua própria iniciativa. Esperou para ser ungido pelo povo de Deus. Samuel já o tinha ungido porque era o escolhido por Deus. Agora Judá o ungiu, porque era o escolhido do povo. Esta atitude tipifica a igreja fazendo suas escolhas. Davi não podia nem se opor nem recusar a unção do povo; ele não podia dizer: "Uma vez que já tenho a unção de Deus sobre mim não preciso da unção de vo­cês." Ser ungido por Deus é uma coisa; ser un­gido por seu povo é outra coisa. É preciso que haja a escolha da igreja e a escolha de Deus Ninguém pode se impor aos outros.
Davi não subiu a Jerusalém, porque esperava que o povo de Deus o ungisse. Permaneceu em Hebrom por sete anos. Embora não fosse um período curto, Davi não ficou impaciente. Deus jamais escolhe alguém para ser autoridade que esteja cheio de egoísmo e que procure a sua própria glória. Deus ungira Davi para ser rei sobre toda a nação de Israel como também sobre Judá, mas o povo de Deus ainda não o tinha aceito totalmente. Quando a casa de Judá o un­giu, tornou-se rei sobre aquela casa primeiro. Pelo resto, não estava ansioso; podia esperar.
Depois de reinar sobre Judá em Hebrom duran­te sete anos, todas as tribos de Israel ungiram Davi seu rei; assim foi rei em Jerusalém durante trinta e três anos. Por sua própria natureza, a autoridade não pode promover-se nem impor­-se aos outros; deve ser estabelecida por Deus e ungida pelos homens. Para estar em autori­dade sobre os filhos de Deus, é necessário que haja as duas coisas, a unção do Senhor e a unção do povo. Jamais durante aqueles sete anos desde os trinta até os trinta e sete, Davi duvidou que seria ungido pelo povo de Israel. Submeteu este assunto nas mãos de Deus.
Todos aqueles que conhecem a Deus podem esperar. Se a condição de uma pessoa está corre­ta, será reconhecida não só pelo Senhor como seu representante mas também pela igreja como representante de Deus Jamais lutemos com a carne, nem mesmo para levantar um dedo. Nin­guém pode se levantar e afirmar: "Sou auto­ridade estabelecida por Deus, vocês todos têm de submeter-se a mim." Primeiro temos de apren­der a ter ministério espiritual diante do Senhor e então, na hora designada por Deus, entraremos no meio dos seus filhos para servi-los. Por que Davi teve de esperar em  Hebrom?
Porque depois da morte de Saul, seu filho Is-Bosete, sucedeu-o como rei em Jerusalém. Mais
tarde, Recabe e Baaná  assassinaram  Is-Bosete e trouxeram sua cabeça a Hebrom, pensando que  traziam boas notícias. Pelo contrário, Davi mandou matá-los. Davi os julgou porque se rebelaram  contra a autoridade. Quanto mais uma pessoa aprender a ser autoridade, mais capaz será de manter a autoridade. Ninguém jamais deveria permitir que a autoridade de outra pessoa fosse prejudicada a fim de estabelecer a sua própria. Sempre que há rebelião contra a autoridade — e mesmo que não seja diretamente contra você — tem de ser julgada. Não aja com as pessoas só quando elas infringirem a sua autoridade.

           Nenhuma autoridade diante de Deus

2 Samuel 6 conta como, quando já era rei so­bre todo o Israel, Davi dançou diante da arca. Mical, sua esposa, a filha de Saul, viu-o e des­prezou-o em seu coração. Mical achava que, sen­do rei, ele deveria se santificar diante do povo  de Israel; isto é, deveria manter sua dignidade  exatamente como seu pai Saul fizera. Davi en­tendia a coisa de maneira diferente. Ele achava  que na presença de Deus não tinha autoridade nenhuma, pois era vil e desprezível. Em pensamento Mical cometeu a mesma falta de seu pai que, mesmo depois que Deus o rejeitou por ter-se rebelado poupando o que havia de melhor entre o gado e as ovelhas, ainda assim quis salvar o seu prestígio pedindo a Samuel que o honrasse diante do povo de Israel. Mical estava familiari­zada com esse jeito de fazer as coisas, mas era diferente com Davi. o resultado foi que Deus aceitou Davi, mas julgou Mical fechando o seu ventre. Até o dia de hoje, todos aqueles que an­dam pelo caminho de Mical, serão privados de descendência.
  Qualquer um que representa autoridade deve­ria ser manso e humilde diante de Deus e do seu povo. Não deveria ser presunçoso; não deve­ria também procurar manter a sua própria auto­ridade entre os homens. Embora Davi fosse o rei sobre o trono, diante da arca de Deus era igual ao seu povo. Mical achava que Davi também era rei na presença de Deus. Não aguentou a visão de Davi dançando diante da arca, por isso caçoou dele, dizendo: "Que bela figura fez o rei de Israel hoje!" Embora alguns sejam escolhidos para fi­car em posição de autoridade na igreja, todos são iguais diante de Deus. Eis aí a base e o segredo da autoridade.


Sem consciência de autoridade

Gosto de maneira especial das palavras de 2 Sa­muel 7:18: "Então entrou o rei Davi na casa do Senhor, ficou perante ele." O templo ainda não fora construído, portanto a arca se encontrava numa tenda; e Davi se sentou no chão. Ali Deus fez uma aliança com Davi, e ali Davi ofereceu uma oração maravilhosa. Nesta oração descobri­mos um espírito terno e sensível. Antes de se tornar rei, Davi foi um poderoso guerreiro;
nin­guém podia enfrentá-lo. Agora que era rei, assentou-se humildemente sobre o chão. Continuou sendo um homem humilde.
Mical, que tinha nascido no palácio, quis reter a sua majestade, exatamente como seu pai. Não via a diferença entre o homem entrando na pre­sença de Deus e saindo de sua presença. Sair é falar e agir em nome de Deus com auto­ridade, mas entrar é prostrar-se aos pés do Senhor, reconhecendo sua própria indignidade. Davi foi verdadeiramente um rei estabelecido por Deus, pois tinha a autoridade de Deus. Cristo não só era filho de Abraão, mas também filho de Davi. O nome do último rei mencionado em toda a Bí­blia é o nome de Davi. Portanto não nos sur­preende que Davi, mesmo sendo rei, não tivesse consciência de sua realeza, só de sua indignidade?
Não, qualquer um que pensa e sente que é uma autoridade não é digno dessa autoridade. Quan­to mais autoridade alguém possui, menos cons­ciência tem dela. Aquele que representa a autori­dade de Deus deve ter em si esta bendita tolice: ter autoridade mas não ter consciência de ser  uma autoridade.

A autoridade não precisa ser automantida

A rebelião de Absalão foi dupla: como filho rebelou-se contra o seu pai, e como cidadão re­voltou-se contra o seu soberano. Quando Davi fugiu da cidade tinha terrível necessidade de se­guidores. Mesmo assim pôde dizer de Itai: "Volta, e fica-te com quem vier a ser o rei, porque és es­trangeiro e desterrado de tua pátria' (2 Sm. 15:19). Como o coração de Davi era sensível! Mesmo em seu desespero não queria levar homens consigo.
Não é fácil conhecer-se uma pessoa de verdade dentro de um palácio, mas na provação ela se revela claramente.
Então os sacerdotes vieram com a arca. Se a arca fosse com Davi, muitos dentre o povo de Israel certamente o teriam seguido. Mas Davi elevou-se acima de sua aflição. Não permitiria que a arca o seguisse; preferia deixar que Deus fizesse com ele o que julgasse bom. Sua atitude foi de absoluta sujeição sob a poderosa mão de Deus. Ele disse: "Se achar eu graça aos olhos do Senhor, ele me fará voltar para lá, e me deixará ver assim a arca como a sua habitação. Se ele, porém, disser: Não tenho prazer em ti; eis-me aqui, faça de mim como melhor lhe parecer" (2 Sm. 15:25-26). Persuadiu Zadoque e todos os sacerdotes que carregavam a arca a voltar.
Essas palavras parecem fáceis de dizer, mas num momento de fuga são extremamente difíceis de enunciar. Aqueles que fugiram da cidade eram poucos em número, e Jerusalém estava cheia de gente rebelde. Não obstante Davi pôde mandar seus bons amigos de volta. Como o coração de Davi era puro! Subiu ao Monte das Oliveiras, chorando pelo caminho, descalço e com a cabe­ça coberta. Como era manso e humilde!
Tal, realmente, é a condição da autoridade estabelecida por Deus. Por que lutar com os ho­mens? Deus é que decide se uma pessoa é rei ou não; não depende das multidões de seguidores, nem mesmo da presença da arca. Davi não sentiu necessidade de tentar estabelecer sua autoridade.
A autoridade suporta a provocação

Um espírito rebelde é contagioso. Pelo caminho, apareceu Simei que amaldiçoava Davi sem parar e atirava pedras nele acusando-o: "O Senhor te deu agora a paga de todo o sangue da casa de Saul" (2 Sm. 16:8). Nada podia estar mais longe da verdade, uma vez que Davi não derramou ne­nhum sangue da casa de Saul. Não obstante Davi nem argumentou nem procurou vingar-se ou re­sistir. Tinha ainda seus homens de guerra ao seu lado, e tinha poder para matar aquele ho­mem. Mas impediu-os de matar Simei, dizendo: "Deixai-o, que amaldiçoe, pois o Senhor lhe or­denou" (2 Sm. 16:11).
 Que homem quebrantado e manso era Davi! Lendo a Bíblia precisamos captar o espírito de Davi nesta hora. Desesperado e solitário como se encontrava naquela ocasião, certamente poderia pelo menos desabafar um pouco sobre Simei. Mas Davi era homem de obediência absoluta. Submetia-se a Deus e aceitava qualquer coisa que viesse de Deus.
 Que todos os irmãos aprendam esta lição: o ho­mem de autoridade que Deus estabelece é capaz de suportar provocação. Se a autoridade que você possui é incapaz de
 ofender-se você está qualifica­do para ficar em autoridade. Não imagine que você pode exercer autoridade livremente porque foi escolhido por Deus. Só os obedientes têm capacidade para ficar em autoridade.

Aprenda a humilhar-se sob a poderosa mão de Deus

Davi não retornou ao palácio imediatamente após a morte de Absalão. Por quê? Porque Absalão também já fora ungido rei pelo povo. Por­tanto Davi tinha de aguardar. Então as onze tribos vieram ao rei e lhe pediram que voltasse, mas a tribo de Judá permaneceu em silêncio. Então Davi, a fim de animar seus corações, enviou uma mensagem a Judá porque ele mesmo era daquela tribo, embora, estivesse agora expulso por eles. Devia esperar que todo o seu povo lhe pedis­se para voltar. É verdade que Davi foi
original­mente estabelecido por Deus; não obstante, quan­do surgiram as provações, ele aprendeu a hu­milhar-se sob a poderosa mão de Deus. Não se sentia ansioso, nem lutou por si mesmo. Todas as suas batalhas foram pelo povo de Deus.   Todos os que são usados por Deus em posição de autoridade devem ter o espírito de Davi. Que ninguém se defenda nem fale por si mesmo. Aprendamos a esperar e a humilhar-nos diante de Deus. Aquele que sabe como obedecer melhor, é aquele que é melhor qualificado para ficar em posição de autoridade. Quanto mais alguém se prostra diante de Deus mais depressa o Senhor o vinga.


CAPÍTULO 18

A vida diária e a motivação interior das autoridades delegadas

Então se aproximaram dele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo-lhe: Mestre, que­remos que nos concedas o que te vamos pe­dir. E ele lhes perguntou: Que quereis que vos faça? Responderam-lhe: Permite-nos que na tua glória nos assentemos um à tua di­reita e o outro à tua esquerda. Mas Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu bebo, ou receber o batismo com que eu sou batizado? Disseram-Ihe: Podemos. Tornou-lhes Jesus: Bebereis o cálice que eu bebo e recebereis o batismo com que eu sou batizado; quanto, porém, ao assentar-se à minha direita ou à minha es­querda, não me compete concedê-lo; porque é para aqueles a quem está preparado. Ouvin­do isto, indignavam-se os dez contra Tiago e João. Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são con­siderados governadores dos povos, têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre vós não é as­sim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos. Pois o próprio Filho do ho­mem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por mui­tos.
 (Marcos 10:35-45).

Beber o cálice do Senhor e ser batizado com o batismo do Senhor

Quando esteve aqui sobre a face da terra, nosso Senhor raramente ensinou às pessoas como exer­cer autoridade, pois não era o seu propósito ao vir ao mundo. A passagem mais clara em que o Senhor instrui sobre autoridade é esta que en­contramos em Marcos 10. Se alguém deseja saber como exercer autoridade deve ler esta passagem. O Senhor nos mostra aqui o caminho da autori­dade. Tudo começou com Tiago e João. Dese­javam assentar-se um de cada lado do Senhor em sua glória. Conhecendo a impropriedade de tal pedido, não se atreveram a fazê-lo diretamente, mas sutilmente sugeriram que o Senhor lhes prometesse qualquer coisa que pedissem. Quiseram antes obter uma promessa do Senhor.
Mas o Senhor não aquiesceu prontamente; pelo contrário, perguntou o que desejavam que fizesse por eles. Por isso responderam: "Permite-nos que na tua glória nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda." Tal pedido encerrava dois significados: primeiro, ficar perto do Se­nhor; segundo, ter mais autoridade. Estava certo que desejassem ficar mais perto do Senhor, mas o pedido deles foi muito além disso quando de­sejaram ter mais autoridade na glória do que os outros dez discípulos. Como respondeu o Senhor? Como antes havia perguntado que queriam que lhes fizesse, agora ele declara que eles mesmos não sabiam o que estavam pedindo.
O Senhor não rejeitou o desejo que tinham de ficar perto dele ou de ficar em posição de auto­ridade, nem os culpou porque desejassem sentar-se à sua direita e esquerda. Simplesmente res­pondeu que teriam de beber o seu cálice e ser batizados com o seu batismo antes que pudessem assentar-se à sua direita ou esquerda. Tiago e João pensaram que poderiam obter o que dese­javam apenas pedindo, mas o Senhor replicou que não era pedindo, mas bebendo o cálice e re­cebendo o batismo. Portanto, fica evidente que se os homens não beberem o cálice do Senhor e não receberem o seu batismo não podem se apro­ximar dele nem possuir autoridade.

O que é o cálice e o batismo do Senhor?

Qual é o significado do cálice do Senhor? No Jardim do Getsêmani um cálice foi colocado diante do Senhor, e ele orou: "Meu Pai: Se possí­vel, passa de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e, sim, como tu queres" (Mt. 26: 39). Naquele momento o cálice e a vontade de Deus não eram uma só coisa. O cálice podia ser removido, mas a vontade não podia ser modifica­da. O Senhor ainda poderia não precisar beber o cálice, embora desejasse fazer a vontade de Deus de maneira absoluta. Sua atitude foi, que se fos­se a vontade de Deus que bebesse, então ele be­beria; mas se não fosse a vontade de Deus, ele não beberia. Tais palavras despertam nossa ado­ração. O que ele destacou no jardim foi se o cálice era ou não a vontade de Deus. Depois de
orar assim três vezes ele ficou sabendo que o cálice e a vontade de Deus eram uma coisa só. Portanto acrescentou rapidamente: "Não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?" (João 18: 11). No jardim havia ainda a possibilidade do cá­lice passar dele porque o cálice e a vontade de Deus ainda não tinham se tornado a mesma coisa. Depois desta experiência no jardim, entretanto, o Senhor sabia que o cálice e a vontade de Deus eram uma só coisa. Portanto, fora do jardim, o cálice já fazia parte da vontade de Deus. Era um cálice dado pelo Pai que ele tinha de beber.
Esta é uma lição espiritual muito profunda. O Senhor não se preocupou principalmente com a cruz; estava ocupado, em vez disso, em fazer a vontade de Deus. Embora sua crucificação fos­se tremendamente importante, não poderia con­tudo substituir a vontade de Deus. A cruz sobre a qual morreu em resgate por muitos não podia sobrepujar a vontade de Deus. Ele não veio para ser crucificado mas para fazer a vontade de Deus. Por amor ao Pai foi crucificado. Não tinha relacionamento direto com a cruz; só estava di­retamente relacionado com a vontade de Deus. Sua escolha era a vontade de Deus, não a cruz. De acordo com isso, o beber o cálice significava sua sujeição à enorme autoridade de Deus em obedecer à vontade deste. Por isso perguntou a Tiago e João: "Podeis vós beber o cálice que eu bebo?"
Muitos são capazes de se relacionarem à con­sagração, ou ao sofrimento ou ao trabalho, mas devemos manter relacionamento direto só com a vontade de Deus. Algumas pessoas quando ocu­padas no trabalho não servem para mais nada. Ficam tão tomadas pelo que estão fazendo que se afogam naquilo. Não podem nem sequer acei­tar dali em diante a vontade de Deus. Insistem em ir até o fim, uma vez que não estão tra­balhando por causa da vontade de Deus mas por amor ao trabalho. Isto não aconteceu com o Senhor. Estava tão ansioso em fazer a vontade de Deus que lhe seria possível não ser crucifi­cado. Contudo, uma vez claro que a vontade de Deus para ele era a cruz, imediatamente a acei­tou, apesar de seus sofrimentos indizíveis. Por isso a pergunta que fez a Tiago e João foi: Vocês estão prontos a se submeter à vontade de Deus como eu me submeto? Este é o cálice do Senhor.
Aqueles que são obedientes a Deus estão li­gados apenas ã vontade de Deus; tudo mais fica sujeito a mudanças. Antes de fazer a vontade de Deus devem primeiro submeter-se à autoridade de Deus. No Jardim do Getsêmani o Senhor atingiu o cume de sua obediência. Não misturou o cálice com a vontade de Deus. O objeto de sua obediência é a vontade de Deus; o cálice não é o seu objetivo. Sempre obedece à vontade de Deus porque a considera acima de tudo. Não é o
tra­balho, nem o sofrimento, nem mesmo a cruz, mas a vontade de Deus! O Senhor parecia dizer a Tiago e João: assentar-se ou não à minha di­reita e à minha esquerda depende de vocês
be­berem o meu cálice, que neste caso é absoluta obediência à vontade de Deus.
Qual é, então, o significado do batismo do Se­nhor? Não se refere ao batismo no rio Jordão uma vez que era um acontecimento passado. Não, aponta para o futuro, para a sua morte na cruz: "Tenho, porém, um batismo com o qual hei de ser batizado", disse o Senhor, "e quanto me an­gustio até que o mesmo se realize!" (Lucas 12:50). Ele antecipava a sua libertação. A plenitude da glória de Deus estava tolhida em seu corpo en­carnado. Como se sentia preso e angustiado! Que bênção quando fosse libertado! A cruz é portanto a libertação da vida além da expiação pelo pecado. Deus liberta sua vida através da cruz.
  Logo que a vida de Deus é liberada acende-se como um fogo lançado sobre a terra. Causará divisão em lugar de paz. Tudo o que é tocado pelo fogo, queima, Casas serão divididas; os cren­tes e os incrédulos entrarão em conflito; aqueles que têm vida e aqueles que não têm vida lutarão uns contra os outros; e o queimado entrará em conflito com o que não está queimado. Isto cha­ma-se de batismo do Senhor. Onde há vida, há luta, não paz. Aqueles que receberam este batis­mo estão separados daqueles que não o rece­beram.
Portanto parece que o Senhor aqui está dizen­do: Eu vou para a cruz a fim de libertar a vida para que as pessoas possam lutar umas com as outras; vocês são capazes de fazer a mesma coi­sa? O batismo em si mesmo é primeiramente morte e então vida liberada; sendo que a con­sequência do batismo é dividir as pessoas. Isto se parece com a declaração de Paulo que disse: "em nós opera a morte; mas em vós, a vida." (2 Co. 4:12). No batismo o Senhor desfaz sua casca pela morte e assim libera a vida.
Temos de fazer o mesmo hoje. Temos de que­brantar o homem exterior para que a vida interior possa fluir. Quando a casca de um ho­mem se quebra ele se aproxima muito dos ou­tros e a vida pode fluir facilmente. Caso con­trário a vida ficará presa, o espírito terá dificul­dade de sair, e assim o caminho da vida aos outros ficará bloqueado. É quando o grão de trigo cai sobre a terra e sua casca se rompe que a vida começa a fluir. Por isso o Senhor disse: "Quem perder a vida por minha causa, achá-la-á" (Mt. 16:25).
O Senhor não diz "morrer" mas "ser batizado" — para que ninguém entenda mal e imagine que Tiago e João participaram da expiação. Na ques­tão da expiação, Cristo, na qualidade de nosso sumo sacerdote, expia sozinho os nossos pecados. Não há ninguém mais que possa expiar ou par­ticipar da expiação. No que se refere à parte ex­piatória de sua morte na cruz, não participamos dela; mas quanto à parte de sua morte que
pro­porciona vida, todos participamos dela. Conse­quentemente, o Senhor aqui fala só do aspecto da sua morte que libera vida, nada relacionado com a expiação.
 Assim, parece que nos diz: "O batismo que receberei arrebentará minha casca e
liberta­rá vida. Vocês estão prontos a serem assim batizados?" Se um homem não for quebran­tado, a vida não pode ser libertada. Um homem não quebrantado mantém uma grande distância entre si e os outros. Embora se assente bem per­tinho das pessoas, não pode tocá-las, porque sua vida interior não pode fluir livremente.
Logo que esta vida flui, a terra perde a sua paz e começa a luta. Muitos serão divididos por causa daqueles que têm esta vida fluindo. A diferença entre aqueles que pertencem ao Senhor e aqueles que não pertencem é grande. Muitas dificuldades surgirão entre aqueles que têm o Senhor e aqueles que não têm, aqueles que co­nhecem a Deus e aqueles que não conhecem, aqueles que pagam o preço e aqueles que não pagam, aqueles que são fiéis e aqueles que são infiéis, aqueles que aceitam as provações e
aque­les que as recusam. O Senhor aparentemente dizia o seguinte a Tiago e João: "Uma vez que vocês me pedem para serem diferentes dos de­mais assentando-se à minha direita e esquerda, são capazes de hoje ser diferentes do restante dos filhos de Deus? Vocês têm de primeiro beber o cálice e ser batizados com o batismo para poderem se assentar à minha direita e esquerda na glória." Tiago e João responderam presunço­samente: "Somos capazes!"
Mesmo assim, o Senhor não lhes prometeu os ambicionados lugares ao seu lado. Embora eles pedissem erradamente, o Senhor tinha de res­ponder corretamente. Seu pensamento é: se um homem não beber o seu cálice e não for batizado com o seu batismo, não pode sentar à sua direita ou à sua esquerda; e mesmo se bebe e é batizado, poderá não se sentar ao seu lado, uma vez que esses lugares se destinam àqueles para os quais foram preparados por Deus.

Autoridade não é mandar, mas servir humildemente

O Senhor continuou ensinando sobre a questão da autoridade. Reuniu seus discípulos e os ins­truiu sobre as coisas futuras na glória. Disse que, entre os gentios, os homens buscam autoridade a fim de poder governar sobre os outros. É bom que nós busquemos a glória futura, mas não devemos ter o pensamento de governar ou man­dar sobre os filhos de Deus. Fazê-lo nos levaria a cair no estado dos gentios Exercer autoridade e governar são desejos dos gentios. Um espírito assim deve ser expulso da igreja. Aqueles a quem o Senhor usa são os que conhecem o cálice do Senhor e o seu batismo. Quando bebemos o cá­lice e recebemos o batismo naturalmente tere­mos autoridade. Horrenda coisa é procurar go­vernar sobre os homens externamente. Devemos expulsar de nós este espírito dos gentios. Caso contrário não seremos aptos a liderar os outros.   Aqueles que procuram exercer autoridade não devem ser postos em posições de autoridade, pois Deus jamais concede autoridade a tais pessoas. Quanto mais o espírito dos gentios domina uma pessoa menos Deus pode usá-la. Mas aque­le que sente sua incompetência é aquele a quem Deus concede autoridade. Este é o cami­nho do Senhor e este deveria ser o nosso ca­minho. Jamais deveríamos ser como os polí­ticos ocupados na arte política da diplomacia. Não deveríamos conceder uma posição a alguém com medo de que se rebele se não o fizermos. O caminho na casa de Deus deve ser espiritual e não político. Embora nossa atitude deva ser mansa e gentil, temos de ser fiéis diante de Deus.  Um homem necessita prostrar-se diante de Deus para poder ser usado; sempre que se engrandece é rejeitado por Deus.
Que diferença enorme da autoridade entre os gentios e a igreja! Os primeiros governam por posição, mas a segunda governa pelo ministério da vida espiritual. É totalmente ruinoso para a igreja cair no estado dos gentios. Ela deve man­ter uma separação restrita deles. Se qualquer um entre nós considera-se qualificado para ser autoridade, está totalmente desqualificado. De­vemos manter esta sensibilidade em nosso meio.

  Para ser grande, é preciso  ser servo

A autoridade que Deus designa precisa de an­tecedentes espirituais — deve beber o cálice, isto é, obedecer de maneira absoluta à vontade de Deus; e deve receber o batismo, isto é, aceitar a morte para que a vida seja liberada. Também não deve ter nenhuma intenção de exercer autoridade; pelo contrário, deve estar preparado para servir como servo e escravo de todos. Em outras palavras, possuir base espiritual de um la­do e espírito de humildade do outro. Porque não procura ser autoridade Deus pode usá-lo como tal. É descabido falar sobre autoridade se o cálice não for bebido e o batismo não for rece­bido. Para aquele que é verdadeiramente humilde e que se considera inadequado para qualquer coisa que não seja servir a todos, a este o Senhor anuncia que pode ser grande.
A condição para a autoridade é consequente­mente um senso de incompetência e indignidade.  Da Bíblia podemos concluir que Deus nunca usa uma alma orgulhosa. No momento em que uma pessoa fica orgulhosa, Deus a deixa de lado. Seu orgulho escondido, mais cedo ou mais tarde se revelará através de suas palavras, pois as pa­lavras não cessam de escapar. No futuro tribunal divino até mesmo os humildes ficarão muito surpresos. E se isso é verdade, quanto maior será o horror dos orgulhosos naquele dia! Devemos sentir nossa incompetência, porque Deus só usa os inúteis. Diplomacia polida não se aplica aqui; antes, é preciso ter um sentimento sincero de que somos servos inúteis. Embora tenhamos cui­dado do rebanho e cultivado o solo, ao voltar ainda nos reconhecemos como servos inúteis. Não nos esqueçamos de permanecer na posição de servo. Deus jamais confia sua autoridade aos que têm justiça própria e que são autocompetentes. Rejeitemos o orgulho, aprendamos a ser humildes e mansos, e a não falar de nós mesmos. Aprendamos a nos conhecer à luz de Deus.  Finalmente, o Senhor disse: "Pois o Filho do homem também veio não para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida em resgate de mui­tos." O Senhor não veio para exercer autoridade; veio para servir. Quanto menos convencida e mais humilde for uma pessoa, mais útil será. Quanto mais cheia de importância e preconcei­tos uma pessoa for, menos útil será. Nosso Se­nhor assumiu a forma de escravo, nascendo em semelhança de homens. Ele jamais estendeu a mão em busca de autoridade, pois recebeu-a de Deus. O Senhor Jesus foi exaltado da humildade para as maiores alturas; este foi o seu princípio de vida. Não vamos estender nossas mãos car­nais para agarrar autoridade carnal. Sejamos es­cravos de todos até que um dia Deus nos confie uma responsabilidade particular. Assim apren­deremos a representar a Deus. Portanto o mi­nistério é a base da autoridade. O ministério vem da ressurreição, o serviço vem do ministério, e a autoridade do serviço. Que o Senhor nos liberte da altivez.
Como será sério o juízo sobre aqueles que se apossam da autoridade de Deus com suas mãos carnais. Temamos a autoridade como tememos o fogo do inferno. Representar a Deus não é uma coisa fácil; é grande demais e maravilhosa de­mais para se tocar. Necessitamos andar estrita­mente no caminho da obediência. 0 caminho para nós é a obediência, não a autoridade; é sermos servos, não cabeças; sermos escravos, não governadores. Moisés e Davi, ambos foram as maiores autoridades, mas não foram pessoas que tentassem estabelecer sua própria autoridade. Aqueles que hoje desejam ficar em posição de autoridade deveriam seguir suas pisadas. De­veria sempre haver temor e tremor nesta ques­tão de exercer autoridade.

CAPÍTULO 19

As autoridades delegadas devem santificar-se

E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santi­ficados na verdade
(João 17:19).
vimos que a autoridade espiritual se ba­seia na espiritualidade. Não é algo con­cedido por homens nem simplesmente desig­nado por Deus. Devemos nos lembrar que de um lado baseia-se na espiritualidade e de outro lado na condição humilde e obediente do homem diante de Deus. Vamos agora acres­centar mais um ponto, que é, aquele que deve ser colocado em posição de autoridade precisa ser santificado da multidão. Embora nosso Se­nhor fosse enviado de Deus e tivesse comunhão ininterrupta com Deus, ainda assim declarou: "E a favor deles [dos discípulos], eu me san­tifico a mim mesmo."

O   que  significa  que  o Senhor "se santificou a si mesmo"?
"O Senhor santificando-se a si mesmo" signi­fica que por amor aos seus discípulos o Senhor deixou de fazer muitas coisas que lhe eram per­feitamente legítimas, de falar muitas palavras que poderia ter falado licitamente, de assumir muitas atitudes que poderia justificavelmente assumir, de usar muita espécie de vestuário que seria próprio usar, e de aceitar muitos alimen­tos que seria normal aceitar. Sendo o Filho de Deus que não conheceu o pecado, sua liberdade excedia qualquer outra sobre a terra. Muitas coisas não podemos fazer porque temos defei­tos; muitas palavras não podemos falar porque somos pessoas impuras. Mas não havia tal difi­culdade na vida de nosso Senhor, uma vez que era santíssimo.  Devemos nos humilhar, pois nos­sa natureza é cheia de orgulho. Mas nosso Se­nhor não foi jamais orgulhoso, não necessitando portanto de humildade. Mais do que isso, nós precisamos de paciência, porque somos natural­mente impacientes; nosso Senhor, entretanto, nunca foi impaciente, por isso não necessitou de paciência. Não precisou se restringir em mui­tas coisas uma vez que era absolutamente sem pecado. Até mesmo sua ira foi sem pecado. Ape­sar de tudo isto, ele disse: "E a favor deles eu me santifico a mim mesmo." Ele estava pronto a se restringir em muitas coisas.
Quanto à santidade, o Senhor não só tem em vista a sua própria mas também a nossa. Seja qual for a nossa santidade, ela nos separa do mundo; consequentemente há muitas coisas que não podemos fazer. Além de sua própria santi­dade, ele acrescenta a nossa, por isso ele se san­tifica. Por nossa causa, ele aceita as restrições que vêm dos homens. Considerando que ele fala e age de acordo com sua santidade enquanto os homens sempre falam ou julgam de acordo com os seus pecados, estava pronto a aceitar restrições para não ser mal-interpretado pelos pensamentos cheios de pecado dos homens. Deixamos de agir por causa do pecado; mas ele se coloca sob res­trições devido à santidade. Não fazemos, porque não devemos; mas ele não faz aquilo que pode­ria fazer. Por causa da autoridade de Deus ele se restringe de fazer muitas coisas a fim de ma­nifestar sua separação do mundo. Isto é o que significa o Senhor santificando-se a si mesmo.

Estar em autoridade geralmente significa solidão

Quando aprendemos a ficar em posição de autoridade devemos nos santificar diante de ir­mãos e irmãs. Muitas coisas legítimas não po­demos fazer e muitas palavras lícitas não deve­mos enunciar. Devemos ser santificados em pa­lavras e em sentimentos. Segundo nosso ponto de vista assumimos determinada atitude, mas entre os filhos de Deus devemos ser santificados. Até mesmo a nossa comunhão com irmãos e irmãs deve ter um limite além do qual não se­remos nem descuidados nem frívolos. Antes de­vemos perder a nossa liberdade, ficar sós. A solidão é o sinal da autoridade. Não é devida ao orgulho mas por causa da autoridade de Deus que representamos.
Aqui não está envolvida a questão do pecado, só uma questão de santificação. O oposto à san­tidade é o que é comum, não o pecado. Ser san­tificado é ser diferente dos outros. Muitas coi­sas justas não deveremos fazer, muitas palavras enunciáveis não deveremos falar. Não é uma pretensão aparente mas a restrição de Deus no espírito. Só deste modo podemos constituir au­toridade delegada por Deus.
Aquele que se encontra em posição de autori­dade representa a Deus em cada palavra ou ação. Conforme vemos em Números 20:12  Moisés fa­lhou em santificar a Deus diante do povo de Israel e não se santificou diante deles. Interpre­tou mal a Deus, por isso não poderia entrar em Canaã. Os pardais voam em bandos, enquanto que as águias voam sozinhas. Se só podemos voar baixo porque não aguentamos a solidão das alturas, não estamos capacitados a ficar em autoridade. Estar em posição de autoridade exi­ge restrição; é preciso santificar-se. Outros po­dem, mas você não pode; outros podem falar, mas você não pode. Você tem de obedecer ao Espírito do Senhor conforme ele ensina dentro de você. Você talvez se sinta abandonado e sinta falta do fervor da multidão; não obstante, você não se atreve a misturar-se com os irmãos e irmãs nas brincadeiras e gracejos. Este é o preço da autoridade. Se não nos santificarmos como nosso Senhor, não estaremos qualificados para ficar em posição de autoridade.
Mesmo assim, no que se refere a sermos mem­bros uns dos outros, qualquer um que esteja em posição de autoridade deve ser perfeita­mente normal mantendo a comunhão do corpo com todos os irmãos e irmãs. Do mesmo modo, representando a Deus, ele deve se santificar sob a restrição divina para que seja um exemplo a todos; enquanto, na qualidade de membro do corpo, deve servir com todos os seus irmãos em coordenação, jamais assumindo a falsa posição de ser de uma categoria especial.

Estar  em  posição  de  autoridade  exige restrição  nas afeições

Levítico 10:1-7 registra o julgamento de Nadabe e Abiú porque não se sujeitaram à autori­dade de seu pai Arão. No mesmo dia em que o pai foi ungido, os quatro filhos de Arão também foram ungidos no santuário como sacerdotes. Não deveriam servir individualmente mas ajudar seu pai no trabalho de Deus. Portanto não ti­nham permissão de agir por conta própria. Pois sem a permissão de seu pai e de acordo com seus próprios pensamentos, Nadabe e Abiú oferece­ram fogo estranho; e consequentemente, foram consumidos pelo fogo. Então Moisés disse a Arão: "Isto é o que o Senhor disse: Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim." Neste incidente. Deus revela uma coisa: aqueles que estão perto dele jamais devem ser negli­gentes. Há uma disciplina muito mais severa para lhes ser aplicada do que ao povo em geral.
O que Arão deveria fazer quando dois de seus quatro filhos, Nadabe e Abiú, morreram no mes­mo dia? Ele tinha um relacionamento duplo aqui: era sacerdote diante de Deus mas também era o cabeça de sua família. Pode uma pessoa servir a Deus a ponto de esquecer seu próprio filho? De acordo com o costume do povo de Israel, quando havia uma morte na família os membros da família deveriam soltar os cabelos e rasgar suas roupas. Mas, neste exemplo, Moisés ordenou que os corpos fossem levados para fora e proibiu Arão e seus dois filhos remanescentes de seguir o costume daquele tempo.
O pranto é um sentimento humano normal e é perfeitamente legítimo. Mas para aqueles israe­litas que serviam a Deus, como neste caso, era proibido para que não morressem. Como era sé­rio! Aqueles que serviam a Deus eram julgados de maneira diferente dos israelitas comuns. O que todos os outros israelitas podiam fazer, eles não podiam. Um pai chorar o seu filho, os irmãos chorarem seus irmãos, eram coisas lícitas e na­turais; não obstante, aqueles que tinham o óleo santo sobre eles deviam se santificar. Nenhuma questão de pecado de sua parte estava envolvida neste caso. Mas nem tudo o que é legítimo, mes­mo quando o pecado não está envolvido, pode ser indiscriminadamente feito. A questão não é relacionada com o pecado mas com a santificação.
Conforme já mencionamos, o oposto da santi­dade é o comum . Santidade significa que os ou­tros podem, mas eu não posso. O que os discí­pulos podem fazer, o Senhor não pode. O que outros irmãos podem fazer, aqueles que estão em posição de autoridade não podem. Até mesmo os afetos lícitos precisam ser colocados sob con­trole; caso contrário, a morte pode ser a con­sequência. O povo de Israel morreu por causa de seus pecados, mas os sacerdotes podiam morrer por não se santificarem. Com os israelitas, o que matava devia morrer; Arão, entretanto, se cho­rasse por seus filhos, teria de morrer. As pessoas em posição de autoridade devem pagar o preço dela.
Arão nem sequer podia sair do tabernáculo; outros tiveram de enterrar os mortos. O povo de Israel não vivia no tabernáculo, enquanto Arão e seus filhos não tinham permissão de sair pela porta dele. Deviam diligentemente guardar os encargos de Deus. O óleo da unção santifica-nos de nossos afetos naturais como também da con­duta costumeira. Devemos respeitar o óleo da un­ção que Deus nos concede.
Tenhamos, portanto, uma conduta íntegra dian­te de Deus no que se refere à nossa santificação do restante do povo. O mundo e os irmãos e irmãs comuns podem continuar com seus afetos familiares, mas as autoridades delegadas por Deus devem manter a glória de Deus. Não devem dar vazão aos seus próprios afetos nem agir negligentemente ou com rebeldia; antes, devem lou­var o Senhor por ver a sua glória.
Aqueles que servem são ungidos por Deus. De­vem sacrificar seus próprios afetos, negando até mesmo os legítimos. Todos aqueles que desejam manter a autoridade de Deus devem saber como se opor a seus próprios sentimentos, como deixar de lado os mais profundos afetos para com seus parentes, amigos e amados. A exigência de Deus é rigorosa; se uma pessoa não deixa de lado seus próprios afetos não pode servir a Deus. Aquele que é santificado é servo de Deus; aquele que não é santificado é uma pessoa comum.

Santificado na vida e no  prazer

 Por que Nadabe e Abiú ofereceram fogo es­tranho? Lemos que depois do que lhes aconteceu Deus disse a Arão: "Vinho nem bebida forte tu e teus filhos não bebereis, quando entrardes na tenda da congregação" (Lv. 10:9). Todos aqueles que sabem como ler a Bíblia concordam que aque­les dois homens ofereceram fogo estranho por­que estavam embriagados. O povo de Israel tinha permissão de beber vinho e bebidas fortes, mas os sacerdotes de Deus estavam absolutamente proibi­dos de tocar nelas.
  Eis, portanto, uma questão de prazer. Outros podem desfrutar, mas nós não. Outros podem se alegrar com certos prazeres (pois o vinho fala de alegria), mas nós não. As pessoas que servem a Deus estão sob disciplina e devem ser capazes de fazer distinção entre o que é santo e o que é comum, entre o puro e o imundo. Embora realmente precisemos manter a comunhão do corpo com todos os irmãos e irmãs, não obstante em ocasiões de trabalho especial não devemos ser negligentes. Qualquer coisa que afrouxe as rédeas da restrição não deve ser feita.
Levítico 21 registra as exigências especiais fei­tas por Deus para com os sacerdotes que o ser­viam a fim de que se santificassem. Estas exi­gências eram as seguintes:
1.  Nenhum deles devia se contaminar pelos mortos entre o povo, exceto pelos parentes mais próximos. (Era uma exigência comum.)
2.  Deviam se santificar na roupa e no corpo. Não deviam cortar os cabelos, nem rapar os li­mites das barbas (uma vez que assim faziam os egípcios na adoração ao sol), nem cortar a pró­pria carne (era feito pelos africanos).
3.  Deviam se santificar no casamento.
4.  Quanto ao sumo sacerdote, as exigências de Deus eram ainda mais severas. Não devia tocar em nenhum cadáver, nem mesmo se contaminar por seu próprio pai ou mãe.
 Quanto mais alta a posição, mais severa a exigência. Ò grau de proximidade de Deus  torna-se o grau de sua exigência. Daquele a quem Deus mais confia, mais ele exige.  Deus se preocu­pa especialmente com o fato de seus servos se santificarem ou não a si mesmos.

Autoridade se baseia na santificação

A autoridade tem seus fundamentos na san­tificação. Sem santificação não pode haver au­toridade. Se você deseja viver com a multidão não pode ocupar posição de autoridade. Você não pode representar a Deus se mantiver uma comunicação muito liberal e frouxa com as pes­soas.  Quanto mais alta a autoridade maior a separação Deus é a autoridade máxima; conse­quentemente está acima de todos. Vamos apren­der a nos santificar de coisas impuras e co­muns. O Senhor Jesus podia fazer o que bem quisesse, mas por amor aos seus discípulos santificou-se a si mesmo. Colocou-se de lado e ficou do lado da santidade.
Que nós desejemos de todo coração agradar a Deus também buscando assim uma santifica­ção mais profunda. Significa que seremos di­ferentes do comum, embora não separados dos filhos de Deus como se fôssemos mais santos do que eles. Quanto mais nos santificamos e nos sujeitamos à autoridade de Deus, mais autorida­de recebemos. Se aqueles que estão em posição de autoridade na igreja fracassam, como pode a obediência ser mantida? Se a questão da auto­ridade não for resolvida a igreja permanecerá sempre em situação caótica.
Aquele que está em posição de autoridade não se apossa dela; serve a Deus, está pronto a pagar o preço e não procura nenhum excitamento. Estar em posição de autoridade requer que se suba alto, que não se tema a solidão, e que haja santificação. Que nós sejamos aqueles que co­locam tudo o que têm sobre o altar para que a autoridade de Deus seja restaurada. Este é o caminho do Senhor em sua igreja.


CAPÍTULO 20

As condições para a delegação de autoridade

As mulheres sejam submissas a seus pró­prios maridos, como ao Senhor ... Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela... Assim também os maridos devem amar as suas mulheres como a seus próprios cor­pos. Quem ama a sua esposa, a si mesmo se ama ... Não obstante, vós, cada um de per si, também ame a sua própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite a seu ma­rido (Ef. 5:22, 25, 28, 33).

Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo .. . E vós, pais, não provo­queis vossos filhos à ira, mas criai-os na dis­ciplina e na admoestação do Senhor ... E vós, senhores, de igual modo procedei para com eles, deixando as ameaças, sabendo que o Senhor, tanto deles como vosso, está nos céus, e que para com ele não há acepção de pessoas (Ef. 6:1,4, 9).

Deus assiste na congregação divina; no meio dos deuses estabelece o seu julgamento. Até quando julgareis injustamente, e toma­reis partido pela causa dos ímpios? (SI. 82:1-2).

Alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados. Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despen­seiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiço­so de torpe ganância, antes hospitaleiro, ami­go do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si
 (Tito 1:6-8).

E que governe bem a sua própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito (pois se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça, e incorra na condena­ção do diabo (1  Tm.  3:4-6).

Dize estas cousas; exorta e repreende tam­bém com toda a autoridade. Ninguém te despreze 
 (Tito   2:15).

Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na pa­lavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza (1 Tm. 4:12).

Porquanto para isto mesmo fostes chama­dos, pois que também Cristo sofreu em vos­so lugar, deixando-vos exemplo para seguir­des os seus passos (1 Pedro 2:21).

As autoridades que Deus estabeleceu na fa­mília são os pais em relação aos filhos, os ma­ridos em relação às esposas, e os senhores em relação aos servos. No mundo as autoridades são os reis em relação aos súditos e os gover­nantes em relação aos que lhes estão sujeitos. Na igreja são os anciãos em relação ao povo de Deus e os obreiros em relação ao seu trabalho.

1.  Maridos. A Bíblia ensina que as esposas devem estar sujeitas a seus maridos; mas os maridos devem exercer autoridade com uma con­dição. Três vezes em Efésios 5 os maridos são convocados a amar suas esposas como amam a si mesmos.
O amor de Cristo pela igreja estabelece o exemplo para o amor que os maridos devem dedicar a suas próprias esposas. Assim como Cristo ama a igreja, os maridos devem amar suas esposas
Se os maridos quiserem representar a autori­dade de Deus devem amar suas próprias esposas.

2.  Pais. Sem dúvida nenhuma os filhos devem obedecer aos pais; mesmo assim, a autoridade dos pais tem sua responsabilidade e condições tam­bém. As Escrituras dizem: "Pais, não provoqueis vossos filhos à ira." Apesar do fato de os pais terem autoridade, devem aprender a se controlar diante de Deus. Não devem tratar seus filhos de acordo com seus caprichos, pensando que têm direito absoluto de fazer assim uma vez que os geraram e os estão criando.
É sumamente necessário que os pais se contro­lem, isto é, sejam capazes de se controlar através do Espírito Santo.
O objetivo de toda a autoridade que os pais têm para com os seus filhos é instruí-los e criá-los na disciplina e admoestação do Senhor. Nenhu­ma ideia de dominação ou castigo está envolvida; a intenção é a educação e proteção amorosa.

3.  Senhores. Os servos devem ser obedientes aos seus senhores, mas ser senhor também en­volve condições. Os senhores não devem ameaçar nem provocar seus servos. Deus não permitirá que suas autoridades delegadas ajam com falta de moderação; devem ter o temor de Deus. De­vem saber que aquele que é o Senhor deles e dos seus servos está no céu e que ele não é parcial (Ef. 6:9). Lembrem-se bem que os senhores tam­bém estão sob autoridade. Embora as pessoas se encontrem sob sua autoridade, elas também es­tão sob autoridade — a autoridade de Deus. Por causa disto não podem ficar sem controle. Quan­to mais uma pessoa reconhece a autoridade, me­nos arrogante e intimidante se torna. Atitudes indispensáveis daqueles que se encontram em po­sição de autoridade são a gentileza e o amor. Se alguém ameaça e julga os outros, ele mesmo logo será julgado por Deus. Portanto os se­nhores deveriam tremer diante de Deus.

4.  Governantes. Devemos nos sujeitar às au­toridades governantes. Em nenhum lugar do No­vo Testamento há alguma instrução sobre como governar.
O Velho Testamento descreve-nos as condi­ções para os governantes. As exigências bási­cas para as autoridades governantes são a justi­ça, a imparcialidade, a honestidade e o cuidado para com os pobres. Estes são os princípios que os governantes devem seguir. Não devem procurar seu próprio bem-estar mas manter justiça abso­luta.

5.  Anciãos. Os anciãos são as autoridades na assembléia local. Os irmãos devem aprender a se sujeitarem aos anciãos. Uma qualidade essen­cial dos anciãos, conforme citada em Tito 1, é o autocontrole. Os anciãos devem em primeiro lugar ser estritamente autocontrolados. Quando se escolher anciãos, que sejam escolhidos os especialmente disciplinados. Considerando que os anciãos são escolhidos a fim de cuidar da igreja, eles mesmos devem, em primeiro lugar, saber como obedecer e ficar sob controle para que pos­sam ser exemplo para todos os outros. Deus ja­mais indica para ser ancião alguém que gosta de ficar em primeiro lugar (tal como Díótrefes, 3 João 9). Considerando que são a mais alta autoridade dentro da assembléia local, os an­ciãos devem ser pessoas autocontroladas.
Em 1 Timóteo 3 e 4 menciona-se outra quali­dade essencial ao ancião: deve governar bem a sua própria casa. Esta casa não se refere prin­cipalmente aos pais ou esposas mas especialmen­te aos filhos. Os filhos devem ser mantidos em submissão e respeito de todas as maneiras. Aque­le que sabe ser um bom pai pode ser escolhido como ancião. Exercendo a devida autoridade no lar, está qualificado para ser ancião na igreja.
Um ancião não deve ser uma pessoa convencida. Os anciãos de uma assembléia local não devem ser inclinados à prepotência. Aquele que abusa da autoridade não serve para ser ancião, nem pode dirigir bem os negócios da igreja. Só as pessoas mesquinhas são orgulhosas; não podem levar nem usar a glória de Deus e nem a sua con­fiança. Por isso, um crente novo não deve ser escolhido para ancião para que não fique con­vencido e não caia na condenação do diabo.

6. Obreiros. Em Tito 2:15 a condição para os obreiros como autoridades delegadas no trabalho é específica. Tito servia ao Senhor na base de um apóstolo. Paulo o exortou: "Dize estas cousas; exorta e repreende também com toda a autorida­de. Ninguém te despreze." Para não ser desprezada a pessoa tem de se santificar. Se não for di­ferente dos outros na vida e conduta, se vive relaxadamente e sem disciplina não pode deixar de ser desprezado, é preciso auto-disciplina para que outros nos respeitem e para sermos qualificados como representantes de Deus. Embora seja ver­dade que um obreiro não procura a glória e a honra dos homens, não pode permitir-se ser des­prezado por causa de sua falta de santificação.
Só dois livros em todo o Novo Testamento fo­ram escritos para os jovens obreiros. Em ambos, Paulo exorta para que não se deixem desprezar por causa de sua mocidade; pelo contrário, de­vem estabelecer um exemplo para os outros crentes. Ficar em posição de autoridade custa caro: essas pessoas necessitam santificar-se dentre os demais e ficar preparadas para uma vida solitária. Aqueles que são exemplos dife­rem dos demais quando se santificam. Mas ninguém deve ficar convencido, embora não deva também permitir que o desprezem. Jamais seja convencido, mas também nunca menospre­zado. Quando uma pessoa se torna muito igual às outras, perde o seu ministério. Sua utilidade desaparece, e sua autoridade se perde.
É extremamente importante que a autoridade de Deus seja mantida. Representar autoridade é representar a Deus; estar em posição de autori­dade é ser um exemplo para todos.